ARTIGO ORIGINAL
Conhecimento
nutricional e uso de suplementos alimentares por frequentadores de academias de
uma capital do nordeste
Nutritional knowledge
and intake of nutritional supplements by gym users in a northeast capital
Jarlson Pio Soares*, Ana Caroline Pereira da
Costa*, Gilberto de Araújo Costa**, Luiza Marly Freitas de Carvalho, M.Sc.***, Liegy Agnes dos Santos
Raposo Landim, M.Sc.****
*Discente em Nutrição
pelo Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA), **Doutorando em Engenharia
Biomédica pela Universidade Brasil, docente em cursos de Graduação e Pós
Graduação em Gestão Financeira do UNIFSA Teresina/PI, ***Doutoranda no Programa
de Alimentos e Nutrição- PPGAN –UFPI, Mestre em Alimentos e Nutrição pela
Universidade Federal do Piauí (2012), docente do (UNIFSA) Teresina/PI,
****Doutoranda e Mestre em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI), professora horista no curso de Bacharelado em Nutrição do
(UNIFSA) Teresina/PI
Recebido
19 de novembro de 2019; aceito 25 de novembro de 2019
Correspondência: Jarlson
Pio Soares, Rua Quintino Bocaiúva, 1772 Nossa Senhora das Graças Teresina PI
Jarlson Pio Soares:pionutricionista@hotmail.com
Ana
Caroline Pereira da Costa: carulini45@gmail.com
Gilberto
de Araújo Costa: gilbertodearaujocosta@gmail.com
Luiza
Marly Freitas de Carvalho: lumarnahid@gmail.com
Liegy Agnes dos Santos Raposo Landim:
liejyagnes@gmail.com
Resumo
Objetivo: Investigar o
conhecimento nutricional e a prevalência do uso de suplementos alimentares por
frequentadores de academias de uma capital do Nordeste. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e quantitativo, com a
participação de 68 indivíduos, de ambos os sexos e maiores de 18 anos.
Aplicou-se questionário referente ao conhecimento dos alimentos, suplementos
alimentares e a fonte de informação desses suplementos. Resultados: Verificou-se que 52,94% (n=36) não apresentaram
conhecimento sobre a função dos macronutrientes. Em relação ao uso dos
suplementos alimentares, 51,48% (n=35) relataram não usar ou já ter feito uso.
O whey protein
aparece como o suplemento mais utilizado, citado por 26,75% (n=23) dos
indivíduos. A internet aparece como a maior fonte de informação sobre
suplementos com 38,32% (n=41). Conclusão:
Conclui-se que há pouco conhecimento quanto aos macronutrientes e suas funções.
Além disso, observou-se que a maioria das informações referentes ao uso de
suplementos não estão sendo adquiridas por um profissional habilitado,
entendendo-se que o uso está sendo feito de forma indiscriminada, sendo
necessária uma intervenção em nutrição esportiva nas academias.
Palavras-chave: nutrição, suplementos
alimentares, academias.
Abstract
Objective: To
investigate nutritional knowledge and the
prevalence use of nutritional supplements by gym users
in a Northeast capital. Methodology: This
was a transversal and quantitative study, with the participation
of 68 individuals, both sexes and
above 18 years. A questionnaire was applied referring to nutritional knowledge, nutritional supplements and the source of
information of these supplements. Results: 52,94%
(n=36) did not show knowledge about macronutrients functions. About the use of
nutritional supplements
51,48% (n=35) reported that
do not use or did not use of. Whey Protein appears as the most used
supplement, mentioned by 26,75% (n=23). The internet appears
as the biggest information source about supplements, with 38,32% (n=41). Conclusion: We observed
a little knowledge about macronutrients and its functions, that most of
the information referring to the
use of supplements is not being
obtained by a qualified professional, the use is made indiscriminately,
making necessary an intervention on sportive nutrition in gyms.
Key-words: nutrition,
dietary supplements, gyms.
Atualmente, em busca de um bom condicionamento
físico, qualidade de vida e melhora da estética corporal, uma grande quantidade
de pessoas vem buscando a prática de diversas modalidades de exercício físico
[1]. Essa busca da construção do corpo, muito valorizada pela sociedade atual e
bastante propagada pela grande mídia vem sendo bem disseminada em todas as
camadas sociais [2]
Uma alimentação feita de forma adequada, sendo
ela na sua quantidade e qualidade adequadas e realizada nos horários certos, é
indispensável para se obter um bom desempenho ao realizar algum tipo de
exercício físico, seja ele com a utilização de pesos ou qualquer outro tipo
[3]. Em contrapartida, erros no consumo alimentar contribuem de forma negativa
na performance e prejudica a saúde como um todo [4].
É necessário estar atento não somente à
contribuição da alimentação quanto ao rendimento no esporte, sendo necessária
uma atenção maior dos praticantes de exercício quanto ao nível de conhecimento
sobre nutrição [5]. A maioria das pessoas que frequentam academias tem por
objetivo o aumento de massa isenta de gordura, mas abrem mão de uma alimentação
mais saudável, visando de imediato à estética, priorizando os suplementos e
dietas da moda [6].
Percebe-se que muitas vezes o consumo dessas
substâncias é elevado, utilizando-se vários suplementos e em doses mais altas
do que o recomendado e sem a orientação de um profissional especializado [7]. A
incessante busca pelo corpo perfeito e a falta de interesse pelo corpo saudável
tem levado a população a abusar no uso dos suplementos alimentares, substâncias
essas que, potencializam em um curto espaço de tempo o seu desejo [8].
Diversos
efeitos colaterais como sobrecarga de
órgãos e outros problemas de saúde tais como:
infarto agudo do miocárdio,
acidente vascular cerebral, convulsões ou até o
óbito podem ocorrer em
decorrência do uso indiscriminado de suplementos alimentares [9].
Estudos
referentes a esse tema tornam-se relevantes, pois é evidente o
crescente uso
dos suplementos alimentares entre os praticantes de atividades de alta
intensidade, sem a devida consideração com
relação à alimentação
saudável e as
orientações por profissionais habilitados [10].
Observa-se um consumo excessivo crescente dos
suplementos alimentares dentro das academias de ginasticas no Brasil, com
diversas finalidades como estética e a ergogênica
(ganho de massa muscular). A orientação de um profissional da nutrição se faz
necessário em grande parte dos casos [11].
Portanto, o objetivo da presente pesquisa foi
verificar o conhecimento nutricional e uso de suplementos alimentares por
frequentadores de academias de uma capital do nordeste.
Trata-se de um estudo de campo do tipo
transversal realizado com frequentadores de academias na cidade de Teresina/PI.
Utilizaram-se como critérios de inclusão no estudo: indivíduos de ambos os
sexos, que estavam nos locais e nos dias em que ocorreu a coleta dos dados,
faziam algum tipo de atividade física regularmente durante a semana e assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com o
preconizado na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Foram
excluídos da pesquisa aqueles que por algum motivo não tinham condições de
responder aos questionários; os que por algum motivo se sentiram
desconfortáveis em preenchê-lo e indivíduos menores de 18 anos. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Santo
Agostinho (UNIFSA), sob o parecer n° 3.235.999.
O estudo foi realizado em duas academias
selecionadas por meio de sorteio, situadas próximas a um Centro Universitário,
que possuíam a mesma quantidade de alunos matriculados e que não houvesse
nutricionistas disponíveis. A pesquisa contou com a participação de 68
indivíduos, abordados de forma aleatória que saiam ou chegavam às academias em
diferentes horários do dia e em diferentes dias da semana. Aqueles que
concordavam em participar, após serem feitos os devidos esclarecimentos e orientação
quanto aos objetivos, metodologia, riscos e benéficos, assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a coleta dos dados.
Foram realizadas visitas nas academias, em que
se aplicaram questionários abordando temas envolvendo caracterização sócio-demográfica do indivíduo (sexo, idade, renda
familiar, escolaridade), conhecimento básico de nutrição (macronutrientes e
suas funções), além do consumo de suplementos e suas fontes de informações.
Os dados foram organizados em planilhas do
Microsoft Excel 2013. Para a análise dos dados utilizou-se o programa IBM SPSS Statistics 22 para Windows. As análises descritivas
utilizaram-se tabelas de frequência, gráficos, médias e desvio padrão e na
verificação da associação entre as variáveis utilizou-se o teste Qui-quadrado de Person com o nível de significância de 95%
de confiança (p-valor >0,05).
Em relação aos aspectos sociodemográficos é
possível perceber uma semelhança com estudos já realizados com o público em
questão. A amostra da presente pesquisa constituiu-se de 68 indivíduos
frequentadores de duas academias da cidade de Teresina/PI, sendo observada uma
maior participação do gênero feminino, em que se obteve uma quantidade total de
69,1% (n=47) de mulheres. O fato de uma das academias oferecer serviços
específicos para as mulheres pode explicar a maior participação desse gênero. A
média de idade dos participantes foi de 27,4 ± 7,6 anos tanto para homens
quanto para mulheres. Isso mostra que a maioria dos frequentadores dessas
academias são adultos jovens (Tabela I).
Tabela I - Caracterização da amostra.
Fonte:
Dados da pesquisa, 2019.
Esses números vão de encontro aos achados na
pesquisa realizada em uma academia de Fortaleza por Gomes et al. [12], em que
61,2% dos entrevistados eram do sexo feminino com faixa etária entre 18 e 30
anos. Resultado semelhante também à pesquisa realizada em Braço do Norte por
Souza e Cargnin-Carvalho [13], em que 65,1% eram do
gênero feminino e se encontravam com idades entre 18 e 29 anos.
É incontestável o intenso avanço das ciências
do esporte, com isso encontramos cada vez mais mulheres aderindo a algum tipo
de exercício físico, com o intuito de alcançar seus desejos de beleza, como
lazer e também para obter benefícios que essas atividades propiciam na
prevenção de patologias comuns ao processo de envelhecimento [14].
A renda salarial da maioria dos pesquisados foi
de 2 salários mínimos com um total de 30,8% (n=21). Em pesquisa feita por
Nogueira et al. [15] em academias da
cidade de João Pessoa/PA, 1 a 3 salários mínimos foi a renda mais citada pela
maioria,79,5% (n=144) dos participantes. Resultados esses que se assemelham a
presente pesquisa (Tabela I).
Os participantes da pesquisa possuem um bom
nível de escolaridade, sendo que a maior parte 42,6% (n=29) possui nível
superior completo (Tabela I). Esse resultado é corroborado pela pesquisa de
Maximiano e Santos [16] em que 48,8% concluíram o ensino superior completo.
Fonte:
Dados da pesquisa, 2019.
Gráfico 1 - Conhecimentos quanto às funções dos macronutrientes.
Verificou-se que 52,94% (n=36) dos indivíduos
pesquisados desconhecem os macronutrientes e suas funções (Gráfico 1).
Resultados semelhantes foram encontrados por Araújo [17] ao avaliar o nível de
conhecimento nutricional dos praticantes de corrida em Minas Gerais, o qual
constatou que 62% desconheciam as funções básicas dos macronutrientes o que
pode comprometer escolhas alimentares adequadas. Resultados diferentes foram
encontrados em pesquisa de Santos e Navarro [18] em diversas academias e estúdios
na cidade de João Monlevade/MG, em que 74,1% dos voluntários demonstraram
conhecer o papel dos macronutrientes.
Verificou-se os dados acerca da prevalência do
uso de suplementos alimentares (SA) pelos frequentadores das academias. Do
total de 68 participantes, 51,48% (n=35) relataram não fazer uso de SA (Tabela
II).
Estudo de Rodrigues e Chaves [19] apresentou
resultados semelhantes, mostrando que do total de 31 participantes, 61%
relataram não fazer uso dessas substâncias. Em pesquisa de Santos e Farias [20]
em duas academias de Salvador/BA verificaram que a maior parte dos
participantes, 53% não faz uso de SA.
Em relação à associação do uso dos SA com o
gênero, no feminino houve maior citação de uso quando comparado ao masculino,
onde 42,6 % (n=20) das mulheres relatou usar algum tipo de suplemento. Essa
maioria no gênero feminino pode ser explicado pelo fato de uma das academias
oferecer serviços que atraem esse público, como já citado anteriormente.
Discordantes de estudo realizado por Pellegrine et al. [21], onde o gênero masculino
teve um consumo maior de SA com relação às mulheres.
Em outra pesquisa realizada por Landim [22]
32,2% dos participantes usavam SA, sendo em sua maioria os homens. Isso pode
ser explicado pelo fato de que os homens desejam um corpo mais musculoso, sendo
sempre uma tendência entre esse gênero.
Tabela II - Associação entre consumo de suplementos alimentares e o gênero.
Teste
Qui-Quadrado (95% de confiança). Fonte: dados da
pesquisa, 2019.
Verificou-se que a maior parte dos
participantes fez ou faz uso de suplementos proteicos. Os suplementos mais
citados foram o whey protein
com 26,75% (n=23), o BCAA (com 13,96% (n=6) e a creatina com 6,98,% (n=12) (Tabela III).
Tabela III - Tipos de suplementos mais citados.
BCAA
= Branched-Chain Amino Acids);
Teste Qui-Quadrado (95% de confiança). Fonte: dados
da pesquisa, 2019.
Esses resultados são corroborados pela pesquisa
realizada por Silva FR et al. [23] com
100 adultos em 5 academias da cidade de Limoeiro do Norte/CE, em que os
suplementos mais citados são aminoácidos ramificados (BCAA) 59,4% (n=44), os
proteicos 50% (n=37) e a creatina 47,3% (n=35). Resultados semelhantes
encontraram Oliveira et al. [24] em
um estudo realizado em Ouro Preto do Oeste/RO, em que a classe de suplementos
mais mencionada durante a pesquisa foram os hiperproteicos
(34,83%), seguidos pelos BCAA (32,58%) e creatina (21,91%).
Observou-se em estudos epidemiológicos que
diversos problemas de saúde como: hipertensão, doença renal crônica, diabetes,
obesidade e síndrome metabólica estão intimamente relacionados a uma
alimentação rica em proteínas [25].
Pesquisas atuais derrubam a crença popular
antiga de que consumo adicional de proteína aumenta a força e melhora o
desempenho, pois se observa que a quantidade necessária de proteína para um bom
desenvolvimento muscular durante os treinos é facilmente obtida por uma
alimentação balanceada [26].
A internet foi à fonte de pesquisa mais citada
dos SA, referida por 38,32% (n=41) dos participantes, ficando o nutricionista
como segundo mais citado por 27,10% (n=29) (Gráfico 2).
Fonte:
Dados da pesquisa, 2019.
Gráfico 2 - Fontes de informação dos suplementos alimentares. N = 68. Teresina-PI, 2019.
Fernandes e Machado [27], em um estudo com 108
indivíduos praticantes de musculação na cidade de Passo Fundo/RS, observaram
que 71% dos indivíduos que faziam uso de suplementos não era a partir de
indicação profissional. Em outro estudo, Marques [28] verificou que a indicação
profissional foi encontrada somente em 31,1% dos que utilizavam esses produtos,
enquanto que 46,7% era por auto prescrição.
A busca de informações por parte de diversos
praticantes de exercícios físicos leigos a pesquisa sobre alimentação saudável
e de como se prepara uma dieta, se dá em grande maioria, por fontes pouco
confiáveis como: internet, revistas que não citam a fonte ou por profissionais
que não são habilitados para essas funções, como é geralmente o caso dos educadores
físicos presentes nas academias [29].
Estudos mostram que a internet e outros meios
de comunicação podem influenciar indivíduos frequentadores de academias a
buscar uma alimentação direcionada ao “mundo fitness”, e isso acarreta, muitas
vezes, práticas alimentares inadequadas, como o uso de suplementos
nutricionais, dietas restritivas com déficit ou excesso de alguns nutrientes
[30].
Na pesquisa observou-se pouco conhecimento a
respeito das vertentes do estudo pelos indivíduos pesquisados. Percebe-se que
os suplementos alimentares são consumidos em maior quantidade entre o gênero
feminino, sendo que os proteicos foram os mais mencionados. Além disso, pode-se
constatar que os indivíduos ainda não estão conscientes da importância de
buscar um profissional habilitado para uma orientação nutricional antes do início
dos exercícios físicos. Fica claro a necessidade de se conhecer os alimentos e
suas funções, além da conscientização dos frequentadores de academias quanto à
real necessidade do uso dos suplementos alimentares. Isso seria possível com
uma educação nutricional no ambiente da prática esportiva.