ARTIGO
ORIGINAL
Consumo
de alimentos industrializados e distúrbios gastrintestinais em adolescentes
Industrialized foods intake and gastrointestinal disorders in
adolescents
Daniel Barbosa
Leite*, Renata de Carvalho Mesquita*, Tarcísio Cesar Bandeira de Melo* , Wangy Rafaella
Bernardo*, Mônica de Almeida Lima Alves, M.Sc.**
*Graduando
em Nutrição pela Faculdade Internacional da Paraíba, **Docente do curso de
Graduação em Nutrição da Faculdade Internacional da Paraíba, Especialista em
Nutrição Clínica
Recebido 30 de abril
de 2017; aceito 15 de dezembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Daniel Barbosa Leite: danielbarbosajp@outlook.com; Renata de Carvalho Mesquita:
renata.mesq.carvalho@hotmail.com; Tarcísio Cesar Bandeira de Melo:
cizo.melo@hotmail.com; Wangy Rafaella
Bernardo: wangy_rafaela@hotmail.com, Mônica de Almeida Lima Alves: monicadealima@yahoo.com.br
Resumo
Os adolescentes são
considerados um grupo de risco nutricional por estar relacionados à má
alimentação, pelo fato dos estudos demonstrarem um alto consumo de alimentos
industrializados e baixo consumo de alimentos naturais. O objetivo geral desta
pesquisa foi identificar a frequência de consumo de alimentos industrializados
e distúrbios gastrintestinais em adolescentes. A pesquisa foi realizada em uma
escola particular, no município de João Pessoa/PB, onde participaram 11
adolescentes, com idade entre 15 e 18 anos. Os adolescentes responderam um
questionário sobre sinais e sintomas gastrintestinais e frequência de consumo
de alimentos industrializados. Do total de participantes, 72,72% eram meninas,
com idade média de 15 anos e solteiros. Quanto aos distúrbios gastrintestinais,
os mais citados foram náusea e azia (45,45%), dor/desconforto gástrico
(27,27%), vômito/refluxo gástrico (18,18%). Os alimentos consumidos com maior
frequência foram refresco em pó (72,72%), café (54,55%), refrigerante (45,46%),
sorvete/chocolate/presunto/hambúrguer (36,37%), suco industrializado/coxinha/mortadela/biscoito
recheado (27,28%), salsicha (18,19%) e pastel/pizza/fiambre (9,10%). É
importante o trabalho de educação nutricional junto aos adolescentes no intuito
de orientá-los sobre a qualidade e quantidade de alimentos consumidos e a
prevenção das doenças gastrintestinais.
Palavras-chave: consumo alimentar,
distúrbios gastrintestinais, adolescentes.
Abstract
Adolescents are considered a nutritional risk group because they are
related to poor diet, high intake of processed foods and low consumption of
natural foods. The general objective of this study was to identify the
frequency of industrialized foods and gastrointestinal disorders in
adolescents. The research was carried out in a private school, in the
municipality of João Pessoa/PB, where 11 adolescents,
aged 15 to 18 years, participated. The adolescents answered a questionnaire
about gastrointestinal signs and symptoms and frequency of intake of
industrialized foods. Of the total number of participants, 72.72% were girls, with
a mean age of 15 years. The most frequently gastrointestinal disorders were
nausea and heartburn (45.45%), gastric pain/discomfort (27.27%), gastric
vomiting/reflux (18.18%). Foods most frequently consumed were soft drink
(72.72%), coffee (54.55%), soda (45.46%), ice cream/chocolate/ham/hamburger
(36.37%), suco industrializado/coxinha/mortadela/biscoito recheado (27.28%),
sausage (18.19%) and cake/pizza/ham (9.10%). It is important the work of
nutritional education with adolescents in order to guide them about the quality
and quantity of food and the prevention of gastrointestinal diseases.
Key-words: food
consumption, gastrointestinal disorders, adolescents.
A adolescência é um
período de fortes mudanças que são influenciadas no âmbito familiar, amizades,
valores e regras sociais e culturais, condições socioeconômicas, assim como por
experiências e conhecimentos do indivíduo. Hábitos e aprendizagens desse
período repercutem sobre sua posição em muitos aspectos de vida futuras, como a
alimentação, autoimagem, saúde individual, valores, preferências, e
desenvolvimento psicossocial [1].
O hábito alimentar é
um dos fatores que influencia de forma concreta a saúde [2]. Estudo recente tem
mostrado, que nesta faixa etária, o comportamento alimentar não saudável tem
feito parte da rotina dos adolescentes pertencentes às classes econômicas mais
sucessivas, que possuem maior acesso aos alimentos e a informação [3], sendo a
dieta adotada usualmente rica em gorduras, açúcares e sódio, com pequena participação
de frutas e hortaliças [4].
É amplamente
conhecida a associação entre condições e modos de vida e a ocorrência de
doenças não transmissíveis, que são hoje extremamente relevantes no cenário
epidemiológico mundial. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS)
indicam que o tabagismo, o baixo consumo de frutas e hortaliças e o
sedentarismo encontram-se entre as condições responsáveis por grande número de
doenças e mortes nos países em desenvolvimento e, em particular, na região
epidemiológica das Américas onde se encontra o Brasil [5].
Nessa perspectiva, os
adolescentes merecem particular atenção por estarem em uma fase da vida crucial
para a constituição de hábitos e valores importantes na determinação das
doenças não transmissíveis e que tendem a permanecer na vida adulta.
Uma das complicações
causadas pela modificação do hábito alimentar dos adolescentes é a alteração
das funções gastrointestinais, dentre elas se destacam: a constipação, a
diarreia, a disbiose, náuseas e vômitos, gastrite e o
refluxo gastroesofágico [6]. Os distúrbios
gastrointestinais são definidos como condições onde ocorrem combinações de
sinais e sintomas recorrentes ou crônicos do aparelho digestório sem que uma
causa seja detectada. Estas desordens são muito frequentes na prática clínica
diária [7].
Em razão destas
evidências, o objetivo geral deste trabalho foi identificar o consumo de
alimentos industrializados e os distúrbios gastrintestinais em adolescentes.
Trata-se de uma
pesquisa de campo, transversal, com caráter descritivo e quantitativo, que
identificou o consumo alimentar e os distúrbios gastrintestinais em um grupo de
adolescentes matriculados em uma escola particular de João Pessoa/PB.
Participaram 11 adolescentes matriculados no ensino médio, com idade entre 15 e
18 anos, cursando o terceiro e o primeiro ano. Inicialmente, os adolescentes
foram esclarecidos sobre os objetivos, métodos, riscos e benefícios da pesquisa
e foram orientados a entregarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) para seus pais/responsáveis, no intuito de receberem a autorização para
coleta de dados. Após a assinatura do TCLE, os adolescentes foram convidados a
assinarem o Termo de Assentimento (TA), caso quisessem participar da pesquisa.
Os adolescentes que apresentaram o TCLE e o TA
assinados, participaram da coleta de dados.
A coleta de dados
aconteceu na própria escola, durante o período autorizado pela direção. Os
adolescentes receberam os esclarecimentos sobre como responder ao questionário
e o pesquisador acadêmico ficou à disposição durante todo o tempo da coleta de
dados para possíveis esclarecimentos.
O questionário
abordou informações sobre idade, gênero, estado civil, frequência de consumo de
alimentos industrializados e presença de distúrbios gastrintestinais.
Os dados coletados
foram analisados e armazenados em um banco de dados elaborado no programa
Microsoft Office Excel (2016) e a análise estatística foi
realizada no mesmo programa. A análise foi descritiva e constou de
cálculo de frequência percentual, sendo os resultados apresentados em tabelas e
gráficos.
O projeto foi
encaminhado à Plataforma Brasil para apreciação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa.
Do total de
adolescentes avaliados na pesquisa, identificou-se que 72,72% eram do gênero feminino, com idade média de 15 anos e solteiros (Tabela I).
Tabela
I – Perfil dos entrevistados.
Na Figura 1, é
possível observar a distribuição percentual de sinais e sintomas apresentados
pelos adolescentes segundo relato dos mesmos, observando-se que 45,45%
relataram náusea e azia, 27,27% citaram dor/desconforto gástrico e 18,18%
citaram vômito e refluxo gástrico.
Figura
1 – Distribuição percentual de sinais e sintomas
gastrointestinais relatados pelos adolescentes.
Quando questionados
sobre a frequência de consumo de alimentos industrializados, observou-se um
alto percentual de ingestão de refresco em pó, café e refrigerantes, onde
72,72%, 54,55% e 45,46% dos adolescentes afirmaram consumir estas bebidas,
respectivamente, 4 ou mais vezes por semana. Os
produtos de pastelaria e fast food
não tiveram uma frequência de consumo considerada alta, sendo o hambúrguer
consumido 4 ou mais vezes por semana por 36,37% dos
adolescentes, seguido da coxinha (27,28%), pastel (9,10%) e pizza (9,10%).
Quanto aos embutidos, o presunto foi o mais consumido (36,37%), seguido da
mortadela (27,28%), salsicha (18,19%) e fiambre (9,10%). Outros alimentos ricos
em gorduras citados pelos adolescentes foram biscoito recheado (27,28%),
sorvete (36,37%), chocolate (36,37%) e snacks
(45,46%), sendo estes percentuais referentes ao consumo de 4
ou mais vezes por semana.
Tabela
II –
Distribuição percentual da frequência de
consumo de alimentos industrializados segundo relato dos adolescentes.
Os hábitos
alimentares inadequados na adolescência podem ser os precursores de doenças
nutricionais, daí a necessidade de uma boa nutrição para a prevenção de doenças
na vida adulta [8].
As doenças
gastrointestinais são reconhecidas como um problema de saúde pública e sua
prevalência é pouco estudada [9]. Encontraram quadros
de náuseas e vômitos apresentados por 26,67% e 11,43% dos adolescentes
estudados, respectivamente, valores inferiores aos da presente pesquisa, são
comumente causados por gastroenterite, infecção sistêmica, ingestão de toxinas
e apendicite. Não se deve desconsiderar o fato de que o vômito pode estar
relacionado com o desenvolvimento de transtornos alimentares como a anorexia e
a bulimia nervosa, que geralmente se estabelecem na adolescência [10]. A doença
ocorre de 8 a 12 vezes mais frequentemente no sexo feminino [11]. E a
prevalência desses transtornos, que fica entre 1% e 4%, vem aumentando
significativamente nos últimos anos [12]. A maioria dos episódios agudos de
vômito é de curta duração e apresentam poucos problemas nutricionais,
entretanto, o vômito crônico acompanha várias condições, onde a mais comum
dessas condições intrínsecas do trato gastrointestinal é o refluxo gastroesofágico [13]. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é acompanhada de repercussões
clínicas importantes, entre elas a esofagite, considerada uma das principais
complicações da DRGE em crianças e adolescentes [14].
A dor abdominal é uma
queixa frequente em consultórios pediátricos. Estima-se que entre 10 e 18% dos
pacientes entre 4 e 14 anos de idade apresentam esse
sintoma. Acredita-se hoje que mais de 90% das crianças e adolescentes com dor
abdominal crônica apresente algum distúrbio gastrointestinal funcional, o que
significa que não se encontra nenhuma alteração estrutural, infecciosa,
inflamatória ou bioquímica que explica a queixa [15].
Em estudos
populacionais, 3,5% a 27% dos adolescentes têm referido sintomas dispépticos e
de refluxo, nos últimos anos [16,17,18]. Foi observada
uma frequência de 49,4% em crianças e adolescentes referindo dor abdominal,
náusea e vômitos [19].
Os relatos destes
sintomas gastrintestinais chamam atenção para a necessidade de cuidados
clínicos com estes adolescentes a fim de identificar as causas destes sintomas
e possíveis tratamentos.
Quanto ao consumo
alimentar, observa-se a constância de ingestão de alimentos industrializados,
ricos em gorduras, açúcares, substâncias artificiais, o que pode irritar a
mucosa gástrica e contribuir para o surgimento de doenças gástricas.
Em estudo realizado
em Minas Gerais, sobre prevalência de distúrbios gastrintestinais e consumo alimentar, observou-se que no grupo dos sucos, 21,90%
consomem suco natural e 42,86% suco industrializado em pó diariamente. Diante
disso, é importante incentivar o consumo de sucos de frutas naturais, em
especial os preparados na hora, pois são mais nutritivos. A polpa congelada e o
suco consumido horas após o preparo perdem alguns nutrientes, mas não deixam de
ser ainda uma melhor opção que os sucos artificiais, em pó ou em caixinha [20].
Neste mesmo estudo,
para o grupo das bebidas (refrigerante, chá mate, café, cerveja), 35,24%
relataram a ingestão diária de refrigerante e 56,20% relataram a ingestão
semanal, 100% da amostra não consome ou consome
raramente cerveja. Os achados descritos são preocupantes, uma vez que a
ingestão média de bebidas adicionadas de açúcar, incluindo os refrigerantes,
pode contribuir para o ganho de peso, sendo associada ao desenvolvimento da
obesidade na infância e na adolescência [21].
Neste contexto, deve
ser levado em conta que as fibras são importantes para o bom funcionamento do
organismo e, por isso, devem ser consumidas diariamente, associadas com uma
adequada oferta hídrica [22]. As fibras alimentares apresentam um grande
impacto nas funções fisiológicas do trato gastrointestinal por estarem
envolvidas na regulação de funções do tubo digestivo, tais como: esvaziamento
gástrico, volume e tempo de trânsito intestinal, digestão e absorção de
nutrientes, excreção de sais biliares, crescimento da flora intestinal, redução
de ingestão de energia, entre outras, o que as torna fundamentais no cuidado
nutricional [23].
Os alimentos
refinados passam por processos que reduzem seus valores nutricionais e devem
ser consumidos com moderação, visto que sua alta ingestão interfere na fisiologia
normal do organismo como, por exemplo, em condições normais as bactérias
intestinais agem na formação de vitamina K e do complexo B, já com o consumo
abusivo de carboidratos simples, ocorre a fermentação
e produção de álcool (etanol) no intestino, além de contribuir para o aumento
na formação de cáries e inflamação na gengiva, no desenvolvimento de doenças diverticulares, apendicites, constipação intestinal e
câncer do cólon [24].
A
ingestão de alimentos como doces, bebidas gasosas ou muito açucaradas, carboidratos
refinados, preparações muito condimentadas ou gordurosas, dentre outros devem
ser evitados, pois estão diretamente relacionados com a formação de flatulência
[25].
A partir destes
dados, fica clara a influência dos alimentos na saúde gastrointestinal, sendo
necessária a orientação destes adolescentes sobre os riscos à saúde e a escolha
adequada de alimentos. O nutricionista é o profissional mais capacitado para
realizar as atividades de educação nutricional e favorecer para a instituição
de bons hábitos e prevenção de doenças crônicas.
Foi identificada
presença de sintomas gastrintestinais nos adolescentes como náusea, vômito, dor
gástrica, pirose e refluxo, sendo necessária a orientação aos mesmos para
investigarem possíveis causas, para eficaz tratamento e prevenção de doenças
futuras.
Quanto ao consumo
alimentar, os adolescentes relataram alto consumo de refrescos em pó,
refrigerantes, café, biscoito recheado, sorvete e embutidos, todos
alimentos concentrados em açúcares e gorduras, nutrientes que podem influenciar
no desconforto gástrico e nos sintomas identificados, além de conterem
substâncias irritantes da mucosa gástrica e intestinal, como cafeína e
corantes, podendo piorar o quadro clínico observado.
A necessidade do
acompanhamento nutricional fica evidente a fim de orientar sobre escolhas
alimentares saudáveis e fornecimento de informações relevantes sobre saúde
intestinal e consumo alimentar.
Sugere-se que mais
estudos sejam realizados com a população de adolescentes sobre sintomas
gastrintestinais e consumo alimentar, realizando associações estatísticas
destes sintomas com os alimentos frequentemente consumidos.