EDITORIAL
A banalização das
cirurgias bariátricas
Cadri Massuda*
Os índices de
sobrepeso e obesidade no mundo estão cada vez mais altos. No Brasil, quase
metade da população está acima do peso ideal. Entre as principais razões estão
o sedentarismo, os hábitos alimentares incorretos e o estresse. A obesidade é,
sem dúvidas, um problema de saúde pública que precisa ser controlado, sobretudo
com informação e prevenção. Entretanto, temos observado um aumento
desproporcional do número de cirurgias bariátricas realizadas para solucionar o
problema de excesso de peso. Segundo dados da SBCBM – Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica, em 2015 foram realizadas
93,5 mil cirurgias no país. Além disso, de 2012 para cá foi registrado um
aumento de 29% no número de procedimento. O Brasil realiza seis vezes mais
cirurgias do que a Inglaterra e 200 vezes mais do que o Japão. Isso nos mostra
que esse tipo de intervenção vem sendo usada como solução “fácil” para casos de
sobrepeso e obesidade. Mas é importante ressaltar que a cirurgia bariátrica é
recomendada apenas em casos extremos de obesidade, pois apresenta altas taxas
de morbidade e complicações.
Segundo protocolos
internacionais a cirurgia é indicada apenas em casos que comprometam gravemente
a saúde, que são os casos de obesidade mórbida. Ainda de acordo com os
protocolos, é indicado que a pessoa se submeta, antes da cirurgia, a um
tratamento com acompanhamento multiprofissional por dois anos. Isso porque a
obesidade envolve diversas áreas e, em especial, fatores psicológicos, redução
alimentar, programa de exercícios físicos prévios à cirurgia.
Os dados nos mostram
que 50% dos pacientes que realizam a cirurgia bariátrica acabam retornando ao
peso antigo após cinco anos. E as pessoas que conseguem sucesso com a cirurgia
são as que mantêm uma rotina de cuidados. Por isso, esse período de dois anos
anterior à cirurgia é essencial para o sucesso do tratamento. Isso mostra que a
cirurgia isoladamente não é eficaz.
Muitos planos de
saúde possuem um programa ao qual o paciente deve se submeter antes de realizar
a cirurgia. O programa tem como objetivo conscientizar o paciente e garantir o
sucesso do tratamento. Entretanto, o que temos visto são pessoas buscando o
tratamento pelo SUS ou até mesmo particular para não precisar se submeter a
esse protocolo.
Em casos em que a
pessoa consegue realizar o procedimento pelo SUS esse custo acaba voltando ao
plano de saúde, que deverá ressarci-lo. É comum também que, após realizarem a
cirurgia particular, os pacientes peçam o reembolso ao plano de saúde, alegando
que se o médico operou é porque tinham essa necessidade. É uma forma de
“burlarem” essa recomendação multiprofissional antes do procedimento.
Por isso, percebemos
a necessidade urgente de uma regulamentação. Da mesma forma que a Agência
Nacional da Saúde (ANS) estimula as operadoras a terem o programa de prevenção
e promoção à saúde, é preciso que exista uma fiscalização desses procedimentos
pelo SUS e em casos particulares. Apenas dessa forma será possível garantir que
o procedimento seja realizado nos casos realmente indicados, o que resultará em
menos riscos e mais sucesso do tratamento.
Cadri Massuda é presidente
da Abramge-PR/SC
– Associação Brasileira de Planos de Saúde
Correspondência: abramgeprsc@abramgeprsc.com.br