ARTIGO
ORIGINAL
Correlação
entre composição corporal, prática de atividade física e qualidade de vida
segundo Questionário SF-36 de funcionários de uma instituição de ensino em
Jundiaí/SP
Correlation between body composition, physical activity practice, and
quality of life according to SF-36 Questionnaire of employees of an educational
institution at Jundiaí/SP
Carolina Herrerias*,
Taciana Davanço, D.Sc.**, Gabriela Mayumi Hatano*,
Julia Figueiredo Machado, M.Sc.**, Luciana Savoy Fornari, D.Sc.**, Wanderley
Carvalho, D.Sc.**
*Graduanda
do curso de Nutrição do Centro Universitário Padre Anchieta, Unianchieta,
**Docente Doutor do curso de Nutrição do Centro Universitário Padre Anchieta,
Unianchieta, Jundiai/SP
Endereço
para correspondência:
Taciana Davanço, Centro Universitário Padre Anchieta, Campus Central, Rua Bom
Jesus de Pirapora, 100-140 Centro 13207-270 Jundiai SP, E-mail:
tacydavanco@gmail.com; Carolina Herrerias: carolina.herrerias@hotmail.com;
Gabriela Mayumi Hatano: gabrielahatano@gmail.com; Julia Figueiredo Machado:
juliafm83@gmail.com; Luciana Savoy Fornari: luciana.fornari@uol.com.br;
Wanderley Carvalho: quercus@uol.com.br
Resumo
Esta pesquisa teve
como objetivo avaliar as correlações entre composição corporal, prática de
atividade física e qualidade de vida de funcionários de uma instituição de
ensino de Jundiaí/SP. O grupo foi composto por 74 voluntários. A avaliação do
estado nutricional baseou-se em dados antropométricos através da mensuração do
IMC. Para a definição da atividade física, perguntou-se sobre a prática, o
tipo, a frequência e o tempo de duração. A qualidade de vida foi avaliada
segundo questionário SF-36. Os resultados mostram a prevalência de sobrepeso e
obesidade na população estudada. A média do questionário de qualidade de vida
foi de 76, numa escala de 0 a 100. As variáveis analisadas apresentaram,
segundo teste de Spearman, 6 correlações com nível de
significância de 5% (p < 0,05) e 38 correlações com nível de significância
de 1% (p < 0,01). O excesso de peso da população mostra necessidade urgente
de implementação de mudanças comportamentais,
alimentares e sociais. A criação de protocolos e condutas relacionados à
prevenção e controle da obesidade é um grande desafio para profissionais e
serviços de saúde.
Palavras-chave: composição
corporal, qualidade de vida, obesidade, IMC.
Abstract
This study aimed to evaluate body composition, physical activity and
quality of life of employees of an educational institution in Jundiaí/SP. The group was composed of 74 volunteers. The
assessment of nutritional status was based on BMI. For the definition of
physical activity the volunteers were asked about their practice, activity
type, frequency and duration. The results show the prevalence of overweight and
obesity in this population. The average of the questionnaire on quality of life
was 76 on a scale of 0 to 100. The variables presented, according to Spearman's
test, 6 correlations with a significance level of 5% (p < 0.05) and 38
correlations with a significance level of 1% (p < 0.01). Overweight in this
population points out urgent need to implement behavioral, dietary and social
changes. Creating protocols and behaviors related to prevention and control of
obesity is a major challenge for health professionals and services.
Key-words: body
composition, quality of life, obesity, BMI.
Percebe-se atualmente
que fatores associados ao excesso de peso e obesidade são os maiores problemas
de saúde pública em todo o mundo [1]. Com a crescente mudança de alterações
ambientais e comportamentais especialmente nos hábitos alimentares, a obesidade
mundial está sendo considerada epidemia [2].
A classificação de
excesso de peso utilizada mundialmente é obtida através do cálculo do Índice de
Massa Corporal (IMC), que consiste na divisão do peso pelo quadrado da altura e
cujo resultado é expresso em kg/m² [3]. Para diagnóstico de excesso de peso a
antropometria se destaca como uma ferramenta de baixo custo, com resultado
rápido e eficaz [4]. Apesar de ser amplamente utilizado para identificação de
indivíduos obesos, o IMC não faz distinção entre massa magra e massa gorda,
fato que torna necessário dirigir nossa atenção aos “falsos magros” [5].
A principal causa do
eutrofismo aparente, do sobrepeso e da obesidade é o excesso da ingestão
calórica, cuja origem pode estar no desequilíbrio quantitativo e/ou qualitativo
dos alimentos consumidos ou no hábito de vida sedentário cultivado ao longo dos
anos [6].
Considerada uma
doença crônica, a obesidade afeta cada vez mais crianças e adultos de países
pobres e ricos. No Brasil, o número de obesos já é maior que o de desnutridos
[7]. Com o aumento da obesidade, verifica-se o aumento das doenças crônicas não-transmissíveis como hipertensão arterial, diabetes,
doenças cardíacas e câncer [8].
A qualidade e a
quantidade de alimentos ingeridos define o estado nutricional de um indivíduo e
o acúmulo excessivo de gordura no corpo leva à obesidade. O número de pessoas
obesas vem aumentando a cada ano [9]. A obesidade é uma doença de etiologia não
totalmente esclarecida. No entanto, existe certo consenso na literatura de que
ela é causada pela interação de diferentes fatores [10]. Excesso de consumo de
alimentos, hábitos alimentares inadequados e sedentarismo são os principais
responsáveis pela obesidade global. Tanto a desnutrição quanto a obesidade
resultam do atendimento inadequado das necessidades energéticas do organismo,
sendo considerados distúrbios nutricionais decorrentes do atendimento inferior
e superior às necessidades, trazendo consequências para a saúde dos indivíduos
[11]. A alimentação exerce grande influência no indivíduo, principalmente no
que diz respeito a sua saúde, sua capacidade de trabalhar, estudar e
divertir-se, sua aparência e longevidade [12].
A qualidade de vida é
um aspecto relevante na avaliação nutricional e sua evolução pode ser apreciada
desde o início da prática de intervenção nutricional, quando este for o caso. O
termo “qualidade de vida” é amplamente utilizado tanto na linguagem cotidiana
quanto na pesquisa científica [13]. A avaliação da qualidade de vida é um tema
científico recente, mas que se consolidou como área de pesquisa e relaciona-se
com várias outras áreas das ciências da saúde. No contexto da ciência,
qualidade de vida pode ser entendida também como o grau de satisfação de
alcances individuais em relação às necessidades essenciais (educação e saúde) e
secundárias (subjetivas, psicológicas e, frequentemente, de natureza ambiental
e estética) no ambiente onde o indivíduo vive. Dessa forma, a avaliação da
qualidade de vida associada à análise da composição corporal consiste em
valiosa ferramenta para intervenção e melhoria do estado nutricional do
público-alvo [14].
Na literatura
científica, existem vários questionários que avaliam a qualidade de vida de
indivíduos, com enfoques variados, de acordo com o que se pretende avaliar.
Neste trabalho, foi utilizado o questionário de qualidade de vida SF-36, por
ser um questionário validado no Brasil e utilizado em diversos trabalhos
científicos.
Objetivo
O objetivo deste
estudo foi correlacionar dados antropométricos, prática de atividade física e
qualidade de vida, segundo questionário SF-36, de funcionários de uma
instituição de ensino em Jundiaí/SP.
O grupo foi composto
por funcionários de uma instituição de ensino de Jundiaí/SP e o recrutamento
dos participantes foi de caráter voluntário. A coleta de dados foi feita
pessoalmente, com horários agendados para atendimento individualizado. A
avaliação do estado nutricional baseou-se em dados antropométricos através da
mensuração da massa corporal (peso) e da estatura para cálculo do IMC. Para a
definição da atividade física foi questionado sobre a prática ou não de
atividade física, tipo, frequência e tempo de duração da atividade.
A medida da massa
corporal foi feita em balança do tipo plataforma da marca Toledo, com precisão
de 100 g e capacidade máxima de 150 kg. Conforme preconizado pelo Ministério da
Saúde [15], os sujeitos foram pesados com roupas leves, descalços, de costas
para a balança, no centro do equipamento, eretos, com os pés unidos e os braços
estendidos ao longo do corpo.
A estatura foi
avaliada por estadiômetro Sanny de escala específica (com precisão de 0,1 cm),
com os voluntários posicionados eretos, descalços, com a cabeça livre de
adereços, pés unidos, encostados à parede, braços estendidos ao longo do corpo,
cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos [15].
A partir das medidas
de massa e estatura corporal, foi calculado o índice de massa corporal (IMC)
pela equação: IMC = M/H2 onde M = massa corporal (kg); H = estatura corporal
(em metros).
Os dados foram
coletados nos meses de julho e agosto de 2014. Os resultados da pesquisa foram
tabulados manualmente, com registro dos dados em planilha do programa Microsoft
Excel®. A análise estatística foi realizada utilizando o programa SPSS
(Statistical Package For The Social Sciences, 2004). Inicialmente, fez-se o
cálculo da média, do desvio padrão e dos valores máximos e mínimos de cada
variável estudada. Em seguida foi realizado o teste de correlação Spearman,
sendo os níveis de significância adotados de 5% (p < 0,05) e de 1% (p <
0,01).
O estudo foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Todos os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa teve
início somente após aprovação pelo referido Comitê.
O estudo teve a
participação de 74 indivíduos de uma coorte de 838 funcionários da instituição
de ensino.
A seleção dos
funcionários obedeceu a critérios de inclusão e de exclusão. Os critérios de
inclusão foram para funcionários de ambos os sexos; não drogaditos; não
gestantes. Foram excluídos voluntários gestantes; lactantes; ou que não
assinaram o TCLE.
Participaram da
coleta 74 indivíduos, sendo 16 homens e 58 mulheres, que correspondem,
respectivamente, a 22 % e 78% do total da população estudada. A faixa etária
variou de 18 a 78 anos, sendo a mediana igual a 38
anos. A altura variou de 1,49 a 1,80 m e a média foi de 1,63 m. O peso dos
voluntários variou de 41,63 a 123,28 kg e o peso médio foi de 72,88 kg. A
Tabela I mostra a análise descritiva do estudo.
Tabela
I – Análise descritiva do estudo.
A avaliação de IMC
mostrou que 32,43% dos indivíduos foram classificados como eutróficos, 43,24%
se enquadraram na classificação de sobrepeso (pré-obesidade) e os demais
(22,97%) foram classificados nas três classes de obesidade; apenas um (1,35%)
participante se enquadrou como magreza leve.
Este resultado mostra
a realidade da população estudada, onde prevalece a condição de sobrepeso e
obesidade. A distribuição do grupo estudado conforme a classificação do IMC
está apresentada na Tabela II.
Tabela
II -
Classificação dos 74 sujeitos quanto ao
IMC.
Em relação à prática
de atividade física, apenas 19 indivíduos (N = 74), que correspondem a 25,68%
dos voluntários, relatam algum tipo de atividade e, destes, a totalidade foi
classificada como prática leve de atividade. Com isso, o grau de sedentarismo
foi de 74,32%.
A análise estatística
das variáveis estudadas apresentou, segundo teste de Spearman, 6 correlações com nível de significância de 5% (p < 0,05)
e 38 correlações com nível de significância de 1% (p < 0,01). A Tabela III
mostra as correlações significativas entre dados antropométricos, prática de
atividade física e qualidade de vida.
Tabela
III
- Correlação de Spearman para p < 0,05
e p < 0,01.
*Correlação
significativa para p < 0,05; **Correlação significativa para p < 0,01.
Conforme a Tabela III, as variáveis “Peso
x Vitalidade” e “IMC x Média SF-36” apresentaram uma forte correlação inversa
para p < 0,05, ou seja, quanto maior o peso menor a vitalidade do indivíduo
e quanto maior o IMC menor o resultado de sua qualidade de vida. As variáveis
que apresentaram uma correlação inversa muito forte para p < 0,01 foram:
“Idade e Capacidade funcional”, “Peso x Capacidade funcional”, “IMC x
Capacidade funcional”, “IMC x Estado geral de saúde” e “IMC x Vitalidade”.
A população estudada
mostrou que quanto maior a idade maior correlação com o aumento de peso e,
consequentemente, do IMC.
Em relação à prática
de atividade física, os resultados apresentaram correlação significativa para p
< 0,05 apenas para a variável “Limitação por aspectos físicos”.
A variável “Limitação
por aspectos físicos” também apresentou correlação muito forte para p < 0,01
quando correlacionada à dor e correlação forte para p < 0,05 quando
correlacionada à capacidade funcional, porém esta última correlação não era
esperada de forma direta; esperava-se que o resultado apresentasse uma
correlação inversa.
Os resultados do
questionário SF-36 mostraram forte correlação para p < 0,05 entre dados
antropométricos (peso e IMC) quando correlacionados à vitalidade e média do
SF-36 e correlações muito fortes para p < 0,01 quando correlacionados à
capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade.
De maneira geral o
estudo mostra que quanto pior a composição corporal pior a qualidade de vida do
indivíduo.
A transição
nutricional inclina-se para uma dieta mais ocidentalizada, a qual, associada à
redução da atividade física, direciona-se para o aumento no número de casos de
excesso de peso, o que torna a população mundial suscetível a doenças crônicas
não transmissíveis, favorecendo o aumento da morbidade e da mortalidade [16]. A
obesidade tem se tornado um problema epidemiológico e de saúde pública no
mundo. Segundo a Estatística Mundial de Saúde, a prevalência de sobrepeso e de
obesidade em indivíduos de ambos os sexos é a maior na região das Américas,
estimada em 62% e 26%, respectivamente [17]. De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referenciando os dados da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008/2009), há, no Brasil, um aumento
crescente do peso da população nos últimos anos. Comparada à pesquisa anterior,
realizada entre 2002 e 2003, a prevalência de sobrepeso saltou para 50,1% no
sexo masculino e para 48% no sexo feminino [18]. Desse modo, metade da
população apresenta sobrepeso e uma porcentagem representativa está obesa. No
que se refere ao perfil do excesso de peso, observa-se o comportamento pouco
uniforme do agravo no país [10]. Nesse contexto, são necessárias providências e
ações para que esses índices diminuam e a população tenha uma vida mais
saudável.
Os dados apresentados
neste estudo vão ao encontro da atual realidade da população, evidenciando a
necessidade de práticas que permitam a redução desses números. O excesso de
peso e de gordura corporal se apresenta não apenas como problema de estudos
científicos e de saúde pública, mas está interligado também com o grande avanço
tecnológico das indústrias de alimentos que no início da evolução não se
preocupou com a qualidade nutricional, desenvolvendo na maioria das vezes
produtos com altos teores de sódio e gorduras, que são atrativos sensoriais
agradáveis ao consumidor, favorecendo o crescente aumento dos índices de
sobrepeso e obesidade da população. O comportamento alimentar é o fator que
mais condiciona o estado nutricional [19]; assim, torna-se fundamental a
classificação de grupos populacionais para que se possa, de maneira estratégica,
desenvolver programas de educação alimentar que promovam uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida saudáveis.
Esta pesquisa
apresentou um elevado índice de sedentarismo, assim como estudos populacionais
brasileiros apontam elevados níveis de inatividade e sugerem que as atividades
físicas cotidianas são insuficientes para a manutenção da composição corporal e
da aptidão física em condições saudáveis [20] e evidenciam que há grande
variação na prevalência de sedentarismo [21]. A inatividade física atualmente é
um problema grave. Com os avanços tecnológicos e a falta de tempo, as pessoas
estão desenvolvendo um estilo de vida com alto nível de sedentarismo, o que
pode causar o aumento IMC, com consequentes distúrbios metabólicos e outras doenças
[22].
A obesidade, por ser
de causa multifatorial resultante da interação de fatores genéticos,
metabólicos, sociais, comportamentais e culturais, causa forte impacto tanto na
saúde quanto no bem-estar psicológico e, principalmente, na qualidade de vida.
Estudos salientaram a relação direta entre obesidade e qualidade de vida e a
sua íntima relação com representativo excesso de peso, tendência ao isolamento
social, ao estresse, à depressão e agravamento da capacidade funcional. A
avaliação da qualidade de vida permite inferir os aspectos mais globais do
indivíduo, considerando o seu contexto biopsicossocial [23]. Os resultados do
questionário SF-36 mostraram forte correlação entre dados antropométricos e os
diversos quesitos de qualidade de vida. Desse modo, o estado nutricional pode
interferir na qualidade de vida. Por isso, estudos como este possibilitam a
compreensão do problema, permitindo a conscientização dos profissionais de
saúde sobre a importância do enfoque multidisciplinar no tratamento e prevenção
da obesidade e na promoção de qualidade de vida.
O excesso de peso da
população mostra necessidade urgente de implementação
de mudanças comportamentais, alimentares e sociais. Os programas de educação
nutricional são importante ferramenta para iniciar esse processo. A educação
nutricional merece destaque entre as diversas metodologias utilizadas e tem
como objetivo introduzir o conceito e a prática da reeducação alimentar, assim
como fornecer às pessoas todo o suporte necessário para que tenham informações
suficientes, garantindo-lhes adesão aos programas, significativa perda de peso
e, consequentemente, melhor da qualidade de vida.
O controle e o
tratamento da obesidade têm evoluído ao longo dos anos, porém pesquisas são necessárias
para a aquisição de novos conhecimentos que possibilitem a redução da obesidade
e do sobrepeso, bem como das doenças a eles associadas.
A criação de
protocolos e condutas relacionados à prevenção e controle da obesidade é um
grande desafio para os profissionais e serviços de saúde no Brasil. A ênfase em
práticas clínicas integradas ao processo de educação nutricional é prioritária
para concretizar não só o acesso mas, principalmente,
a incorporação de hábitos saudáveis que melhorem a qualidade de vida, a
qualidade da alimentação e contribuam para a redução do sedentarismo.