ARTIGO
ORIGINAL
O café
no Brasil: representação gastronômica de um prato do final do século XIX e
criação atual de consumo difundido
Coffee in Brazil: gastronomic representation of a dish of the end of the
nineteenth century and current creation of widespread consumption
Roberto de Paula do
Nascimento*, Júlia Tostes Castor**, Haline Aparecida de Oliveira Maia***,
Arlete Rodrigues Vieira de Paula, M.Sc.****
*Graduado
em Tecnologia em Gastronomia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora
(CESJF) e Graduado em Nutrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), **Graduada em Tecnologia em Gastronomia pelo Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora (CESJF), ***Professora no curso de Tecnologia em Gastronomia
pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CESJF), ****Professora Adjunta
do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Recebido em 1 de novembro de 2012, aceito em 15 de julho de
2015
Endereço para correspondência:
Roberto de Paula do Nascimento, Rua Paraisópolis 71, Juiz de Fora MG, E-mail:
roberto_beto1@hotmail.com, juliatcastor@gmail.com, haline.maia@ig.com.br,
depaula.arlete@gmail.com
Resumo
Objetivo: Desenvolver duas
preparações de sobremesa que tenham o café como ingrediente principal. A
primeira é um prato, denominado Chocolat à la crème, datado do final do Século
XIX, época que marcou o auge do café; a segunda é uma versão modernizada da
receita antiga, a qual foi denominada de Cupcake de café. Metodologia: Utilização de fichas técnicas de preparo padronizadas
para os pratos Chocolat à la crème, e Cupcake de café. Foi avaliado o
desenvolvimento das preparações de acordo com as tentativas realizadas para o
preparo e feito o cálculo energético dos pratos. Resultados: Para Chocolat à la crème, espécie de mousse, fez-se uma
sobremesa de textura leve, com a parte superior ligeiramente mais escura e
consistente que o restante do corpo, de sabor doce, porém balanceado pelo
amargo do café. Na primeira tentativa da releitura, a cobertura do cupcake foi
feita com creme de manteiga, açúcar e café, mas visto que, em sua totalidade, o
prato havia se tornado excessivamente doce, na segunda tentativa abandonou-se a
ideia do recheio, acrescentando-se mais café e uísque à massa. O VET do mousse
foi calculado em 338 kcal (1 porção), enquanto o do Cupcake, em 460 kcal (1
unidade). Conclusão: É de suma
importância a adequação aos materiais e insumos culinários utilizados e várias
tentativas no preparo dos pratos, a fim de que se chegue ao resultado esperado,
o qual é a consistência adequada aos dois tipos de preparações.
Palavras-chave: café, história do
século XIX, valor nutritivo, alimentos de confeitaria.
Abstract
Objective: To develop
two dessert preparations having coffee as the main ingredient. The first is a
dish called Chocolat à la crème, dating from the late nineteenth century, a
period that marked the pinnacle of coffee; the second is a modernized version
of the old recipe, which was named Coffee Cupcake. Methodology: Use of standardized data sheets prepared for dishes
Chocolat à la crème and Coffee Cupcake. The assessment of the preparations were
made according attempts to prepare and we calculated the energy of the
desserts. Results: the Chocolat à la
crème, kind of mousse, became a dessert of light texture, with the top
consistently slightly darker than the rest of the body, sweet, but balanced by
the bitter of the coffee. In the first attempt of re-reading, the coverage of
the cupcake was made with cream butter, sugar and coffee, but because the dish
had become overly sweet, the second attempt abandoned the idea of stuffing,
adding more coffee and whiskey to the mass. The VET of mousse was calculated on
338 kcal (one part), while the Cupcake in 460 kcal (one unit). Conclusion: It is of utmost importance
the adaptation of materials and supplies used and several attempts to prepare
the dishes in order to reach the expected result, which is the proper
consistency for both preparations.
Key-words: coffee,
history 19th century, nutritive value, foods of confectionery.
Diversas pesquisas
publicadas recentemente ressaltam como o café é parte essencial da vida do
brasileiro. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2009, publicada pelo
IBGE [1], o café é o terceiro alimento mais consumido no Brasil, perdendo
apenas para o arroz e o feijão. De acordo com a Associação Brasileira de Café,
em pesquisa realizada em 2010, o consumo interno do grão continua crescendo no
Brasil; a bebida é a segunda mais popular no país, perdendo apenas para a água
[2].
Presença constante na
vida do brasileiro, a bebida foi alvo de diversas discussões com relação aos
malefícios que poderia fazer a saúde humana, contudo, recentemente novos
estudos mostram suas propriedades nutricionais e farmacêuticas, demonstrando
que o popular café com leite oferece vários nutrientes e vitaminas básicas para
a saúde humana [3].
O grão é da família
das rubiáceas, de nome científico Coffea
arábica, fruto do cafeeiro. Pode ser utilizado em diversas formas de
preparo como bebida: capuccino, café expresso, irish coffee, macchiato, café
turco, vienense ou mesmo o simples “pingado”, clássico café com leite. Seu uso
se amplifica como ingrediente em sorvetes, bolos, doces e tortas, se
constituindo como um elemento interessante a sobremesas [4]. O café é
proveniente de três grãos: Arábica, Robusta e Libérica, sendo que o primeiro é
o de melhor qualidade, com pouca cafeína. Fatores como o sabor e o aroma da
bebida dependem de sua origem, torrefação e da combinação de grãos [5].
O grão foi parte
essencial na história do país. Diversas plantações se desenvolveram,
especialmente na região sudeste, ajudando na sua modernização e atraindo
investimentos e imigrantes, que auxiliaram a moldar a economia, o governo e o
povo brasileiro [6]. No último ano, o consumo interno do café atingiu o seu
maior volume na história: 20,5 milhões de sacas (81 litros/habitante/ano) [7]
Apesar da crise, o brasileiro não reduziu o consumo, provavelmente devido a
maior diversidade e melhor qualidade dos produtos oferecidos pelo mercado [7].
A exportação do café brasileiro também bateu recordes em 2015, atingindo 37,12 milhões de sacas de 60 kg
[8].
Tão presentes no dia
a dia, a bebida, o pó e até mesmo o grão passaram a ser cada vez mais incorporados
na gastronomia do país, principalmente em variados tipos de sobremesa, como o
Muffin ou o popular Cupcake, pequeno bolo de origem americana. O objetivo do
trabalho é desenvolver duas preparações de sobremesa que tenham como
ingrediente o café: a primeira é um prato datado do final do Século XIX,
denominado Chocolat à la crème, e a segunda é uma versão modernizada da receita
antiga, a qual foi denominada de Cupcake de café. Utiliza-se dos principais
ingredientes da primeira para desenvolver uma nova opção empregando diferentes
técnicas, em voga nos dias atuais.
Breve
histórico do café
O grão de café ainda
é cercado de lendas e mitos a cerca de seu descobrimento e disseminação. Segundo
Encarnação e Lima [3], o hábito de tomar café teve início por volta do ano 600
através de um pastor de nome Kaldi, na Etiópia. Conta a lenda, que ele teria
observado que certa quantidade de cabras fugia para as montanhas e voltavam
correndo de forma intensa, como que excitadas. Os autores relatam que
um
dia, o pastor seguiu-as até o topo da montanha e ingeriu os pequenos frutos
vermelhos que as cabras estavam mastigando. O resultado foi impressionante.
Kaldi tornou-se um pastor alegre, atento e bem humorado. Certo dia, um
sacerdote amigo seu presenciou e se integrou ao grupo. Dançou com Kaldi e pulou
com as cabras até tarde da noite (Lima apud
Encarnação e Lima [3]).
Da África, onde a
lenda sobre a sua descoberta surgiu, o café foi difundido para as Arábias,
favorecido pela proibição religiosa de tomar bebidas alcoólicas [9]. O
transporte para o Oriente é datado entre os anos 575 e 850. O fruto era
utilizado sob a forma de pasta e se tornou iguaria popular nas Arábias. A
partir do Século XVI, o grão passou a ser torrificado e reduzido a pó, para ser
lançado em água fervente, mas ainda sem ser filtrado [10].
Muito consumido pelos
povos pagãos, o café ainda sofreu preconceito pelos cristãos até o século XVI,
quando o consumo foi permitido pelo Papa Clemente VIII. Através do comércio com
o Oriente Médio, no século XVII, o café chegou à Europa, primeiramente em
Veneza e depois passando pela Holanda e França, possíveis disseminadores do
produto no novo mundo [11]. O café começou a ser utilizado pelos europeus,
durante esse período, como estimulante das atividades mentais: as classes
médias consumiam a bebida para intensificar e alongar o tempo que era dedicado
aos trabalhos da mente [12].
Hoje, a segunda
commodity mais comercializada do mundo [13] tem os Estados Unidos como os
consumidores majoritários de café em valor absoluto – a rede americana
Starbucks é a maior cadeia de cafeterias do mundo, com mais de 15 mil lojas em
cerca de 50 países - e os Escandinavos como os maiores consumidores per capita
[14].
O café
no Brasil
Em 1727, a bebida foi
introduzida no Brasil, onde foi plantada primeiramente no Pará, sendo ainda
considerada uma planta exótica, de consumo doméstico. Em 1776, a rubiácea
chegou ao Rio de Janeiro, onde começou a ser plantada nos morros que
circundavam a região [15].
Segundo Vitorino
[16], no período anterior a instalação do Império no Brasil (1822), o café não
fazia parte da alimentação do povo brasileiro. Após a chegada do príncipe
regente D. João em terras brasileiras, a conformação da cozinha brasileira foi
modificada; o café passou a fazer parte do almoço, podendo ser acompanhado com
leite e alguns alimentos como pão e manteiga.
Em 1838, o café se
tornou um dos produtos mais exportados pelo país, ultrapassando, inclusive, a
comercialização de açúcar para outros países. A sua produção se conformou como
um negócio extremamente rentável para os barões de café, se intensificando,
primeiramente, no Rio de Janeiro e Vale do Paraíba. São Paulo e Minas Gerais
começaram a produzir e se destacar no segmento a partir da segunda metade do
século XIX [6]. Freixa e Chaves [10] detalham o período:
o
cultivo do café se intensificou, tornando-se um negócio rentável por causa do
aumento do consumo da bebida nos Estados Unidos da América e na Europa, na
primeira metade do século XIX. Com um mercado consumidor garantido, a lavoura
cafeeira prosperou na baixada Fluminense, em direção ao Vale do Paraíba. Em
poucas décadas espalhou-se, atingindo cidades como Resende, Barra Mansa,
Valença e Vassouras (na parte fluminense do Vale) e Bananal, Guaratinguetá,
Lorena, Pindamonhangaba e Taubaté (no trecho Paulista) [10].
De acordo com Couto
[17], nessa época já era comum, nas ruas do Rio de Janeiro, a venda de porções
de café torrado em pequenas latas, ou mesmo em vasilhas, das quais o vendedor
retirava a porção desejada; as negras eram as responsáveis pela venda do
produto. O café também era iguaria presente em banquetes e festas na corte.
Consta, do início do Segundo Império (1840), da festa de aniversário de D. Pedro
II, o relato em diário do imperador sobre suas refeições: “depois almocei o meu
costumado: ovos e café com leite, aprazível bebida” [18]. O café se tornara
popular entre os povos a partir do século XIX, fazendo parte da pós-refeição de
inúmeros brasileiros. Ao fim do jantar, dentro dos costumes e rituais, era de
praxe se tomar uma xícara de café como sedativo após longa e pesada refeição.
Os escravos tratavam de servir [19].
Caminhando para o
final do século XIX, São Paulo já detinha a maior parte da produção de café. Os
imigrantes se tornavam os principais trabalhadores e coletores do gênero nas
fazendas, devido à ameaça de abolição do trabalho escravo e seu posterior
decreto. A construção de estradas de ferro para o seu escoamento começava a
dinamizar o processo. E no meio rural, o produto se tornara alimento típico de
populações mais simples; uma prática era empregada no meio: o café preto era
engrossado com farinha de mandioca, produto típico da época, e adoçado com
rapadura, garantindo ao homem, grande fonte energética para o trabalho [20].
A intensa produção de
café no país e a extensa formação de fazendas de café tiveram início no Segundo
Império, mas foi durante a Primeira República (1889-1930) que o produto ganhou
destaque na economia brasileira, vide a de Minas Gerais, Zona da Mata, onde a
produção de café atingiu níveis significativos. Os estados de São Paulo e Rio
de Janeiro também prosperaram no segmento, que teve crescimento elevado na
produção e exportação durante o período [21].
O momento histórico
foi marcado pela intensa valorização do café a âmbito nacional. Do final do
Século XIX, se fez popular a expressão “café com leite”, analogia à aliança
política entre Minas Gerais e São Paulo. Acredita-se que o termo provém do fato
de São Paulo produzir café e Minas Gerais, leite [22]. Durante a República,
além do café, que era considerada bebida civilizadora, era popular o mate, a
cachaça, a carne seca, o feijão e diversos produtos nativos [23].
Na transição do
Século XIX para o Século XX, tem-se registro de uma receita com utilização de
café como um dos ingredientes de uma sobremesa. Chocolat à la crème estava
presente no cardápio da Confeitaria do Ouvidor em 1883, assim como no menu da
Casa Paschoal em 1888, ambas no Rio de Janeiro. Os cafés, bem como os
restaurantes e as confeitarias se tornaram extremamente populares nesse
período; eram verdadeiros centros de socialização mais voltados às classes de
maior poder aquisitivo 18].
A preparação com café
também é identificada por Cascudo [24], quando relata sobre a influencia
francesa no Brasil. No final do Século XIX, a Confeitaria Castelões, em buffet
de comemoração na corte, teria servido como sobremesa o chocolate com creme;
“Dessert: - Thé vert et chocolat à la crème”. A influência da cozinha clássica
francesa é nitidamente percebida pelo Cozinheiro Nacional [25], que descreve
diversas preparações do período que levam “à francesa” em sua identidade ou
mesmo que utilizam de técnicas francesas, como o bouquet garni. Naquele período, século XIX, a cozinha francesa
estava em alta no país, tanto no sentido das preparações e nome dos pratos,
quanto da organização estrutural dos banquetes aos moldes europeus.
No século XX, mais
precisamente em 1929, a produção de café entrou em crise no país: a bolsa de
valores de Nova York quebrou e o preço do produto caiu drasticamente no
mercado. Sacas de café tiveram de ser queimadas e a produção diversificada e
voltada para a industrialização. Apesar da crise, a produção de café se
expandiu por novas fronteiras, gerando um alcance ainda maior do produto [26].
A rubiácea se tornara parte integrante da economia de diversas regiões do
Brasil, tendo se enraizado na cultura do brasileiro desde a sua popularização
no século XIX.
Segundo a Revista Espresso
[14], “a primeira estimativa para a produção de café na safra 2011 indica que o
Brasil colherá entre 41,89 milhões e 44,73 milhões de sacas de 60 kg de café
beneficiado” sendo Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Paraná e Espírito Santo, os
principais estados produtores.
Como metodologia do
trabalho, fez-se necessária a utilização de fichas técnicas de preparo
adaptadas e padronizadas para os pratos Chocolat à la crème (Tabela I) do final
do século XIX e Cupcake de café (Tabela II), de criação atual. A Ficha Técnica
de Preparo (FTP) ou receituário padrão é "um instrumento gerencial de
apoio operacional, pelo qual se fazem o levantamento dos custos, a ordenação do
preparo e o cálculo do valor nutricional da preparação". Se trata de um
instrumento de grande auxilio de categorias envolvidas no processo produtivo
[27].
Como informação
nutricional do estudo, faz-se utilização do valor energético total (VET) das
preparações com café, a partir das quantidades, em gramas, de glicídios, lipídios
e proteínas de cada ingrediente definido nas fichas técnicas de preparo. Serão
calculados os valores de VET dentro do rendimento em porções de cada preparação
e por pessoa (per capita). Também faz-se necessário informações nutricionais
complementares a cerca de outros nutrientes. Utiliza-se como base, Franco [28]
e Pinheiro et al. [29], e a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO
[30], a fim de completar informações nutricionais e ingredientes ausentes em
alguma das tabelas.
Tabela
I - Ficha técnica de preparo 1. Chocolate à la
crème.
Tabela
II -
Ficha técnica de preparo 2. Cupcake de
café.
Na preparação de
Chocolate à la crème, não foram utilizados técnicas ou aparelhos que não
estivessem em uso na época e procurou-se desenvolver da forma mais semelhante
possível a receita original.
No primeiro preparo,
o chocolate foi derretido previamente para depois agregarem-se os outros
ingredientes, o que favoreceu o aparecimento de grumos que só foram desfeitos
na segunda etapa, na qual do banho-maria a preparação passou para o cozimento
em fogo baixo. Não houve tempo de espera entre o tempo no forno e o de
refrigeração, o que não gerou nenhum efeito expressivo. O resultado foi uma
sobremesa de textura leve, com a parte superior ligeiramente mais escura e
consistente que o restante do corpo, de sabor doce, porém balanceado pelo
amargo do café. Na segunda tentativa a única diferença se deu no inicio da
preparação, onde o chocolate, o leite, o uísque e o café foram agregados ao
mesmo tempo e a mistura tornou-se homogenia mais rapidamente.
Para a releitura,
feita na forma de cupcakes, foram utilizados os principais ingredientes do
Chocolat à la crème, acrescidos apenas dos materiais restantes necessários para
que se desse o resultado final.
Foi preparada uma
massa comum de farinha, açúcar, sal, ovos, óleo, iogurte, bicarbonato e o
fermento, acrescentados de baunilha, chocolate, e do café. Depois de batida,
foi levada ao forno por cerca de 16 minutos e depois de frios, os cupcakes
foram recheados com um brigadeiro com chocolate e café. Na primeira tentativa a
cobertura foi feita com creme de manteiga, açúcar e café, mas visto que, em sua
totalidade, o prato havia se tornado excessivamente doce, na segunda tentativa
abandonou-se a ideia do recheio, acrescentando-se mais café e o uísque à massa.
Em seguida estão
explicitados os valores calóricos e as informações nutricionais complementares
dos pratos Chocolat à la creme (Tabela III) e Cupcake de café (Tabela IV).
Os valores calóricos
descritos são baseados em uma dieta diária de 2.000 calorias ou 8.400 kJ. A
ingestão de uma porção do mousse de café provém cerca de 338 kcal, sendo que a
de um cupcake, por volta de 460 kcal. Destaque para as proteínas presentes nos
ingredientes de ambas as preparações, e que são de alto valor biológico, ou
seja, contém aminoácidos essenciais em quantidades interessantes para o
organismo. Os ovos e o leite são os principais provedores desse benefício. No
entanto, deve-se ater para a grande quantidade de carboidratos simples, gordura
saturada e colesterol, se fazendo necessária a ingestão moderada das porções de
mousse e dos cupcakes.
Além do valor
calórico, os pratos têm grande quantidade de cálcio, magnésio, fósforo e
potássio, provenientes, principalmente, dos produtos a base de leite e
chocolate. Por outro lado, quantidades de vitamina C e fibras estão presentes
em pouca quantidade. Por fim, vitaminas do grupo B, como a riboflavina, estão
presentes em valores significativos nas preparações, devido ao café, principal
ingrediente dos pratos, e responsável pelos aspectos sensoriais característicos
dos mesmos.
Tabela
III
– Valor energético total 1. Chocolat à la
crème.
Tabela
IV –
Valor energético total 2. Cupcake de café.
Para a representação
de duas épocas distintas na história da Gastronomia, optou-se pela apresentação
de dois pratos: Chocolat à la crème, e sua releitura em forma de Cupcakes, uma
das maiores tendências atuais na confeitaria do país e do mundo [31].
Pouco se sabe a cerca
da preparação Chocolat à la creme do final do século XIX. O prato é pouco
descrito na literatura, no entanto percebe-se tratar de uma sobremesa de
influência francesa, que consiste numa mousse de chocolate e café. A preparação
estava presente nos menus da Casa Paschoal e da Confeitaria do Ouvidor, bem
como em buffet na corte organizado pela Confeitaria Castelões no final do
século XIX no Rio de Janeiro. Segundo The
Oxford Companion to Food [32], “Mousse, um termo francês traduzido como
espuma, é aplicado a pratos com textura aerada, geralmente frios e doces [...].
O termo era comumente usado na França no século 18”.
A escolha dos
cupcakes para a versão moderna da sobremesa não foi aleatória, uma vez que
embora sua primeira aparição ocorra num livro datado de 1796, descrito como um
pequeno bolo para ser assado em recipientes pequenos [33], foi apenas no século
XXI que as variações se tornaram intermináveis, indo das mais simples as mais
elaboradas.
Tais bolinhos podem
ser considerados, talvez, uma das maiores contribuições norte-americanas para a
culinária mundial e recentemente ganharam popularidade através de programas de
televisão, além de possuírem o caráter de Confort
Food, relembrando algo infantil, lembranças perdidas na memória [34].
Fugindo das
tradicionais natas e do leite, nas preparações feitas, procurou-se utilizar
outros ingredientes que formam combinações agradáveis com o café. Os escolhidos
foram o uísque e o chocolate, tendo como base as já bem sucedidas combinações
com bebidas alcoólicas que geram preparações originais e de sabor marcante, e
em segundo lugar o chocolate, que uma vez utilizado na quantidade certa, traz a
doçura necessária para equilibrar o amargor do café [11].
Através do trabalho
realizado e das preparações culinárias desenvolvidas, pode-se chegar à
conclusão que é de suma importância a adequação aos materiais e insumos
culinários utilizados, além de várias tentativas no preparo de ambos os pratos,
principalmente o cupcake, a fim de que se chegue ao resultado esperado, o qual
é a consistência adequada aos dois tipos de preparações.
Além disso, do ponto
de vista histórico, pode-se concluir que o Brasil e os brasileiros
incorporaram, de forma contínua pela história, os ingredientes e as técnicas
estrangeiras, sempre colocando a sua identidade nas misturas e preparações.
Chocolat à la creme, mousse de origem francesa, e o Cupcake, pequeno bolo
americano, representam de forma singular as influências dos colonizadores
através da história.
Por outro lado, o
café, produto extremamente popular em todo mundo, e que ganhou destaque
especial entre os brasileiros, passou a ser introduzido cada vez mais em
preparações e pratos, deixando de ser utilizado apenas como bebida. O café
ganhou complexidade e passou a ser um produto gastronômico representativo dos
hábitos alimentares brasileiros, sendo encarado quase que como um produto das
nossas terras.