ARTIGO ORIGINAL

Hipertensão arterial auto-referida, estado nutricional e consumo alimentar de idosos participantes de um grupo da terceira idade do município de Espera Feliz/MG

Self-referred hypertension, nutritional status and food intake of elderly in a third age group at the city of Espera Feliz/MG

 

Juliana Câmara de Souza*, Danielle Cristina Guimarães da Silva**

 

*Nutricionista pela Faculdade de Minas, FAMINAS Campus Muriaé/MG, **Doutoranda em Ciência da Nutrição, Universidade Federal de Viçosa/UFV

 

Recebido 20 de fevereiro de 2016; aceito 15 de dezembro de 2016

Endereço para correspondência: Danielle Cristina Guimarães da Silva, Rua Bahia 280/201. Bairro São Sebastião, Barbacena MG, E-mail: daniellenut@hotmail.com; Juliana Câmara de Souza: juliana_c.souza@hotmail.com

 

Resumo

O presente estudo foi realizado em 2013 com objetivo de descrever a prevalência de hipertensão arterial auto-referida, apresentar o estado nutricional e dados do consumo alimentar de idosos do município de Espera Feliz/MG. Os dados foram obtidos através de um questionário, aplicado a 60 idosos. Dentre os entrevistados, 34 (57%) relataram apresentar o diagnóstico de hipertensão arterial. Para o estado nutricional, 35 (58%) dos participantes apresentaram obesidade e a circunferência da cintura apresentou-se elevada na maioria dos entrevistados. 6 (32%) do sexo masculino, e 32 (78%) do sexo feminino. Em relação ao consumo alimentar, verduras, legumes, frutas e carnes não foram considerados hábito alimentar do grupo, sendo que o consumo de sal se apresentou acima do recomendado na alimentação da maioria dos entrevistados. A partir do perfil antropométrico e consumo alimentar do grupo estudado, é necessário que esses idosos recebam orientações de alimentação saudável, para dessa forma evitar o desenvolvimento de doenças crônicas como a hipertensão arterial.

Palavras-chave: doenças crônicas, hipertensão arterial, estado nutricional.

 

Abstract

This study was performed in 2013 in order to describe the prevalence of self-reported hypertension, the nutritional status, food intake of elderly at the city of Espera Feliz/MG. Data were obtained from a questionnaire answered by 60 elderly. Among the respondents, 34 (57%) reported a diagnosis of hypertension. About nutritional status, 35 (58%) showed obesity with elevated waist circumference in the majority of the elderly. 6 (32%) were male, and 32 (78%) were female. In relation to food intake, vegetables, fruits and meats were not eating habits of the group, and the salt intake was above the recommended in the diet of most respondents. The results of the anthropometric profile and food intake show that these seniors must receive healthy eating guidelines to prevent the development of chronic diseases such as high blood pressure.

Key-words: chronic disease, hypertension, nutritional status.

 

Introdução

 

O envelhecimento populacional faz parte de um cenário mundial, em que se observa o aumento da esperança média de vida, juntamente com a diminuição das taxas de mortalidade e natalidade. Esta fase da vida é um fenômeno complexo, onde inúmeras mudanças fisiológicas fazem com que o indivíduo fique mais vulnerável a diversas doenças [1].

Além dos fatores fisiológicos, existem também as alterações dos hábitos alimentares da população brasileira, que contribuem para a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis, dentre essas alterações, o baixo consumo de alimentos ricos em fibras, aumento da ingestão de gordura saturada, sal e açúcares [2].

Este aumento da idade acarreta um aumento de casos de doenças crônicas, dentre elas a hipertensão arterial [3]. A hipertensão arterial pode ser definida como uma síndrome, onde os níveis tensionais estão elevados, associados à alterações metabólicas, hormonais e fenômenos tróficos [4].

Essa doença crônica é de alta prevalência nos idosos, tendo em vista que durante o processo de envelhecimento, os vasos sanguíneos vão perdendo a elasticidade, e como consequência ocorre um aumento na resistência periférica total, levando ao aparecimento da hipertensão arterial [5].

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 600 milhões de pessoas possuem hipertensão arterial sistêmica no mundo [4]. No Brasil, a partir de estudos de base populacional, estima-se que a prevalência encontra-se em torno de 20% [6].

Existem diversos fatores que podem aumentar a probabilidade de ocorrência da hipertensão arterial, como os hábitos alimentares, excesso de peso, alcoolismo, diabetes, fumo, estresse, dentre outros [7].

Uma alimentação adequada durante a vida favorece um envelhecimento sadio, e conseqüentemente uma expectativa de vida maior [8]. Devido ao declínio das funções fisiológicas, que ocorre no processo de envelhecimento, a absorção e o metabolismo dos nutrientes ficam prejudicados, e quando associados a doenças crônico-degenerativas, a utilização destes nutrientes pode ficar ainda mais prejudicada, tendo em vista que os medicamentos também interferem. Com isso, os idosos acabam tornando-se um grupo de risco nutricional [9].

A intervenção nutricional é uma importante medida de prevenção e até mesmo tratamento na hipertensão, tendo em vista que ao modificar uma dieta, priorizando o aumento no consumo de cálcio e potássio, e uma diminuição no consumo de sódio, verifica-se a redução nos níveis pressóricos [5].

Neste contexto, o presente trabalho teve o objetivo de associar a hipertensão arterial e dados referentes ao estado nutricional e consumo alimentar de idosos participantes de um grupo da terceira idade do município de Espera Feliz/MG.

 

Material e métodos

 

Durante o ano de 2013 foi realizado o estudo descritivo, transversal, constituído por uma amostra de conveniência de 60 idosos, frequentadores de um grupo da terceira idade do município de Espera Feliz/MG. Os indivíduos participaram da pesquisa livre e espontaneamente, após assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas estabelecidas pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Para o diagnóstico da avaliação socioeconômica deste grupo foram utilizados os critérios de classificação da ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), subdivididos em: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E. O critério de classificação econômica do Brasil estima o poder de compra das pessoas e famílias urbanas [10]. A raça foi auto-referida e categorizada em branca e não branca.

Para a determinação da hipertensão arterial auto-referida, os participantes foram questionados sobre o uso de medicamentos anti-hipertensivos ou o conhecimento sobre o diagnóstico de hipertensão [11]. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia [12], o diagnóstico dessa doença ocorre quando os níveis da pressão arterial (PA) ao serem aferidos casualmente e repetidas vezes, apresentarem valores alterados, sendo PA sistólica ≥ 140 mmHg e/ou PA diastólica ≥ 90 mmHg.

Os idosos também foram questionados sobre o uso de bebidas alcoólicas, fumo, prática de atividade física, ingesta hídrica e sal.

Para avaliar o estado nutricional, foram analisados o peso e a estatura dos idosos. O peso foi aferido com uma balança digital, portátil da marca Personal Scalle, com capacidade máxima de 150 e a estatura foi estimada pela altura do joelho [13]. Após a obtenção das informações foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) e classificado quanto ao seu estado nutricional de acordo com os pontos de corte de Lipschitz [14].

A circunferência da cintura também foi mensurada, com o auxílio de uma fita métrica da marca Sanny®, de extensão de dois metros, inelástica, sendo a medida realizada no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela. A circunferência do quadril foi medida na área de maior protuberância dos glúteos e a estatura, aferida por meio de um estadiômetro de haste fixa da marca Welmy, com extensão de 2,5 m e resolução de 0,1 cm. Foram utilizados os pontos de corte propostos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia [12] para determinar a prevalência de adiposidade abdominal.

Para avaliar o consumo alimentar, foi aplicado um questionário de freqüência alimentar (QFA) validado e adaptado para a população idosa por Abreu et al. [15] a partir com informações referentes ao consumo do grupo alimentar no último mês. Considerou-se hábito alimentar o consumo do grupo de alimentos maior ou igual a cinco dias da semana, por pelo menos 50% dos participantes [16].

Para descrever as variáveis quantitativas foram calculadas as médias e desvios padrão, utilizando-se o Microsoft Office Excel® 2007. As variáveis categóricas foram descritas por meio de suas frequências absolutas (n) e relativas (%).

 

Resultados e discussão

 

O estudo foi realizado com 60 idosos, de ambos os sexos, sendo 41 (68%) do sexo feminino e atingindo (100%) dos participantes do grupo da terceira idade.

De acordo com a avaliação socioeconômica, calculada através da posse de itens relatada pelos entrevistados, 3 idosos se apresentavam na classe B1 ou B2, 31 na classe C, 24 na classe D e 2 na classe E, sendo que nas classes A1 e A2 não se enquadrou nenhum dos participantes. Estes dados estão descritos na Tabela I. Segundo Costa et al. [6] existe associação entre renda familiar e hipertensão, devido as más condições de vida, que pode ter influência no consumo alimentar, compra de medicamentos para controle da doença,dentre outros.

Os participantes também foram questionados em relação à etnia, sendo 39 (65%) da raça branca e 21(35%) da raça negra. Conforme Borelli et al. [17] em relação à etnia sabe-se que diversos estudos comprovam que os negros têm maior prevalência de hipertensão arterial quando comparados aos brancos. Porém, no estudo realizado não houve relação da hipertensão arterial com a cor, pois os brancos apresentaram percentual maior da doença.

Dentre os entrevistados, 34 (57%) relataram apresentar o diagnóstico de hipertensão arterial. Em comparação a outros estudos, segundo Miranda et al. [18], na cidade de São Paulo a prevalência de hipertensão arterial chega a 62%. Pode-se comparar também ao município de Bambuí/MG, onde a prevalência estimada foi de 61,5% [19]. Recentes estudos indicam que, entre os idosos a hipertensão arterial pode variar de 52% a 63%, sendo considerado então um problema de saúde pública [20]. Assim, considera-se que os resultados da presente pesquisa são pertinentes aos dados epidemiológicos de outras cidades brasileiras. Vale ressaltar que a hipertensão arterial pode estar relacionada a diversos fatores como idade, baixa renda familiar, obesidade, estilo de vida, dentre outros.

 

Tabela IDescrição da amostra segundo características sociodemográficas, Espera Feliz/MG, Brasil, 2013.

 

 

Em relação às condições de saúde, 21 idosos relataram não utilizar medicamentos para controle da pressão arterial, 34 utilizam diariamente, e 5 utilizam esporadicamente. Neste grupo existe um controle medicamentoso, tendo em vista que, todos os idosos que relataram ter hipertensão arterial fazem uso de medicamentos diariamente para reduzir a pressão arterial, sendo um fator positivo quando comparado a estudos nos Estados Unidos onde a proporção de idosos que não utilizam medicamentos para controle da PA pode chegar até 20% [21]. Este controle pode ser devido à influência positiva de familiares e profissionais de saúde, e também ao projeto, Associação da Melhor Idade de Espera Feliz, que realiza diversas palestras de orientações para portadores ou não de hipertensão arterial, destacando a importância do tratamento e os riscos que a não adesão podem causar, como aumento da pressão arterial e aumento da morbimortalidade cardiovascular. Realizam também outras diversas atividades para melhorar a qualidade de vida dos idosos freqüentadores como aulas de dança, atividade física, aulas de música, dentre outras.

Foi realizada aferição das medidas antropométricas de altura e pesagem dos idosos, e por meio desses dados, pôde-se calcular o IMC, classificando o estado nutricional, onde 35% (21) estavam eutróficos, 7% (4) estavam em baixo peso, e prevalência de obesos num valor de 58% (35) de acordo com a classificação de Lipchistz [14]. Segundo Amado e Arruda [22], a obesidade é classificada como maior fator de risco para desenvolver hipertensão arterial, é de alta prevalência em idosos, e principalmente quando está associada a obesidade central. Tendo em vista que, houve prevalência de hipertensos e obesos no grupo estudado, não há dúvidas que o excesso de peso é um forte fator de risco para hipertensão arterial [12]. Os dados sobre o estado nutricional do grupo estudado encontram-se no gráfico 1.

 

Gráfico 1 Avaliação do Estado Nutricional dos participantes da Associação da Melhor Idade do município de Espera Feliz/MG, Brasil, 2013.

 

 

 

Em relação à circunferência da cintura, no sexo masculino, 6 (32%) apresentaram a medida acima de 102 cm, e no sexo feminino, 32 (78%) apresentaram valores acima de 88 cm, sendo portanto, alta a prevalência de adiposidade abdominal nas mulheres. Rosa et al. [23] citam que a circunferência abdominal acima do valor considerado normal, é um fator de risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares como a hipertensão arterial.

Em relação à atividade física, apenas 16 (27%) participantes relataram praticar. Esse resultado é um ponto negativo, e pode estar relacionado à prevalência de hipertensão arterial no grupo estudado, tendo em vista que, segundo Jardim et al. [24] indivíduos que não praticam atividade física, estão mais propensos à desenvolver hipertensão arterial. Outro estudo afirma que, o exercício físico pode trazer benefícios ao hipertenso como diminuir a dosagem de seus medicamentos anti-hipertensivos, ou até mesmo o controle da hipertensão arterial sem o uso destes medicamentos. Daí então a importância da prática de atividade física para prevenção ou até mesmo o tratamento da hipertensão arterial [25].

Segundo Nóbrega et al. [26], quando o idoso possui um estilo de vida saudável, não só em questão de alimentação, mas também ter o hábito de praticar atividade física, as alterações morfológicas e funcionais que ocorrem no processo de envelhecimento podem ser prorrogadas. Existem diversos benefícios da atividade física para o idoso, pode-se citar a prevenção de perda de massa óssea, aumento da força, prevenção de fraturas, ganho de massa muscular, reduz o peso corporal, ajuda a controlar a pressão arterial em repouso, dentre outros inúmeros benefícios.

Em relação o estilo de vida dos indivíduos analisados, 12 (20%) relataram ser fumantes. De acordo com Bloch et al. [27], nos últimos anos, pôde-se notar uma redução no tabagismo, confirmado também no presente estudo, sendo considerado resultado positivo. Em um estudo feito por Pires et al. [28], 36% dos idosos entrevistados possuem o hábito de fumar. Sabe-se que o tabaco é um fator de risco para o desenvolvimento de Acidente Vascular Encefálico. Sabe-se também que, o tabagismo é considerado um fator de risco para o desenvolvimento da hipertensão arterial, além de ter importante papel na vasoconstrição, que é um processo onde as artérias pulmonares tornam-se mais estreitas, aumentado a resistência ao fluxo sangüíneo pulmonar, e conseqüentemente o aumento da pressão arterial, o fumo também está relacionado à resistência ao efeito de medicamentos anti-hipertensivos [29].

Ainda sobre o estilo de vida, 7 (12%) dos participantes fazem uso de bebidas alcoólicas. Comparado a um estudo feito por Ferreira et al. [30], onde 6,0% do entrevistados usuários do Sistema Único de Saúde de Goiânia, tinham o hábito de consumir bebidas alcoólicas, os resultados do presente estudo estão acima do esperado. Já em um estudo realizado por Caetano et al. [31] em Fortaleza/CE, a proporção de idosos fumantes chega a alcançar o valor de 13,8%. Segundo Pressuto e Carvalho [32], o álcool é considerado também como fator de risco, pois quando ocorre o aumento das taxas de álcool na corrente sanguínea, consequentemente eleva-se a pressão arterial, colaborando com o agravo da doença.

Os idosos também foram questionados sobre sua opinião em relação à sua própria alimentação, e 44 (73%) relataram considerar sua alimentação saudável. Afirmaram que consomem frutas e verduras diariamente, tentam reduzir o máximo da ingestão de sal, frituras, e produtos como embutidos. Destacando que essa alimentação saudável estava relacionada apenas com a opinião dos entrevistados. Porém, esses relatos não condizem com os resultados do Questionário de Frequência Alimentar, onde o consumo de frutas e verduras não foi considerado como hábito alimentar do grupo, e a ingestão de sal, por exemplo, foi maior que o recomendado diariamente.

Estudos mostram que o hábito alimentar saudável é de extrema importância para controle e até mesmo prevenção da hipertensão arterial, dessa forma, deve ser estimulado aumento no consumo de alimentos fontes de fibras, peixes, gorduras insaturadas, e diminuir o consumo de gorduras saturadas e trans, embutidos, fast-foods, dentre outros [33].

O consumo de água também foi avaliado, 10 (17%) participantes da pesquisa relataram consumir < 500 ml/dia, 18 (30%) consomem de 500 a 1000 ml/dia, e 32 (53%) consomem > 1000 ml/dia. Um estudo mostra que a água é um nutriente essencial para a manutenção adequada de todas as funções do corpo humano, seu consumo deve ser estimulado [34]. Segundo a ingestão diária de água, esta deve alcançar o total de 2 litros.

Em relação ao consumo diário per capita de sal, o consumo variou de 5 a 22 g/dia, sendo o consumo médio de 10,75 g/dia. Este é um valor considerado elevado de acordo com a Organização Mundial de Saúde que sugere o total de 5 gramas de sal para atender as necessidades nutricionais diárias [12]. Um estudo feito por Fonteles et al. [35], em Aquiraz/CE, mostrou que o consumo em excesso de sal, pode contribuir para um aumento significativo nos níveis pressóricos dos idosos. Tendo em vista que, o sal é de grande influência na pressão arterial, seu consumo deve ser moderado, até porque o mesmo está naturalmente presente em vários alimentos [33].

Entre os alimentos consumidos habitualmente (≥ cinco vezes/semana, por mais de 50% dos idosos), destacam-se o arroz e o feijão, que são consumidos por mais de 90% dos idosos. De acordo com o estudo de Santos et al. [16], tanto o arroz quanto o feijão são considerados como hábito alimentar da população brasileira, e também são considerados como hábito alimentar no presente estudo. Este é um valor satisfatório, pois se sabe que a consumo de arroz e feijão juntos, é de grande importância, pois fornecem diversos aminoácidos, pode-se destacar a lisina, metionina, além de ser de importante contribuição protéico-vegetal.

Em relação ao consumo alimentar dos idosos entrevistados, todos os dados podem ser analisados na Tabela II.

 

Tabela II - Distribuição do questionário de frequência alimentar do grupo de idosos de Espera Feliz/MG, 2013.

 

 

No grupo dos cereais, além do arroz, foram considerados como hábito alimentar, o biscoito cream-cracker e o pão francês. Segundo Mondini e Monteiro [36], em um estudo demonstrou que na região Sudeste houve uma redução no consumo de cereais e tubérculos. No presente estudo, isso foi demonstrado apenas nos tubérculos, onde nenhum dos alimentos deste grupo foi consumido por mais de 50% dos idosos, ou seja, não se considerou hábito alimentar dos entrevistados.

Segundo Chiara et al. [37], o teor de ácidos graxos trans nos biscoitos tipo cream cracker é muito elevado em relação ao teor de ácidos graxos insaturados. Outro estudo feito por Nilson et al. [38], considerou o biscoito tipo cream cracker como hábito alimentar, sendo consumido geralmente no desjejum. O teor de sódio desse alimento também é considerado elevado. Tendo em vista que, o consumo excessivo de sódio está relacionado ao aparecimento da hipertensão arterial, a ingestão de alimentos com alto teor de sódio deve ser controlada. Portanto, a prevalência de hipertensão arterial do presente trabalho, pode estar relacionada ao alto consumo deste alimento, devido ao alto teor de sódio e ácidos graxos trans.

No grupo das verduras e legumes, apenas o tomate foi considerado hábito alimentar, sendo consumido por mais de 70% dos idosos. No grupo das frutas, a banana foi considerada como hábito alimentar, onde mais de 75% dos idosos consomem pelo menos cinco vezes na semana. Este baixo consumo de verduras e legumes pode ser afirmado no estudo de Figueiredo et al. [39], onde uma pesquisa feita em domicílios constatou que as frutas e hortaliças correspondem a apenas 2,3% das calorias totais da dieta dos brasileiros. Sabe-se que uma alimentação equilibrada contendo todos os nutrientes necessários, incluindo consumo de frutas, legumes e verduras, pode evitar diversas doenças. Esses alimentos são de extrema importância, pois contêm micronutrientes e fibras, considerados nutrientes com propriedades funcionais no corpo humano.

Em relação ao consumo de carnes, nenhum tipo da mesma foi considerado como hábito alimentar, pois não alcançou 50% do consumo dos entrevistados. Sendo negativo, pois se sabe que a carne é uma excelente fonte de proteína e ferro e deve estar presente na alimentação dos idosos. Esse resultado pode estar relacionado a renda dos idosos entrevistados, tendo em vista que, de acordo com Schlindwein e Kassouf [40], a renda familiar tem influência no consumo de carnes, pois quando a renda familiar é maior, a probabilidade de consumo também aumenta.

Em relação aos laticínios, o leite integral foi consumido por mais de 50% do grupo, sendo considerado hábito alimentar. O leite é uma importante fonte de cálcio e vitamina D, considerados micronutrientes essenciais para a prevenção de doenças como a osteoporose. Segundo Pereira et al. [41], o consumo de alimentos fonte de cálcio é de grande importância, tendo em vista que esse nutriente tem diversas funções biológicas. O cálcio tem o poder de atenuar a sensibilidade ao sal, reduzindo a pressão do sangue, e consequentemente a pressão arterial.

No grupo dos açúcares e óleos, o café, a margarina e o óleo de soja, foram considerados com hábito alimentar deste grupo de idosos, por serem consumidos por mais de 50%. O café foi um dos alimentos mais consumidos, com freqüência de ingestão de 2 vezes por dia na maioria dos idosos entrevistados, resultado já esperado, tendo em vista que o café esta na cultura dos brasileiros. O consumo em excesso de café, está associado ao aumento agudo da pressão arterial, o autor sugere no máximo 100 ml de café, ou alimentos que contém cafeína. Dessa forma, o consumo relatado pelos idosos entrevistados pode estar relacionado ao aumento da pressão arterial.

Os açúcares e gorduras não devem ser consumidos em excesso. Indivíduos que possuem hipertensão arterial devem estar atentos a esse controle, tendo em vista que, as gorduras podem trazer diversas complicações como aparecimento de doenças coronárias e até mesmo a obesidade, que traz conseqüências como elevação da pressão arterial. Sabe-se que a renda familiar esta relacionada com o acesso aos alimentos e conseqüentemente o consumo alimentar. Um estudo feito por Aquino e Philippi [42], constatou que o açúcar, por exemplo, é um alimento que sofre influência da renda, sendo consumido em maior quantidade por indivíduos de classe baixa. Destacou também que o consumo de alimentos de baixo valor nutritivo é de alta freqüência em indivíduos de renda inferior.

Ainda sobre as gorduras, a banha de porco não foi considerada como hábito alimentar do grupo estudado. Em um estudo feito com idosos em Dourados/MS, a banha de porco foi consumida por 22,9% dos entrevistados. A banha de porco possui teor de ácidos graxos saturados de 39,82%. Sabe-se que o consumo de gorduras saturadas principalmente em indivíduos hipertensos deve ser diminuído, pois essas gorduras podem desencadear doenças coronárias e até mesmo a obesidade, sendo fatores de risco para hipertensão arterial [43].

 

Conclusão

 

Conclui-se que o grupo avaliado apresentou elevada prevalência de hipertensão arterial, excesso de peso e excesso de adiposidade abdominal, sendo necessária a adoção de medidas preventivas ou de promoção à saúde. A alimentação dos participantes não é considerada saudável, devido ao baixo consumo de frutas, verduras, legumes e carnes, e maior consumo de produtos com excesso de sódio, inclusive o sal, sendo de urgência a necessidade de orientações sobre alimentação e práticas saudáveis, para evitar doenças crônicas como a hipertensão arterial.

 

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