ARTIGO ORIGINAL
Substituição parcial da farinha de trigo pelas farinhas de
grão-de-bico e de ora-pro-nobis na elaboração de um pão
Partial replacement of wheat flour by chickpea flour and ora-pro-nobis in
the preparation of a bread
Henrique Silvano Arruda*,
Amanda de Cássia Sevilha*, Marlise Torres Pereira**, Martha Elisa Ferreira de Almeida***
*Graduando em Ciências de Alimentos, Universidade Federal
de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba – UFV/CRP, **Nutricionista pela Universidade
Federal de Viçosa – UFV, ***Nutricionista, Docente da Universidade Federal de Viçosa,
Campus de Rio Paranaíba
Recebido 11 de dezembro
de 2012; aceito 15 de outubro de 2015
Endereço para correspondência: Martha Elisa Ferreira
de Almeida, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Caixa Postal
22, 38810-000 Rio Paranaíba MG, E-mail: martha.almeida@ufv.br;
Henrique Silvano Arruda: hsilvanoarruda@gmail.com;
Amanda de Cássia Sevilha: man_sevilha@hotmail.com, Marlise Torres Pereira: marlisetorres@gmail.com
martha.almeida@ufv.br
Resumo
Até a década de 60 o uso
de farinhas mistas objetivava a redução da importação de trigo, mas atualmente elas
são utilizadas para melhorar a qualidade sensorial e nutricional dos produtos. O
objetivo deste estudo foi desenvolver um pão com substituição parcial da farinha
de trigo pelas farinhas de grão-de-bico (FGB) e de ora-pro-nobis (FOP) e avaliar
sua influência nas características sensoriais do produto. Elaboraram-se pães com
a farinha de trigo (Amostra P) e pães contendo 25% de FGB e 1% de FOP e 50% de FGB
e 1% FOP, em substituição à farinha de trigo. Na avaliação sensorial realizaram
testes sensoriais de aceitação quanto aos atributos sabor, aparência, textura e
impressão global. Foram avaliados a intenção de compra, o índice de aceitabilidade
e a frequência de consumo. Os resultados da avaliação sensorial foram analisados
pela Análise de Variância e o teste de Tukey (5%). A média das notas da amostra
P foi estatisticamente superior às amostras experimentais em todos os atributos
analisados, exceto em relação ao sabor. A amostra B não diferiu da amostra P quanto
à impressão global entre os homens, e nos atributos aparência e textura no sexo
feminino. Dentre os pães experimentais, a amostra B apresentou as maiores notas
nos testes sensoriais, além de melhor intenção de compra. Conclui-se que dentre
as amostras adicionadas de farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis, aquela contendo
50% de farinha de grão-de-bico e 1% de farinha de ora-pro-nobis é a que apresentou
melhor aceitação e representa uma nova opção de produto.
Palavras-chave: Cicer
arietinum, Pereskia grandifolia, pão, análise sensorial.
Abstract
Until the 60s the use of mixed flours aimed at reducing imports of wheat,
but today they are used to improve the nutritional and sensory quality of products.
The aim of this study was to develop a bread with partial replacement of wheat flour
by flour of chickpea (FGB) and ora-pro-nobis (FOP) and evaluate its influence on
sensory characteristics. Breads were prepared with wheat flour (Sample P) and breads
containing 25% of FGB and 1% of FOP and 50% of FGB and 1% FOP, replacing the wheat
flour. We conducted sensory tests of acceptance regarding flavor, appearance, texture
and overall impression. We evaluated the purchase intention, the index of acceptability
and intake frequency. The sensory evaluation results were analyzed by Analysis of
Variance and Tukey test (5%). The average grade of the sample P was statistically
significantly higher in the experimental samples all attributes except for flavor.
The sample B sample did not differ from P as the global impression among men, and
the appearance and texture attributes in females. Among the experimental breads,
sample B had the highest scores in the sensory tests, and better purchase intent.
Was conclude that among the samples of flour from grain added chickpeas and ora-pro-nobis,
one containing 50% grain flour chickpea flour and 1% of ora-pro-nobis is that showed
better acceptance and represents a new product option.
Key-words: Cicer arietinum, Pereskia grandifolia,
bread, sensory analysis.
Até
a década de 60, a utilização de farinhas mistas tinha como objetivo a substituição
parcial da farinha de trigo para a redução das importações desse cereal. Atualmente,
a utilização das farinhas mistas é direcionada para a melhoria da qualidade sensorial
e nutricional dos produtos, visando benefícios à saúde do consumidor [1].
As
leguminosas são ricas em proteínas e carboidratos, sendo consumidas como grãos inteiros
ou na forma de farinhas. O grão-de-bico (Cicer
arietinum L.) é uma leguminosa usada na preparação de vários alimentos tradicionais
e na formulação de produtos de panificação, laticínios, e alimentos infantis [2].
Tais grãos têm sido utilizados na prevenção do diabetes mellitus, das dislipidemias,
câncer de cólon e osteoporose, além de apresentarem efeitos benéficos no controle
da pressão arterial e na regulação glicêmica e do peso corporal [3].
Nos
últimos anos, o Brasil tem dado atenção a utilização de alimentos alternativos para
o combate à fome na população de baixa renda, sendo as hortaliças não-convencionais uma fonte alimentar disponível por apresentarem
baixo valor de mercado. No entanto, a falta de informação nutricional dessas hortaliças,
aliada ao seu esquecimento e depreciação, tornam estas fontes naturais de nutrientes
pouco aproveitadas, levando à urgência da inclusão das mesmas na dieta habitual
[4].
A
ora-pro-nobis (Pereskia grandifolia) é
uma cactácea considerada uma hortaliça não-convencional
com alto conteúdo proteico, de fibras, ferro e cálcio [5]. As folhas dessas cactáceas
do gênero Pereskia são usadas no preparo
de farinhas, saladas, refogados, tortas e massas alimentícias como o macarrão [4].
Além do seu papel nutricional, estas plantas têm se destacado pelo seu caráter medicinal,
sendo utilizada popularmente no abrandamento dos processos inflamatórios, na recuperação
da pele queimada e com atividades expectorante e antissifilítica [6].
Substâncias
com características diversas têm sido encontradas nas plantas do gênero Pereskia, dentre elas se encontram aquelas
com caráter funcional como betaína, betacianina, flavonóis, isobetaína, filocactina,
sitosterol, estigmasterol e uma saponina denominada de ácido oleanólico; com ação
emoliente em função dos heteropolissacarídeos mucilaginosos na folha como a arabinose,
galactose, raminose e ácido galacturônico; além de um biopolímero com propriedade
espessante e com potencial promissor na estimulação imunológica
denominado arabinogalactano [7-9].
O
pão revela-se um alimento que pode ser enriquecido com subprodutos para o fornecimento
de nutrientes ou componentes especiais, devido ao seu amplo consumo como fonte de
carboidratos e, assim, caracterizando-se como um alimento funcional [10].
Este
trabalho teve como objetivo substituir parcialmente a farinha de trigo pelas farinhas
de grão-de-bico e de ora-pro-nobis na elaboração de um pão.
Foram
utilizados grãos-de-bico íntegros crus, adquiridos na cidade de Rio Paranaíba/MG
para o preparo da farinha. Os grãos foram colocados sob imersão
em água por 40 minutos e posteriormente submetidos à cocção sob pressão por 1 hora.
Após o cozimento, os grãos foram colocados em bandejas de alumínio e secos em estufa
de circulação de ar forçado à temperatura de 105 °C, por 24 horas. O material obtido
foi posteriormente moído em moinho de facas, obtendo-se a farinha. Esta farinha
foi acondicionada em uma porção de 1 kg em saco de polietileno fechado e mantido
sob refrigeração de 8 °C até o preparo dos pães.
As
folhas de Pereskia grandifolia foram coletadas na cidade de
São Gonçalo do Abaeté/MG em julho de 2011. As folhas foram lavadas em água corrente
e imersas em solução de 10 mL de hipoclorito de sódio (2%) por litro de água destilada
durante 10 minutos. Lavadas novamente em água corrente e submetidas à desidratação
em estufa com circulação de ar forçado [4] a temperatura de 60 ºC durante 24 horas.
Após a secagem, o material foi triturado em moinho de facas (3
vezes/20segundos) e armazenado em potes plásticos revestidos de papel alumínio até
o preparo dos pães.
Foram
elaborados pães sem a adição das farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis (amostra
P) e pães contendo 25 e 50% de farinha de grão-de-bico (amostras experimentais A
e B) em substituição a farinha de trigo, sendo adicionadas em ambas as amostras
experimentais 1,0% de farinha de ora-pro-nobis também em substituição à farinha
de trigo, no Centro Vocacional Tecnológico (CVT) em Rio Paranaíba/MG. Para o preparo
da massa foram utilizados os seguintes ingredientes: ovos, água, manteiga sem sal,
farinha de trigo, farinha de grão-de-bico (FGB), farinha de ora-pro-nobis (FOP),
sal, fermento biológico, salsinha, cebolinha verde picada, orégano e pimenta do
reino, conforme descrito na Tabela I.
Tabela I – Formulações
utilizadas na elaboração de pão com substituição parcial da farinha de trigo pelas
farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis.
Amostra A = 25% FGB + 1%
FOP; Amostra B = 50% FGB + 1% FOP
Para
o preparo da massa dos pães adotou-se os procedimentos: colocou-se o fermento na
água morna e deixou-o crescer; bateram-se os ovos e acrescentaram-se todos os ingredientes,
deixando as farinhas (trigo, grão-de-bico e ora-pro-nobis) para o final. Após a
massa ser misturada até não grudar nas mãos, ela foi colocada em uma vasilha para
descansar até dobrar de tamanho. Foi sovada novamente, e os pães foram modelados
e deixados crescer novamente até dobrar de tamanho. Pincelou-se
os pães com gema batida, antes de levá-los ao forno pré-aquecido a 180 °C, onde
foram assados durante 30 minutos.
Foi
realizada a análise sensorial na qual os provadores, não treinados, de ambos os
sexos e escolhidos de forma aleatória, receberam amostras de pão de aproximadamente
2 cm2 e avaliaram as mesmas quanto à aceitabilidade em
relação aos atributos sabor, textura, aparência e impressão global, utilizando-se
uma escala hedônica estruturada de 9 pontos através das notas sensoriais: 1 = desgostei
extremamente; 2 = desgostei muito; 3 = desgostei moderadamente; 4 = desgostei ligeiramente;
5 = indiferente; 6 = gostei ligeiramente; 7 = gostei moderadamente; 8 = gostei muito;
9 = gostei extremamente [11]. Foi realizado um questionamento a respeito da intenção
de compra por parte dos consumidores referentes às três amostras estudadas. Utilizou-se
a escala de cinco pontos, onde 1 – certamente compraria; 2 – provavelmente compraria;
3 – tenho dúvida se compraria ou não; 4 – provavelmente não compraria
e 5 – certamente não compraria [12].
Adotou-se
a seguinte classificação de frequência de consumo dos pães: muito alto (diariamente);
alto (3 a 4 vezes por semana); moderado (1 a 2 vezes por semana); baixo (quinzenalmente)
e muito baixo (mensalmente) [13].
Foi
dada orientação oral prévia para o preenchimento
do teste de aceitação e familiarização
dos provadores com a análise a ser realizada. Todas as amostras
foram apresentadas
aleatoriamente e de forma monádica [11], em pratos
plásticos devidamente codificados
com números de três dígitos [14], sempre
acompanhadas de um copo descartável de
50 mL com água filtrada a temperatura ambiente, para
ingestão entre a degustação
dos pães, para a limpeza do palato a fim de assegurar a
percepção adequada dos aspectos
sensoriais.
O
índice de aceitabilidade foi calculado usando a expressão: I.A. = (nota média obtida
pelo produto x 100) / pela nota máxima dada ao produto [15].
O
estudo foi realizado após a aprovação do Comitê de Ética do Centro Universitário
de Patos de Minas (Unipam), protocolo no 108/10.
Os
resultados da análise sensorial foram avaliados através de comparação de medias
por Análise de Variância (ANOVA) e teste de Tukey a 5% de significância.
Participaram
dos testes sensoriais 30 provadores, sendo 63,33% do sexo masculino e 36,67% do
sexo feminino. A maioria (83,33%) possuía idade até 30 anos, sendo que 76,67% eram
universitários e 66,67% tinham uma renda familiar até 5,0 salários mínimos.
Verificou-se
que 40,00% dos avaliados apresentaram um consumo de pães muito alto, pois o consumiam
diariamente e 46,66% apresentaram um consumo alto (Figura I). Observou-se uma tendência
expressiva do consumo de pães, que é um quesito importante na elaboração deste novo
produto.
Figura 1 - Frequência
de consumo de pão segundo os avaliadores.
As
notas médias obtidas nos testes de aceitação dos pães, avaliando os atributos sabor,
aparência, textura e impressão global dos tratamentos P, A e B encontram-se na Tabela
II. Observa-se uma redução na aceitação de todos os itens avaliados nas amostras
adicionadas de farinha de grão-de-bico e ora-pro-nobis. Sugere-se que a redução
na aceitação de todos os itens avaliados nas amostras experimentais (A e B), pode
ter relação direta com a cor mais escura das mesmas quando comparada a amostra P.
Entretanto, Fidélix et al. [16] destacam que a adição de ora-pro-nobis
em preparações deixa o alimento com uma cor mais atraente, assim como ressaltado
por Kohmann et al. [17] que realizaram
a análise sensorial de pães, patês, bolos e suco verde feito com a ora-pro-nobis
(Pereskia aculeata) e observaram que os
produtos tiveram boa aceitação, independe de sua cor. Dotto [18] observou que o
bolo com 30% de farinha de banana verde foi o mais aceito, concluindo que a coloração
escura, conferida a massa por esta farinha, foi mais atrativa para o consumidor,
entretanto Fasolin et al. [19] observaram uma redução na aceitação
de biscoitos a medida que aumentava o percentual de farinha de banana, e esta os
tornava mais escuros. Finco et al. [20] observaram
que as três formulações de biscoitos com farinha de berinjela (5, 10 e 15%) não
diferiram estatisticamente quanto a aceitação sensorial, cujas médias das notas
foram 4,9; 5,5 e 5,2.
Tabela II - Aceitação
dos diferentes pães de acordo com o sexo.
Amostra A = 25% FGB + 1%
FOP; Amostra B = 50% FGB + 1% FOP. Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna
(diferença entre os tratamentos) e minúscula na linha não diferem entre si para
o sexo ao nível de 5 % de significância pelo teste de Tukey.
Não
houve diferença estatística entre os pães
(formulações P, A e B) quanto à preferência
no atributo sabor (Tabela II), ressaltando que a adição
das farinhas de grão-de-bico
e de ora-pro-nobis não interferiram significativamente no sabor
dos pães. Resultados
semelhantes foram descritos por Vieira et al. [21], que não
observaram influência da adição de fécula de mandioca na aceitação do atributo sabor
do pão tipo chá. O sabor é o atributo mais apreciado em um alimento [10]. Segundo
Santucci et al. [22], a mistura de farinhas de produtos
não-convencionais com a farinha de trigo, melhora a qualidade nutricional de produtos
e pode aumentar sua palatabilidade tornando estes produtos mais aceitos pelos consumidores.
Os
pães experimentais (A e B) diferiram estatisticamente da amostra P quanto aos atributos
aparência, textura e impressão global, sendo que a amostra B não diferiu da amostra
P quanto à impressão global entre os homens, o mesmo acontecendo quanto com os atributos
aparência e textura no sexo feminino. Moura et al. [23] observaram que todos os tipos de biscoitos elaborados com
semente de abóbora apresentaram uma coloração mais escura que o biscoito elaborado
com farinha de trigo, fato esse que não interferiu de forma negativa no produto,
pois eles apresentaram uma boa aceitação sensorial. Souza et al. [24] não observaram diferença estatística entre os atributos aparência,
textura e cor entre as duas tortas preparadas com talos (couve-flor e de brócolis)
e com cascas (cenoura e de beterraba).
Borges
et al. [25] observaram boa aceitação sensorial
de pães de sal enriquecidos com farinha integral de linhaça (10 e 15%), sendo que
ambas formulações obtiveram notas médias localizadas entre os termos “gostei moderadamente”
e “gostei muito”; e que a aceitação foi similar entre as duas amostras, uma vez
que os atributos aparência, textura e impressão global não diferiram significativamente.
Rocha
& Santiago [10] ao investigar a viabilidade do uso de casca de baru no desenvolvimento
de pão integral tipo forma observaram que as cinco formulações (padrão, 25, 50,
75 e 100% em substituição ao farelo de trigo) não diferiram estatisticamente quanto
aos atributos sabor, aparência e textura, sendo que todas foram bem aceitas, uma
vez que as notas para estes atributos se encontraram entre os valores hedônicos
de 6,0 e 7,5 (gostei ligeiramente e gostei moderadamente).
No
estudo da aceitação do nhoque tradicional enriquecido com farinha de resíduo de
brócolis, Malucelli et al. [26] verificaram que as formulações
acrescidas de 4 e 7% da farinha apresentaram aceitação significativamente superior
à formulação padrão quanto aos atributos sabor e aparência, enquanto as mesmas não
diferiram quanto aos atributos cor e textura, indicando que as formulações acrescidas
de farinha foram preferidas.
Vasconcelos
et al. [27] ao avaliarem a aceitação de pães
de forma com substituição parcial de farinha de trigo por farinha de soja (0, 5,
10 e 15%) e adicionado de farelo de aveia (6%) observaram que não houve diferença
significativa entre as amostras quanto ao atributo textura, porém somente a formulação
com 5% de farinha de soja não diferiu da formulação padrão quanto ao atributo aparência,
sendo notada também uma redução significativa da aceitabilidade das formulações
experimentais quanto ao atributo sabor quando comparada à padrão.
Ribeiro
& Finzer [28] desenvolveram biscoito tipo cookie com aproveitamento de farinha de sabugo de milho e casca de banana
e observaram boa aceitação dos mesmos quanto aos atributos aroma,
sabor, cor e textura, uma vez que as notas para estes atributos se encontraram
entre os valores hedônicos 7,0 e 7,5 (gostei moderadamente e gostei muito). Resultados
semelhantes foram encontrados por Santana et al. [29] que
ao avaliarem a aceitação de biscoitos com substituição parcial da farinha de trigo
por farinha de casca do maracujá amarelo e fécula de mandioca encontraram valores
hedônicos entre 6,0 e 8,0 para os atributos impressão global e sabor (gostei ligeiramente
e gostei muito) e valores entre 6,0 e 7,0 (gostei ligeiramente e gostei moderadamente)
para o atributo aparência, enquanto que o atributo textura apresentou os menores
índices com os valores hedônicos variando entre 4, 0 e 7,0 (desgostei ligeiramente
e gostei moderadamente).
Observa-se
que o sexo não influenciou a aceitabilidade das amostras em nenhum dos atributos
analisados, uma vez que, a análise estatística dos dados a 5% de probabilidade não
detectou diferença entre os sexos. Somente no sexo feminino, o pão com 50% de farinha
de grão-de-bico e 1% de farinha de ora-pro-nobis (amostra B) apresentou menor nota
que o pão com 25% de farinha de grão-de-bico e 1% de farinha de ora-pro-nobis (amostra
A) para o atributo sabor, demonstrando que o pão da amostra B foi melhor aceito que o pão da amostra A.
A
amostra B obteve a maior frequência de resposta na classificação “certamente compraria”
quando comparado com a amostra A, sendo que a amostra A obteve as maiores frequências
de respostas quanto as classificações “provavelmente não
compraria” e “certamente não compraria” (Figura 2). Sendo assim, as amostras que
foram adicionadas de farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis apresentaram intenção
de compra semelhante, porém a amostra B obteve frequência de compra ligeiramente
superior a amostra A.
Vasconcelos
et al. [27]
ao avaliarem a intenção de compra
de pães de forma com substituição parcial de
farinha de trigo por farinha de soja
(0, 5, 10 e 15%) e adicionado de farelo de aveia (6%) observaram que
todas as formulações
obtiveram maior frequência de respostas entre as
classificações “certamente compraria”
e “tenho dúvida se compraria ou não”,
porém as formulações com 10 e 15% de farinha
de soja obtiverem maiores frequências de respostas entre as
classificações “provavelmente
não compraria” e “certamente não
compraria” quando comparado às formulações
padrão
e com 5% de ferinha de soja. Santana et al. [29] verificaram
que as médias obtidas para a intenção de compra de 18 formulações de biscoitos com
substituição parcial da farinha de trigo por farinha da casca do maracujá amarelo
e fécula de mandioca encontravam-se acima do termo referente a “tenho dúvida se
compraria ou não”.
Figura 2 - Distribuição
de frequência dos provadores para a intenção de compra dos pães.
Pode
ser observado que entre os pães experimentais (A e B), aquele com 50% FGB e 1% FOP
(amostra B) foi melhor aceito segundo o índice de aceitabilidade
nos atributos sabor, textura e impressão global, apresentando índice inferior à
70% de aceitação apenas para o atributo aparência (Figura III).
Figura 3 - Índice
de aceitabilidade dos pães adicionados de farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis.
Um
produto é considerado aceito, em termos sensoriais, quando o mesmo tem um índice
de aceitabilidade maior que 70% [15]. A partir da avaliação deste índice, observou-se
que a amostra B foi melhor aceita nos atributos sabor,
textura e impressão global, apresentando índice inferior à 70% de aceitação apenas
para o atributo aparência. Martinevski [30] ao avaliar a aceitação de pão de forma
elaborado com ora-pro-nobis encontrou valores de 70,89; 75,33; 78,33 e 77,78%, respectivamente,
para o índice de aceitabilidade dos atributos aparência, sabor, textura e aceitação
global. Ishimoto et al. [31] observaram que a maioria das amostras
de biscoitos (n = 5) elaborados com a farinha da casca de maracujá em substituição
à farinha de trigo, alcançaram o índice mínimo de aceitabilidade, que segundo Castro
et al. [15] deve ser de 70% para que um
produto seja considerado aceito em termos sensoriais. Resultado semelhante foi encontrado
por Lupatini et al. [32] que ao avaliarem o índice de aceitabilidade
do atributo sabor de 7 formulações de biscoito tipo cookie com substituição da farinha
de trigo por farinha de casca de maracujá-amarelo e okara verificaram que apenas
uma das formulações não atingiu a porcentagem mínima de aceitabilidade. Ziglio et al. [33] ao utilizarem a farinha de sabugo
de milho na quantidade de 5%, observaram que esse pão teve índice de aceitabilidade
de 77,77%. Assis et al. [34] ao substituírem a farinha de trigo
por farinha de aveia ou farinha de arroz parbolizado nas proporções de 25, 50, 75
e 100% observaram que apenas a formulação com 100% de farinha de arroz parbolizado
apresentou índice de aceitabilidade significativamente inferior às demais.
Conclui-se
que dentre as amostras adicionadas de farinhas de grão-de-bico e de ora-pro-nobis,
aquela contendo 50% de farinha de grão-de-bico e 1% de farinha de ora-pro-nobis
é a que apresentou melhor aceitação e representa uma nova opção de produto, tendo
em vista as propriedades nutricionais das matérias-primas que deram origem essas
farinhas. Não houve conflito de interesse que possa interferir na imparcialidade
do trabalho.