REVISÃO
Toxicidade
da carambola em pacientes portadores de insuficiência renal crônica
Carambola toxicity in patients with chronic renal failure
Nayara Barbosa de
Souza*, Vanessa Patrocínio de Oliveira, M.Sc.**
*Nutricionista,
Faculdade de Minas FAMINAS Belo Horizonte/MG, **Mestra em Ciências da Nutrição,
Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG, Faculdade de Minas FAMINAS Belo
Horizonte/MG
Endereço
para correspondência:
Rua Sebastião Pinheiro, 3, Novo Letícia 31640-010 Belo
Horizonte MG, E-mail: nayara_kc@hotmail.com, Vanessa Patrocínio de Oliveira:
vanessa.oliveira@faminasbh.edu.br
Resumo
A carambola (Averrhoa carambola) é uma fruta típica
de regiões de clima quente e úmido, fonte de vitaminas, minerais e outros
nutrientes. A fruta também apresenta ácido oxálico (oxalato). Sua ingestão vem
sendo associada a complicações graves em pacientes que apresentam insuficiência
renal crônica, uma vez que em sua composição, a carambola apresenta uma
neurotoxina capaz de provocar alterações neurológicas. O presente artigo é uma revisão
da literatura, tendo como objetivo descrever a importância da não ingestão da
carambola por pacientes urêmicos.
Palavras-chave: carambola,
insuficiência renal, neurotoxina, oxalato.
Abstract
The carambola (starfruit Averrhoa) is a
typical fruit from regions of hot and humid climate, source of vitamins,
minerals and other nutrients. The fruit also contains oxalic acid (oxalate).
Its intake has been associated with serious complications in patients with
chronic renal failure, since in its composition the carambola has a neurotoxin
capable of causing neurological disorders. This article is a literature review
aiming to describe the importance of not eating carambola for uremic patients.
Key-words: carambola,
renal insufficiency, neurotoxin, oxalate.
A insuficiência renal
crônica (IRC) vem se tornando um problema de saúde pública no Brasil e no
mundo, por se tratar de uma doença de elevada morbidade e mortalidade e sua
incidência e prevalência em estágio terminal têm aumentado progressivamente a
cada ano. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, as principais causas de
insuficiência renal crônica são hipertensão arterial, glomerulonefrite e
diabetes mellitus [1].
A taxa de incidência
e prevalência, bem como a sua evolução para os estágios mais graves têm
aumentado progressivamente, visto que a doença renal crônica (DRC) é processo
insidioso que evolui sem grandes sintomas durante muitos anos, até atingir suas
fases finais [2].
A doença renal
crônica traz consigo uma série de questões que marcam a vida do indivíduo, a
partir do diagnóstico, sendo comuns as manifestações psíquicas acarretando
alterações na interação social e desequilíbrios psicológicos, não somente do
paciente como também da família que o acompanha [3].
Estudos recentes vêm
mostrando que a ingestão da carambola (Averrhoa
carambola) vem sendo associada a complicações em pacientes renais crônicos,
devido à presença de uma neurotoxina capaz de provocar graves alterações
neurológicas em pacientes com histórico de nefropatia crônica [1].
A intoxicação por
carambola foi descrita pela primeira vez em 1980, por Munir e Lam, na Malásia,
onde se verificou um efeito depressor da fruta sobre o sistema nervoso central.
Apesar de passados quase trinta anos desde a primeira descrição, ainda não há
um consenso a respeito da natureza da toxina responsável pelos efeitos da
carambola sobre o sistema nervoso central [1].
O presente artigo
trata-se de revisão bibliográfica, tendo como objetivo descrever a importância
da não ingestão da carambola por pacientes urêmicos. A metodologia empregada
nesse estudo abordou pesquisas bibliográficas, através de um apanhado geral em
artigos científicos, por fornecerem dados atuais e relevantes relacionados ao
tema.
Carambola
(Averrhoa carambola)
A fruta carambola (Averrhoa carambola) pertence à família
das oxalidaceae. Acredita-se que tenha se originado no Sri-Lanka e nas ilhas
Molucas, mas vem sendo cultivada no sudeste da Ásia e Malásia por vários
séculos e aclimatada em vários países tropicais como o Brasil. A fruta mede de
6 a 13 centímetros de comprimento, com 5 ou 6
proeminências longitudinais [4].
Trata-se de uma fruta
fonte de minerais, vitaminas A, C e do complexo B e ácido oxálico (oxalato).
Existem dois tipos de frutas: as mais azedas, que contêm alto valor de ácido
oxálico e as mais doces, com conteúdo menor [1].
Quando ingerida por
pessoas com insuficiência renal crônica, está relacionada ao aparecimento de
sintomas neurológicos [4].
Insuficiência
renal crônica
Define-se como
insuficiência renal crônica (IRC) a presença de níveis elevados de proteína na urina
(> 150 mg/dia) e/ou a redução do ritmo de filtração
glomerular (< 60 ml/min) por mais de três meses. A insuficiência renal
crônica é doença de elevada morbidade e mortalidade e sua incidência e
prevalência em estágio terminal têm aumentado progressivamente a cada ano.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, as principais causas de IRC são
hipertensão arterial, glomerulonefrite e diabetes mellitus [1].
A doença renal
crônica (DRC) é uma lesão do órgão com perda progressiva e irreversível da
função dos rins. Em sua fase mais avançada é definida como Insuficiência Renal
Crônica (IRC), quando os rins não conseguem manter a normalidade do meio
interno do paciente. Se diagnosticada precocemente, e com condutas terapêuticas
apropriadas, serão reduzidos os custos e o sofrimento dos pacientes [3].
A insuficiência renal
desencadeia alterações significativas no metabolismo de todos os nutrientes,
entre eles estão o potássio, o fósforo e o sódio, a restrição desses contribui
para evolução favorável da DRC. Quando os rins falham, o potássio acumula no
sangue e esse aumento ocorre de forma aguda, ou seja, o indivíduo não percebe e
subitamente pode provocar arritmia e parada cardíaca quando esse atinge em
torno de 7 meq/l. O fósforo é normalmente eliminado na
urina, mas tende a acumular-se no sangue nos indivíduos que são portadores de
DRC. Esse acúmulo causa uma redução do cálcio sanguíneo que resulta no aumento
da atividade da glândula paratireoide e isso pode levar a uma doença óssea, o
efeito colateral do fósforo elevado pode ser o prurido por todo o corpo do
indivíduo. O sódio é um dos maiores inimigos do doente renal crônico, a redução
do mesmo na dieta pode auxiliar no controle da pressão arterial, assim como nos
sintomas de retenção hídrica como o edema [2].
Neurotoxicidade
da carambola, sintomas associados e tratamento
A neurotoxicidade
induzida por carambola em pacientes urêmicos tem sido relatada com frequência
em pacientes submetidos a tratamento dialítico. Um número crescente de
pacientes urêmicos em tratamento conservador também tem sido descrito, com
alguns evoluindo para óbito [4].
Os efeitos da
carambola (Averrhoa carambola) estão
associados à alta concentração do oxalato presente na fruta. Sabe-se que a
mortalidade por intoxicação pela carambola em pacientes com Insuficiência Renal
Crônica (IRC) pode chegar a 40%. Os sintomas incluem soluços, vômitos, paresias
(disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros) e formigamento
de membros superiores e inferiores com perda da força muscular, vários
distúrbios da consciência em graus variados, tais como agitação psicomotora,
confusão mental, convulsões podendo levar a óbito. Pacientes com insuficiência
renal, mesmo em tratamento conservador, devem ser alertados para não ingerir
carambola [2].
De acordo com a
literatura, os sintomas da intoxicação podem ser leves (soluços, vômitos,
insônia), moderados (agitação psicomotora, adormecimento, parestesias e perda
de força muscular nos membros, confusão mental leve) ou graves (confusão mental
grave progredindo para coma, convulsões evoluindo para status epilepticus,
instabilidade hemodinâmica progredindo para hipotensão e choque) [4].
Em estudos recentes,
são encontradas diversas pesquisas mostrando os efeitos tóxicos da carambola.
Esses efeitos descritos estão correlacionados com a alta concentração do
oxalato presente na fruta. Em pacientes renais, acredita-se que a deficiência
na excreção do oxalato seja a principal causa de seu acúmulo e efeito tóxico.
Em indivíduos
saudáveis a neurotoxina é absorvida, filtrada pelos rins e excretada na urina,
não acarretando nenhum malefício à saúde. Porém, em pacientes renais, com os
rins em funcionamento deficiente, essa toxina absorvida não é excretada e se
acumula no sangue, atingindo os neurônios, podendo gerar efeitos mais graves e
até letais [5].
O mecanismo de ação
da toxina da carambola foi estudado em sinaptossomas, que é uma porção do
cérebro que se separa apenas as terminações dos neurônios (terminais
sinápticos) que quando ficam isoladas formam esferas (sinaptossomas).
Dessa forma,
verificou-se que essa toxina é uma substância de baixo peso molecular, solúvel
em água e termoestável, cuja estrutura está sob corrente
investigação. Sua ação se deve a uma perturbação predominantemente do sistema GABAérgico, através da alteração da ligação do GABA
(neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central) a seus receptores [4].
Assim, a inibição do GABA gerada pelo consumo da carambola, leva á estimulação
do SNC, provocando os sintomas descritos.
Assim como a natureza
das alterações neurológicas, o tratamento para a intoxicação por carambola
ainda não está bem estabelecido. Sabe-se que a hemodiálise é a melhor opção e
que a diálise peritoneal não deve ser indicada, uma vez que não apresenta
resultados satisfatórios. O grande dilema é a escolha do tipo de hemodiálise
[1].
Observa-se que apesar
de ainda pouco explicado, existem controvérsias a respeito do mecanismo de ação
na qual a carambola exerce os efeitos neutoróxicos. O estudo mostrou que devem
ser realizadas mais pesquisas a respeito do efeito tóxico da carambola.
Dessa forma, torna-se
de suma importância que os profissionais da área da saúde, tenham o
conhecimento a respeito dos efeitos da fruta em pacientes urêmicos mesmo em
tratamento devem ser alertados para a não ingestão da carambola. Portanto,
nutricionistas e médicos são responsáveis pela orientação correta em relação ao
consumo da fruta por pacientes renais, uma vez que pode levá-lo ao óbito.