EDITORIAL
Autocontrole e poder da
limonada
Jean-Louis
Peytavin
Como escolher um chocolate entre varias dezenas?
Ou um sabonete no supermercado? Cada dia temos que
tomar micro decisões pelas quais não estamos preparados e nosso capital diário
de decisões adequadas pode se desgastar. Em 1998, uma equipe de psicólogos
imaginou a experiência seguinte [1]: convidaram grupos de estudantes para
resolver um problema em um laboratório onde acabavam de preparar cookies, com
um cheiro bem tentador no ar. Os doces de chocolate estavam na mesa de cada um,
junto com um prato de rabanetes. Os estudantes foram intimados a comer cookies
(primeiro grupo), rabanetes (segundo groupo), ou nada (groupe controle). Em
seguida, foram convidados a resolver uma enigma, o que
era o objetivo aparente da experiência. O problema era sem solução, mas o
objetivo da experiência era observar em quanto tempo os estudantes desistiram
de pesquisar. Os que comeram cookies desistiram após 19 min em média e os que
poderiam comer só rabanetes abandonaram após 8 min. Esta experiência famosa
queria mostrar que nossa energia mental pode se desgastar, como um músculo, e
que se usamos uma parte de nossa energia a combater a vontage de comer os
cookies disponíveis em nossa frente, temos menos energia para resolver outros
problemas. É o que os autores chamaram de ego
depletion (depleção ou exaustão do ego): quando temos de realizar uma
tarefa que necessita uma dose de autocontrole (não comer cookies), o nível de
autocontrole para realizar a tarefa seguinte será inferior. Este “paradigma da
dupla tarefa” foi observado posteriormente em centenas de experiências.
As implicações dessa experiência são inúmeras,
desde o tratamento dos disturbios da atenção nas crianças, até as teorias da
mente: se a vontade é um tipo de músculo que pode se cansar, podemos reverter o
processo e melhorar o poder da vontade própria, com um copo de limonada, por
exemplo, como foi mostrado por um estudo do mesmo laboratório, e várias metánalises.
Apesar da sedução dessas experiências,
abondantemente reproduzidas com protocolos diferentes, meta-análises recentes
demonstraram a quase impossibilidade de reprodução dos resultados iniciais e o
efeito limonada provavelmente não existe. Alías, o açucár da limonade não teria
a propriedade de interagir tão rapidamente nas tomadas
de decisões. Assim a teoria da exaustão do ego, após 20 anos de existência, não
teria nenhum validade. Mas a discussão continua...
Esta história, além da importância suposta dos
componentes alimentares em nosso comportamento, é reveladora da maneira de como
estamos fazendo ciência hoje, acumulando experiências sem reprodutibilidade e
metánalises às vezes duvidosas.