ARTIGO
ORIGINAL
Teste
de aceitabilidade de macarrão espaguete ao alho e óleo coccionado em forno
combinado e fogão convencional
Acceptability test of spaghetti with garlic and oil cooked in combined
oven and conventional stove
Débora Luciellen
Fernandes Silva*, Hillary Nascimento Coletro**, Simone de Fátima Viana***,
Nathalia Sernizon Guimarães****, Sônia Maria de Figueiredo***
*Nutricionista,
Belo Horizonte/MG, **Graduanda em Nutrição, Universidade Federal de Ouro
Preto/MG, ***Professora do Departamento de Alimentos, Escola de Nutrição -
Universidade Federal de Ouro Preto/MG, ****Doutoranda em Saúde Tropical da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG
Recebido 16 de junho
de 2015; aceito 15 de dezembro de 2016
Endereço
para correspondência:
Sônia Maria de Figueiredo, Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro
Preto, Campus Morro do Cruzeiro 35400-000 Ouro Preto MG, E-mail:
smfigue@gmail.com; Débora Luciellen Fernandes Silva: debyazy@gmail.com; Hillary
Nascimento Coletro: hillarycoletro@gmail.com; Simone de Fátima Viana:
simonenutrição@yahoo.com.br, Nathalia Sernizon Guimarães:
nasernizon@hotmail.com
Resumo
Macarrão é um
alimento apreciado e consumido pela população brasileira devido ao fácil
preparo e viabilidade econômica. Porém, o preparo do macarrão em panelões à
vapor gera perdas do produto, resultando em alto fator de correção e fora dos
padrões de identidade e qualidade (PIQ), situação esta que pode ser minimizada
pelo uso do forno combinado. Forno combinado é um equipamento proveniente da
evolução e junção do forno de convecção com o forno a vapor. Este possui cinco
funções diferentes: regeneração, banho-maria, vapor limpo, ar seco e combinado,
que propiciam diversas possibilidades de cocção. Soma-se a economia de tempo e
espaço, superior conservação do aspecto e sabor dos alimentos e diminuição da
perda de matéria prima no preparo. Sendo assim, na produção de refeições
coletivas, as empresas visam a qualidade do produto desde sua produção até
consumo, podem otimizar os processos de produção e elevar a qualidade do
produto final. Um dos métodos para se comprovar a eficácia e vantagens do forno
combinado, é o teste de aceitabilidade (escala hedônica de nove pontos).
Realizamos um teste com 45 voluntários que mostrou uma melhor aceitabilidade da
cocção pelo forno combinado e analisamos as vantagens econômicas deste método.
Palavras-chave: forno combinado,
macarrão, aceitabilidade, análise sensorial.
Abstract
Noodles are foods appreciated and consumed by the Brazilian population
due to the easy preparation and economic viability. However, the preparation of
noodles in steam panels generates losses of the product, resulting in a high
correction factor and out of the standards of identity and quality (PIQ),
situation which can be minimized by the use of the combined oven. Combined oven
is an equipment coming from the evolution and joining of the convection oven
with the steam oven. It has five different functions: regeneration, water bath,
clean steam, dry air and combined, which provide various cooking possibilities.
It adds up to saving time and space, superior conservation of the appearance
and taste of food and decrease of loss of material in the preparation.
Therefore, in the production of collective meals, companies aim at the quality
of the product from its production to intake, can optimize the production
processes and raise the quality of the final product. One of the methods to
prove the effectiveness and advantages of the combined oven is the
acceptability test (nine point hedonic scale). We performed a test with 45
volunteers that showed a better acceptability of the baking in the combined
oven and analyzed the economic advantages of this method.
Key-words: combined oven, noodles, acceptability, sensory analysis.
Os cereais são
alimentos de origem vegetal provenientes de gramíneas [1], fonte de energia,
carboidratos, proteínas, fibras e micronutrientes [2]. No Brasil, o trigo é um
dos cereais mais consumidos, presente em biscoitos, pães, bolos e massas
alimentícias [3].
Segundo a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é considerada massa alimentícia os
produtos obtidos da farinha de trigo (Triticum
aestivum L. e ou de outras espécies do gênero Triticum) e ou derivados de trigo durum (Triticum durum L.), outros cereais, leguminosas, raízes e ou
tubérculos, resultantes do processo de empasto e amassamento mecânico, sem
fermentação [4]. O macarrão é designado como uma massa alimentícia obtida
exclusivamente da farinha de trigo do gênero Triticum [4]. Atualmente podemos encontrar diversos tipos de massa,
dentre os quais estão as massas secas, instantâneas, fresca e pré-cozidas [5].
Stuknyte et al. [5] and Carini
et al. [6] relatam que o consume de massas é
responsável pelo aumento da produção alimentícia em 7 a 12 milhões de
toneladas/ano na última década.
Do ponto de vista
nutricional, o macarrão possui baixo valor nutricional devido a sua qualidade
protéica e deficiência de fibras [7]. Por possuir esta característica, o
macarrão faz parte do grupo e alimentos energéticos compondo a base da pirâmide
alimentar, consumido em todo mundo com grande aceitabilidade [8]. A qualidade
das massas, assim como de outros alimentos, desde sua produção até seu consumo
é uma das maiores preocupações das empresas que produzem refeições coletivas, e
a tecnologia é um grande aliado para garantir essa qualidade.
O forno combinado é
um equipamento criado a partir da evolução e junção do forno de convecção com o
forno a vapor, através da combinação de ar quente e vapor para melhorar as
características sensoriais e aumentar o rendimento das preparações [9,10].
O forno combinado
constitui uma nova fase no método de produção de refeições coletivas, além de
propiciar economia de tempo e espaço, conservar o aspecto dos alimentos e o
sabor, também pode diminuir a perda de matéria prima durante o preparo, uma vez
que exerce diversas funções como: descongelar, regenerar, fritar, gratinar,
grelhar, assar e cozinhar, culminando em maior qualidade do produto final e
redução da estrutura física e mão-de-obra [10].
Uma forma de
comprovar as vantagens e eficácia do forno combinado é através de testes de
aceitabilidade. Este método tem por objetivo medir o nível de aceitação de
produtos alimentícios, indicando o grau de gostar e desgostar de um alimento
[11].
Este trabalho
objetivou testar a aceitabilidade do macarrão espaguete (sêmola 8) coccionado
em forno combinado e em fogão convencional.
Trata-se de um estudo
transversal realizado com 45 indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 20 e
59 anos, alunos, professores e funcionários que frequentavam o campus de uma
Instituição Pública de Ensino em Minas Gerais. Para participar do estudo os
indivíduos deveriam ser saudáveis e alfabetizados. Foram excluídos deste estudo
indivíduos que possuíssem alergia ou intolerância ao alho e/ou trigo.
Um estudo piloto foi
realizado para padronizar a receita, em que houve ajuste das quantidades de
sal, alho, óleo e água. Para ambos os equipamentos foi utilizado 6% de sal
refinado (30 g), 4% de alho (20 g) e 4% de óleo (30 ml). Entretanto, a
quantidade de água utilizada na cocção do macarrão foi diferente levando em
consideração a evaporação da água no fogão convencional. Utilizou-se no forno
combinado 1300 ml de água e no fogão convencional este valor foi igual a 1900
ml.
O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Instituição Superior de
Ensino em que a pesquisa foi realizada (CAAE 17047513.3.0000.5150).
A
degustação foi
realizada no Laboratório de Análise Sensorial da Escola
de Nutrição/UFOP, onde
os participantes, primeiramente, responderam as duas seguintes
afirmativas:
“Você possui alergia à farinha de trigo ou
alho?” e “Você possui intolerância à
farinha de trigo ou alho?” Em seguida os provadores receberam o
Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), os quais foram orientados a ler,
esclareceram-se as
dúvidas e assinaram. Posteriormente, os voluntários foram
dirigidos para as
cabines de degustação.
As avaliações foram
realizadas em cabines individuais com luz branca e os macarrões foram servidos
em potes descartáveis de 200 ml de forma aleatória, acompanhados de garfo
descartável, água filtrada, guardanapo, questionário de avaliação e caneta, em
bandeja apropriada. Em momento algum, os participantes foram obrigados a
ingerir as amostras analisadas [12]. O tempo de cada sessão de degustação foi
de aproximadamente 10 minutos, respeitado o tempo máximo que segundo Minim [12]
deve ser de 20 minutos a fim de se evitar o cansaço e desmotivação dos
degustadores.
Neste estudo
utilizou-se a escala hedônica verbal estruturada de nove pontos, na qual os
termos variavam de "desgostei extremamente" (escore 1) a "gostei
extremamente" (escore 9) [12]. Os participantes não receberam informações
a respeito da marca e forma de preparo da preparação que estavam avaliando. Foi
avaliada a impressão global das amostras, sendo que as mesmas eram codificadas
com números de três dígitos aleatórios (teste cego). Coccionou-se 500 g de
macarrão no fogão convencional e 500 g no forno combinado. Foram ofertados a
cada degustador, 30 g da amostra do fogão convencional e 30g da amostra do
forno combinado.
As sobras limpas
(macarrão produzido e não distribuído) e o resto ingestão (macarrão distribuído
e não consumido) foram descartados na câmara de lixo do Restaurante
Universitário da Instituição de Ensino.
A análise estatística
dos resultados do teste de aceitabilidade foi realizada pelo programa Prisma
5.0. Utilizou-se o teste de Mann-Whitney com nível de significância igual a 5%.
A análise sensorial
foi realizada com 45 voluntários, não treinados, de ambos os sexos, sendo 3
homens e 42 mulheres (Tabela I). A faixa etária dos degustadores foi de 20 a 53
anos, com média de idade igual a 36,5 anos, sendo os adultos jovens (20-25
anos) representados por 71,1% da amostra.
Tabela
I - Descrição da faixa etária e sexo dos
voluntários degustadores, Ouro Preto/MG.
O teste de aceitação
para a preparação do macarrão alho e óleo preparado no forno combinado foi
melhor avaliado que no fogão convencional (Tabela II). A média de aceitação da
preparação elaborada no forno combinado foi igual a 7,87, situando-se entre os
termos hedônicos “gostei moderadamente” e “gostei muito”, enquanto, quando a
mesma preparação foi realizada no fogão convencional, a média de aceitação foi
igual a 6,96 correspondendo aos termos hedônicos, “gostei ligeiramente” e
“gostei moderadamente”.
Tabela
II -
Médias do teste de aceitação para a
preparação macarrão alho e óleo preparado no forno combinado e fogão convencional.
Outra análise dos
dados foi obtida pela descrição das perguntas componentes das escalas hedônica
(Tabela III). Observou-se neste estudo que o macarrão ao alho e óleo preparado
em forno combinado e fogão convencional apresentaram aceitação de 95,5% e 91%
respectivamente (Tabela III). Segundo Souza et al. [13] e Martin et al. [14],
um alimento com mais de 70% de aprovação indica boa aceitação [15]. Sendo
assim, os dados encontrados pelo presente estudo indicam que houve uma boa
aceitação de ambas as preparações.
Tabela
III
- Descrição do teste de aceitabilidade
para macarrão (sêmola 8) coccionado em fogão convencional e forno combinado,
Ouro Preto/MG, 2013.
O aspecto geral do
macarrão coccionado em forno combinado teve aparência e rendimento (1,590 kg)
maior em comparação ao preparado no fogão convencional (1,350 kg), conforme
demonstrado na tabela IV. Bravo e Abreu [9] encontraram rendimento semelhante
para preparações realizadas em forno tradicional e forno combinado.
Tabela
IV -
Descrição do peso cru e cozido do
macarrão coccionado e seus respectivos índices de conversão nos diferentes
equipamentos avaliados, Ouro PretoMG, 2013.
Houve acréscimo de
15,1% de rendimento no forno combinado quando comparado com o fogão
convencional. De acordo com as fichas técnicas, o fator de conversão para o
forno combinado foi de 3,18 e para o fogão convencional este valor foi igual a
2,7. O custo total para 500 g da preparação crua, em ambos os equipamentos foi
de R$ 2,92 Entretanto, o custo per capita para o forno combinado foi mais baixo
que para a preparação elaborada no fogão convencional (R$ 0,05 vs. R$ 0,06,
respectivamente).
Para a fase de
padronização das receitas foi observado que a quantidade de água para coccionar
o macarrão em fogão deveria ser superior a quantidade do forno combinado, pois
neste processo de cocção ocorre a evaporação da água e consequentemente sua
perda para o meio ambiente. Bravo e Abreu [9] e Fabre [6] relatam que o forno
combinado é a associação de ar quente e vapor, além de constituir um sistema
fechado sendo assim não ocorre perda da água de cocção para o meio externo.
A utilização das
preparações deste estudo em ambos os equipamentos foi satisfatória, embora o
forno combinado tenha apresentado maior aceitabilidade. Os resultados
encontrados neste estudo indicam que esta receita preparada em forno combinado
reduz custo, mão de obra, tempo, espaço físico, segurança alimentar, menor
manipulação durante o preparo, melhor controle da temperatura, facilidade na
padronização de receitas e redução ligeira de água no preparo.
Os autores agradecem
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por suporte
financeiro. Agradecem também a Universidade Federal de Ouro Preto pelo suporte
de infraestrutura.