ARTIGO
ORIGINAL
Os
benefícios do aproveitamento integral dos alimentos em uma Unidade de
Alimentação e Nutrição
The benefits of full use of food in a Food and Nutrition Unit
Tarcísio César
Bandeira de Melo*, Renata Mesquita de Carvalho*, Daniel Barbosa Leite*, Wangy Rafaella Bernardo*, Wanessa
Lima de Souza**
*Graduando
em Nutrição pela Faculdade Internacional da Paraíba, **Docente do Curso de
Graduação em Nutrição da Faculdade Internacional da Paraíba, Especialista em
Nutrição Clínica
Endereço
para correspondência:
Tarcísio César Bandeira de Melo, Faculdade Internacional da Paraíba, Curso de
Nutrição, E-mai: cizo.melo@hotmail.com; Renata
Mesquita de Carvalho: renatinhames@hotmail.com; Daniel Barbosa Leite:
danielbarborajp@outlook.com; Wangy Rafaella Bernado:
wangy_rafaela@hotmail.com; Wanessa Lima de Souza: wanlsouza@hotmail.com
Resumo
O desperdício
alimentício é algo relevante em todo o cenário mundial, principalmente em uma
Unidade de Alimentação e Nutrição, logo quando se refere aos talos, cascas e
folhas, sendo assim o aproveitamento integral dos alimentos torna-se importante
para a redução do mesmo. O objetivo desse estudo é investigar a redução do
desperdício através do aproveitamento integral, como também verificar aceitação
dos comensais com a preparação de uma farofa, conscientizando e ofertando uma
maior variedade de nutrientes. A pesquisa foi feita em uma Unidade de
Alimentação e Nutrição na cidade de João Pessoa/PB, com indivíduos na fase
adulta, de ambos os sexos. Envolveu a aplicação de um questionário com questões
objetivas e descritivas relacionado ao hábito alimentar e ao teste de
aceitabilidade da farofa pela escala hedônica. Os resultados abordam que 64,0% dos
participantes não utilizam o alimento em sua totalidade, porém a farofa obteve
uma boa aceitação, alcançando 50,0% na avaliação global. O aproveitamento
integral dos alimentos contribuiu para a diminuição do desperdício e se faz
necessária a maior conscientização, gerando um bem estar aos comensais.
Palavras-chave: desperdício,
unidade de alimentação e nutrição, aproveitamento integral dos alimentos.
Abstract
Food waste is important in the whole world scenario, especially in a
Food and Nutrition Unit, so when it comes to stalks, barks and leaves, so the
full use of food becomes important to reduce it. The objective of this study is
to investigate the reduction of waste through the integral use, as well as to
verify the acceptance of the diners with the preparation of crumbs, raising
awareness and offering a greater variety of nutrients. The research was done in
a Food and Nutrition Unit in the city of João Pessoa
- PB, with individuals in the adult phase, of both sexes, involved the
application of a questionnaire with objective and descriptive questions related
to food habits and the acceptability test of the crumbs by the hedonic scale.
The results show that 64.0% of the participants do not use the food in its
entirety, but the crumbs was well accepted, reaching
50.0% in the overall evaluation. The integral use of food has contributed to
the reduction of waste and it is necessary to raise awareness, generating a
well-being to the diners.
Key-words: waste, food
and nutrition unit, integral use of food.
Unidades
de
Alimentação e Nutrição são
espaços voltados para preparação e fornecimento de
refeições equilibradas em nutrientes, segundo o perfil da
clientela [1]. No
sentido de manutenção e/ou recuperação da
saúde dos comensais, pretendendo
auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares
saudáveis e uma melhor
qualidade de vida [2].
No gerenciamento de
uma UAN o desperdício é um fator de grande relevância e torna-se fundamental a
redução do mesmo. O desperdício de alimentos na cadeia alimentar tem causas
econômicas, políticas, culturais e tecnológicas, que abrangem as principais
etapas da cadeia de movimentação: produção, transporte, comercialização,
sistema de embalagem e armazenamento [3].
O Brasil ostenta hoje
um dos quadros mais preocupantes de insegurança alimentar em todo o mundo, onde
milhões de pessoas - conforme já foi citado - passam fome e parte significativa
de sua população carece de uma alimentação quantitativa e qualitativamente
adequada [4].
No Brasil, estima-se
que cerca de 70 mil toneladas de alimentos são jogadas no lixo diariamente, o
que torna este lixo, um dos mais ricos do mundo [5]. De um total do lixo
urbano, 60% são formados por resíduos orgânicos [6], ou seja, R$ 12 bilhões em
alimentos são literalmente jogados no lixo por ano. Este valor representa 1,4%
do PIB brasileiro, o suficiente para alimentar 8
milhões de famílias, ou cerca de 30 milhões de pessoas carentes por ano [7].
Esta é uma questão
não somente técnica, mas também político-social, pois o Brasil um país onde a
subnutrição pode ser considerada um dos principais problemas de saúde [8].
Tendo em vista todo o
conteúdo exposto, o que leva uma UAN a desperdiçar grandes quantidades de
alimentos? Afirma-se que as Unidades de Alimentação e Nutrição estipulam um
determinado número de refeições que muitas vezes não é atingido, pois a quantidade
de comensais é incerta. O desperdício das cascas, talos e folhas ocorre devido
ao desconhecimento das propriedades neles existentes, preconceito social e
falhas nas técnicas de pré-preparo e preparo dos alimentos. Além disso, à
apresentação do que está sendo ofertado influencia no possível descarte de um
alimento.
O aproveitamento
integral visa utilizar o alimento como todo, em sua forma integral, como
cascas, talos, sementes e folhas. Assim, possibilitando a melhora do consumo
nutricional. Apesar de todos os benefícios do aproveitamento alimentar, muitas
pessoas ainda desconhecem o valor nutritivo contido nas artes dos alimentos
[5].
O
incentivo a redução
do desperdício através do aproveitamento alimentar
depende, em partes, de
políticas públicas específicas, voltadas a
prevenção da desnutrição, a
redução
da pobreza e das desigualdades entre países e entre os
habitantes de um mesmo
país [9].
Sabendo-se que o
aproveitamento integral dos alimentos possui diversas propriedades, como a oferta
de diversos nutrientes nas partes desperdiçadas. O objetivo dessa pesquisa é
investigar a redução do desperdício através do aproveitamento integral, como
também verificar aceitação dos comensais com preparações, ofertando assim, uma
maior variedade de nutrientes. Será pontuada a conscientização sobre a
importância deste assunto abordado e os benefícios para a saúde, bem como está
atrelado a uma questão de sustentabilidade.
A pesquisa foi
realizada na Unidade de Alimentação e Nutrição terceirizada em uma gráfica,
localizada na cidade de João Pessoa/PB, com 50 indivíduos, não treinados, na
faixa etária dos 18 aos 59 anos, de ambos os sexos.
Foi aplicado um
questionário com o total de 9 questões, na primeira
parte, foram 5 de múltipla escolha e 1 dissertativa relacionadas à frequência
alimentar de frutas e hortaliças, a utilização do alimento em sua totalidade,
consciência do valor nutritivo presentes nas cascas, talos, entrecascas e
folhas, consumo de preparações com o aproveitamento integral dos alimentos e
quais as preparações mais consumidas. Na segunda parte foi realizada à
aceitabilidade de uma amostra de farofa utilizando o aproveitamento integral
dos alimentos analisada pela escala hedônica de 9
pontos que varia de “desgostei muitíssimo” até “gostei muitíssimo” para
atributos como aparência, cor, sabor, gosto residual, avaliação global e mais 3
questões de múltipla escolha sobre a inclusão da preparação amostra na rotina
alimentar, frequência do consumo da farofa e se os participantes concordam com
a adesão da mesma ao cardápio da unidade, levou em média 20 minutos para a
resolução de todas as questões e o questionário foi elaborado no Word.
A preparação da
farofa foi realizada na cozinha da unidade, com duração de 40 minutos, os
ingredientes são: cascas de chuchu (170 g), banana prata (90 g), cascas da
banana (170 g), talos de acelga (170 g), cascas de cenoura (170 g), cebola
picada (83 g), alho (3 g), bacon (80 g), colorau (a gosto), sal de ervas (a
gosto), farinha de mandioca (500 g). O peso da amostra foi aproximadamente de
30 g.
A análise dos dados e
a construção das figuras e tabelas foram elaboradas no Word e Excel 2007.
No total de
participantes avaliados na pesquisa, verificou-se que 58% são do gênero
masculino e 42% do gênero feminino, idade em média de 35 anos e 32% possuem
escolaridade de médio completo (Tabela I).
Tabela
I – Perfil dos entrevistados.
Na tabela II, pode
ser observado a frequência alimentar de frutas e hortaliças, pois o hábito
alimentar referentes a essa classe de alimentos poderá propor o aproveitamento
integral. Foram escolhidos alimentos comuns e familiares que pudessem fazer
parte da alimentação das pessoas, bem como esses alimentos que possuem cascas,
talos e entrecascas que facilmente podem ser aproveitadas.
Observa-se
percentuais em que 60,0% responderam que nunca consomem goiaba, 42% relataram
que consomem banana diariamente, 62% mencionaram maçã no cosumo
de um a três vezes por semana e 32% informaram que tomate é o mais consumido em
quatro vezes por semana.
Tabela
II –
Questionário de Frequência Alimentar de
Frutas e Hortaliças.
Com relação ao
cotidiano dos participantes sobre a utilização do alimento em sua totalidade,
incluindo assim as cascas, entrecascas, talos e folhas, 64,0% responderam que
não utilizam o alimento como todo (Figura 1).
Figura
1 – Utilização do alimento em sua totalidade.
Sabendo-se do alto
valor nutricional contido nas cascas, folhas, entrecascas e talos, 60,0%
relataram ter a consciência que essas partes do alimento também possuem um alto
valor nutritivo (Figura 2), porém 64,0% afirmam que não realizam e nem consomem
preparações com o aproveitamento integral dos alimentos (Figura 3).
Figura
2 – Consciência do alto valor nutritivo.
Figura
3 – Consumo de preparações com aproveitamento
integral dos alimentos.
Os participantes que
responderam sim (Figura 3), a eles foram perguntados a frequência de consumo de
preparações com o aproveitamento integral e 50,00% consomem de um a três vezes
por semana (Tabela III). Dentre as principais preparações foram relatadas, os
sucos das cascas de frutas, arroz refogado com a cenoura total, sopas, bolos e
doces.
Tabela
III
– Frequência do consumo das preparações.
Na tabela IV,
verifica-se a análise da aceitabilidade da farofa rica na unidade de
alimentação e nutrição pela escala hedônica que varia entre desgostei
muitíssimo a gostei muitíssimo, foram avaliados atributos como aparência, cor,
sabor, textura, gosto residual e avaliação global. De todos os indivíduos que
participaram 40,0% gostou muitíssimo da aparência, 36,0% gostou muito da cor,
46,0% gostou muitíssimo do sabor, 42,0% gostou muito da textura, 40,0% gostou
muitíssimo do gosto residual e 50,0% gostou muitíssimo na avaliação global do
produto.
Tabela
IV –
Aceitabilidade da amostra da farofa.
Após a degustação,
74,0% afirmam que poderiam aderir preparações com aproveitamento integral dos
alimentos na sua rotina alimentar (Figura 4).
Figura
4 – Inclusão de preparações com o aproveitamento
integral dos alimentos na rotina alimentar.
Na figura 5, de
acordo com a frequência do consumo da amostra, 46,00% informam que iriam
consumir duas vezes na semana e 30,00% afirmam que sempre.
Figura
5 – Frequência do consumo da preparação
(amostra).
Após a ótima
aceitação da farofa, 82,0% concordam que a preparação seja aderida ao cardápio
da UAN (Figura 6).
Figura
6 – Adesão da preparação da amostra ao cardápio
da UAN.
A frequência
alimentar de frutas e hortaliças se faz necessária, pois através do consumo
desses alimentos poderá resultar positivamente na realização da prática e
hábito do aproveitamento integral dos alimentos (AIA), sendo assim verificou-se
que a banana, tomate e alface apresentaram um maior consumo por dia entre os
participantes.
Segundo o estudo de Modini, a comparação do consumo de frutas e hortaliças,
avaliando segundo sexo, revelou que as mulheres consumiam esses alimentos com
mais frequência do que os homens: 4,64 vezes/dia (IC 95%: 4,41;4,86)
vs. 3,70/dia (IC95%: 3,40;3,99) [10]. O fato de ter feito dieta no último ano
apresentou correlação positiva com a frequência do consumo de frutas, legumes e
verduras somente entre as mulheres. Entre os homens, a prática de atividade
física no lazer mostrou-se correlacionada de maneira positiva à maior
frequência de consumo de frutas, legumes e verduras [11].
As partes desprezadas
desses alimentos (cascas, entrecascas, folhas, talos e sementes) possuem um
alto aporte nutricional como carboidratos, proteínas, lipídeos e minerais.
Embora se tenha bastante valor nutritivo nessas partes dos alimentos
percebeu-se que as pessoas não utilizam o alimento em sua totalidade e não
fazem o aproveitamento de todos os benefícios integralmente, seja pela falta de
informação ou hábito. Para Nunes e Botelho, ao ministrarem preparações com
partes não convencionais a um grupo de pessoas, constataram que a parte mais
difícil e desafiadora foi mudar paradigmas e preconceitos alimentares sobre o
aproveitamento total presentes no cotidiano da população, uma vez que este tipo
de preparação, em sua maioria, é desenvolvido em programas sociais do governo,
nos quais, pessoas de baixa renda aproveitam material que seria jogado no lixo
[12].
A
importância e os
benefícios dessa prática AIA estão
entrelaçados. A importância é a
redução dos
custos das preparações, a contribuição para
a diminuição do
desperdício alimentar, o aumento do valor nutricional e a elaboração de
novas preparações [13].
Na pesquisa em
diversos restaurantes de Albuquerque, todos disseram estarem satisfeitos com a
prática do AIA e o restaurante E foi mais além,
respondeu que está satisfeito principalmente por estar contribuindo com uma
prática mais sustentável. Os benefícios, no restaurante A seria a redução da
produção de lixo e redução de custos, nos restaurantes B e E
foram pela maior qualidade, sabor e funcionalidade das preparações, além de
facilitar a extração do sabor natural dos alimentos e contribuir para o melhor
funcionamento do organismo. Nos restaurantes C, D e F foram abordados o
reaproveitar do que seria descartado, reduzindo o desperdício, melhorando o
aproveitamento dos nutrientes e contribuindo para uma vida mais saudável para
quem consome [14].
Neste estudo, a
farofa apresentou maior rendimento devido ao aproveitamento integral dos
alimentos e menor utilização de grandes quantidades de farinha de mandioca.
Atributos como aparência, sabor, gosto residual e avaliação global atingiram a
classificação de “gostei muitíssimo”, correspondendo respectivamente a 40,0%,
46,0%, 40,0% e 50,0%. Com relação a cor e textura, os
mesmos atingiram “gostei muito”, correspondendo a 36,0% e 42%, obtendo uma
ótima aceitação. No trabalho de Silva [15], foi feita uma análise da
aceitabilidade de bolos com coprodutos in natura de abóbora (B1) e farinha de
semente de abóbora (B2), considerando aparência, aroma, sabor, cor e textura
como atributos, foi verificado que para a aparência do B1 44% dos julgadores
classificaram como “gostei muito”, e o B2 com 26% em “gostei muitíssimo”; o
percentual do sabor do B1 foi de 30% “gostei muito” e B2 46% disseram gostar
muitíssimo; A cor de B1 atingiu 34% sobre gostar muito e o B2 30% gostaram muito; sobre a textura do B1 20% gostaram muito e
em relação ao B2 obteve 42% “gostou muito”. Em geral, foi
observado valores semelhantes e/ou aproximados ao desta pesquisa.
A conscientização do
desperdício e inclusão de preparações com o aproveitamento integral dos
alimentos na rotina alimentar correlaciona com uma alimentação mais nutritiva
como também se torna um hábito sustentável. Segundo a pesquisa de Marchetto,
no item “se adotaria em suas refeições
diárias
este tipo de preparação”, 88% dos entrevistados (n
= 176) não tiveram dúvidas
em afirmar que introduziriam em suas rotinas gastronômicas, no
entanto, dentro
deste universo, 46 afirmaram nunca ou não recordavam ter
degustado tais
preparações. O problema do desperdício
também está associado à má
informação
nutricional da população sobre os alimentos, sendo que a
maioria das pessoas
não tem conhecimento algum. Deve-se enfocar mais a
educação nutricional e a
ambiental desenvolvendo conhecimento dos hábitos e seus
determinantes, pois, o
desperdício, além de elevar o custo do alimento,
não traz benefícios
nutricionais nem ambientais [16].
Após a pesquisa
realizada conclui-se que o aproveitamento integral dos alimentos oferta
diversos benefícios tanto para os indivíduos quanto para a Unidade de
Alimentação e Nutrição, visto que o consumo também de cascas, talos, entrecascas
e folhas aumenta a possibilidade de uma alimentação mais rica em nutrientes,
melhora qualidade de vida e ameniza problemáticas como a insegurança alimentar,
como é também uma questão de sustentabilidade.
Além disso, auxilia
na redução do desperdício e na economia de custos das preparações e ainda
propõem refeições mais inovadoras, sendo um ótimo atrativo em uma UAN.
Entretanto para atingir essas vantagens será necessária maior conscientização e
quebras de paradigmas sociais por parte dos colaboradores, sendo necessária
redução das perdas no armazenamento e pré-preparo, como pelos comensais, pois
como se verificou as pessoas tem consciência do alto valor nutritivo, em sua
maioria consumem frutas e hortaliças, mas não realizam o aproveitamento integral.
Devido à boa
aceitação da amostra espera-se ter gerado uma nova percepção sobre partes
desperdiçadas e dessa prática tão enriquecedora e saudável.