ARTIGO
ORIGINAL
Saúde
ocupacional e aspectos ergonômicos em uma unidade de alimentação e nutrição
Occupational health and ergonomic aspects in a food and nutrition unit
Ana Carolina Pontes
Rodrigues*, Flávia Jane Tesser*, Janaina Strapazzon**, Mirian Cozer***
*Acadêmica
do Curso de Nutrição da Universidade Paranaense – UNIPAR, Francisco Beltrão/PR,
**Responsável técnica do curso de nutrição da Universidade Paranaense – UNIPAR,
Francisco Beltrão/PR, ***Orientadora, Professora do Curso de Nutrição da
Universidade Paranaense – Unipar. Francisco Beltrão/PR
Recebido 13 de agosto
de 2015; aceito 15 de dezembro de 2016
Endereço
para correspondência:
Ana Carolina Pontes Rodrigues, Rua Padre Baltazar Flores, 10 Vila Aurora
85710-000 Santo Antonio do Sudoeste PR, E-mail: anarodrigues_sas@hotmail.com;
Flávia Jane Tesser: flaviatesser@hotmail.com; Janaina
Strapazzon: jana_str@hotmail.com; Mirian Cozer: miriancozer@yahoo.com.br
Resumo
Nas unidades de
alimentação e nutrição são realizadas diversas tarefas em tempo limitado, e além disso são observadas condições inadequadas no ambiente
de trabalho, na ergonomia da área, podendo assim ocasionar doenças
ocupacionais. O objetivo deste estudo foi analisar e avaliar as condições de
trabalho dos funcionários de uma UAN, no que se refere a
saúde ocupacional e os aspectos ergonômicos da unidade. Fizeram parte da
pesquisa 10 colaboradores, de ambos os sexos, com média de 29,4 anos.
Constatou-se que fatores como ruído, umidade, esforço
físico intenso e repetição de trabalho são considerados insatisfatórios para os
funcionários e condições como espaço, iluminação, bancadas são considerados
satisfatórios. Foi constatado que 50% dos funcionários relataram sentirem dores
durante o trabalho. Constatou-se que os riscos ocupacionais e ergonômicos
citados afetam os colaboradores da UAN estudada. Dessa forma verifica-se a
necessidade de uma melhoria no ambiente e nas atividades realizadas, a fim de
reduzir ou mesmo extinguir os riscos aos quais estão expostos.
Palavras-chave: ergonomia, riscos
ocupacionais, UAN.
Abstract
In food and nutrition services various tasks are performed in limited
time and also are observed inadequate conditions in the workplace, ergonomics
of the area, which can cause occupational diseases. The aim of this study was
to analyze and evaluate the working conditions of employees of an UAN, as
regard to occupational health and ergonomic aspects of the unit. The present
study included 10 employees, of both sexes with an average of 29.4 years old.
We found that factors such as noise, humidity, intense physical effort and
repetitive work are considered unsatisfactory for employees and conditions such
as space, lighting and workbenches are considered satisfactory. In addition it
was found that 50% of employees reported feeling pain during labor. It was
found that the occupational and ergonomic risks cited affect the employees of
this UAN. There is a need for improving the environment and activities in order
to reduce or remove the exposition to risks.
Key-words: ergonomics,
occupational risks, food and nutrition unit.
As empresas,
atualmente, buscam ser altamente competitivas em mercados cada vez mais
globalizados, pois há uma unanimidade na certeza de que o homem é o principal
elemento diferenciador e o agente responsável pelo sucesso de todo e qualquer
negócio [1].
O setor de
alimentação coletiva vem se tornando um mercado representativo na economia
mundial, o ritmo de vida moderno contribuiu significativamente para a conquista
deste espaço. Uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) desempenha atividades
relacionadas à alimentação e nutrição. Para desempenhar tal tarefa, precisa
contar com um quadro de pessoal adequado, tanto do ponto de vista quantitativo
como qualitativo [2].
Nas UANs os
colaboradores são expostos a vários fatores de riscos ocupacionais, segundo a
Norma Regulamentadora (NR) 5 do Ministério do Trabalho
e Emprego. Dentre estes riscos pode-se citar: ruídos excessivos, grande umidade
e calor, esforço físico intenso, postura inadequada, controle rígido da
produtividade, levantamento e transporte de peso, jornadas de trabalho
prolongadas, monotonia e repetitividade de funções, dentre outras [3].
Observa-se,
frequentemente nas UANs uma maior exigência de produtividade em tempo limitado,
porém, muitas vezes, as condições de trabalho são inadequadas, com problemas
ambientais, na ergonomia das áreas operacionais ou até mesmo no desempenho das
tarefas. Essas condições acabam levando a insatisfação, cansaço excessivo,
queda na produtividade, problemas de saúde e acidentes de trabalho [4].
Dentro deste
contexto, tais riscos são capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar
do trabalhador, podendo causar doenças profissionais ou ocupacionais [5].
Estando a qualidade das refeições diretamente relacionada ao desempenho da mão
de obra é perceptível que são essenciais condições de trabalho satisfatórias,
haja vista que um trabalho bem desenvolvido gera um produto final bem aceito
[6].
Para IIDA [7] a
ergonomia é uma ciência que estuda a adaptação do homem ao trabalho, sendo que
dentro do mesmo está incluso o trabalho executado por máquinas e equipamentos
utilizados no processo produtivo, como também todas as outras possíveis
relações entre o homem e uma atividade produtiva, não envolvendo somente o
ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais.
Diante disso, tem-se
como objetivo analisar e avaliar as condições de trabalho dos funcionários de
uma UAN, no que se refere à saúde ocupacional e os aspectos ergonômicos da
unidade, buscando verificar as condições as quais os trabalhadores estão
submetidos.
Trata-se de um estudo
transversal por ser observado a exposição e o desfecho dos dados coletados em
apenas um determinado momento, não existindo período de seguimento dos
indivíduos [8], com abordagem quantitativa dos dados determinada através de dados
ou a proporção numérica e qualitativa por ser caracterizada e relacionada a
aspectos não somente mensuráveis más também definidos
descritivamente [9].
A população estudada
compreende um grupo de 15 funcionários incluindo homens e mulheres acima de 18
anos trabalhadores de uma UAN do município de Francisco Beltrão/PR.
Os dados foram
coletados através de um questionário adaptado com base no censo de ergonomia
elaborado por Couto [10] e no questionário padrão desenvolvido pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2003) envolvendo questões
sobre o ambiente de trabalho, a atividade realizada e a saúde do funcionário.
No qual, 13 questões abordavam o ambiente de trabalho, oito questões abordavam
o trabalho do funcionário e dez questões sobre a saúde do funcionário. O
questionário foi aplicado no próprio estabelecimento, durante o horário de
trabalho.
Os dados obtidos
através do instrumento de coleta de dados foram digitados em planilha do
programa Excel® versão 2010, para posterior tabulação dos resultados. A análise
estatística dos dados coletados deu-se através de frequência relativa e
absoluta.
No presente estudo
foi analisada uma UAN com fornecimento de cerca de 2700 refeições diárias,
sendo composta por 15 funcionários, deste total apenas 67% (N = 10) aceitaram
participar da pesquisa.
A idade média dos
funcionários foi de 29,4 anos, com máxima de 48 e mínima de 18 anos. O sexo
masculino representa 50% (N = 5) dos funcionários entrevistados e o sexo
feminino 50% (N = 5). A figura 1 representa as respostas obtidas sobre o
ambiente de trabalho.
Figura
1 – Opinião dos funcionários sobre o ambiente de
trabalho.
Em relação às
características ambientais, destacaram-se a iluminação
com 100% (N = 10) dos funcionários satisfeitos, o espaço de trabalho com 80% (N
= 8) de aprovação. Obteve-se avaliação não satisfatória ou ruim no quesito
umidade do ambiente e ruídos, somando 90% (N = 9).
A presença de ruídos
no ambiente de trabalho pode prejudicar não apenas a eficácia do que está sendo
feito, como também a saúde dos trabalhadores, a ciência comprovou que a
existência continua de ruídos pode causar uma série de problemas, como doenças
psicológicas, aumento da pressão arterial, perda de acuidade auditiva, entre
outras [11].
Diante destes
resultados, pode-se observar que os funcionários estão satisfeitos com 84,6%
das características ambientais analisadas. Contribuindo assim para um melhor
desempenho nas funções a que exercem.
Estevam e Guimarães
[12] investigaram também o nível de satisfação dos trabalhadores com aspectos
do ambiente físico de trabalho, tendo eles se mostrado insatisfeitos com
diversos aspectos, sendo o calor (70,59%) e o piso frequentemente molhado (64,71%)
dois fatores apontados como os principais responsáveis pelos acidentes de
trabalho nesta UAN.
A figura 2 representa
a opinião dos funcionários sobre o seu trabalho.
Figura
2 - Opinião dos funcionários sobre o seu
trabalho.
Quando questionados
sobre o seu trabalho, os funcionários relataram esforço físico e mental, além
de um trabalho repetitivo e estressante. Pode-se observar que 70% (N=7) dos
funcionários consideram o trabalho repetitivo e por outro lado não consideram o
trabalho desagradável.
Movimentos
repetitivos são muito comuns devido ao tipo de atividades desenvolvidas. O
corte de alguns vegetais e a fritura de alimentos exigem
que o operador permaneça em pé, estático, com o pescoço flexionado durante
longo período de tempo [13].
Para Paiva e Cruz
[14] as condições de trabalho não satisfatórias e as cobranças de um serviço
bem feito e no horário marcado aumentam a exigência de esforço físico a pressão
e o estresse sofrido pelos trabalhadores, essas condições de trabalho, causam o
aparecimento de doenças psicológicas além de impacto negativo na saúde e no
bem-estar dos empregados e, consequentemente, no funcionamento e na efetividade
das organizações.
Em situações em que
há risco ergonômico devido ao esforço físico, Lourenço e Menezes [14]
recomendam treinamento periódico sobre maneiras e procedimentos corretos de
levantamento e transporte manual de carga, além da utilização, caso possível,
de dispositivos de ajuda para o transporte de materiais.
Tabela
I – Incidência de dor ou desconforto por região
postural.
Fonte: Autores, 2015.
Foi questionado aos
colaboradores da UAN, se estes sentiam algum tipo de desconforto durante a
jornada de trabalho. Dos 10 participantes do estudo, 5
(50%) deles sentem algum tipo de dor e 90% dos casos esta relacionado ao setor
atual em que trabalha. O desconforto a qual se referem é de dor e cansaço e
classificam como leve e moderado.
Entre as dores
sentidas, as mais citadas foram dores nos joelhos e tornozelo (45%), causadas
pelo tempo em que permanecem em pé e nas mãos (18%) pelas atividades
repetitivas que exercem ao longo do dia. A maioria sente dores em mais de um
lugar.
No estudo realizado
por Lourenço [15] os colaboradores que exerciam suas atividades na maior parte
do tempo em pé relataram mais dores que os colaboradores que trabalhavam
sentados, sendo a dor mais frequente a na coluna, relacionada ao carregamento
de peso e a má postura, seguida pela dor nas mãos, que pode estar relacionada à
execução de tarefas repetitivas como, por exemplo, a distribuição de refeições
e o descascamento de alimentos, e pela dor nas pernas relacionada ao longo
tempo de permanência em pé.
Quando questionados
se as dores aumentavam com o trabalho 90% respondeu que sim e 100% respondeu
que melhora com o repouso. Relataram também que já tomaram algum medicamento
para poder trabalhar, e dentre as atividades relatadas que continham alguma
dificuldade ou causavam dor 33% responderam lavar caixas, 23% lavar louça, 17%
erguer ou carregar peso e citaram também atividades como enxaguar o chão com
balde, limpeza final do ambiente e o peso do avental.
A NR 17 visa
estabelecer parâmetros que permitam à adaptação das condições de trabalho as
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente além de estabelecer que
todo trabalhador designado para o transporte de cargas deve receber treinamento
ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que devera utilizar
com o objetivo de prevenir acidentes e cuidar da sua saúde [16].
Constatou-se que os
riscos ocupacionais e ergonômicos citados, como ruídos, umidade, esforço físico
intenso dentre outros afetam os colaboradores da UAN estudada. Dessa forma
verifica-se a necessidade de uma melhoria no ambiente e nas atividades
realizadas, a fim de reduzir ou mesmo extinguir os riscos aos quais estão
expostos.
Tal situação
observada neste estudo justifica a necessidade de contínuas adaptações entre o
estabelecimento, o trabalhador e o serviço a ser desenvolvido, de modo que seja
possível oferecer um produto final de qualidade sem gerar danos à saúde dos
envolvidos.