ATUALIZAÇÃO
Atualidades
sobre dieta vegetariana
Updates on
vegetarian diet
Izabela Pinheiro Krey*, Deborah Pereira Albuquerque*, Desiree
Rita Denelle Bernardo*, Marina Mendes da Costa*,
Beatriz Galvão Silva*, Renata Furlan Viebig, D.Sc.**
*Acadêmica
do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie, **Nutricionista,
Docente do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Recebido 2 de fevereiro de 2017; aceito 15 de dezembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Izabela Pinheiro Krey, Rua
Maria Antônia, 267 Vila Buarque São Paulo SP E-mail: izabelapkrey@gmail.com;
Deborah Pereira Albuquerque: deborahpalbuquerque@gmail.com; Desiree
Rita Denelle Bernardo: desireedenelle@gmail.com;
Marina Mendes da Costa: mms.mendes@hotmail.com; Beatriz Galvão Silva:
beatrizgalvao.s@hotmail.com; Renata Furlan Viebig: renata.viebig@mackenzie.br
Resumo
Objetivo: Revisar evidências
científicas atuais referentes à alimentação vegetariana para a elaboração de um
guia prático para profissionais nutricionistas. Metodologia: Revisão narrativa da literatura atual, compreendendo
publicações de 1998 a 2016, nos idiomas português, espanhol e inglês. Resultados: O vegetarianismo,
anteriormente criticado pelas consequências provindas de um possível
desequilíbrio nutricional, hoje tem se tornado uma alternativa para a melhora
da saúde, apresentando um aumento crescente em adeptos a esta dieta e de
interesses tanto da indústria quanto da ciência. Evidências apontam que
vegetarianos apresentam menor prevalência de excesso de peso e de doenças
crônicas não transmissíveis. Conclusão:
A prática da dieta vegetariana, assim como outros padrões alimentares, pode ser
segura e adequada oferta nutrientes necessários para um estilo de vida
saudável, sob orientação de um profissional
Nutricionista.
Palavras-chave: dieta vegetariana,
deficiências nutricionais, ciclos da vida, doenças crônicas não transmissíveis.
Abstract
Objective: To review
current scientific evidence regarding vegetarian diet for the elaboration of a
practical guide for nutritionists. Methodology:
Narrative review of current literature, from 1998 to 2016, in Portuguese,
Spanish and English languages. Results:
Vegetarianism, previously criticized because of the possibility of nutritional
imbalance, has now become an alternative for improving health, presenting an
increase in adherents to this diet and interests of both industry and science.
Evidence has pointed that vegetarians present lower prevalence of overweight
and non-communicable chronic diseases. Conclusion:
The practice of a vegetarian diet, like other food patterns, can be safe and
provide adequate supply of nutrients required for a healthy lifestyle, under
the orientation of a Nutrition professional.
Key-words: vegetarian
diet, nutritional deficiencies, life cycles, non-communicable chronic diseases.
O número de
vegetarianos tem aumentado no mundo todo e indícios desse aumento no Brasil são
a crescente oferta de produtos alimentícios de origem vegetal, o número de
publicações sobre esse assunto cada vez maior, o incremento da produção e
comercialização de orgânicos e o aumento do número de restaurantes incorporando
esse padrão em seus cardápios [1].
Segundo dados do Target Group Index,
do IBOPE Media, a adesão ao vegetarianismo em 2012 era
de 8% nas principais capitais e regiões metropolitanas no Brasil, o que
correspondia a cerca de 16 milhões de vegetarianos. Tal prevalência era maior
entre pessoas de 65 a 75 anos de idade (10%) em relação aos jovens de 20 a 24 anos
(7%) [2].
Embora muito
discutida na atualidade, a alimentação vegetariana é conhecida desde os tempos
da Grécia Clássica, e a partir de então este tipo de dieta vem sendo praticada
por motivos diversos relacionados, principalmente, à religião, manutenção de
saúde e questões éticas, filosóficas e ecológicas [1,3].
No século XIX, houve
uma enorme produção de textos em defesa do vegetarianismo e da compaixão pelos
animais. No início do século XX, ocorreu em Portugal, um
primeiro movimento a favor da dieta vegetariana, e culminou com a
fundação da Sociedade Vegetariana de Portugal que se dedicaria à propaganda do
naturista e à divulgação do vegetarianismo, da educação física, da higiene e
cura naturais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escassez de alimentos
incentivou os britânicos a cultivarem sua própria comida, como os vegetais e
frutas, mantendo a população e melhorando sua saúde a partir da dieta
vegetariana [4].
O padrão alimentar do
vegetarianismo foi incorporado, por muito tempo, primeiramente pela maior
oposição ao consumo da carne, do que pelos benefícios do consumo de alimentos
de origem vegetal [3]. Entretanto, atualmente, a dieta vegetariana, que
antigamente recebia atenção pelas possíveis consequências da falta de alguns nutrientes
para o organismo, hoje, aparece como uma alternativa para a melhora do perfil
lipídico e menor incidência de todas as doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), devido ao fato de proporcionarem uma menor ingestão de gorduras
saturadas e colesterol dietético, e em contrapartida, uma maior ingestão de
carboidratos complexos, fibras e vitaminas e minerais antioxidantes [1,5,6].
Porém, a adoção da
dieta vegetariana não implica, necessariamente, em mais saúde. Para garantir os
possíveis benefícios, é necessário que o vegetariano siga um plano alimentar
planejado e orientado, preferencialmente com acompanhamento de Nutricionistas,
com adequação de nutrientes de forma individualizada e de acordo com as suas
necessidades, em associação a um estilo de vida saudável [3].
Entretanto, práticas
de dieta vegetariana mais restritivas, como o veganismo, incorrem em maiores riscos à saúde. De acordo
com a Sociedade Vegetariana Brasileira [7], o indivíduo vegano
é aquele não consome qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento
animal, adota o vegetarianismo estrito no âmbito da alimentação e por isso não
consome nenhum alimento de origem animal (carnes, ovos, latícinios,
etc.). A restrição é ainda maior quando se estende ao frugivorismo,
no qual além da exclusão de alimentos de origem animal são também excluídos os
vegetais folhosos [8].
Assim, as dietas
vegetarianas muito restritivas ou desequilibradas podem causar deficiências
nutricionais, mas quando balanceadas, podem prevenir tais deficiências e grande
parte das DCNT [6]. Dessa forma, é necessário que os adeptos busquem auxílio
profissional e que conhecimento sobre as recomendações dietéticas específicas
para vegetarianos seja buscado pelos Nutricionistas, que devem estar aptos a
esclarecer dúvidas e escolher as melhores opções para a composição do plano alimentar de seus clientes e pacientes.
Por isso, o objetivo
desse estudo foi revisar as evidências científicas atuais referentes à
alimentação vegetariana, bem com discutir as recomendações e aspectos
nutricionais de quem à consome, consolidando
informações para a elaboração de um guia prático de alimentação vegetariana
para profissionais nutricionistas.
O presente estudo é
uma revisão narrativa da literatura atual, com a busca de artigos científicos
realizada nas bases de dados como Scielo, Biblioteca
Virtual em Saúde e Pubmed, compreendendo publicações
de 1998 a 2016, nos idiomas português, espanhol e inglês. Os termos com maior
relevância utilizados para a pesquisa bibliográfica foram: dieta vegetariana,
história do vegetarianismo, vegetarianismo e ciclos de vida no vegetarianismo.
De acordo com a
Sociedade Vegetariana Brasileira [7], o indivíduo vegetariano é aquele que
“exclui da sua alimentação todos os tipos de carne, aves, peixes e derivados,
podendo ou não utilizar laticínios ou ovos”. Semivegetarianos,
vegetarianos parciais ou vegetarianos moderados incluem alguns poucos alimentos
de origem animal na dieta como frango ou peixe, produtos lácteos e ovos, e
normalmente excluem carnes vermelhas. O vegano ou
vegetariano estrito consome apenas alimentos vegetais, como frutas, legumes,
grãos, oleaginosas, sementes e gorduras vegetais. Os ovolactovegetarianos
abstêm-se de todas as carnes, mas permitem a inclusão
de ovos e laticínios, o que torna a dieta menos restritiva e com maior
densidade calórica do que outros subtipos. Os lactovegetarianos
excluem carnes e ovos mas consomem laticínios, e os ovovegetarianos não comem carnes e laticínios porém
consomem ovos.
Existem ainda outros
comportamentos alimentares alternativos com ênfase no uso de alimentos de
origem vegetal, como a dieta frutariana ou frugívora, em que além da exclusão de alimentos de origem
animal são também excluídos os vegetais folhosos; e o crudivorismo
ou dieta crudívora, na qual são excluídos também os
alimentos cozidos. Por serem mais restritivas, essas dietas podem se tornar monótonas e inadequadas para grupos vulneráveis, o que
requer acompanhamento nutricional [8].
Deficiências
e riscos nutricionais
A adequação da dieta
do indivíduo vegetariano que não realiza acompanhamento nutricional dependerá
de suas escolhas alimentares, que são determinadas pelo conhecimento
nutricional do indivíduo e da disponibilidade de alimentos enriquecidos. Em
caso de dietas mal planejadas, alguns nutrientes são foco de preocupação pois podem se tornar deficientes, como vitamina B12,
vitamina D, ácidos graxos ômega 3, cálcio, ferro e zinco [9].
Vitamina
B12
A vitamina B12 é um
nutriente conhecido como de alto risco para vegetarianos, uma vez que está
disponível quase que exclusivamente em produtos de origem animal. Os ovolactovegetarianos podem obter vitamina B12 a partir de
laticínios e ovos, enquanto que veganos a partir de
alimentos fortificados e suplementos [8].
O estado nutricional
decorrente da dieta vegetariana pode afetar a função neuronal e a atividade
sináptica, que por sua vez influencia processos cerebrais relevantes para o
início e avanço de transtornos mentais e perda de função cognitiva [10].
A anemia
megaloblástica pode ser corrigida com suplementação de vitamina B12, porém a
deficiência dessa vitamina pode levar a danos neurológicos irreversíveis,
revelando a importância de se considerar a suplementação
de forma preventiva principalmente para os veganos
[11].
Vitamina
D
Além de ser importante
para a manutenção da saúde dos ossos, a vitamina D desempenha um papel
importante no sistema imunológico, na redução da inflamação, e reduzindo o
risco de doenças crônicas não transmissíveis. A insuficiência de vitamina D tem
sido associada a uma grande variedade de doenças, incluindo o diabetes tipo 1, esclerose múltipla, artrite reumatóide,
câncer colorretal, doenças cardiovasculares e doenças
infecciosas. Muitos genes que codificam as proteínas que regulam a proliferação
celular, a diferenciação e a apoptose são modulados, em parte, pela vitamina D
[9].
A ingestão de
vitamina D por veganos tende a ser substancialmente
inferior a de ovolactovegetarianos e não
vegetarianos, uma vez que existem poucas fontes alimentares naturais de
vitamina D, como leite, queijo, manteiga, gema de ovo e peixes, e nenhuma fonte
presente em alimentos vegetais, salvo a exceção de alguns cogumelos com
exposição controlada à luz ultravioleta, que apresentam níveis substanciais de
vitamina D [11].
Ácidos
graxos ômega 3
O ômega 3 é um conjunto de ácidos graxos poli insaturado composto
por ácido alfa-linolênico, ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA). As percentagens de EPA e DHA são
inferiores nos veganos em comparação aos não
vegetarianos, dado que não consomem peixe ou produtos de óleo de peixe. O
organismo humano é capaz de converter ácido alfa-linolênico em EPA e DHA,
embora essa conversão não seja tão eficiente [12].
Um desequilíbrio
alimentar entre ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 (que
tende a ser abundante em dietas vegetarianas), pode contribuir para uma grande
variedade de doenças, além de que o excesso de ômega 6 pode reduzir a conversão
de ácido alfa-linolênico em EPA e DHA [13].
Além disso, existem
fortes evidências de que a ingestão inadequada de ácidos graxos ômega 3 está relacionada com desenvolvimento de comportamentos
depressivos e retardos no desenvolvimento. Alimentos de origem vegetal ricos em
ômega 3 que podem ser consumidos por vegetarianos são:
óleo de linhaça, óleo de canola, sementes de chia, soja e derivados, germe de
trigo e nozes [8,10].
Cálcio
O cálcio é um mineral
essencial para manutenção dos ossos, funções nervosa, muscular e de coagulação
sanguínea. É necessária atenção especial a mulheres na menopausa e veganos, mas principalmente crianças e adolescentes, pois é
nesta fase da vida que se criam as reservas de cálcio no organismo para o resto
da vida [11].
A ingestão de cálcio
por lactovegetarianos é semelhante, ou pode ser até
maior do que a de não vegetarianos, enquanto que o consumo de cálcio por veganos tende a ser mais baixo do que ambos os grupos e
podem inclusive estar abaixo da ingestão recomendada. Embora várias fontes
vegetais contenham cálcio, como legumes verdes folhosos e
leguminosas, o cálcio dessas fontes não é muito biodisponível
devido à presença de fitatos e oxalatos. Para suprir
essa carência, veganos podem optar por alimentos
enriquecidos com cálcio, como sucos de frutas, soja, leite de arroz e cereais
matinais. O uso de temperos de ervas em vez de sal também pode ajudar o vegano, uma vez que irá diminuir as perdas de cálcio
urinário [9].
A ingestão de cálcio
na forma de alimentos como leite, queijo e iogurte, pode ser mais interessante
para os vegetarianos do que na forma de suplementos, uma vez que em alimentos,
o cálcio vem acompanhado de outros nutrientes importantes para a proteção e
manutenção da massa óssea, como vitamina D, proteínas, potássio e magnésio
[14].
Ferro
Os vegetarianos,
principalmente veganos, tendem a consumir mais ferro
de fontes vegetais do que os não vegetarianos, já que
a dieta ovolactovegetariana apresenta alto consumo de
produtos lácteos, ricos em cálcio e caseína, que agem como inibidores da
absorção de ferro [8].
No entanto, deve-se
levar em consideração que o ferro não heme tem absorção menor do que o ferre
heme, portanto o planejamento dietético para vegetarianos deve incluir
promotores da absorção desse tipo de ferro, como fruto oligossacarídeos,
vitamina C e outros ácidos orgânicos, vitamina A,
betacaroteno e minimizar a presença dos inibidores, como cálcio, suplementos de
zinco, proteínas de ovos e laticínios, fitatos, polifenóis (presentes no café, chás e cacau), oxalatos e
antiácidos [15].
Zinco
O zinco tem papel
vital em várias funções corporais, tais como visão, percepção do paladar,
cognição, reprodução celular, crescimento e imunidade. Fontes vegetarianas de
zinco incluem espinafre, couve, cereais integrais, sementes, castanhas,
produtos à base de soja e leguminosas [7].
Os vegetarianos são
muitas vezes considerados em risco de deficiência de zinco
pois grãos, sementes e leguminosas têm como componente comum os fitatos, que diminuem a biodisponibilidade desse mineral
[9]. Por isso, vegetarianos podem necessitar de uma ingestão de até 50% a mais
do que onívoros a fim de garantir a adequação da ingestão de zinco [8].
Benefícios
da dieta vegetariana
Evidências
científicas registradas nas últimas décadas têm sugerido que as dietas
vegetarianas são as mais indicadas e benéficas para promoção da saúde bem como
na redução do risco de doenças crônicas, como sobrepeso/obesidade, doenças
cardiovasculares (devido aos menores níveis de colesterol total e de colesterol
do tipo LDL), hipertensão arterial, diabetes mellitus do tipo 2, entre outros fatores que afetam de forma negativa na
qualidade de vida e longevidade [16].
Dentre os fatores
fisiológicos alterados nos vegetarianos, encontra-se a defesa antioxidante. Os
níveis sérios de diversos tipos de antioxidantes são mais elevados, observa-se
também maior proteção contra a oxidação das lipoproteínas e maior estabilidade
genômica [17].
Em relação ao
sobrepeso e obesidade, estudos de grande porte como EPIC Oxford (European Prospective Investigation on Cancer) e ADVENTIST-2 (Adventist Health Study-2) demonstraram que vegetarianos, e em especial os veganos, são mais magros que os onívoros [15].
Os benefícios
apresentados em relação ao diabetes mellitus do tipo 2
apresenta-se tanto na prevenção quando no tratamento. Os vegetarianos
apresentam, em média, metade do risco de desenvolver o diabetes,
independentemente de seu peso corporal, atividade física e de outros fatores associados
à dieta, entre os veganos a prevalência é de um terço
da ocorrência em relação aos indivíduos não vegetarianos [18]
Vegetarianismo
nos ciclos da vida
Grupos de
pesquisadores como a American Dietetic Association e Dietitians of Canada [19]
concluíram que uma dieta vegetariana, se bem planejada, é adequada para todas
as fases do ciclo de vida, incluindo a infância e adolescência, podendo então
se beneficiar desse tipo de alimentação ou estilo de vida [15, 20].
Infância
É de extrema
importância para crianças na fase de lactação o recebimento de leite materno,
assim como qualquer criança, a fim fornecer todos os nutrientes, vitaminas e
minerais necessários para um bom desenvolvimento. Quando alimentos sólidos
forem introduzidos, é necessário o fornecimento de boas fontes de energia,
quantidades adequadas de macronutrientes e vitaminas
apropriadas para a idade, ser variada, moderada e balanceada. Todos esses
fatores influenciarão no crescimento adequado da criança e na prevenção de
problemas nutricionais caso certos alimentos forem consumidos em excesso
[19,21].
As necessidades
energéticas podem ser facilmente atingidas, já que uma dieta baseada em
leguminosas, oleaginosas e grãos fornecem grande quantidade de energia,
influenciando em um bom desenvolvimento e crescimento, porém é de extrema
importância o acompanhamento e planejamento da dieta para evitar deficiências
nutricionais, principalmente quando se trata de crianças [21].
Alguns estudos como o
de Sabaté e Wien, mostram os benefícios que uma dieta
vegetariana apresenta quando se trata de obesidade infantil. Padrões
alimentares com base em frutas, vegetais são tratados como uma ótima abordagem
para tratamento e prevenção de obesidade infantil, já que fornecem menores
quantidades de gorduras, de colesterol, e maiores quantidades de fibras e
minerais [22].
Adolescência
A adolescência
caracteriza-se como uma fase de vida em que ocorrem diversas transformações,
influenciando suas relações, valores, padrões, amizades, hábitos alimentares,
estilos de vida. A alimentação nessa idade possui como ponto crucial o consumo
exagerado de doces, alimentos fonte de gorduras, fast foods e baixo consumo de frutas,
hortaliças e fibras. Esses hábitos comumente adquiridos, podem com o tempo
associar-se a problemas de saúde e qualidade de vida. A dieta vegetariana pode
fornecer muitos benefícios para indivíduos nesse ciclo de vida, já que haveria
maior ingestão de fibras, maior consumo de frutas, hortaliças e menor consumo
de gorduras ruins [19,23].
Gestação
É de extrema
necessidade que uma gestante, independentemente de ser vegetariana, tenha uma
alimentação adequada, com boa variedade e equilibrada tanto em qualidade quando
em quantidade para ela e para o bebê. As características nutricionais de uma
gestante ou lactante vegetariana não diferem de uma não
vegetariana, porém deve haver sempre um acompanhamento médico e nutricional
para avaliação do desenvolvimento do bebê e para a elaboração e acompanhamento de
uma dieta adequada em nutrientes essenciais para essa fase de vida [19,24].
Crianças e bebês que
praticam dietas veganas, consideradas mais
restritivas, devem consumir alimentos fortificados com Vitamina B12 ou realizar
suplementação de 5 a 12 µg, já que este nutriente é presente apenas em
alimentos de origem animal. Em relação a Vitamina D e
Cálcio, crianças que ingerem quantidade menor que 500 ml de produtos lácteos
fortificados, devem também realizar suplementação [21].
Assim como mencionado
anteriormente, dietas vegetarianas demostram ser baixas em Vitamina B12,
cálcio, ferro, proteínas de alto valor biológico, Vitamina D e Iodo, devendo
ser sempre avaliadas como deficiências potenciais a serem acometidas,
principalmente em gestantes e lactentes [25].
É de grande
importância que seja sempre avaliado além de tais nutrientes para verificar
riscos e deficiências nutricionais, a quantidade de energia total ingerida
diariamente em períodos de gestação e lactação, já que os valores apresentam
aumento em determinadas fases: no primeiro trimestre da gestação, não há
acréscimo de calorias, apresentando valor energético equivalente ao que a
mulher necessita, mas sendo importante a suplementação de ácido fólico; no
segundo trimestre, é necessário um acréscimo de 340 kcal para garantir
quantidade suficiente tanto para a mulher quando ao seu bebê; e no terceiro
semestre, um acréscimo de 450 kcal, tudo isso caso a gestante apresente-se eutrófica [24,25].
Em gestantes veganas, por utilizarem-se de uma dieta mais restrita e com
mais riscos de deficiências, a suplementação de Vitamina B12, ferro, ácido
fólico, ácido linolênico e cálcio deve ser realizada e referenciada por
nutricionistas para a avaliação individual e recomendação correta, para que o crescimento e desenvolvimento do bebê tenha extremo
cuidado [21].
Idosos
Segundo a American Dietetic Association, no decorrer do envelhecimento, apesar de
haver redução nas necessidades energéticas diárias, as recomendações de
diversos nutrientes essenciais como vitamina B12, vitamina D e cálcio, são
maiores nessa fase de vida. Pontos importantes ainda como dificuldade de
absorção de vitamina B12 através de alimentos e a produção cutânea diminuída de
Vitamina D, indicam a necessidade de cuidados específicos com esse grupo [19].
Um dos pontos
positivos da dieta vegetariana é notado principalmente em idosos, que
predominantemente apresentam declínio na função renal. O excesso do consumo de
proteínas, principalmente de origem animal, está intimamente relacionado com o
aumento de declínio de função renal. Nas dietas vegetarianas, o consumo de
proteínas de origem animal é reduzido ou estrito, apresentando a vantagem de
reduzir o declínio de função renal [20].
O consumo de
proteínas nessa fase, é ainda de extrema importância,
pois apesar de a necessidade energética ser reduzida comparada de um adulto, a
quantidade proteica diária se mantém. Então, para um idoso vegetariano atingir
essa recomendação, alimentos ricos em proteínas devem estar presentes sempre em
seus pratos, variando de acordo com o tipo de vegetarianismo, como ovos, leite
e derivados, produtos à base de soja e leguminosas [19].
Atletas
De acordo com a American Dietetic Association (ADA), a dieta vegetariana pode ser
adequada para todos os estágios da vida e para atletas. Apesar da menor
ingestão de proteínas, quando comparados aos atletas onívoros, aparentemente
não há limitação de desempenho associada à prática da dieta vegetariana pois a combinação de vegetais com verduras, legumes, nozes,
sementes e grãos integrais compensam estas deficiências [19].
Um dos motivos que
levam os atletas a adotar uma dieta vegetariana é a suposta melhora da imunocompetência e diminuição de doenças crônicas. Porém, a
verificação do consumo adequado de micronutrientes por estes indivíduos, como folato, B6, B12, carotenoides, C, E, zinco, cobre, ferro e
selênio são sugeridos por ter o caráter de abrandar a supressão da função
imunológica. A substituição do ácido ômega 6 pelo ácido
ômega 3 é uma alternativa mais saudável de consumo de gorduras e óleos de
origem animal, oferecendo quantidade considerável de proteína e quantidade
equilibrada de ácidos gordos, lignina e esteróis [26].
O consumo de vitamina
B12 pode ser atingido entre os ovolactovegetarianos,
já que consomem ovos, leites e seus derivados. Porém, atletas veganos e vegetarianos estritos merecem maior atenção e
deve ser analisada a necessidade do uso de suplementação nutricional [27].
Recomendações
Para que a prática do
vegetarianismo não incorra em riscos à saúde, algumas orientações devem ser
seguidas, buscando a otimização da biodisponibilidade
de nutrientes nestas dietas:
De acordo com a
Sociedade Vegetariana Brasileira [7] para retirar carne da dieta é necessário
trocar 100 g de carne por uma concha de leguminosas (feijões, ervilha,
lentilha, grão de bico, entre outros), por exemplo 100
g de filé de frango grelhado (190 kcal) equivale a 253,7 g ou aproximadamente 9
colheres de sopa de ervilha seca cozida (190 kcal) além dos alimentos vegetais
possuírem todos os aminoácidos essenciais. Porém, é indispensável que a dieta
seja equilibrada da forma correta para oferecer todos os nutrientes necessários
A prática da dieta
vegetariana, assim como outros padrões alimentares restritivos, pode ser
segura, mas demanda orientação profissional e apresenta benefícios
interessantes aos praticantes. Considera-se que os veganos
e vegetarianos estritos apresentam um risco maior de carências nutricionais e
suas consequências, sendo fundamental que estes indivíduos busquem o apoio de
Nutricionistas, para o auxílio do alcance de suas necessidades nutricionais.