ARTIGO
ORIGINAL
Análise
de lanches consumidos por pré-escolares e escolares participantes de um
programa bilíngue de uma instituição de ensino particular
Analysis of snacks consumed by preschoolers and schoolchildren
participating in a bilingual program of a private education institution
Ewellyn de Souza*, Vanessa
Meurer Campos, M.Sc.**,
Sandra Ana Czarnobay, M.Sc.**,
Fernanda Heloise Hille***
*Acadêmica
do curso de Nutrição da Associação Educacional Luterana Bom
Jesus/ IELUSC, **Mestre em Saúde e Meio Ambiente. Docente do curso de Nutrição
da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/IELUSC,
*** Nutricionista especialista em Nutrição clínica funcional e fitoterapia
Recebido 15 de
dezembro de 2016; aceito 15 de março de 2018
Endereço
para correspondência:
Ewellyn de Souza, Rua Antonio
Dias, 158 Aventureiro 89225-185 Joinville/SC, E-mail:
ewellyn.souza@hotmail.com; Vanessa Meurer Campos: vanutri@gmail.com; Sandra Ana
Czarnobay: anaczar@gmail.com; Fernanda Heloise Hille: fernandahille@gmail.com
Resumo
É indispensável para
o crescimento e desenvolvimento da criança uma alimentação adequada, pois
proporciona ao organismo os nutrientes e a energia necessária para o bom
desempenho das funções e para a manutenção de um bom estado de saúde. O
objetivo desse estudo foi fazer uma análise nutricional dos lanches consumidos
no âmbito escolar, buscando construir considerações quanto à qualidade da
alimentação para este público. Para isso, foi utilizado um questionário
preenchido pelos pais e/ou responsáveis cujos dados foram posteriormente
calculados com o auxílio do programa DietWin®. Segundo as
análises realizadas, a maioria dos lanches não apresentou conformidade com os
valores de referência da Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Com isso, destaca-se a importância de realizar mais estudos na área,
a fim de alertar a necessidade da implementação de
ações de educação alimentar e nutricional nas escolas para contribuir com
melhorias na alimentação infantil e na qualidade de vida deste público.
Palavras-chave: alimentação
infantil, pré-escolar, escolar, lanche.
Abstract
Adequate food is necessary for the growth and development of the child,
as it provides the body with the nutrients and energy necessary for the proper
performance of functions and for the maintenance of good health. The objective
of this study was a nutritional analysis of snacks consumed in the school
environment, seeking to build considerations regarding the quality of food for
this public. For this, a questionnaire filled out by parents and/or guardians
was used, whose data were later calculated with the aid of the DietWin® program.
According to the analyzes performed most of the snacks
did not comply with the reference values of the Resolution of the National
Organization for the Education Development. Therefore, it is important to carry
out more studies in the area, in order to alert the need to implement food and
nutritional education actions in schools to contribute with improvements in
infant feeding and the quality of life of this public.
Key-words: infant
feeding, preschool, school, snack.
Durante toda a vida
são adquiridas algumas práticas alimentares, porém os primeiros anos merecem
destaque, pois trata-se de um período importante para
o estabelecimento de hábitos que promovam a saúde, de modo a evitar patologias
associadas a alimentação como diabetes, anemia, cardiopatias, bem como, comorbidades associadas ao crescente índice de obesidade
infantil [1].
A presença dos pais
nas escolhas alimentares dos filhos é importante, já que são estes que
estabelecem o ambiente físico e social da criança, influenciando indiretamente
nos seus comportamentos, hábitos e atitudes [2].
A convivência com
outras crianças na escola também pode influenciar nos hábitos alimentares
adquiridos na família, sendo assim, os hábitos alimentares saudáveis durante o
período escolar poderão permanecer durante toda a vida [3]. Neste contexto, a
escola tem papel fundamental na formação desses hábitos, visto que a criança,
muitas vezes, permanece nela durante turno integral, convivendo com outras
crianças, educadores e cuidadores que irão influenciar na formação de valores e
estilo de vida, inclusive dos hábitos alimentares [4].
A infância é um
momento propício para adquirir comportamentos relativos à alimentação e a
escola é um importante espaço para a produção da saúde, autoestima,
comportamento e habilidades para a vida, sendo um lugar favorável para a
formação de hábitos alimentares saudáveis [5]. As crianças permanecem na escola
grande parte do tempo, e neste caso consomem lanches trazidos de casa ou
comprados na cantina escolar [6].
As crianças precisam
de alimentos saudáveis com quantidade equilibrada de nutrientes. Em acréscimo o
lanche no meio da manhã ou no meio da tarde estabiliza os níveis de glicose no
sangue sendo este um fator de grande importância para o desenvolvimento
cognitivo do aluno [7].
Diante do exposto,
este estudo teve como objetivo fazer uma análise nutricional dos lanches
consumidos no âmbito escolar, de forma a verificar a energia e nutrientes
oferecidos por estes, buscando construir considerações quanto à qualidade da
alimentação para este público.
Trata-se de um estudo
transversal, quantitativo e qualitativo. Foi realizado no Programa Bilíngue de
uma instituição de ensino particular de Joinville/ SC., no período de junho e
setembro de 2016. O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Associação Educacional Luterana Bom
Jesus/IELUSC para devida apreciação. Foi aprovado sob o número 1.637.307 no dia
14 de julho de 2016.
A população foi de 21
alunos em idade pré-escolar e escolar entre 4 e 8 anos
de idade, de ambos os gêneros, que participavam do programa no período
vespertino, selecionados por processo não probabilístico de conveniência.
A coleta de dados foi
realizada no período entre junho e setembro de 2016, através da aplicação de
questionário que foi preenchido pelos pais ou responsáveis. Neste questionário
os pais ou responsáveis assinalaram o que enviaram de lanche ao seu filho e as
crianças trouxeram o questionário devidamente preenchido durante 5 dias consecutivos. Para aquelas crianças cujos pais não
enviaram lanches e as mesmas adquiriram na cantina foi solicitado a lista dos
lanches com o nome de cada criança no próprio estabelecimento de venda durante
os mesmos 5 dias da aplicação do questionário.
O valor energético,
dos macronutrientes (carboidrato, proteínas e
lipídios) e micronutrientes (Vitamina A, C, cálcio, ferro, magnésio e zinco)
dos lanches completos foram calculados com o auxilio do programa DietWin®.
Para as análises, os
dados obtidos foram comparados com os valores de referência de energia, macronutrientes e micronutrientes, conforme a faixa etária,
segundo Resolução do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)
(Quadros 1 e 2).
Quadro
1 - Valores de referência de energia, macronutrientes e micronutrientes.
Fonte: Energia –
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 2001;
Carboidrato, Proteína e Lipídio – Organização Mundial de Saúde (OMS), 2003;
Fibras, Vitaminas e Minerais – Referência da Ingestão
Dietética (DRI) / Instituto de Medicina Americano (IOM), 1997 – 2000 – 2001.
Adaptada para Resolução n°38/2009 do FNDE. Adaptada [8].
Quadro
2 - Valores de referência de energia, macronutrientes e micronutrientes a serem ofertados na
alimentação escolar de escolares de 6 a 10 anos.
Fonte: Energia –
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 2001;
Carboidrato, Proteína e Lipídio – Organização Mundial de Saúde (OMS), 2003;
Fibras, Vitaminas e Minerais – Referência da Ingestão
Dietética (DRI) / Instituto de Medicina Americano (IOM), 1997 – 2000 – 2001.
Adaptada para Resolução n°38/2009 do FNDE. Adaptada [8].
Aliado a análise da
ingesta realizou-se antropometria dos escolares. Para a coleta de dados
antropométricos, os alunos foram pesados com balança da marca Britânia, do modelo corpus com capacidade de 150 kg e medidos com estadiômetro
da marca wiso,
modelo fixo na parede com 2 metros de altura. A medida da Circunferência do
Pescoço (CP) foi realizada com a criança em pé e a cabeça posicionada no plano
horizontal de Frankfurt. Utilizando uma fita métrica inextensível com
capacidade para até 150 cm e precisão de 0,1 cm, o pesquisador efetuou a
palpação do pescoço da criança para localizar a cartilagem cricóide,
onde posicionou a fita métrica exercendo pressão mínima no momento da tomada da
medida para melhor contato da fita com a pele [9].
Posteriormente os
dados antropométricos foram classificados de acordo com as curvas da OMS, 2006
e 2007. Para classificar estado nutricional de crianças de acordo com a CP com
idade inferior a cinco anos, não foi encontrado nenhum padrão de referência na
literatura que tenha utilizado a CP como medida para avaliar sobrepeso ou
obesidade. Para as crianças do sexo masculino entre 6
e 8 anos de idade utilizou-se como ponto de referência 28, 5 a 29 cm e para as
crianças do sexo feminino em idade entre 6 e 8 anos, 27 a 27, 9 cm [10].
Os dados obtidos
foram tabulados em planilha Microsoft
Excel 2010® e representados através de estatística descritiva mediante percentual
e média em tabelas e gráficos.
Das 21 crianças
analisadas, 43% eram do gênero feminino e 57% do gênero masculino. Em relação
ao perfil nutricional das crianças, 57% da população estudada foi classificada com eutrofia, 19%
com sobrepeso, 19% com obesidade e apenas 5% com magreza (Figura 1). Na
classificação por gênero, pode-se destacar que o gênero feminino obteve um
resultado de 56% para eutrofia, 33% para sobrepeso e
11% para obesidade (Figura 2).
Fonte: OMS 2006/2007.
Figura
1 - Classificação do estado nutricional de
pré-escolares e escolares participantes de um programa bilíngue de uma
instituição de ensino particular.
Fonte: OMS 2006/2007.
Figura
2 - Classificação do estado nutricional do
gênero feminino de pré-escolares e escolares participantes de um programa
bilíngue de uma instituição de ensino particular.
Já em relação ao
gênero masculino, 59% classificou-se com eutrofia, seguido de 25% com obesidade, 8% com sobrepeso e
8% com magreza (Figura 3).
Fonte: OMS 2006/2007.
Figura
3 - Classificação do estado nutricional do
gênero masculino de pré-escolares e escolares participantes de um programa
bilíngue de uma instituição de ensino particular.
Em relação à CP todas
as crianças (100%, n=16) com idade entre 6 e 8 anos
avaliadas com esta medida apresentavam-se de acordo com os valores de
referência para a sua idade.
Segundo a Tabela I, a
média de calorias dos lanches dos pré-escolares e escolares foi de 282,59 ±
75,52 kcal, 340,83 ± 122,06 kcal, respectivamente, indicando que eles
ultrapassaram as calorias recomendadas.
Tabela
I – Média e desvio-padrão (DP) de calorias e macronutrientes dos lanches consumidos por pré-escolares e
escolares participantes de um programa bilíngue de uma instituição de ensino
particular.
Kcal: Quilocalorias.
CHO: carboidratos. PTN: proteínas. LIP: lipídios.
A Tabela II mostra
que a média das fibras consumidas nos lanches por pré-escolares foi de 1,82 ±
0,64 g e por escolares 2,17 ± 1,10 g. Estes valores encontram-se abaixo da
recomendação.
Tabela II – Média e desvio padrão (DP) de fibras e micronutrientes dos lanches consumidos por pré-escolares e escolares participantes de um programa bilíngue de uma instituição de ensino particular.
Em relação à análise
nutricional dos lanches dos pré-escolares de idade entre 4
e 5 anos (n=5) verificou-se que 20% (n=1) apresentou valor calórico adequado de
acordo com as recomendações. Em relação aos macronutrientes
dos lanches consumidos por esta faixa etária verificou-se consumo protéico abaixo do recomendado. Quanto aos escolares de
idade entre 6 e 10 anos (n=16), verificou-se que 50%
(n=8) apresentou valor calórico acima do recomendado. Houve predominância no
consumo de lipídios, seguido de carboidratos, com valores acima do recomendado.
Em relação à proteína, encontrou-se valores abaixo do
recomendado, como pode ser observado na Tabela III.
Tabela
III
- Análise do valor calórico e de macronutrientes dos lanches consumidos por pré-escolares e
escolares participantes de um programa bilíngue de uma instituição de ensino
particular.
Fonte: Manual de orientação
para a alimentação escolar na educação infantil – FNDE, 2012. Kcal:
Quilocalorias. CHO: carboidratos. PTN: proteínas. LIP: lipídios.
Tanto pré-escolares,
quanto escolares, apresentaram lanches com quantidades insuficientes de fibras.
No que se refere a micronutrientes, observou-se entre os pré-escolares um
consumo de vitamina A, vitamina C e cálcio acima do recomendado. O consumo de
ferro e zinco apresentou valores abaixo da recomendação. Em contrapartida,
entre os escolares observou-se um consumo de Vitamina A, cálcio, ferro,
magnésio e zinco abaixo do recomendado. Houve predominância no consumo de
vitamina C por esta faixa etária (Tabela IV).
Tabela
IV -
Análise de micronutrientes dos lanches
consumidos por pré-escolares e escolares participantes de um programa bilíngue
de uma instituição de ensino particular.
Fonte: Manual de
orientação para a alimentação escolar na educação infantil – FNDE, 2012.
Os grupos de
alimentos mais freqüentemente observados foram: bolos
e biscoitos, pães e cereais, sucos e bebidas, frutas e laticínios
respectivamente (Figura 4). Não houve consumo de guloseimas no ambiente
escolar.
Figura
4 - Proporção dos grupos de alimentos mais
frequentes consumidos por pré-escolares e escolares participantes de um
programa bilíngue de uma instituição de ensino particular.
Dentro dos grupos
alimentares, os alimentos mais consumidos pelos pré-escolares e escolares
foram: bolos, pães, biscoitos salgados e doces, iogurtes, leites fermentados,
achocolatados, frutas e barras de cereais. As frutas mais presentes nos lanches
foram: banana, maçã, tangerina, morango, mamão, pêra
e manga, respectivamente.
Apenas 24% (n=5) dos
alunos consumiram algum lanche comprado no estabelecimento de venda da escola.
Sendo assim, os alimentos mais freqüentemente
comprados foram: pão de queijo, iogurte, achocolatado, gelatina, muffins e sucos industrializados.
Verificou-se nesse
estudo que a maioria das crianças estudadas eram eutróficas, seguidas de sobrepeso, obesidade e baixo peso.
Em um estudo, ao avaliar o estado nutricional e o lanche consumido por crianças
entre 2 e 3 anos em uma Escola Particular de São
Carlos (SP), constatou-se que 52,4% das crianças eram eutróficas,
seguidas daquelas com risco de sobrepeso (38,0%), sobrepeso (4,8%) e obesidade
(4,8%), não identificando nenhum caso de baixo peso [11]. Em outro estudo sobre
estado nutricional e lanches de pré-escolares realizado
em Fortaleza, os autores observaram que 65,3% dos escolares estudados eram eutróficos. O sobrepeso foi encontrado em 18,9% dos
avaliados e a obesidade em 14,9%. Diferente do presente estudo, na amostra
citada houve uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças do
gênero masculino [12].
No caso do presente
estudo todas as crianças apresentaram-se dentro dos valores de referência para
CP. Apesar da escassez de trabalhos na literatura utilizando essa medida, os resultados
dos estudos referentes à sua utilização como parâmetro de avaliação da
adiposidade central em crianças evidenciam que tal medida pode ser uma
ferramenta de triagem útil pra diagnosticar crianças
de risco para elevada adiposidade, um importante preditor
de problemas de saúde cardiovascular, especialmente quando se dispõem de
referências ajustadas para idade e sexo [13,10].
Em relação à análise
quantitativa dos lanches, verificou-se quantidade protéica
abaixo das recomendações do percentual das necessidades nutricionais diárias
para uma refeição para ambas faixas etárias. As
proteínas atuam na construção da estrutura corporal, como enzimas, hormônios,
reguladores e como anticorpos. É indispensável manter uma quantidade suficiente
de proteínas no plasma do sangue, para que os líquidos e outros elementos que o
contêm não saiam de forma indevida dos vasos, causando edema por diminuição das
proteínas sanguíneas [14].
Em acréscimo, a
quantidade de fibras presente nos lanches apresentou-se abaixo da recomendação
para todas as crianças avaliadas. Em uma análise do consumo de fibra alimentar
por crianças e adolescentes com constipação crônica, notou-se que o consumo
insuficiente de fibra associou-se ao excesso de peso e à presença de
constipação no gênero feminino [15]. Em outro estudo com crianças em idade
pré-escolar, 10 gramas de farelo de fibras adicionados ao consumo diário por
quatro semanas aumentaram o peso do bolo fecal em 60%, além de aumentar a frequência
das evacuações [16].
Recentemente, um estudo
observou que os lanches de escolares apresentaram valor energético, lipídico e
de carboidrato acima do recomendado pelo PNAE [17]. Esses achados assemelham-se
com os resultados do presente estudo, indicando que os lanches encontrados nas
lancheiras apresentaram valores nutricionais inadequados. Houve semelhança
também entre os estudos nos valores de fibras de pré-escolares e escolares e de
cálcio no grupo dos escolares que se encontraram abaixo do recomendado.
Ao avaliarem a
composição de lancheiras de alunos de escolas particulares de São Paulo, os
autores observaram que dentre as crianças estudadas, 82% consumiram cereais,
67% sucos artificiais e outras bebidas e 65% leite e derivados. Destacaram-se a
alta proporção dos grupos “Bolo, bolacha e barra de cereais recheados e/ou com
cobertura” e “Frios e embutidos” e a baixa presença do grupo “Verduras e
legumes” [7]. O presente estudo apresentou resultado semelhante ao
supramencionado, visto que os alimentos mais consumidos foram bolos e
biscoitos, pães e cereais, sucos e bebidas, frutas e laticínios,
respectivamente.
Em uma pesquisa
desenvolvida na Grécia, observou-se que cerca de 60% das crianças avaliadas
consumiram bebidas com adição de açúcar diariamente. Associa-se a esse alto
consumo de carboidrato simples, uma baixa ingestão de nutrientes essenciais,
como cálcio e vitaminas A e E, frutas e hortaliças,
leite e iogurte. Ademais, grandes consumidores de bebidas com adição de açúcar
tinham níveis mais elevados de IMC e risco duas vezes maior de sobrepeso e/ou
obesidade [18].
A análise dietética
de pré-escolares em centros educacionais municipais no Sul de Minas Gerais
mostrou que houve baixa ingestão de cálcio e ferro por este grupo [19]. Esses
resultados estão de acordo com o presente estudo quando se refere aos valores
de ferro, porém não há concordância com os valores de cálcio, que neste caso,
encontraram-se elevados nesta faixa etária.
Na idade escolar é
importante dar atenção aos casos de deficiências nutricionais. No presente
estudo verificou-se que os lanches trazidos pelos escolares apresentavam na sua
maioria deficiência em ferro, cálcio, vitamina A e Zinco. A ingestão
insuficiente de ferro nesta idade pode levar a anemia ferropriva
e comprometer o aprendizado do escolar [8]. Já o cálcio é essencial para
formação e manutenção dos ossos e dentes. Além disso, este mineral está
envolvido no transporte de membranas celulares, ativação ou liberação de
enzimas, contração muscular e na transmissão de impulsos nervosos (regulação da
batida cardíaca). Crianças entre 3 e 10 anos retêm uma
quantidade de cálcio de aproximadamente 120 mg por dia para o crescimento do
esqueleto e esta demanda deve aumentar para mais de 600 mg Ca/dia na puberdade
[20].
Segundo Pedraza e Queiroz [21], a vitamina A é um micronutriente
importante para diversos processos metabólicos, tendo papéis fisiológicos muito
diversificados, atuando no bom funcionamento
do processo visual, na diferenciação celular, na integridade do tecido
epitelial, na reprodução e no sistema imunológico. Já a deficiência de zinco
retarda o crescimento e maturação dos neurônios. Acredita-se que o zinco, junto
com o cálcio, o potássio e o sódio, tem importância como um modulador chave na
excitabilidade neuronal [21].
Verificou-se uma
prevalência no consumo de alimentos industrializados e de baixo valor
nutricional naqueles lanches adquiridos na cantina escolar. O consumo de
alimentos industrializados de alta densidade energética (com grande quantidade
de gorduras e/ou açúcar) e baixo valor nutricional (pobre em minerais e vitaminas)
aliado ao comportamento sedentário são apontados como
principais causas do aumento do excesso de peso entre crianças nas fases
pré-escolar e escolar no Brasil [8].
Percebendo-se a
escola como um ambiente de promoção de hábitos alimentares saudáveis, sugere-se
maior supervisão e controle dos alimentos oferecidos na cantina escolar. Neste
contexto, é essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança uma
alimentação qualitativamente e quantitativamente adequada, pois proporciona ao
organismo os nutrientes e a energia necessária para o bom desempenho das
funções e para a manutenção de um bom estado de saúde [22].
Segundo as análises
realizadas a maioria dos lanches não apresentou conformidade com os valores de
referência do manual de orientação para a alimentação escolar na educação
infantil. A escola exerce grande influência na formação de crianças e
adolescentes, aonde deve haver um envolvimento de toda a comunidade escolar,
alunos, professores, funcionários, pais e nutricionista, que participem de
forma integrada em estratégias e programas de promoção da alimentação saudável,
garantindo assim a qualidade da alimentação de escolares.
Programas de educação
alimentar e nutricional devem ser constantemente dirigidos aos escolares por
profissionais capacitados e que estejam efetivamente envolvidos com a
alimentação na escola. Com isso, destaca-se a importância de realizar mais
estudos na área, a fim de alertar a necessidade da implementação
de ações de educação alimentar e nutricional nas escolas para contribuir com
melhorias na alimentação infantil e na qualidade de vida.