EDITORIAL
Novas
fronteiras de atuação desta fascinante vitamina D
Lucia Marques Vianna
Professor
titular da Escola de Nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro – UNIRIO
Correspondência:
lucia.vianna@pq.cnpq.br
Desde os ensaios
experimentais do raquitismo, conduzidos por Edward Mellanby e Mc Collum, que
deram inicio a uma sequência de investigações que culminaram na identificação
de um fator nutricional de importância no metabolismo ósseo, muitas etapas ocorreram
até a vitamina D ser considerada como um pro-hormônio,
o que se deu em 1966 por Lund e De Luca.
Hoje, o termo
Vitamina D engloba uma série de moléculas, todas oriundas do
7-desidrocolesterol, sendo a 1,25(OH)2 D3 a forma
biologicamente mais ativa, e considerada por muitos como um hormônio.
A parte das eventuais
polêmicas que envolvem sua definição como vitamina ou hormônio, o termo
vitamina D vem ao longo dos anos sendo o mais utilizado, e o mais importante é
o resultado efetivo das pesquisas envolvendo essa molécula o que per si já se
torna fascinante.
Do seu reconhecido
envolvimento no metabolismo ósseo, à identificação de seu receptor (VDR) em
vários tecidos, houve um salto no número de pesquisas envolvendo as
características de seu metabolismo, seu mecanismo de ação, o que atualmente
entende-se que pode ser genômico ou membranofílico, e seus inúmeros efeitos
fisiológicos que dia a dia vem sendo revelados.
Assim, uma vez mais,
dos ensaios experimentais, desta vez com modelos animais de estudo da
hipertensão arterial humana resultaram importantes observações que sinalizaram
para seu efeito hipotensor e abriram várias outras perspectivas de
investigações. Sua atuação sobre o funcionamento de canais iônicos,
incluindo o canal de potássio cálcio-calmodulina dependente, explicava
seu efeito sobre o relaxamento vascular. Ao mesmo tempo, outros trabalhos
demonstravam uma regulação negativa da expressão de renina pela vitamina D; e
sua suplementação crônica reduzia os níveis plasmáticos de aldosterona em
modelos experimentais.
Seguiram-se uma série
de investigações que demonstraram sua atuação sobre o músculo liso vascular e
visceral; da mesma forma que ensaios observacionais demonstravam a associação
entre baixo status nutricional de vitamina D e hipertensão arterial em diversos
grupos populacionais.
A partir daí, a
vitamina D passou a despertar a atenção clínica no cuidado das mulheres na fase
da menopausa, e outros grupos vulneráveis, de forma que na atualidade a
determinação da 25(OH)D sérica, deve fazer parte da
rotina nas estratégias de prevenção da osteoporose e da hipertensão arterial,
ao lado de outras recomendações.
Uma série de
pesquisas também revelou a existência de polimorfismos nos receptores da
vitamina D no diabetes, além da normalização da atividade das células
beta-pancreáticas pela suplementação desta vitamina. Alguns autores encontraram
uma associação inversa entre as concentrações de vitamina D e marcadores
inflamatórios, resistência à insulina e obesidade.
Na realidade, a
vitamina D tem ação imunomoduladora com as células do sistema imune
apresentando expressão dos VDR. Alguns autores pressupõem que a vitamina D
concorreria para o equilíbrio entre citocinas anti e pró-inflamatórias.
Tal mecanismo seria
também muito importante considerando que o processo inflamatório encontra-se na
gênese de uma gama de patologias e condições de dor crônica
músculo-esquelética.
Adicionalmente,
estudos bem mais recentes apontam para a possível influência desta vitamina na
microbiota intestinal, favorecendo o crescimento de microorganismos não
patógenos, abrindo uma outra vertente de investigação
na exploração dos mecanismos de ação da vitamina D no processo inflamatório.
Também igualmente
interessante, é sua possível influência em patologias neurológicas, uma vez que
muitas cursam com uma gama de alterações que podem ser, em parte, revertidas ou
minimizadas por essa vitamina. Em seu favor, encontram-se :
a regulação dos fatores neurotróficos derivados do cérebro (BDNF) e das células
da glia (GDNF), além da modulação da função gabaérgica, o aumento da expressão
da enzima que controla a síntese da serotonina (TPH2), dentre outras ações bem
documentadas.
Apesar destas
fascinantes descobertas, que fazem desta vitamina/ hormônio uma substância
vital para a saúde humana, ainda encontramos uma grande parte da população
mundial dentro da faixa considerada insuficiente não atingindo sequer 30 ng/ml
de 25(OH)D3. A baixa exposição solar, quer seja devido
ao aumento das atividades dentro de ambientes fechados ou ao uso de protetor
solar, aliado á baixa ingestão de alimentos fontes desta vitamina, ainda que
representem apenas 20% da quantidade de vitamina D necessária, parecem
contribuir para esse quadro.
Assim, essa matéria , brevemente apresentou várias possibilidades de
efeitos fisiológicos desta vitamina/hormônio, ao mesmo tempo que sinaliza para
a importância da manutenção de seus níveis séricos ideais.