ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
do estado nutricional de crianças e adolescentes com síndrome de Bartter
Nutritional status evaluation in children and adolescents with Bartter
syndrome
Nairy de Paiva
Marinho Melo Inaoka, M.Sc.*, Lorenza Oliveira Testa
Carvalho, D.Sc.**, Domingos Palma, D.Sc.***, Marta Liliane de Almeida Maia,
M.Sc.****, João Tomás de Abreu Carvalhaes, D.Sc.*****
*Nutricionista,
Mestre em Pediatria e Ciências aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP), Especialista em Saúde Nutrição e Alimentação Infantil,
São Paulo, **Nutricionista, Doutora pelo Departamento de Nutrição pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Mestre em Pediatria e Ciências
aplicadas à Pediatria (UNIFESP), Especialista em Saúde Nutrição e Alimentação
Infantil, São Paulo, ***Médico, Nutrólogo, Professor Adjunto, Dr. e Chefe da Disciplina de Nutrologia do Departamento de
Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ****Médica, Mestre
pela UNIFESP e Responsável pelo ambulatório de Tubulopatias, setor de Pediatria
da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, *****Médico,
Pediatra, Nefrologista, Professor, Dr. em Pediatria pela Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP)
Endereço
para correspondência:
Nairy de Paiva Marinho Melo Inaoka, Rua Calógero Calia, 192/104, Jardim da
Saúde 04152-100 São Paulo SP, E-mail: nairyinaoka@yahoo.com.br, Lorenza
Oliveira Testa Carvalho: loriotesta@yahoo.com.br; Domingos Palma:
nutmet.dped@epm.br; Marta Liliane de Almeida Maia: martalmaia@yahoo.com.br;
João Tomás de Abreu Carvalhaes: nefroped@terra.com.br
Resumo
Objetivo: Avaliar o estado
nutricional de pacientes com síndrome de Bartter atendidos no ambulatório de
nefrologia pediátrica entre janeiro de 2000 a janeiro de 2008. Métodos: Estudo prospectivo,
observacional e descritivo, no qual foram avaliados parâmetros nutricionais
antes e após intervenção (medicamentosa e nutricional), dividindo os pacientes
em 2 grupos: maiores e menores de 5 anos. Entre os
maiores de 5 anos, analisou-se o escore Z estatura por
idade e o escore Z índice de massa corporal por idade. Nos menores de 5 anos, o estado nutricional foi avaliado através do escore
Z de peso por idade, estatura por idade e índice de massa corporal por idade.
Desnutrição e/ou baixa estatura foi definido como escore-Z < -2
desvios-padrão. Resultados: No grupo
caracterizado pelos pacientes maiores de 5 anos, os
resultados demonstram melhora dos parâmetros antropométricos avaliados,
principalmente de um paciente com déficit de estatura. Os pacientes menores de 5 anos também demonstraram uma melhora nutricional, com
destaque para um paciente que se recuperou da desnutrição. Conclusão: De forma geral, houve melhora do estado nutricional nos
pacientes analisados após introdução de terapêutica específica e acompanhamento
nutricional adequado.
Palavras-chave: estado nutricional,
síndrome de Bartter, criança, adolescente.
Abstract
Aims: To assess the
nutritional status of patients with Bartter syndrome among patients admitted at
the pediatric tubular diseases service from January 2000 to January 2008. Methods: Prospective, descriptive and
observational study, which evaluated nutritional parameters before and after
intervention (drug and nutritional) separating the patients into 2 groups: over
and under 5 years old. Among people over 5 years old, it was analyzed the
height for age and body mass index Z-score. Among the group under 5 years, the
nutritional status was assessed by weight for age, height for age and weight
for height Z-scores. Malnutrition and/or short stature was defined as Z-score
<-2 standard deviations. Results:
In the group characterized by patients over 5 years old, the results show a
significant improvement in anthropometric parameters, especially a patient who
has managed to recover from a height-frame. Patients younger than 5 years old
also demonstrated a nutritional improvement, especially for a patient who has
managed to recover from a malnourished condition. Conclusion: Overall, there was an improvement of nutritional status
in patients analyzed after introduction of specific therapy and appropriate
nutritional counseling.
Key-words: nutritional
status, Bartter syndrome, child, adolescent.
A síndrome de Bartter
(SB) é uma alteração genética rara, autossômica recessiva, de baixa frequência,
sem predileção por raça ou sexo, com incidência e prevalência não muito bem
estabelecidas [1,2]. As diversas mutações gênicas relacionadas a esta síndrome
têm sido agrupadas em dois grupos fenotípicos: A Síndrome de Bartter Neonatal
(SBNN) e a Síndrome de Bartter Clássica (SBC). Na SBNN, os problemas geralmente
iniciam antes do nascimento com polidrâmnio, geralmente entre 27-35 semanas de
gestação, e após o nascimento com prematuridade, poliúria, hipercalciúria, e
com menos frequência nefrocalcinose - com exceção ao associado à mutação no
gene bartina [3]. A SBC acomete pacientes lactentes e pré-escolares, com
sintomatologia similar ao apresentado na SBNN (porém com menos intensidade),
deficiência de crescimento, desidratação, hipercalciúria sem nefrocalcinose
[1].
As principais
manifestações clínicas em lactentes e crianças menores incluem retardo do
crescimento, anorexia, polidipsia e poliúria; Nas crianças maiores as
principais manifestações envolvem a musculatura lisa e estriada: fraqueza
muscular, câimbra, constipação, tetania e crises convulsivas, e com menor
incidência alterações cardíacas [4,5].
A avaliação do estado
nutricional é uma etapa básica que deve ser sempre incluída entre as atividades
voltadas para a assistência à saúde da criança [6]. Ela é de fundamental
importância para investigar se uma criança está crescendo dentro dos padrões
recomendados ou está se afastando dos mesmos, devido à doença ou às condições
desfavoráveis de sobrevida [7].
O uso da
antropometria é universalmente aceito para avaliação do estado nutricional, e
tem se tornado, embora com limitações, o modo mais prático para análise de
indivíduos e populações. Ela tem se revelado como o método isolado mais
utilizado para o diagnóstico nutricional em nível populacional, sobretudo na
infância e adolescência, pela facilidade de execução e baixo custo [8,9].
Diversas doenças
podem manifestar-se com a diminuição do crescimento, podendo ser esta a
primeira manifestação percebida clinicamente. O acompanhamento do crescimento é
um bom método de avaliação da saúde e nutrição de crianças, recomendado pela
OMS [10].
Clinicamente, os
pacientes portadores da SB são quase todos desnutridos e apresentam acentuado
retardo do crescimento (habitualmente abaixo do percentil 3)
concordante com o atraso na idade óssea [11].
Apesar de estes dados
serem um achado constante, são poucas as investigações relacionando a SB com a
deterioração do estado nutricional. Tendo em vista escassos estudos, e dados
tanto nacionais quanto internacionais, referentes ao estado nutricional nos
pacientes portadores da SB, propõe-se um trabalho visando enriquecer as
evidências a cerca desta patologia, por meio da avaliação do estado nutricional
de pacientes com síndrome de Bartter em dois momentos distintos, atendidos no
ambulatório de nefrologia pediátrica da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), entre janeiro de 2000 a janeiro de 2008.
Realizou-se um estudo
de prospectivo, observacional descritivo, em que foram analisados prontuários
de crianças e adolescentes portadoras da SB. Estas foram atendidas e
acompanhadas, durante o período de janeiro 2000 a janeiro de 2008, no
ambulatório de Tubulopatias do setor de Nefrologia Pediátrica da Universidade
Federal do Estado de São Paulo – Escola Paulista de Medicina - UNIFESP-EPM.
Foram analisadas a
primeira consulta na unidade e a última consulta do seguimento. Esta avaliação
foi feita pré e pós intervenção (medicamentosa e
nutricional). Todos os pacientes do setor, inclusive os portadores da SB
possuíam acompanhamento mensal com a equipe de nefrologistas pediátricos e
nutricionistas especialistas em pediatria, com a prescrição de dietas
individualizadas que atendiam a quantidade calórica e proteica, de acordo com o
sexo e a idade do paciente.
O diagnóstico de SB
foi realizado pelos médicos dessa instituição com base nos achados
clínico-laboratoriais (alcalose metabólica hipocalêmica, hipoclorêmica,
hiperreninemica, pressão arterial normal) compatíveis com a SB. Não foi
realizado estudo genético para a doença nos pacientes dessa amostra, portanto
este estudo apóia-se em achados clínicos.
Foram considerados
critérios de exclusão os pacientes que apresentaram alterações séricas e
urinárias que não eram compatíveis com a SB, e aqueles com menos de 12 meses de
seguimento.
A avaliação
nutricional foi realizada nos oito pacientes, sendo que esta amostra foi
dividida em dois grupos (maiores e menores de 5 anos
de idade) para facilitar a discussão dos resultados. Por se tratar de uma
amostra heterogênea, estes foram avaliados individualmente.
Entre os maiores de 5 anos (n = 3) com idades entre 91 e 169 meses, analisou-se
o escore Z de estatura/idade (E/I) e o escore Z de índice de massa
corporal/idade (IMC/I).
Nas crianças menores
de 5 anos (n = 5) com idades entre 3 e 42 meses, o
estado nutricional foi avaliado através escore Z de peso por idade (P/I),
escore Z E/I e escore Z IMC/I.
Desnutrição e o
déficit de estatura foram definidos como escore Z inferiores a -2. Risco
nutricional foi considerado entre -1 —| -2 e eutrofia
entre +1 —| -1 [12,13].
Os pacientes em que o
menor valor dos escores Z encontrava-se entre -1 —|
-2, foram classificadas como risco nutricional e entre +1 —| -1 como
eutróficas. Os pacientes com escore Z E/I inferior a -2 foram considerados com
déficit de estatura. Foram classificados como sobrepeso, aquelas com escore Z
IMC entre +2 —| +1 [12,13].
As medidas
antropométricas de peso e estatura foram aferidas utilizando técnicas
padronizadas e com equipamentos calibrados [14].
Nenhuma das crianças
e adolescentes avaliados apresentou edema. Este parâmetro foi avaliado pela
equipe médica.
Todos os dados
antropométricos foram calculados com auxílio do programa Anthro plus, que
utiliza os padrões da World Health Organization (WHO)
em escore Z [15].
Este trabalho foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos da UNIFESP
(processo nº CEP 1156/06). Os pais ou responsáveis legais dos participantes
foram informados sobre a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Durante o período de
janeiro de 2000 a janeiro de 2008, foram atendidos pelo serviço de nutrição 10
pacientes portadores de SB no ambulatório da nefrologia pediátrica da UNIFESP.
Oito crianças foram incluídas neste estudo, sendo sete do sexo masculino, todas
portadoras da síndrome. Duas crianças foram excluídas por iniciarem o
tratamento após a coleta de dados, com menos de 12 meses de seguimento.
O tempo de
acompanhamento variou entre os pacientes (21 a 86 meses com média de 50 meses).
Estes também apresentaram número de consultas variadas: cinco pacientes apresentaram
entre 10-25 consultas, e três pacientes entre 26-51 consultas.
Apesar da SB não ser
uma herança ligada ao sexo, no presente estudo foi encontrado uma maior
prevalência da doença no sexo masculino (87,5 % - 7 de 8
pacientes).
A idade do início dos
sintomas distribuiu-se de acordo com a tabela abaixo.
Tabela
I - Início dos sintomas da síndrome de Bartter
dos 8 pacientes estudados.
No grupo
caracterizado pelos pacientes maiores de 5 anos, os
resultados demonstram que os três pacientes (Gráficos 1, 2 e 3) apresentaram
melhora dos parâmetros antropométricos avaliados, principalmente o paciente 3
que conseguiu se recuperar de um quadro de déficit de estatura ao longo de 43
meses de acompanhamento.
Gráfico
1 - Estado nutricional do paciente 1 no início e no final do estudo.
Gráfico
2 - Estado nutricional do paciente 2 no início e no final do estudo.
Gráfico
3 - Estado nutricional do paciente 3 no início e no final do estudo.
Já na análise dos
pacientes menores de 5 anos, os resultados também
demonstraram uma melhora nutricional evidenciada pelos índices antropométricos
avaliados (Gráficos 4,5,6,7 e 8) com destaque para o paciente 6 (Gráfico 6) que
passou de um quadro de desnutrição grave para eutrofia, durante os 86 meses de
tratamento.
Gráfico
4 - Estado nutricional do paciente 4 no início e no final do estudo.
Gráfico
5 - Estado nutricional do paciente 5 no início e no final do estudo.
Gráfico
6 - Estado nutricional do paciente 6 no início e no final do estudo.
Gráfico
7 - Estado nutricional do paciente 7 no início e no final do estudo.
Gráfico
8 - Estado nutricional do paciente 8 no início e no final do estudo.
Por ser uma doença
rara, existem poucos estudos avaliando a incidência da SB. Um estudo realizado
na Suécia demonstrou incidência aproximada de 1,2 casos/milhão de habitantes
[1]. Entretanto, dentre as tubulopatias alcalinas, esta é a forma mais frequente,
sendo caracterizada por hiperreninemia, hiperaldosteronismo e pressão arterial
normal [2,16].
Ao longo de 8 anos de acompanhamento, 195 pacientes foram atendidos pela
nutrição nos ambulatórios da nefrologia pediátrica da UNIFESP. Destes, 10 (5,1%)
eram portadores de SB. Embora diversos outros estudos [17-19] tenham
demonstrado a baixa frequência da SB na população geral, resultado elevado
provavelmente reflete a diferença na população analisada no presente estudo
(pacientes de um centro de referência em tubulopatias).
Estudos têm
demonstrado que a SB é doença fenotipicamente heterogênea, podendo ser
classificada como SBNN e SBC [20]. Neste estudo demonstrou-se que 2 pacientes iniciaram os sintomas no período neonatal
(Pacientes 4 e 7), 4 em período de lactente (Pacientes 1, 2, 6 e 8) e 2 em
período pré-escolar (Pacientes 3 e 5). Desta forma, pode-se classificá-los
fenotipicamente em 2 pacientes com SBNN e 6 com SBC.
A SB, por ser doença
rara, apresenta poucos dados na literatura, principalmente em relação à
avaliação do estado nutricional. Os poucos estudos existentes nesta área,
embora não detalhem os métodos ou limitem-se à avaliação de um único índice
antropométrico, demonstram alta frequência de desnutrição nesses pacientes.
Bhat et al. [11] revelam que o retardo no
crescimento é uma característica comum em quase todos os pacientes com SB. O
atraso de desenvolvimento também tem sido descrito em estudos anteriores.
Outro estudo relata
que, apesar do pequeno número de pacientes, descobriu que o perfil metabólico,
o peso e o déficit de estatura podem ser melhorados ou recuperados após o
início do tratamento específico [21].
No presente estudo,
avaliando-se o grupo de crianças e adolescentes, verifica-se que de forma
geral, houve melhora do estado nutricional, mostrando correlação positiva com
poucos dados encontrados na literatura.
Lima & Silva [22]
realizaram o relato de 5 casos de SB com diferentes
apresentações clínicas. Estes apresentavam alterações laboratoriais típicas
(hipocalemia, hipocloremia e alcalose metabólica), pressão arterial normal e
crescimento comprometido. Todos evoluíram com importante melhora
clinico-laboratorial com a retomada da curva de crescimento. Não houve
comentário quanto ao tempo de acompanhamento destes pacientes.
Na análise individual
dos pacientes menores de 5 anos observou-se melhora da
condição nutricional (Gráficos 4, 5, 6, 7 e 8), com recuperação considerável da
paciente 6, que evoluiu de um quadro de desnutrição grave para eutrofia. Isso
pode ser possivelmente justificado devido ao maior tempo de acompanhamento (86
meses) em relação aos outros pacientes. Outra justificativa poderia ser a
intervenção nutricional e terapêutica iniciada desde 15 meses de idade (fase do
lactente).
Egritas et al. [23] relataram um caso de uma
criança do sexo masculino de 20 meses de idade, com SB tratado com
suplementação salina com NaCl e KCl. Esta abordagem conduziu a uma manutenção
eletrolítica adequada e equilíbrio ácido-base, ao crescimento e desenvolvimento
e resultado favorável da doença.
Kierzembaum [24]
relatou o caso de uma criança de 2 anos e 5 meses,
portadora da SB com acentuado retardo do crescimento (estatura de 69 cm e peso
de 5.320 g), e ao longo de 8 anos de tratamento este apresentou melhora destes
parâmetros avaliados, normalização dos níveis pressóricos, valores
eletrolíticos adequados e boa escolaridade, o que permitiu desfrutar de uma
vida normal.
Amin et al. [25], igualmente demonstraram
melhora do quadro clínico geral e pondero-estatural em 2 meses de
acompanhamento, de uma criança de 7 meses com SB, porém os parâmetros
utilizados para a avaliação antropométrica não foram citados.
As crianças que não
apresentaram importante melhora do estado nutricional, com alteração de um
diagnóstico de déficit, (Gráficos 4 e 7), foram
aquelas que apresentaram diagnóstico da doença realizados no período neonatal,
ambos com aparecimento dos sintomas com 1 mês de idade.
Diversos autores [2,16,26-28] referem que a SBNN é a forma mais grave da SB, e
que esta é caracterizada por pior prognóstico metabólico cursando com distúrbio
eletrolítico grave, o que pode ter interferido na recuperação nutricional
destes indivíduos.
Amirlack & Dawson
[26] referiram que crianças acometidas com SBNN apresentam nascimento prematuro
e polidrâmnio grave (observado no paciente 7), e após
o nascimento um achado clínico importante é a rápida perda de peso, o que foi
demonstrado nestes dois pacientes analisados no estudo acometidas com SBNN.
Outro autor relatou o
caso de criança portadora de SBNN com peso de nascimento de 1,920 g,
polidrâmnio grave e nascimento prematuro. Após acompanhamento de 4 meses este apresentou escore Z de P/I de -3,37 e aos 6
meses -4,20. Houve piora do seu estado nutricional ao longo de 6 meses de acompanhamento, evoluindo com óbito, apesar do
tratamento instituído [29].
O paciente 5 apresentou diagnóstico mais tardiamente (período
pré-escolar) e permaneceu eutrófico em todos os momentos da coleta dos dados,
refletindo um provável fenótipo menos agressivo da doença.
De forma
interessante, houve tendência à correlação positiva entre o peso, a estatura, e
o uso das medicações utilizadas ao longo do tratamento, demonstrando-se que
após a introdução de terapêutica adequada, houve aumento nos valores médios das
variáveis avaliadas nestes pacientes. Diversos estudos referem que há melhora
do crescimento em crianças tratadas com Indometacina, porém o exato mecanismo
pelo qual ocorre ainda não está claro [4,22,23,24].
Todos os pacientes avaliados neste grupo fizeram uso desta medicação ao longo
do tratamento. Desta forma, é evidente que apesar do retardo do crescimento, a
estatura pode ser recuperada ou amenizada com terapia e acompanhamento nutricional
adequado.
Ao se analisar as
crianças e adolescentes maiores de 5 anos, percebeu-se
que o paciente 1 permaneceu eutrófico ao longo de 67 meses de acompanhamento,
com diagnóstico realizado aos 9 meses de idade (lactente). O paciente 2 apresentou recuperação do estado nutricional com evolução
do quadro de sobrepeso para eutrofia, com diagnóstico também realizado na fase
do lactente (aos 3 meses), e acompanhamento de 67 meses. Estes dois pacientes
são irmãos e, apesar de iniciarem o tratamento na UNIFESP aos 14 e 12 anos,
respectivamente, estes faziam acompanhamento em outro serviço desde o período
em que foi diagnosticada a doença. Este acompanhamento desde o período lactente
pode ter favorecido para que estes não apresentassem crescimento comprometido
na adolescência. Eles foram os únicos que não receberam a Indometacina como
forma de medicamento. Estes fizeram uso de captopril, cloreto de potássio,
fosfato de magnésio e pidolato de magnésio.
O paciente 3 apresentou melhora tanto no peso quanto na estatura,
conseguindo se recuperar do déficit de estatura do início do tratamento, com
diagnóstico realizado no período pré-escolar aos 58 meses de idade.
Outro estudo
demonstrou o caso de um paciente de 18 anos sexo feminino, com uma história
longa de desnutrição, com caquexia, osteoporose, anemia, hipocalemia grave, a
hiponatremia, hipoclorémia e um nível de bicarbonato elevada. Após o tratamento
com suplementos de potássio e uma infusão de solução salina
isotônica lento, alcalose metabólica foi normalizada [30].
De todos os 8 pacientes estudados, os pacientes 2 e 8 evoluíram para
Doença Renal Crônica (DRC). Este achado é concordante com os dados encontrados
na literatura, as quais referem que um pequeno número de pacientes serão portadores
de tal doença crônica, embora este achado seja mais comum na SBNN [3].
No presente estudo,
apesar do baixo número de pacientes, foi observado que na SBC, as variáveis de
peso e estatura estudados podem ser amenizadas ou recuperadas, após introdução
de terapêutica específica e acompanhamento nutricional adequado. A
identificação desta patologia precocemente constitui importante estratégia de
prevenção, principalmente no que se refere aos fatores que são potencialmente
removíveis. Por outro lado, a SBNN parece apresentar pior prognóstico em
relação à recuperação do estado nutricional.
A literatura é
escassa em relação à avaliação do estado nutricional de pacientes portadores da
síndrome de Bartter, levando a dificuldade na comparação dos dados encontrados.
Por este motivo, este trabalho pode ser considerado como referência para
avaliação nutricional em crianças e adolescentes portadoras desta síndrome.
Os autores agradecem
a todos os pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes que aceitaram
participar do estudo.