ARTIGO ORIGINAL
Aspectos
higiênico-sanitários da cozinha de uma instituição de longa permanência para idosos
Hygienic-sanitary aspects of the kitchen of a long-term institution for
elderly
Aline Cardoso
Ferreira*, Sany do Nascimento Dias Paes**, Kamila de
Oliveira do Nascimento, D.Sc.***
*Pós-graduada em
Qualidade, Auditoria e Vigilância Sanitária em Alimentos, Faculdade Redentor,
Volta Redonda/RJ, **Pós-graduada em Fitoterapia, Suplementação e Alimentação
Funcional na Prática Clínica - Centro Universitário de Volta Redonda (UNIFOA),
Volta Redonda/RJ, ***Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário de
Volta Redonda (UNIFOA), Volta Redonda/RJ
Recebido 22 de abril de
2018; aceito 15 de dezembro de 2019
Correspondência: Kamila de Oliveira do Nascimento, Curso de Nutrição, Centro
Universitário de Volta Redonda, Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325 Três Poços 27240-560
Volta Redonda RJ
Aline Cardoso Ferreira:
a_cardosoferreira@hotmail.com
Sany do Nascimento Dias
Paes: sanyndp@gmail.com
Kamila de Oliveira do
Nascimento: kamila.nascimento@yahoo.com.br
Resumo
Embora todas as pessoas
estejam suscetíveis a Doenças Transmitidas por Alimentos, sabe-se que os idosos
fazem parte do grupo de risco a infecções de qualquer natureza, principalmente
microbiológica, em função de alterações no sistema imunológico. Entende-se
ainda que o fornecimento de uma alimentação saudável e higienicamente segura
possui propriedades que colaboram para a manutenção da saúde dos indivíduos,
especialmente dos idosos. Fez-se necessário avaliar os aspectos
higiênico-sanitários da cozinha de uma Instituição de Longa Permanência para
Idosos de Barra Mansa/RJ, a fim de colaborar para sua adequação. Foi elaborada
uma lista de verificação (check list) para analisar os aspectos higiênicos sanitários
da instituição embasada no cumprimento das boas práticas a partir das
resoluções da Anvisa nº 216/04 e nº 275/02. Verifica-se que dos 241 subitens
aplicáveis, apenas 8 foram satisfatórios e 233 foram caracterizados como
insatisfatórios, ou seja, 59 % de irregularidades foram encontradas. Conclui-se
através dos resultados encontrados, um perfil insatisfatório dos aspectos
higiênico-sanitários na cozinha da instituição, sendo que é necessária uma
intervenção nas condições higiênicos sanitárias da ILPI, a fim de evitar
contaminações alimentares e garantir melhores condições de atendimento aos
idosos residentes nesta instituição.
Palavras-chave: higiene, idosos,
segurança de alimentos.
Abstract
Although
all people are susceptible to Foodborne Diseases, it is known that the elderly
are part of the risk group for infections of any nature, mainly
microbiological, due to changes in the immune system. It is understood that the
supply of a healthy and hygienically safe diet has properties that contribute
to the maintenance of the health of individuals, especially the elderly. We
evaluated the hygienic-sanitary aspects of the kitchen of a Long-stay
Institution for the Elderly in Barra Mansa/RJ, in order to contribute to its
adequacy. A check list was prepared to analyze the sanitary aspects of the
institution based on compliance with good practices, based on Anvisa Resolutions 216/04 and 275/02. We verified that of
the 241 subitens applicable, only 8 were satisfactory
and 233 were characterized as unsatisfactory, and 59% of irregularities were
found. Unsatisfactory profile of the hygienic-sanitary aspects in the
institution's kitchen was concluded, and it is necessary to intervene in the
hygienic sanitary conditions of the institution, in order to avoid food
contamination and guarantee better conditions of care for the elderly residents
of this institution.
Keywords:
hygiene, elderly, food safety.
A
crescente expectativa
de vida e consequente aumento do número de idosos, demonstram
que a
distribuição etária da população
mundial tem apresentado visível alteração nas
últimas décadas, e o Brasil não fica fora dessa
realidade, passando por um
processo de envelhecimento rápido e intenso. O envelhecimento
é um processo
biológico natural e universal. A população do
mundo tem envelhecido devido ao
aumento da expectativa de vida. Estima-se que a população
de idosos no mundo
vai ultrapassar a um bilhão em 2020, destacando que a maior
parte da população
idosa viverá em países em desenvolvimento [1].
Segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2012 o Brasil possuía 23
milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, sendo que mais de 100
mil residiam em instituições de longa permanência [2] e de acordo com os
resultados das projeções divulgadas pelo IBGE, configuravam, em 2010, um
contingente de 19,6 milhões de pessoas, devendo aumentar para 66,5 milhões em
2050 [3].
A modernização tem
gerado a modificação da estrutura familiar brasileira, já que a inserção da
mulher no mercado de trabalho, a redução da fecundidade e o tempo acelerado vêm
dificultando a relação do cuidado, tornando um problema para as famílias
manterem seus antecessores em casa. Sendo assim, cada vez mais as famílias vêm
buscando alternativas como a internação de seus idosos em instituições de longa
permanência.
Instituições de Longa
Permanência para Idosos (ILPI) são instituições governamentais ou não
governamentais, de caráter residencial, destinada a
domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem
suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania [4].
O envelhecimento da
população e aumento da sobrevivência de pessoas com redução da capacidade
física, cognitiva e mental requerem que os asilos façam além de participar da
rede de assistência social é necessário que integrem a rede de assistência à
saúde, ou seja, ofereçam algo mais que um abrigo [5].
A
RDC 283/2005 garante
à população idosa a prevenção e a
redução de riscos à saúde dos idosos
residentes em Instituição de Longa Permanência,
sendo que esta deve garantir
uma alimentação saudável aos asilados, tanto do
ponto de vista nutricional
quanto microbiológico [4].
Embora todas as pessoas
sejam suscetíveis a Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs),
sabe-se que os idosos fazem parte do grupo de risco a infecções de qualquer
natureza, principalmente microbiológica, devido ao fato de apresentarem
diminuição e alteração do sistema imunológico. Atualmente, reconhece-se que os
idosos apresentam um aumento da sensibilidade às infecções, ou um estado
conhecido como “imunossenescência”, termo que se refere
à noção de que existem disfunções do sistema imune relacionados à idade, que
resultam em aumento do risco de infecções [6].
Em relação a esse grupo
populacional, as doenças infecciosas são um importante problema a ser
enfrentado, tendo em vista a redução da função imune. Dentre as doenças
infecciosas, as veiculadas por água e alimentos podem ser avassaladoras para os
idosos. Sendo assim, vale ressaltar a importância de se oferecer uma
alimentação preparada seguindo as boas práticas de manipulação e fabricação, a
fim de evitar qualquer ameaça à saúde deste grupo em questão. É possível evitar
a maioria dos casos de DTAs, se comportamentos
preventivos forem adotados em toda a cadeia produtiva de alimentos [7].
A RDC 216/2004 define
Boas Práticas como procedimentos que devem ser adotados por serviços de
alimentação a fim de garantir a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade
dos alimentos com a legislação sanitária. Já a RDC 275/2002 estabelece
Procedimentos Operacionais Padronizados que contribuam para a garantia das
condições higiênicas sanitárias necessárias ao processamento/industrialização
de alimentos, complementando as Boas Práticas de Fabricação [8,9].
Sabendo que o
fornecimento de uma alimentação saudável, íntegra e higienicamente segura,
possui propriedades que colaboram para a prevenção e manutenção da saúde dos
indivíduos, especialmente dos idosos assistidos, o presente artigo objetivou
avaliar o perfil higiênico-sanitário da cozinha de uma Instituição de Longa
Permanência para Idosos no município de Barra Mansa/RJ. A fim de colaborar para
sua adequação, estimulando práticas de segurança de alimentos, assim como
evitar possíveis intercorrências veiculadas pelos alimentos aos internos, já
que estes estão mais vulneráveis a infecções.
O envelhecimento
populacional e as instituições de longa permanência
Estudos comprovam que a
expectativa de vida tem aumentado, o que, aliado à baixa taxa de natalidade e
mortalidade a população tende a envelhecer cada vez mais. O crescimento da
população idosa é fenômeno mundial, sendo que esta faixa etária é a que mais
cresce em relação às outras faixas etárias. O envelhecimento populacional está
relacionado à mudança de alguns indicadores de saúde, especialmente, a redução
da fecundidade, da mortalidade infantil e do aumento da esperança de vida [10].
O crescimento desse
segmento populacional, associado à evolução tecnológica, faz com que as
famílias busquem alternativas para o cuidado de seus idosos. O surgimento de
instituições de longa permanência para idosos (ILPIs)
não é novidade e o número de asilos vem crescendo de forma rápida, acompanhando
desta forma a velocidade da expectativa de vida [11]. A procura por ILPIs decorre da escassez de alternativas das famílias em
manterem seus idosos em casa.
É notório o aumento
significativo da demanda por ILPIs no Brasil devido a
diversos fatores como, estruturas familiares modificadas com mudanças dos
papéis desempenhados pelos seus membros, a redução do tamanho e diferentes
arranjos familiares, alterações essas que interferem na disponibilidade de
pessoas para cuidar dos idosos dependentes em casa, e ainda com os idosos
acometidos, em sua maioria, por doenças crônicas e incapacidades, falta de
recursos e de serviços públicos, tanto no âmbito social quanto na saúde; altos
custos para manter o cuidado domiciliar; espaços físicos das residências muitas
vezes inadequados expondo o idoso a riscos de quedas e violências [12].
No Brasil, não
diferente da tendência mundial, o aumento da longevidade também tem trazido o
aumento da demanda por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e dentro desse contexto, em 2005 passou a vigorar no
país a Resolução da Diretoria Colegiada, RDC nº 283. A RDC adotou o termo ILPI
e estabeleceu normas de funcionamento desta modalidade assistencial. Segundo o
documento, ILPIs são "instituições
governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior
a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condições de liberdade, dignidade e
cidadania" [4].
A qualidade de vida dos
idosos em uma ILPI foi avaliado em vários aspectos e apresentou-se de maneira
insatisfatória como a capacidade funcional onde a maioria dos idosos foi
classificada como dependente, apresentando ainda comorbidades como Diabetes
e/ou Hipertensão Arterial, associado a uma ou mais patologias fatores esse que
interferem na qualidade de vida sendo necessária a adoção de medidas
preventivas, diminuindo comorbidades e consequências do envelhecimento,
amparando os idosos nas práticas no dia a dia, no vínculo com familiares,
devendo-se pensar em estratégias que proporcionem a melhoria na assistência ao
idoso nas ILPI, possibilitando ao idoso a manutenção de suas capacidades
físicas e mentais contribuindo para uma boa qualidade de vida [13].
Um ciclo vicioso de
doença e desnutrição é estabelecido com o consumo de alimentos não seguros que
afetam particularmente crianças, idosos e doentes, que são os mais vulneráveis
as mais de 200 doenças causadas por bactérias, vírus, parasitas ou substâncias
químicas prejudiciais à saúde presentes nesses alimentos, doenças que vão desde
diarreia ao câncer. Doenças diarreicas matam cerca de 2 milhões de pessoas por
ano. Essas doenças prejudicam a produtividade, sobrecarregam o sistema de saúde
pública e reduz os ganhos econômicos, impedem o desenvolvimento socioeconômico,
prejudicando as economias nacionais, turismo e comércio [14].
De acordo com os dados
demográficos atuais, os idosos constituem uma grande parte da população mundial
e que muitas vezes sofrem de deficiências cognitivas e físicas. Como resultado,
nos deparamos com um crescimento significativo de enfermidades acometendo esses
idosos [15]. O que evidencia a importância de garantir não só uma sobrevida
maior, mas de boa qualidade, tendo em vista a vulnerabilidade do grupo em
questão acerca de inúmeras infecções, principalmente ao que diz respeito à
intoxicação alimentar.
Segurança de alimentos
e idosos
Atualmente,
reconhece-se que os idosos apresentam um aumento da sensibilidade às infecções,
ou um estado conhecido como “imunossenescência”,
termo que se refere à noção de que existem disfunções do sistema imune
relacionados à idade, que resultam em aumento do risco de infecções [6].
Associado às alterações decorrentes do envelhecimento, é frequente o uso de
medicamentos que influenciam na digestão e absorção de alimentos, além da falta
de higiene na preparação das refeições, o que pode comprometer a necessidade
nutricional e o estado de saúde do idoso.
A vulnerabilidade da
população idosa a DTAs são confirmadas pelas altas
taxas de incidência e mortalidade em comparação a população geral. Inúmeras
pesquisas comprovam que as DTAs são resultado do não
atendimento as regras básicas de higiene e de segurança alimentar durante o
preparo e conservação de alimentos [7]. É possível evitar a maioria dos casos
de DTAs se comportamentos preventivos fossem adotados
em toda a cadeia produtiva de alimentos.
Segundo o Sistema de
Informações Hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde, de 1999 a 2004,
ocorreram 3.410.048 internações por DTA, com uma média anual de cases de
568.341. De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), de 1999
a 2002, ocorreram 25.281 óbitos por DTA, com uma média de 6.320 óbitos/ano.
Estima-se que o custo das DTA no Brasil com internações por DTA nesse período
chegam a 280 milhões de reais, com média de 46 milhões de reais por ano [14].
Desse modo, uma
alimentação saudável e, consequentemente, a manutenção do estado nutricional
adequado são fatores importantes para a saúde e, portanto, para um
envelhecimento bem sucedido. Alimentação saudável é
aquela constituída por alimentos variados, em quantidades adequadas aos
indivíduos, associada às boas práticas de manipulação e fabricação, a fim de
evitar qualquer ameaça à saúde deste grupo em questão. Sendo assim, é
indiscutível o valor das medidas preventivas a serem tomadas junto aos
manipuladores de alimentos, promovendo melhorias contínuas no processo
produtivo para melhor atender as necessidades dos internos.
Sendo que a deficiência
no controle higiênico-sanitário é um dos fatores que contribuem para a
intoxicação alimentar e aliada a vulnerabilidade dos idosos é notória a
necessidade de avaliar o perfil higiênico sanitário da cozinha desta
instituição, a fim de detectar as não conformidades e introduzir medidas de
intervenção na prevenção de infecções de origem alimentar.
Neste trabalho a
pesquisa foi realizada com base nos aspectos exploratório, descritivo,
qualitativo e de campo em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos no
município de Barra Mansa/RJ. Os dados foram coletados através da aplicação de
um check list pautado nas
Resoluções RDC nº 275/02 e RDC nº 216/04, através de visitas técnicas à
instituição no mês de julho de 2014 com intuito de avaliar os aspectos
higiênico-sanitários da cozinha da instituição, bem como o cumprimento das boas
práticas dos manipuladores de alimentos [8,9].
Através da observação
sistemática e da aplicação do check list foram avaliados os seguintes itens: higiene dos
funcionários, do ambiente e dos equipamentos, armazenamento de alimentos,
estrutura física, manipuladores, armazenamento de resíduos.
Os itens observados
foram classificados como conforme e não conforme de acordo com as legislações vigentes.
Após a aplicação da lista de verificação dos itens, o estabelecimento foi
classificado qualitativamente de acordo com as categorias: Grupo 1: alta
adequação (acima de 76% - 100% de atendimento dos itens), Grupo 2: média
adequação (51% - 75% de atendimento dos itens) e Grupo 3: baixa adequação
(0-50% de atendimento dos itens).
O check list utilizado
possui um total de 264 itens, dos quais 23 deles não foram aplicados à
realidade do local em estudo. Os 241 itens avaliados foram divididos em 35
subitens e alocados em 8 macro categorias, as quais são mostradas na figura 2,
com o objetivo de ponderar e equilibrar estatisticamente o peso de cada uma
delas sobre a média global. Dessa forma, observa-se que a média ponderada
global de não-conformidades por categoria é da ordem de 59%, o qual é mostrado
na figura 1.
Figura 1 - Índice
global de conformidades e não conformidades.
Verifica-se que
resultados semelhantes foram encontrados em diversos tipos de estabelecimentos
que manipulam alimentos [16], onde os autores avaliaram 10 restaurantes do
município de Rio Vermelho, na Bahia, e concluíram que apenas 45,8% atendiam as
legislações.
No diagnóstico da
cozinha asilar, de maneira global, foi possível verificar conforme a Figura 1,
que apenas 41% dos itens avaliados estavam em conformidade com as legislações,
e de acordo com a classificação da RDC 275 [8], a cozinha em estudo se enquadra
no grupo 3, de baixa adequação, com menos de 50 % de atendimento aos itens
analisados.
Em 2010 um estudo
realizado em um shopping center em Porto Alegre demonstrou que em vinte
estabelecimentos de alimentação analisados, onze foram classificados como
insatisfatórios, enquanto apenas nove foram considerados satisfatórios [17].
Verifica-se na ILPI
avaliada na presente pesquisa, que os itens são representados no check list por: 42%
para os Aspectos Gerais da Produção, 21% para Projeto e Instalações, 12% para
Manipuladores, 10% para Higiene, 6% para Controles e Registros, 3% para amostras,
3% para Equipamentos e Utensílios e 2% para Documentação. Onde em uma análise
sistêmica verificada na Figura 2, constata-se que dos 8 itens apenas 2 itens
analisados, como: Projeto e Instalações e Equipamentos e Utensílios possuem um
nível satisfatório de adequação com 72% e 63% respectivamente de conformidade e
podem ser considerados de média adequação. Os demais estão com níveis gerais
abaixo de 50% de conformidade, destacando-se os Aspectos Gerais da Produção e
Higiene do estabelecimento, os quais possuem média global de apenas 29% de
conformidade, sendo, portanto, consideradas as categorias com maior déficit,
apresentando total baixa adequação.
Em estudo de uma ILPI
da cidade de Curitiba- PR, avaliou-se através da aplicação de um questionário,
o conhecimento dos manipuladores de alimentos quanto a aplicação das normas de
Boas Práticas de Manipulação de Alimentos constatou-se que a maior quantidade
de erros dos manipuladores ficou evidente nos itens de contaminação,
temperatura e descongelamento, e ainda que o treinamento aplicado sobre boas
práticas de manipulação foi efetivo, havendo 100% de acerto nas respostas na
segunda aplicação do questionário [18].
Figura 2 - Avaliação geral
por divisão de macro categorias.
Uma pesquisa realizada
numa indústria de alimentos em Minas Gerais, destacou que apenas 18,5% das
instalações, equipamentos e utensílios analisados encontravam-se corretamente
higienizados [19]. A higienização inadequada aumenta a probabilidade de
contaminação por micro-organismos patogênicos, portanto, a higiene da
instalação, equipamentos e utensílios deve ser considerada um fator crítico na
segurança dos alimentos.
Conforme evidenciado na
Figura 3, destaca-se os itens: Controle e Registro e Amostras, os quais não
apresentaram conformidade em nenhum dos subitens avaliados nessa pesquisa (0%
de conformidade), bem como os subitens Controle de pragas e Edificação, dentro
do item Projeto e Instalações, tendo, portanto, apresentado 100% de não
conformidade. Podem-se destacar subitens em descumprimento total de
conformidade, na unidade avaliada nesse estudo, dentro do item Aspectos Gerais
da Produção, sendo eles, descongelamento, resfriamento e distribuição, e os
subitens com conformidade abaixo de 30%, recebimento de matérias primas,
pré-preparo de carnes, cocção/reaquecimento, critérios de uso, os quais também
são considerados como baixa adequação.
Uma pesquisa foi
realizada em três cozinhas comunitárias em Leopoldina, MG [20], sendo que duas
delas destacaram a não conformidade no item edificação, apresentando layout
inadequado com cruzamento de atividades, sem separação da área suja e área
limpa, aumentando assim o risco de contaminação aos alimentos.
Figura 3 - Resultado da
aplicação por itens na ILPI.
Em seis restaurantes em
Maringá, estado do Paraná [21], foram avaliados quanto ao preparo de alimentos
constatou a inexistência de critérios de controle no pré-preparo de carnes e o
resfriamento de alimentos foram a não conformidade mais encontradas.
Por outro lado, no
presente estudo avaliando a ILPI, observam-se que os subitens pertencentes ao
item Projeto e instalações: localização, paredes e divisórias, teto e forros,
janelas e telas, iluminação e instalação elétrica, pias para higienização de
mãos, sanitário e vestiários, apresentaram alta adequação, ou seja, com 100% de
conformidade a legislação vigente. Aponta-se o subitem Lixo, caixa de gordura e
esgoto com alta adequação e dentro desse mesmo item.
Ter uma alimentação
saudável não está apenas ligado à oferta de alimentos nutritivos, mas também
está diretamente relacionado ao conceito de segurança dos alimentos. O
manipulador é essencial na produção de alimentos, entretanto, tem sido
considerado um dos principais responsáveis pela contaminação dos alimentos, mas
não o único, o ambiente também pode contribuir para que isto ocorra, como por
exemplo, o local de armazenamento dos alimentos, utensílios, o ar, poeira,
umidade entre outros fatores. A contaminação alimentar acontece quando o alimento
é contaminado por micro-organismos patogênicos ou suas toxinas, substâncias ou
agentes estranhos podendo ser de natureza química, física ou biológica causando
danos à saúde. Por isso a importância dos treinamentos, para que as pessoas que
exercem esta atividade se conscientizem de sua responsabilidade com a saúde dos
consumidores, pois muitos deles têm baixos conhecimentos sobre manipulação
adequada dos alimentos e muitas vezes o pouco conhecimento que eles possuem são
os adquiridos ao longo da vida e passado de geração à geração [22].
Nos dias atuais, grande
parte das pessoas envolvidas com manipulação acha que entende sobre
alimentação, o que tem se observado que existe um despreparo e falta de
conhecimentos, principalmente em relação à higiene pessoal e preparo dos
alimentos de forma segura.
Na avaliação feita
nesse estudo foi detectado que apenas 15% dos manipuladores da ILPI estão em
conformidade em relação a higiene pessoal, pois foi observado o uso de adornos,
unhas esmaltadas e objetos pessoais dentro da área de produção. Já em relação
ao item Documentação, nota-se que essa instituição apresenta 67 % de não
conformidade, não possuindo os documentos obrigatórios, como o Manual de Boas
Práticas (MBP) e os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs).
Cabe salientar que os
resultados encontrados neste trabalho são semelhantes aos resultados
encontrados por Oliveira [24] em estudo realizado em restaurantes populares no
estado do Rio de Janeiro, onde alcançaram apenas 40% e 30% relacionados aos
documentos MBP e POP respectivamente.
Em um relato de
experiência de um nutricionista dentro de uma Instituição de Longa Permanência
para Idosos no município de Rio Paranaíba/MG, ficou evidenciado que na unidade
em questão possuía um MBP, embora esse manual não contasse com o POP, a partir
da elaboração do POP para integração do MBP, execução de treinamentos,
periodicidade de higienização, a implantação, registro e acompanhamento dos
processos de manipulação de alimentos houve, de acordo com relatos de
funcionários do ILPI notória diminuição dos casos de diarreia entre os idosos
institucionalizados [25].
De maneira geral, na
ILPI avaliada nesta pesquisa, 41% de conformidade dos itens do check list avaliado é atribuído
principalmente ao item Projeto e instalações, o qual pode ser considerado o
ponto forte do estabelecimento avaliado. O item Equipamentos e utensílios
possuem em média 63% de conformidade, sendo considerada como média adequação.
As demais categorias
podem ser consideradas de maneira global com baixa adequação e devem ser trabalhadas
como proposta de melhoria, sendo que o principal déficit está dentro dos
aspectos gerais da produção, o qual tem peso importante no resultado global do
check list em questão (42%), seguido por controles e registros, e amostras, os
quais estão 100% não conformes, porém possuem peso menor no global (9% se
somados).
Destacando que a
qualidade higiênico-sanitária constitui fator crucial para inocuidade dos
alimentos, a qual tem sido amplamente estudada e discutida, considerando que as
DTAs são as principais causas que contribuem para os índices de morbidade [26].
Perante este evento e juntamente com resultado obtido com a lista de
verificação, a unidade de alimentação da ILPI necessita se adequar aos itens
importantes do check list, de acordo com o cumprimento das boas práticas a
partir das resoluções da Anvisa nº 216/04 e nº 275/02, a fim de promover uma
alimentação segura e consequentemente, uma melhor qualidade de vida aos
internos.
Diante da realidade
demográfica conta-se com uma população cada vez mais envelhecida, evidenciando
a importância de garantir uma sobrevida maior e de melhor qualidade, tendo em
vista a vulnerabilidade do grupo em questão acerca de inúmeras infecções,
principalmente ao que diz respeito à intoxicação alimentar.
A cozinha da
Instituição de Longa Permanência para Idosos apresentou um elevado número de
itens inadequados, revelando um grande percentual de não conformidades, evidenciando
uma deficiência nos aspectos higiênico-sanitários, comprometendo a qualidade e
segurança dos alimentos das refeições servidas.
Conclui-se através dos
resultados encontrados, um perfil insatisfatório dos aspectos
higiênico-sanitários na cozinha da instituição, sendo que se faz necessária uma
intervenção nas condições higiênicos sanitárias da ILPI, a fim de evitar
contaminações alimentares e garantir melhores condições de atendimento aos
idosos residentes nesta instituição.
Questões de segurança
de alimentos, incluindo principalmente a adequada manipulação de alimentos,
pode ser a parte essencial do aconselhamento dietético praticado na cozinha da
instituição, sobretudo para esta faixa etária vulnerável em estudo.