ARTIGO ORIGINAL

Estado nutricional e síndrome metabólica em adultos de uma unidade de saúde de Anajás/PA

Nutritional status and metabolic syndrome in adults attended at a Health Unit in Anajás/PA

 

Patrícia Rodrigues Portugal*, Rozinéia de Nazaré Alberto Miranda, D.Sc.**, Bruno Rafael Batista de Ataíde***, Camila Corrêa Bandeira****

 

*Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Oncologia e Ciências Médicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), **Nutricionista, Docente da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Pará (UFPA), ***Nutricionista pela Universidade Federal do Pará, Residente do Programa de residência multiprofissional em atenção à saúde mental, Universidade do Estado do Pará, ****Bacharel em Nutrição pela Universidade Federal do Pará (UFPA)

 

Recebido 19 de março de 2019; aceito 15 de setembro de 2019.

Correspondência: Patrícia Rodrigues Portugal, Vila da Paz, 28D Bairro Cremação 66063-060 Belém/PA

 

Patrícia Rodrigues Portugal: patriciarodriguesportugal@gmail.com

Rozinéia de Nazaré Alberto Miranda: rozi@ufpa.br

Bruno Rafael Batista de Ataíde: brunoataide8@hotmail.com

Camila Corrêa Bandeira: camilacb1020@gmail.com

 

Resumo

A síndrome metabólica possui origem multifatorial e propicia risco para eventos cardiovasculares e desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. O objetivo deste estudo foi caracterizar o estado nutricional de adultos e avaliar sua relação com a prevalência da SM. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, realizado com 200 indivíduos entre 20 e 59 anos de idade, de ambos os sexos, atendidos em uma unidade de saúde do município de Anajás/PA. Foram analisados dados sócio demográficos, antropométricos, exames laboratoriais (perfil lipídico e glicemia) e pressão arterial. Seguiram-se os critérios da Organização Mundial da Saúde e do National Cholesterol Education Program III, para a definição do estado nutricional e diagnóstico da síndrome. Neste estudo a prevalência geral de indivíduos portadores de SM foi de 7,5% (n=15), destes 15 indivíduos, 13,3% (n=2) eram eutróficos, 53,3% (n=8) com sobrepeso e 33% (n=5) obesos. Concluindo que o resultado do estado nutricional inadequado tem relação positiva com a presença da Síndrome Metabólica.

Palavras-chave: estado nutricional, síndrome metabólica, adulto, saúde pública.

 

Abstract

The metabolic syndrome has a multifactorial origin and provides risks for cardiovascular events and the development of type 2 diabetes mellitus. The aim of this study was to characterize the nutritional status of adults and to evaluate their relationship with the prevalence of MS. This is a descriptive, cross-sectional study of 200 individuals between 20 and 59 years, of both sexes, attended at a health unit in the city of Anajás/PA Brazil. Socio-demographic data, anthropometric data, laboratory tests (lipid profile and glycemia) and blood pressure were analyzed. The criteria of the World Health Organization and the National Cholesterol Education Program III were followed to define the nutritional status and diagnosis of the syndrome. In this study, the overall prevalence of MS individuals was 7.5% (n = 15), of these 15 individuals, 13.3% (n = 2) were eutrophic, 53.3% (n = 8) were overweight and 33% (n = 5) obese. Concluding that the result of inadequate nutritional status is positively related to the presence of Metabolic Syndrome.

Key-words: nutritional status, metabolic syndrome, adult, public health

 

Introdução

 

O estado nutricional dos indivíduos tomou uma nova configuração, é notado que houve uma expansão do número de pessoas com sobrepeso e obesidade, fato esse conhecido como transição nutricional. Um dos motivos relacionado à essa problemática é o estilo de vida adotado pela geração contemporânea, que culmina no aparecimento de inúmeros problemas de saúde, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), aumentando os índices de morbidade e mortalidade [1]. Atualmente, a obesidade e o sobrepeso cada vez tornam-se mais frequentes, sendo caracterizados como uma pandemia global [2].

A pessoa com excesso de peso geralmente tem as chances aumentadas de desenvolver diversas complicações físicas e psicológicas. Algumas dessas complicações são as comorbidades que reunidas integram a chamada Síndrome Metabólica (SM), síndrome essa que propicia a elevação do risco cardiovascular [3]. Em alguns casos, as complicações podem ser geradas pela obesidade ou sobrepeso, ou de forma indireta, quando associadas à um estilo de vida que exclui a prática de atividade física e mantém o hábito de um plano alimentar desequilibrado [4].

Além de propiciar o risco para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares, essa síndrome de origem multifatorial também possibilita risco para diabetes mellitus tipo 2 (DM2) [5]. De acordo com o National Cholesterol Education Program, o aumento dos níveis de obesidade central – caracterizado pela circunferência da cintura elevada - hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, hiperglicemia de jejum e colesterol HDL-c baixo, são critérios utilizados no diagnóstico da SM, onde, a combinação de três fatores ou mais já indica a presença desta [6].

Diante do exposto, este trabalho visa caracterizar o estado nutricional de adultos atendidos em uma Unidade de Saúde do município de Anajás/PA, e avaliar sua relação com a prevalência da SM.

 

Material e métodos

 

Estudo do tipo descritivo, transversal, com dados pertencentes ao projeto de pesquisa “Marcadores Epidemiológicos em Saúde no Arquipélago do Marajó”, aprovado no Comitê de Ética do Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará, Fundação HEMOPA, sob o parecer de nº 0003,0,324,000-10, e que teve por objetivo conhecer as condições de saúde da população residente em quatro municípios localizados no Arquipélago do Marajó.

A amostra foi composta por 200 indivíduos adultos residentes do município de Anajás, sendo 100 mulheres e 100 homens, na faixa etária de 20 a 59 anos, que foram atendidos na Unidade Básica de Saúde do Município, no período de coleta da pesquisa em questão. Somente participaram do estudo indivíduos que estavam orientados em tempo e espaço, e que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram isentas da pesquisa mulheres grávidas, pelo fato de possíveis alterações nos resultados decorrente das alterações fisiológicas desta fase.

A avaliação antropométrica considerou dados referentes ao peso, altura, circunferência da cintura e a relação cintura-estatura (RCEST). Sendo o Índice de massa corporal (IMC), calculado pela fórmula kg/altura2, seguindo os padrões de referência para pessoas adultas da Organização Mundial da Saúde [7]. A classificação da circunferência da cintura (CC) levou em consideração os parâmetros da Federação Internacional de Diabetes (IDF), inferindo risco para Doença cardiovascular, CC acima de >80 cm como risco e acima de >88 cm como risco muito elevado. Enquanto que para homens considera-se acima de >94 risco e acima de >102 risco muito elevado [8]. Para a RCEST os pontos de corte adotados foram de <0,5 (normal) e ≥0,5 (aumentada) [9].

Os dados bioquímicos referentes aos níveis de triglicerídeos (mg/dL), HDL-c (mg/dL) e glicemia de jejum, foram definidos por meio de coleta sanguínea e analisados “in loco” no Laboratório de Análises Clínicas (LAC), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Tomou-se como base a V Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose, que considera os seguintes valores (mg/dl): para mulheres HDL-c > 60 e para homens HDL-c >40. Em relação aos triglicerídeos (TG) temos: <150 referente a ambos sexos [10]. Já para a análise da glicemia de jejum tomou-se como referência os dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, que define a glicemia ≥ 100 e < 126 como pré-diabetes ou risco aumentado para DM [11].

Para a avaliação da Pressão arterial sistólica e diastólica adotou-se a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, que classifica como hipertensão arterial PAS acima de 130 mmHg e PAD acima de 80 mmHg [12].

Enquanto que para diagnóstico da Síndrome Metabólica, foram levados em consideração os parâmetros do National Cholesterol Education Program III, que considera a presença de pelo menos três fatores (CC elevada, hipertensão, hipertrigliceridemia, colesterol HDL baixo e glicose de jejum elevada), como indicativo da presença da SM [13].

Os dados foram digitados no programa Epi info 7, o tratamento estatístico foi realizado no programa Bioestat 5.0, no qual utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov, para verificação da normalidade dos dados [14]. Os resultados são apresentados com uso da estatística descritiva (média desvio padrão, frequências absolutas e relativas). O teste Qui-quadrado e T de Student, foram utilizados para comparação das variáveis antropométricas e bioquímicas das amostras. Utilizou-se ainda a correlação de Pearson para correlacionar o IMC e variáveis da síndrome metabólica.

 

Resultados

 

Dos 200 indivíduos avaliados, a maioria (39%) apresentou-se na faixa etária de 31-40 anos. Em relação à escolaridade, homens (34%) e mulheres (44%) possuem ensino fundamental completo, o estado civil casado predominou na amostra pesquisada (60%) e a renda familiar com 1- 2 salários mínimos, para homens com 53% e mulheres com 57%. Com relação à hábitos de vida, os homens mais que as mulheres, acusaram ser tabagistas e etilistas com um percentual de 37% e 38%, respectivamente (Tabela I).

A Tabela II demonstra os resultados da avaliação antropométrica, expondo a prevalência de mais de 50% de indivíduos com excesso de peso, somando-se sobrepeso e obesidade. Na circunferência da cintura constatou-se que 48% das mulheres apresentaram valores acima do recomendado, em contrapartida, os homens apresentaram somente 27%. Homens (77%) e mulheres (70%) apresentaram RCEST alterada.

Os componentes lipídicos, glicemia, PAS e PAD, apresentaram média dentro dos pontos de corte, com exceção do HDL-c, que teve média de 49,8 ± 10,73 e 49,16 ± 11,42, para homens e mulheres, respectivamente (Tabela III).

A prevalência geral de indivíduos portadores de SM foi de 7,5% (n=15), destes 15 indivíduos, 13,3% (n=2) eram eutróficos, 53,3% (n=8) com sobrepeso e 33% (n=5) obesos (Tabela IV).

Relacionando o IMC com as variáveis da SM, observou-se que houve correlação significativa, CC (0,001), TG (0,021), Glicemia (0,038) e HAS (0,010) com exceção do HDL-c (Tabela V).

 

Tabela I - Características socioeconômicas, demográficas e comportamentais de adultos atendidos em uma Unidade de Saúde de Anajás/PA.

 

E.F.I = Ensino Fundamental Incompleto; E.F.C = Ensino Fundamental Completo; E.M.I = Ensino Médio Incompleto; E.M.C = Ensino Médio Completo; E.S.I = Ensino Superior Incompleto; E.S.C = Ensino Superior Completo.

 

Tabela II - Estado nutricional e risco cardiovascular com base na avaliação antropométrica realizada em adultos atendidos em uma Unidade de Saúde de Anajás/PA.

 

*p: Qui-quadrado; IMC: Índice de massa corporal; CC: Circunferência da Cintura; RCE: Relação Cintura-estatura

 

Tabela III - Componentes bioquímicos e hemodinâmicos de adultos atendidos em uma Unidade de Saúde de Anajás/PA.

 

*p = Teste T de student; **HDL-c = Lipoproteína de alta densidade; ***LDL-c = Lipoproteína de baixa densidade; méd = Média; DP = Desvio Padrão; PAS = Pressão Arterial Sistêmica; PAD = Pressão Arterial Diastólica.

 

Tabela IV - Prevalência da Síndrome Metabólica, com base na estratificação do estado nutricional em adultos atendidos em uma Unidade de Saúde de Anajás/PA.

 

IMC = Índice de massa corporal; SM = Síndrome Metabólica.

 

Tabela V - Correlação do IMC com as variáveis da Síndrome Metabólica de adultos atendidos em uma Unidade de Saúde de Anajás/PA.

 

IMC = Índice de massa corporal; CC = Circunferência da Cintura; GLI = Glicemia; TG = Triglicerídeos; HDL-c = Lipoproteína de alta densidade; HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica. *r = Coeficiente de Pearson; **p = Correlação de Pearson.

 

Discussão

 

De acordo com os resultados encontrados, a maioria da amostra foi representada por indivíduos na faixa etária entre 31 e 40 anos de idade, ou seja, considerados fisicamente ativos. A faixa etária é um dos fatores que exerce bastante influência na presença de alterações metabólicas, indivíduos acima dos 40 anos de idade apresentam maior propensão à SM, pelo fato de haver um declínio do metabolismo, repercutindo no aumento da deposição de gordura, ocorrência de dislipidemias; sobretudo em relação às mulheres, que, devido ao estágio da menopausa, apresentam mudanças homeostáticas mais cedo que os homens [15-17].

A renda familiar assim como o nível de escolaridade, também são quesitos que influenciam na presença da SM, visto que pessoas que possuem maior grau de educação e maior poder aquisitivo tendem a ser mais zelosos com sua saúde, devido ao maior acesso à informação, obtenção de alimentos mais variados para uma alimentação saudável, assim como meios para realizar tratamento, compra de medicamentos, entre outros [18].

Em relação aos hábitos de vida, os homens apresentaram maior prevalência em ser etilistas e tabagistas em comparação às mulheres. Estudos indicam que o álcool e o tabaco aumentam as chances para doenças cardiovasculares e SM, por comprometimento das vias circulatórias, aumento no índice de massa corporal e influência sobre a pressão arterial, conferindo certa vulnerabilidade aos indivíduos do sexo masculino [19,20].

A avaliação antropométrica constatou que mais da metade da população encontrava-se acima do peso, que assim como o etilismo e o tabagismo, constitui um fator de risco ambiental da SM [21,22]. De acordo com um estudo realizado por Barroso et al., o excesso de peso apresenta-se como um dos preditores de complicações de ordem cardiovascular, desenvolvimento de desordens metabólicas entre outros problemas de saúde. Contribuindo para maiores chances da manifestação de doenças à longo prazo, como DM, HAS, câncer, até a própria SM [23]. Pesquisas apontam que o consumo de produtos altamente industrializados contribui diretamente para essa problemática, inclusive, estes vêm ganhando espaço nas regiões rurais ribeirinhas, segundo estudos realizados em comunidades da ilha do Marajó, constatou-se que a alimentação à base de peixes, farinha de mandioca, açaí; característica dos hábitos locais, está sendo substituída por refrigerante, enlatados, congelados; pelo fato de terem se tornado acessíveis e “baratos” [24-26].

Na medida da circunferência da cintura, os indivíduos do sexo feminino foram os que tiveram valores mais altos acima dos pontos de corte. Dados similares foram encontrados por Ataíde et al. em um estudo realizado com uma população feminina do município de Portel, localizado no Arquipélago do Marajó, assim também como em uma pesquisa feita com adultos de 40 anos de idade do município de Cambé, no Paraná, onde as mulheres se destacaram em apresentar obesidade central, representando 66,0% da amostra, levando em conta esse indicador [27,28]. Segundo Petribú et al. [29] por conta de fatores fisiológicos e hormonais, as mulheres têm maior propensão em acumular gordura na região abdominal, sendo esta uma das variáveis da SM.

Já a RCEST indicou risco quando observada no grupo dos homens, obtendo um percentual significativo de inadequação, revelando uma situação preocupante, já que além de refletir o acúmulo de gordura no abdômen, esta relação também possui associação mais significativa com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares [30-32].

Em relação aos dados bioquímicos, a alteração mais observada, de acordo com a média obtida foram os níveis reduzidos de HDL-c, entre a população feminina. Níveis baixos de HDL-c aumentam os riscos de desenvolvimento de DCV, pois essa lipoproteína exerce a função de proteção contra a aterogênese, agindo na remoção de parte das placas ateroscleróticas que se formam na camada íntima das artérias, obstruindo o lúmen do vaso de modo a impedir a circulação do sangue [8]. Um estudo realizado em três regiões da Venezuela também encontrou dados similares à deste estudo, descrevendo o HDL-c baixo como a alteração lipídica mais frequente nas regiões [33]. Um possível hábito alimentar com deficiência de alimentos fonte de gorduras insaturadas, ricos em ácido graxo linolênico e ácido graxo oleico pode ser um dos indutores desse distúrbio [8].

Resultados referentes a outros componentes lipídicos, glicêmicos e hemodinâmicos, apresentaram média dentro da normalidade nos dois grupos avaliados de acordo com os pontos de corte estabelecidos, o que não exclui a prevalência de indivíduos com valores alterados, que somados a outros fatores de risco, contribuem com a presença de SM, conferindo alto risco de morte em longo prazo [34].

De acordo com os presentes achados, constatou-se uma prevalência da síndrome em 7,5% da população analisada. Em uma pesquisa realizada em quatro municípios do arquipélago do Marajó constatou-se prevalência de 34,1% de SM, sendo os números aqui encontrados, inferiores se fizermos uma comparação [35]. Outros estudos realizados em outras regiões do Brasil, também encontraram maior prevalência, como por exemplo, os estudos de Bortoletto et al. [28], em um município da região do sul do país, e Maurer et al. [36] na cidade de Uruguaiana/RS, relataram presença de SM na população analisada de 53,7% e 59,4%, respectivamente. Diferenças regionais, culturais, hábitos alimentares, entre outros, podem mostrar-se como fatores para a disparidade dos resultados, interferindo nas características das populações.

Como mostrou a tabela IV, 86,6% dos indivíduos que apresentaram SM, estavam acima do peso (apresentaram sobrepeso ou obesidade), em pesquisa feita por Ausfeld e Rabito [37], na cidade de Assunção no Paraguai, com um grupo de adultos, constatou-se que ao fazer a relação entre estado nutricional e a SM, pôde-se perceber que os indivíduos que apresentaram SM, foram os que tinham sobrepeso e obesidade. Vieira et al. [3], destaca que indivíduos com excesso de peso têm mais chance para desenvolver morbidades e consequentemente SM, devido às alterações antropométricas, bioquímicas e metabólicas, que geralmente estão presentes juntamente à um hábito alimentar inadequado, reafirmando os dados deste trabalho.

A tabela V apresentou a correlação entre o estado nutricional, representado pelo índice de massa corporal, com as variáveis que compõem a síndrome metabólica. Destaca-se que a circunferência da cintura, que caracteriza o nível de gordura central foi a variável que obteve mais significância (0,001) e correlação positiva forte, quando relacionada ao IMC. Segundo a literatura, a CC mostra-se como variável independente para ocorrência da SM e inúmeras desordens de ordem metabólica [38]. Além disso, em um estudo realizado por Isbele et al. [39], foi possível identificar que a prevalência de indivíduos com CC aumentada e que apresentaram resistência insulínica, foi significativa. Ou seja, juntamente com a relação proporcional entre glicemia e IMC, observada nos resultados presentes, apontam para o risco de desenvolvimento do DM2 [39].

Diferentemente da CC e demais componentes da SM, o HDL-c não teve relação significativa com o IMC e o restante das variáveis. Em um estudo realizado com uma população adulta, em um município vizinho de Anajás, também não fora encontrada correlação do HDL-c com outros componentes lipídicos, glicêmicos e antropométricos [27]. Apesar dessa lipoproteína apresentar efeito protetor para SM e doenças cardiovasculares, mostrando-se inversamente proporcional ao aumento da massa corpórea e adiposidade central, principalmente; neste estudo não foram encontradas correlações significativas [8].

Com relação aos triglicerídeos, também observou-se associação significativa com o IMC e demais componentes da SM, exceto HDL. Estudos indicam que que o aumento da CC, pode promover mudança nos níveis dos lipídeos séricos e hipertrigliceridemia, os quais aumentam a PA [40].

A PA geralmente costuma aumentar à medida em que a idade avança e quando ocorrem alterações do estado nutricional, sendo também influenciada pelos outros componentes da SM, por esse motivo, houve correlação significativa com os demais itens [41].

 

Conclusão

 

De acordo com os resultados obtidos, foi possível constatar que a maioria dos indivíduos que apresentaram SM, estavam com excesso de peso, revelando que o estado nutricional inadequado tem relação positiva com a presença da Síndrome Metabólica. O novo padrão alimentar e o estilo de vida da população são fatores que corroboram com estes achados, pois propiciam maiores chances de eventos cardiovasculares e desenvolvimento do DM2.

 

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