ARTIGO ORIGINAL

Conhecimento de nutricionistas sobre o guia alimentar para a população brasileira

Knowledge of nutritionists about the Brazilian population food guide

 

Beatriz Pereira Lima Hara*, Luiza Callegari Carvalho*, Paula Baggio Vieira*, Luciana Setaro, D.Sc.**, Maria Claudia Hauschild Gomes dos Santos, M.Sc.***

 

*Graduanda do curso de Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi, **Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Anhembi Morumbi, ***Docente da Universidade Anhembi Morumbi

 

Recebido 6 de dezembro de 2016; aceito 15 de setembro de 2017

Endereço para correspondência: Maria Claudia Hauschild Gomes dos Santos, Rua Domingos Antonio Ciccone, 176 Santo Amaro São Paulo SP, Email: mariaclaudiahgs@yahoo.com.br; Beatriz Pereira Lima Hara: biaplh1995@gmail.com; Luiza Callegari Carvalho: luizacallegari@hotmail.com; Paula Baggio Vieira: paulabaggiov@gmail.com; Luciana Setaro: lusetaro@hotmail.com

 

Resumo

Objetivo: Verificar o nível de conhecimento de nutricionistas sobre o Guia Alimentar para População Brasileira de 2014. Metodologia: Estudo realizado com 65 nutricionistas na cidade de São Paulo, que responderam um questionário com perguntas objetivas sobre o documento. Resultados: Da amostra estudada, 100% sabem da existência do material, 58,5% utiliza-o na profissão, sendo que 30,8% utiliza sempre e 27,7% esporadicamente. Referente ao número total de acertos por questão entre todos os nutricionistas que responderam o questionário 69,2% acertou a primeira questão sobre o objetivo do guia, 87,7% a segunda questão sobre o número de edições, 12,3% a terceira questão sobre os anos das publicações, 27,7% a quarta questão sobre se seus princípios são baseados na pirâmide alimentar e 12,3% a quinta questão sobre os responsáveis pela divulgação. Conclusão: Foi concluído que os nutricionistas sabem da existência do Guia Alimentar para a População Brasileira, porém não têm conhecimento do seu conteúdo.

Palavras-chave: guia alimentar, alimentação saudável, nutricionistas, saúde pública.

 

Abstract

Objective: To verify the level of knowledge of nutritionists about the Brazilian Population Food Guide of 2014. Methodology: This study carried out with 65 nutritionists in the city of São Paulo, who answered questions about the document. Results: 100% of the sample know about the existence of the material, 58.5% use it in the profession, 30.8% always use it and 27.7%, sporadically. Regarding the total number of hits per question among all nutritionists who answered the questionnaire, 69.2% answered the first question about the purpose of the guide, 87.7% answered the second question on the number of issues, 12.3% answered the third question about the years of publications, 27.7% the fourth question about whether its principles are based on the food pyramid and 12.3% the fifth issue on responsible for the dissemination. Conclusion: Nutritionists are aware of the existence of the Brazilian Population Food Guide, but are not aware about its content.

Key-words: food guide, healthy eating, nutritionists, public health.

 

Introdução

 

O atual Guia Alimentar para a População Brasileira é um documento oficial que se baseia nos princípios e nas recomendações de uma alimentação adequada e saudável, direcionando-se tanto às pessoas e famílias quanto aos profissionais da saúde e educadores, em uma linguagem simples, que possa ser compreendida por todos os indivíduos [1]. É utilizado como material de apoio aos projetos de educação alimentar e nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS) e outros setores. Tem como objetivo a promoção da saúde, sendo necessária a participação de uma equipe multidisciplinar para que haja a disseminação e compreensão do Guia Alimentar pela população [2]. O mesmo orienta a forma de escolher, preparar e combinar os alimentos de uma refeição, propondo que a base da alimentação possua uma grande variedade de alimentos in natura ou minimamente processados e predominantemente de origem vegetal. Além de também levar em conta aspectos biológicos, sociais e culturais, às necessidades especiais, dimensões de gênero, raça, etnia e ser acessível no ponto de vista físico e financeiro dos indivíduos [3], contando também com recomendações para encarar obstáculos do cotidiano [1].

Seu desenvolvimento, contou com o apoio do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo e da Organização Pan-Americana da Saúde, onde foram realizadas duas oficinas com pesquisadores, profissionais de saúde, educadores e organizações da sociedade civil de todas as regiões brasileira, substituindo o anterior [5].

O Guia Alimentar para a População Brasileira publicado em 2006 apresentou as primeiras diretrizes oficiais alimentares para a população brasileira, porém, segundo o ministro da saúde Arthur Chioro, tratava-se de um documento técnico e de difícil compreensão até mesmo para profissionais que não fossem nutricionistas, tornando-se necessária a elaboração de um material mais didático e acessível a quem se destina [1].

Foi-se necessário incluir também novas recomendações neste novo guia diante das transformações nos padrões alimentares da população como o aumento do consumo de alimentos hipercalóricos, com alto teor de açúcares, gorduras, sal e aditivos químicos, que influenciaram as condições de saúde e nutrição, levando a alterações significantes no perfil de morbidade e mortalidade e no estilo de vida da população segundo o Conselho Federal de Nutricionistas [6], aumentando a prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, câncer e doenças respiratórias crônicas, consideradas um expressivo problema de saúde pública e simultaneamente houve uma drástica redução no índice de desnutrição no Brasil segundo o Ministério da Saúde [1]. Essas DCNT estão associadas a múltiplos fatores de risco, principalmente excesso de peso, alimentação inadequada, sedentarismo, alto consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo [7], sendo assim, é necessário incentivar a mudança desses hábitos para que haja uma melhora no cenário atual.

 

Material e métodos

 

O estudo foi realizado com 65 nutricionistas de diversas áreas de atuação, de ambos os gêneros e qualquer faixa etária da cidade de São Paulo, durante o mês de Outubro de 2016 através de contatos telefônicos, eventos e curso de pós-graduação da área da nutrição. Todos os participantes do estudo assinaram O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados foi realizada através de um questionário constituído de perguntas objetivas, abordando os principais assuntos do Guia Alimentar para População Brasileira, entre eles o objetivo do documento, número e anos de edições, princípios em que é baseado e os principais responsáveis por sua divulgação, onde os nutricionistas foram abordados em cursos de extensão, feiras, contatos pessoais ou telefônicos.

 

Resultados e discussão

 

O resultado obtido demonstrou que 100% dos participantes sabiam da existência do Guia Alimentar para a População Brasileira, constatando que a divulgação do material em questão foi efetiva entre os pesquisados.

Segundo o Conselho Regional dos Nutricionistas 3ª Região SP-MS (CRN-3, 2016), não é de sua responsabilidade a divulgação do documento para os profissionais da área, além do mais, relatam que não é um dever do nutricionista conhecer e utilizar o conteúdo abordado no Guia Alimentar para a População Brasileira, cabendo ao mesmo a iniciativa de buscar informações a respeito do assunto.

Em contrapartida, o Ministério da Saúde (2016) informa que é de extrema importância o conhecimento do Guia Alimentar para a População Brasileira por todos os profissionais da saúde, inclusive nutricionistas, em decorrência do crescente número de obesos e portadores de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo. Por tratar-se de um documento nacional sobre alimentação saudável e adequada, o qual, segundo o Conselho Federal de Nutrição foi considerado o melhor do mundo na área de educação alimentar e utilizado como referência para outros países [8].

O Ministério da Saúde (2016) utiliza múltiplas estratégias para a divulgação deste documento, entre elas: disponibilizar uma versão digital de fácil acesso, entrega do material impresso em Unidades Básicas de Saúde (UBS), Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), secretarias estaduais de saúde e universidades que apresentam o curso de graduação de nutrição, além de disponibilizar gratuitamente um curso online a respeito do Guia Nutricional para População Brasileira, 2ª edição, 2014.

Encontrou-se que, como demonstrado na Tabela I, 58,5% utilizavam-no no exercício da profissão, dentre estes, 30,8% utilizavam-no sempre e 27,7%, esporadicamente, não sendo caracterizado como um problema, afinal, como citado acima, não é um dever do nutricionista utilizar este documento para a promoção da saúde.

 

Tabela I - Frequência em que nutricionistas (n = 65) utilizam o Guia Alimentar para a População Brasileira no exercício da profissão. São Paulo, 2016.

 

 

A respeito dos temas abordados no questionário (Tabela II), esperava-se que a primeira questão (Q1), por tratar-se do objetivo do Guia Alimentar para a População Brasileira, obtivesse o maior número de acertos entre todos os pesquisados, porém a questão a respeito do número de edições do documento (Q2) superou-a, sendo 69,2% e 87,7%, respectivamente. As demais perguntas não apresentaram um resultado positivo como as citadas anteriormente, sendo que as questões sobre: os anos de publicação (Q3), se têm como princípio a pirâmide alimentar e porções (Q4) e os responsáveis pela divulgação do guia (Q5), obtiveram como resultado 12,3%, 27,7% e 12,3%, respectivamente.

 

Tabela II - Número total de acertos por questão entre todos os nutricionistas (n = 65) que responderam o questionário a respeito do Guia Alimentar para a População Brasileira. São Paulo, 2016.

 

 

Conclusão

 

Concluímos que os nutricionistas apresentaram, de modo geral, pouco conhecimento em relação ao conteúdo abordado no Guia Alimentar para a População Brasileira. De acordo com os resultados encontrados, pode-se perceber que a divulgação do documento pelo Ministério da Saúde foi realizada de forma efetiva, pois todos os nutricionistas sabiam da existência do mesmo, porém a falta de incentivo dos órgãos responsáveis pela área de nutrição, somada a falta de interesse dos profissionais em relação ao documento, faz com quem o objetivo do mesmo, que é levar os conteúdos abordados à população, seja dificultada, pelo fato dos nutricionistas também serem responsáveis pela divulgação desse material. Portanto, torna-se necessário que os órgãos responsáveis continuem investindo na divulgação do documento, mas também invistam em ações para propagar a importância desse documento no cenário nacional, para despertar interesse nos nutricionistas em buscar um maior conhecimento em relação aos temas do Guia Alimentar para a População Brasileira.

 

Referências

 

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Portal Brasil. Ministério da Saúde lança Guia Alimentar para a População Brasileira. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. [citado 2016 abr 27]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/ministerio-da-saude-lanca-guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar Para a População Brasileira. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. [citado 2016 mai 02]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasileira-Miolo-PDF-Internet.pdf
  3. Conselho Federal de Nutrição. Dieta detox: para praticar e promover a alimentação saudável e adequada, conte com o nutricionista. Brasília; 2014. [citado 2016 mai 02]. Disponível em: http://www.cfn.org.br/index.php/dieta-detox- nota-tecnica-do-cfn/
  4. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável: Guias Alimentares.Brasília: Ministério da Saúde; 2014. [citado 2016 nov. 02]. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_promocao_da_saude.php?conteudo=guias
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira: instrumento para a promoção da saúde no âmbito do SUS. Brasília:Ministérioda Saúde; 2014. [citado 2016 nov 02]. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/guia_alimentar_populacao_brasileira.php
  6. Conselho Federal dos Nutricionistas (CFN). O papel do Nutricionista na Atenção Primária à Saúde. Brasília; 2008. [citado 2016 nov 10]. Disponível em: http://www.cfn.org.br/eficiente/repositorio/cartilhas/61.pdf
  7. Malta DC, Andrade SC, Claro RM, Bernal RTI, Monteiro CA. Evolução anual da prevalência de excesso de peso e obesidade em adultos nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal entre 2006 e 2012. Rev Bras Epidemiol 2014;Suppl Pense2014; 267-276.
  8. Monica Rocha. IV Jornada de Atualização Técnica de Fiscais do Sistema CFN/CRN. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. [citado 2016 nov 15]. Disponível em: http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2015/12/Guia-Alimentar-da-Populacao-Brasileira.pdf