ARTIGO
ORIGINAL
Consumo
de alimentos fontes em antioxidantes por indivíduos com doença cardiovascular
Food intake of antioxidant by patients with cardiovascular disease
Camila Corage da
Silva*, Priscila Silva Figueiredo*, Maruska Dias Soares**
*Nutricionista, Pós
graduanda em residência multiprofissional em Cuidados Continuados Integrados:
Atenção à Saúde do Idoso, Campo Grande/MS, **Nutricionista, Doutoranda do
Programa Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande/MS, ***Docente do curso de Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul/UFMS, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará/UECE
Recebido 15 de
dezembro de 2014; aceito 15 de dezembro de 2015.
Endereço
para correspondência:
Priscila Silva Figueiredo, Avenida Júlio de Castilho, 79103-000 Campo Grande
MS, E-mail: pri.figueiredo92@gmail.com, camila_cs22@hotmail.com, maruska.dias@ig.com.br
Resumo
Objetivo: Avaliar a
frequência alimentar do consumo de alimentos fontes em antioxidantes de
pacientes com doença cardiovascular atendidos no ambulatório de cardiologia do
Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian de Campo Grande/MS. Material e métodos: O instrumento
consistiu em um formulário semi-estruturado com dados
do histórico clínico e familiar, antropométricos, socioeconômicos e de consumo
alimentar (Recordatório 24h e Frequência Alimentar). Para análise da frequência alimentar, os alimentos foram divididos em
grupos de antioxidantes: flavonoides, carotenoides e resveratrol. Resultados: Do total de pacientes, 85%
dos indivíduos apresentaram histórico familiar para doença cardiovascular. De
acordo com a classificação do Índice de Massa Corporal, 80% apresentavam-se com
excesso de peso e 75% apresentaram baixo consumo de fibras. Os pacientes
apresentaram consumo insatisfatório de 58% do consumo de flavonoides, 53% para
carotenóides e 87% para resveratrol, porém, apenas o resveratrol apresentou
valores significativos estatisticamente (p < 0,05). Quanto aos exames de
lipoproteínas séricas, os níveis de HDL apresentaram-se baixos em 81,2% dos
pacientes. Conclusão: O baixo consumo
dos alimentos fontes em antioxidantes pode estar fortemente correlacionado à
baixa renda e escolaridade de grande parte dos pacientes, demonstrando ser
fundamental a inclusão do profissional nutricionista nas orientações a
pacientes com doença cardiovascular.
Palavras-chave: antioxidantes,
compostos fenólicos, doenças cardiovasculares, carotenoides.
Abstract
Objective: To evaluate
the frequency of food intake of antioxidants by patients with cardiovascular
disease treated in outpatient cardiology at University Hospital Maria Aparecida Pedrossian of Campo
Grande, Mato Grosso do Sul. Methods: The
instrument consisted of a semi-structured form, with the clinical and family
history data, anthropometric, socioeconomic data and food (24 Recall and food
Frequency). For analysis of the food frequency, foods were divided into groups
of antioxidants: flavonoids, carotenoids and resveratrol. Results: 85% of patients had a family history of cardiovascular
disease. Most (80%) were in overweight and 75% had low fiber intake. The
patients had unsatisfactory intake of 58% in flavonoids, carotenoids 53% and
resveratrol 87%, but only resveratrol values showed statistically significant
(p < 0.05). HDL levels were low in 81.2 % of patients. Conclusion: The low intake of foods rich in antioxidants may be
strongly correlated to low income and education level of most patients, showing
the importance of the inclusion of the professional nutritionist in the
guidelines for patients with cardiovascular disease.
Key-words: antioxidant,
phenolic compounds, cardiovascular diseases, carotenoids.
Assim como ocorre em
outros países, no Brasil, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis constituem o
problema de saúde de maior magnitude, representando 72% das causas de óbitos.
As Doenças Arteriais Coronarianas (DAC) representam 31,3%, superando câncer
(16,3%), diabetes (5,2%) e doença respiratória crônica (5,8%) [1].
Um crescente número
de estudos enfatizam as Espécies Reativas de Oxigênio (EROs)
nas patogêneses relacionadas ao envelhecimento precoce devido diversas doenças,
como as DAC. Isto sugere que um elevado potencial antioxidante pode proteger o
organismo contra indesejáveis atividades das EROs e
assim, prevenir a incidência da doença [2,3].
Os antioxidantes
impedem o ataque dos radicais livres sobre os lipídeos, os aminoácidos, a dupla
ligação dos ácidos graxos poli-insaturados e as bases do DNA, evitando a perda
da integridade celular e a formação de lesões [4]. Atuam também no reparo das
lesões causadas pelos radicais, removendo danos do DNA e reconstituindo
membranas danificadas [5].
Dentre os principais
antioxidantes associados à inibição da oxidação lipídica, estão os compostos
fenólicos. Os flavonoides possuem como principais fontes os vegetais, frutas,
sementes, alguns cereais, vinho, chás e certos temperos naturais [6]. Devido
sua propriedade antioxidante e quelante, os flavonoides inativam as EROs, atuando contra a oxidação do LDL-C, melhorando a
inflamação dos vasos sanguíneos. Além disso, reduzem a atividade de enzimas que
estimulam a produção de EROs, como por exemplo, a
Xantina Oxidase (XO) e a Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato oxidase
(NADPH) [7].
O resveratrol,
polifenol pertencente à classe dos estilbenos, está presente no vinho tinto
como componente ativo, sua origem provém em maiores quantidades da casca da uva
[8]. Pesquisas experimentais em animais apontam que a administração de vinho
tinto, sumo de uva e vinho tinto desalcoolizado amenizam
o desenvolvimento de lesões ateroscleróticas [9]. Além do vinho e da uva,
outros alimentos também apresentam grandes quantidades de resveratrol, como
chocolate e nozes [10,11].
Outros agentes
antioxidantes são os carotenoides. São caracterizados como pigmentos de cor
vermelha, verde, alaranjada ou amarela, e têm como papel importante, a
estimulação do sistema imunológico. Alguns exemplos de suas principais fontes
são a abóbora, tomate e gema de ovo [12].
Não se encontram
pesquisas direcionadas até o momento à obtenção de dados que expressem de forma
específica e quantitativa o consumo de alimentos fontes de antioxidantes. Este
trabalho teve como principal objetivo analisar o perfil alimentar de pacientes
com doença cardiovascular com base na análise do consumo de alimentos fontes de
antioxidantes, particularmente os compostos fenólicos e carotenoides.
O presente estudo
teve a participação de 20 pacientes portadores de doença cardiovascular, de
ambos os sexos com idade superior a 18 anos, cuja abordagem foi realizada antes
ou após os atendimentos no ambulatório de cardiologia do Hospital Universitário
Maria Aparecida Pedrossian/HUMAP de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, durante
seis semanas, onde o atendimento ocorreu todas as quintas-feiras no período
vespertino. A participação foi determinada pela disponibilidade dos mesmos e posterior aceitação através da assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
O instrumento de
pesquisa consistiu em um formulário semi-estruturado, com informações de
identificação do paciente, histórico clínico e familiar de até 1º grau para
doenças cardiovasculares; uso de medicamentos; presença ou ausência de outras
patologias; aferição de peso e altura através de balança antropométrica do
ambulatório e posterior cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) de acordo com
a classificação da WHO (1997) para adultos e Lipschitzs (1994) para idosos
[13,14]; escolaridade (nunca estudou, primário, ensino
fundamental, ensino médio e ensino superior); renda familiar (baseada em
salários mínimos).
Os dados referentes
ao consumo alimentar foram obtidos por meio do Recordatório de 24 horas (R24h)
e Questionário de Frequência Alimentar (QFA). Para obtenção dos dados do R24h o
paciente informa todas as refeições realizadas durante o dia anterior, de modo
que as quantidades consumidas foram descritas em medidas caseiras, cuja análise
baseou-se nos percentuais de acordo com o Valor Energético Total (VET) dos
macronutrientes obtidos (carboidratos, proteínas e lipídios totais), ácido
graxo saturado, além das recomendações para sódio e fibras, de acordo com as
recomendações da WHO [15], onde para carboidratos recomendam-se entre 55 a 75%,
proteínas 10 a 15%, lipídios 15 a 30%, ácidos graxos
saturados menor do que 10% do VET, sódio até 2000 mg e para fibras
valores superiores a 25 g/dia.
Para auxílio durante
aplicação do R24h, foi utilizado álbum fotográfico [16] com fotos de diversos
alimentos em diferentes porções e tamanhos, bem como fotos de utensílios usados
para averiguar as medidas caseiras, que elucidassem as quantidades e porções de
alimentos e bebidas, a fim de se obter dados mais fidedignos durante a
entrevista. Para os cálculos referentes à composição nutricional do R24h,
utilizou-se a Tabela de Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no
Brasil, proposta pelo IBGE [17], através da Plataforma CalcNut
em Excel [18].
O QFA possibilitou ao
entrevistado informar o número de vezes que consome determinado alimento em
sete categorias de frequência: consumo diário, consumo
de 5 a 6 vezes por semana, consumo de 3 a 4 vezes por semana, consumo de 1 a 2
vezes por semana, consumo mensal, raramente e nunca consome. Para este estudo
foram descritos 34 alimentos, bebidas ou condimentos considerados como
principais fontes de compostos fenólicos, principalmente flavonoides,
resveratrol e carotenoides, definidos com base nos textos que subsidiassem a
revisão bibliográfica desta pesquisa.
Após a aplicação do
formulário, coletaram-se os dados dos seguintes exames bioquímicos: colesterol
total, lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), lipoproteína de alta intensidade
(HDL-C), triglicerídeos (TG), sódio (Na), potássio (K) e glicemia de jejum,
através do prontuário eletrônico Software Integration Laboratory (SIL),
presente no Ambulatório de Cardiologia para registro de exames bioquímicos
realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considerando-se apenas os últimos
exames realizados, em até no máximo três meses antes da coleta de dados.
Para as análises
estatísticas utilizou-se o Software BioEstat 5.3 com
nível de significância de 0,05. As análises realizadas foram: Teste Binomial
para Proporções, Teste Qui-Quadrado e Teste T para amostras pareadas.
Da população
estudada, 60% (n = 12) eram do sexo feminino e 40% (n = 8) do sexo masculino.
Do total de 20 pacientes, 17 (85%) relataram possuir histórico familiar (HF) de
1º grau (mãe, pai e/ou irmãos) para doenças cardiovasculares, enquanto apenas 3 (15%) relataram não possuir nenhum HF.
Do total de
pacientes, 75% eram hipertensos (n = 15), onde o percentual de pacientes com HF
de doenças cardiovasculares que têm hipertensão arterial sistêmica (HAS) se
mostrou significativo (p = 0,0074), dentre eles 13 (87%) possuíam HF e 2 (13%) sem HF. De toda a amostra, 6
(30%) dos pacientes têm Diabetes Mellitus tipo 2.
O estado nutricional
dos pacientes foi avaliado de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), em
que 20% (n = 4) encontravam-se eutróficos e 80% (n = 16) com excesso de peso,
conforme Figura 1.
Figura
1 – Classificação do estado nutricional de
acordo com o IMC.
Na Tabela I tem-se a
caracterização dos pacientes de acordo com os seus dados socioeconômicos, para
escolaridade e renda.
Tabela
I – Caracterização dos pacientes de acordo com
os dados socioeconômicos.
Pesquisa: Fonte
direta.
De acordo como
consumo alimentar com base nas recomendações da WHO [15], apenas 35% dos
pacientes apresentou ingestão de proteínas adequada 40% dos indivíduos
apresentaram ingestão adequada de carboidratos, metade (50%) deles apresentou
consumo adequado de gorduras totais, sendo que destes, 65% (n = 13)
apresentaram ingestão adequada de gorduras saturadas, entretanto, esse
percentual de pacientes não é significativo estatisticamente (p > 0,05 em
todos eles) (Figura 2).
O consumo de fibras
apresentou-se inadequado de forma significativa (p = 0,0073) em 75% (n = 15)
dos pacientes que consumiam menos do que o recomendado de 25 g/dia. A ingestão
do mineral sódio obteve valores significativos (p = 0,0004) de adequação em 90%
dos pacientes (n = 18) com consumo máximo de 2000 mg/dia,
porém, é importante ressaltar que foi contabilizado para o cálculo do consumo
apenas o sódio intrínseco dos alimentos, não contendo nestes cálculos o sódio
presente no sal de adição, devido à dificuldade de quantificação desta
informação.
Fonte: Pesquisa
direta.
A Figura 3 apresenta
a frequência alimentar dos grupos de antioxidantes conforme seu consumo,
considerando-se como consumo regular aquele acima de três vezes por semana e
como baixo consumo, abaixo de três vezes na semana. A frequência do consumo dos
antioxidantes deste estudo demonstrou que os três grupos obtiveram baixo
consumo, sendo que o grupo do resveratrol apresentou maior disparidade,
revelando um resultado significativo (p < 0,05) em 83% dos pacientes. Apesar
de o baixo consumo também ter prevalecido entre os grupos dos flavonoides e
carotenoides, a diferença não foi significativa (p = 0,3232 e p = 0,8124,
respectivamente). O grupo dos carotenoides apresentou maior média de consumo
regular entre os pacientes quando comparado aos demais grupos, com 48%, seguido
dos flavonoides (42%) e resveratrol (17%).
Fonte: Pesquisa
direta.
Com relação aos
exames bioquímicos, do total de 20 pacientes, apenas 17 apresentaram valores
para sódio, potássio e glicose no prontuário eletrônico, com resultados
estatisticamente significativos para sódio (mEq/L) em
94% dos pacientes (n = 16) e 89% (n = 15) para potássio (mmol/L), ambos com
níveis adequados. Enquanto que nos níveis de glicose (mg/dL),
47,1% (n = 8) dos pacientes apresentaram valores acima do recomendado, 47% (n =
8) com valores adequados e 5,9% (n = 1) com valores abaixo do recomendado,
entretanto, não são valores estatisticamente significativos (p>0,05).
Quanto aos exames de
Lipoproteínas Séricas (Tabela II), onde somente 16 pacientes possuíam estes
exames no prontuário eletrônico, 81,2% dos pacientes apresentaram valores inadequados
de HDL de forma significativa (p < 0,05), ou seja, abaixo do recomendado, e
para colesterol apresentou-se adequado em 94% (n = 15) e em 81,2% (n = 13) para
LDL com níveis ótimos. Nos níveis de triglicerídeos obtiveram 68,8% (n = 11)
dos pacientes com níveis adequados, porém, não sendo considerados valores
significativos estatisticamente (p < 0,05).
Tabela
II –
Caracterização dos pacientes estudados
segundo sexo e exames das Lipoproteínas séricas. Campo Grande, 2014.
Fonte: Pesquisa Direta
No presente estudo,
85% dos pacientes relataram possuir histórico familiar de primeiro grau para
doença cardiovascular, valor expressivo que representa a elevada incidência
deste fator de risco não modificável para doenças cardiovasculares. O valor
obtido encontra-se superior a um recente estudo realizado em Viçosa/MG com
pacientes com doença cardiovascular (DCV) atendidos em uma Unidade Básica de
Saúde [19], onde o HF representou 76,9% de indivíduos.
Do total de pacientes
entrevistados, 75% eram hipertensos, representando um dado significativo e
agravante, já que a HAS é um dos principais fatores de risco para complicações
cardiovasculares, devido sua direta atuação na parede das artérias, que pode
levar a lesões [20].
Em relação ao estado
nutricional, a maioria (80%) dos pacientes apresentou excesso de peso, fato
preocupante, principalmente quando há maior depósito de gordura na região
abdominal devido ao maior risco para complicações cardiometabólicas. Dos 20
pacientes estudados, 30% possuem Diabetes mellitus tipo 2,
dado este que pode ter relação com o excesso de peso encontrado neste grupo,
uma vez que as duas patologias se associam.
Quanto ao consumo
alimentar, avaliado pelo R24h, 40% e 35% dos pacientes teve um consumo adequado
de carboidratos e proteínas, respectivamente. O consumo inadequado de
carboidratos em 60% dos pacientes pode estar relacionado à presença de
diabéticos no grupo estudado (aproximadamente um terço dos pacientes). O
consumo de lipídios totais foi considerado adequado em 50% dos pacientes, sendo
que destes, as gorduras saturadas apresentaram consumo adequado em 65% dos
pacientes, podendo estar relacionado a uma maior preocupação com o controle
deste tipo de nutriente devido sua ampla correlação com as DCV.
Em relação ao consumo
de gorduras, podemos comparar estes valores com um estudo realizado com
pacientes hipertensos atendidos em ambulatório na cidade de São Paulo, onde
constatou que 93,3% dos pacientes hipertensos se preocupam em reduzir a
ingestão de gorduras na dieta, medida esta que visa à modificação no estilo de
vida, reduzindo a pressão arterial e sendo, consequentemente, uma medida
favorável aos outros fatores de riscos cardiovasculares, mudando a incidência
de doença cardíaca e vascular [21].
Identificou-se de
forma alarmante o baixo consumo de fibras, em que a maioria significativa (75%
dos pacientes) não consumia o mínimo recomendado de fibras por dia (25 g),
podendo ser um reflexo do baixo consumo de frutas e hortaliças, principais
fontes deste nutriente. Este baixo consumo pode estar fortemente relacionado às
condições financeiras e de escolaridade dos participantes, em que 15% relataram
nunca ter frequentado a escola, e apenas 20% recebe acima de três salários
mínimos, que resulta na falta de conhecimento das propriedades benéficas destes
alimentos, e principalmente, na baixa renda, dificultando o acesso também a
produtos integrais, que ainda apresentam custo elevado quando comparados aos
refinados. O mesmo se observa nos resultados encontrados para o consumo dos
grupos de antioxidantes, em que a presença de muitos participantes de baixa
escolaridade e baixa renda, pode ter tido forte influência no baixo consumo
encontrado, principalmente no que se refere ao grupo
do resvetrarol, cujas fontes consideradas para o estudo, chocolate amargo,
nozes, suco de uva, uva e vinho tinto, possuem um custo superior quando
comparadas às fontes dos demais grupos estudados.
Liu et al. [22] avaliaram a influência do grau
de escolaridade no risco coronariano e encontraram uma relação inversa entre as
duas variáveis, concluindo que, semelhante ao encontrado neste estudo, o menor
grau de escolaridade e anos de estudos, tem efeito negativo na redução do risco
de doença coronariana.
O consumo de todos os
antioxidantes avaliados apresentou-se insatisfatório quanto à regularidade,
visto que há a necessidade de um consumo contínuo e regular destes compostos
para obter as suas propriedades benéficas, além disso, não há estudos
específicos que expressem a quantidade mínima e a regularidade destes
antioxidantes. Porém, considera-se que o ideal seria o consumo diário de
alimentos fontes destes compostos, que também fornecem outros nutrientes
importantes, como fibras, vitaminas e minerais.
O consumo dos
flavonoides e carotenoides está muito associado ao consumo de frutas, verduras
e legumes, que de acordo com as análises do IBGE [17], somente uma parcela
muito pequena da população brasileira (10%) atinge o consumo de frutas e
hortaliças recomendado, ou seja, 400 g/dia; o que restringe de forma
significativa o consumo de antioxidantes.
Um recente estudo
realizado nos Estados Unidos [6] apontou de forma significativa os benefícios
do consumo de flavonoides para a saúde, em que americanos de ambos os sexos que
consumiram grandes quantidades de flavonoides apresentaram um risco menor de
mortalidade por Doença Arterial Coronariana em 18% quando comparados a um grupo
que ingeriu pequenas quantidades destes compostos. Este fato está ligado ao
estímulo dos flavonoides na formação de óxido nítrico, que facilita a
vasodilatação dos vasos sanguíneos e auxilia na regulação da pressão sanguínea
[7].
Comparado aos demais
grupos, os carotenoides obtiveram maior consumo (48%), o que pode ser
justificado pelo fato de que as principais fontes avaliadas neste estudo
(abóbora, acerola, caqui, cenoura, mamão, manga, melancia, ovos, pêssego,
tomate), são em sua maioria mais acessíveis e possuem um consumo mais habitual e
tradicional pelos brasileiros.
A maioria dos
carotenoides é transportada por lipoproteínas no sangue, fato que gera estudos
destes compostos na prevenção de doenças cardiovasculares [23]. O estudo de
Osganian et al. [24] aponta correlação inversa entre
os níveis de β-caroteno na corrente sanguínea e a ocorrência de DCV.
De acordo com a
Tabela II, observa-se que os níveis de HDL-C apresentam-se inadequados de forma
significativa, sendo 81,2% dos pacientes com o nível abaixo do recomendado.
Diversos estudos científicos vêm comprovando que dentre as alterações do perfil
lipídico, os níveis baixos de lipoproteína HDL-C são as alterações mais
frequentes quando associados ao desenvolvimento de aterosclerose em pacientes
com DAC [25-27]. Os baixos níveis de HDL-C, estão correlacionados com a
ocorrência de disfunção endotelial, que posteriormente leva à DCV [28]. Isto se
deve ao fato das partículas de HDL conterem mais proteínas do que qualquer
outra lipoproteína, o que responde por seu papel metabólico como reservatório
de apolipoproteínas que controlam o metabolismo lipídico, sendo a Apo A-I a sua
principal apolipoproteína, que atua como antioxidante e anti-inflamatória, que
ajuda também a remover o colesterol da parede arterial para o fígado [29].
Observou-se neste
grupo estudado um predomínio do sexo feminino e a presença positiva de
histórico familiar para doença cardiovascular. A maioria dos indivíduos
apresentava-se com excesso de peso, baixa escolaridade e baixa renda. O consumo
alimentar obtido foi irregular para proteínas, carboidratos,
lipídios totais e principalmente, fibras. Conforme resultados coletados
observa-se que a maior parte da população estudada alimenta-se de maneira
insatisfatória em relação aos alimentos fontes de antioxidantes, principalmente
em relação ao grupo do resveratrol.
Acredita-se que o
baixo consumo dos alimentos fontes de antioxidantes pelos entrevistados seja
consequência do pouco conhecimento sobre suas propriedades benéficas como forma
de prevenção das doenças cardiovasculares, além da baixa renda constatada em
grande parte dos pacientes. Ressaltando que deve haver um maior acompanhamento
nutricional deste tipo de paciente, através de educação nutricional continuada
para fornecer mais conhecimento sobre a importância do consumo de alimentos
fontes em antioxidantes aos pacientes com doenças cardiovasculares.
Dessa forma, mais
pesquisas serão necessárias para se avaliar os efeitos do consumo destes
nutrientes nos indivíduos com DCV, através de estudos em longo prazo e com
amostras maiores, que investiguem de forma específica o consumo de compostos
fenólicos e carotenoides no processo aterosclerótico.