REVISÃO
Instrumentos
de avaliação dos programas de ginástica laboral
Evaluation instruments of workplace exercise programs
Valquíria Aparecida de
Lima*, Valmir Antonio Zulian de Azevedo*, Sérgio Roberto de Lucca*
*Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) – UNICAMP
Recebido em 10 de janeiro
de 2017; aceito em 21 de fevereiro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Valquíria Aparecida de Lima, Rua Vital Brasil, 100 , Prédio
CIPOI, 2º piso, 13083-888 Campinas SP, E-mail: valquiria@abgl.org.br; Valmir Antonio
Zulian de Azevedo: vazevedo@fcm.unicamp.br; Sergio Roberto de Lucca: slucca@fcm.unicamp.br
Resumo
Introdução: A implantação
de programas de Ginástica Laboral é uma das ações utilizadas pelas empresas para
prevenir alterações musculoesqueléticas, desencadeadas pela fadiga durante o trabalho.
Objetivo: Realizar uma revisão sistemática
para identificar os instrumentos utilizados na avaliação, acompanhamento e mensuração
da eficácia dos programas de Ginástica Laboral. Métodos: Os artigos foram selecionados
a partir dos descritores de exercícios físicos realizados no horário de trabalho.
Utilizou-se para a revisão sistemática a base de dados da Bireme, Medline via PubMed, Embase, Scopus e Web of Science, em português, espanhol
e inglês, no período de 2000 a 2015. Resultados:
Após a leitura e análise de 104 estudos na íntegra, foram selecionados 9
estudos, considerando-se o grau de evidência e impacto da
pesquisa,
tamanho da amostra, instrumentos utilizados para a
investigação, tipo de estudo
(clínicos randomizados e controlado) e as variáveis
analisadas. Foram identificados,
para a avaliação da eficácia da ginástica
laboral no trabalho, diferentes modelos
de questionários e escalas para avaliação de
percepção de dor, desconfortos
musculoesqueléticos,
capacidade funcional no desempenho e produtividade e aspectos ligados
à organização
do trabalho. Conclusão: Os instrumentos
utilizados nestes estudos apresentaram evidências de validade e reprodutibilidade,
entretanto, observou-se a heterogeneidade nos critérios de escolha e a falta de
uniformidade dos instrumentos escolhidos pelos pesquisadores, apesar das suas propriedades
psicométricas. Embora os questionários e escalas sejam instrumentos amplamente utilizados
pela comunidade científica para avaliar a percepção de dor, desconforto muscular
ou fadiga, fica claro que não foram desenvolvidos considerando a especificidade
dos programas de ginástica laboral ou com objetivo de avaliar intervenções de programas
de exercícios físicos.
Palavras-chave: ginástica, exercício,
local de trabalho, avaliação de programas.
Abstract
Introduction: The implementation of exercise programs in the workplace is one of the
actions used by many companies to prevent musculoskeletal disorders triggered by
fatigue during work. Aim: To carry out a systematic review to identify the instruments
used on evaluating, monitoring and measuring the effectiveness of the workplace
physical exercise programs. Methods: The
articles were selected from the descriptors of physical exercises performed during
working hours. The search was carried out on Bireme, Medline via PubMed, Embase,
Scopus and Web of Science databases, in Portuguese, Spanish and English, from 2000
to 2015. Results: After reading and analyzing
104 full studies, 9 studies were selected, considering the degree of evidence and
impact of the research, sample size, instruments used for the investigation, type
of study (randomized and controlled-RCT), and variables analyzed. Different models
of questionnaires and scales for assessing pain perception, musculoskeletal discomforts,
functional capacity related to performance and productivity, and aspects related
to work organization were identified on evaluating the effectiveness of physical
exercises performed during work. Conclusion:
Although the questionnaires and scales used in the studies analyzed in this review
have validity and reproducibility proven by the scientific community, heterogeneity
and lack of uniformity in the criteria of choice of these instruments were observed,
despite their psychometric properties on evaluating pain perception, muscle discomfort
and fatigue. It is clear, therefore, that they were not developed considering the
specificity of the workplace exercise programs or designed with the objective of
evaluating physical exercise interventions.
Key-words: gymnastic, exercise,
workplace, program evaluation.
O trabalho, enquanto instância
social e determinante do desenvolvimento humano, assumiu
um papel de grande importância na história da humanidade. As condições de trabalho
em um ambiente saudável são fundamentais para a preservação da saúde e bem-estar
dos trabalhadores.
O conhecimento produzido
nas últimas duas décadas sobre a prevenção de acidentes de trabalho e doenças do
trabalho vem desafiando os profissionais da área de saúde e segurança do trabalho
em repensar os modelos de gestão e de intervenção centradas na lógica da prevenção,
não somente no campo individual, mas principalmente na proteção coletiva. Para este
objetivo, exige-se, fundamentalmente, a compreensão das transformações em curso,
à luz das mudanças do mundo do trabalho, para que a prevenção seja pensada na perspectiva
das modificações das condições e relações de trabalho [1].
De acordo com a Previdência
Social (2014) sobre as causas de afastamento do trabalho entre homens e mulheres
empregados da iniciativa privada, no panorama da concessão de benefícios aos trabalhadores
segurados, entre 2004 e 2013, dos vinte agravos à saúde mais frequentes, dez consistem
em classificações dos grupos M (doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo)
e F (transtornos mentais e comportamentais) da classificação do Código Internacional
de Doenças. Estes agravos representam mais da metade (cerca de
55%) dos benefícios superiores a 15 dias de afastamento do trabalho e evidencia
a necessidade dos profissionais atuarem em equipes interdisciplinares nas questões
de saúde e segurança, buscando novo enfoque referente aos ambientes e processos
de trabalho [2].
Em função dos afastamentos
dos trabalhadores e das repercussões psicossociais para estes e econômicas para
as empresas e para a sociedade, algumas intervenções no campo da saúde e bem-estar
dos trabalhadores para reduzir a prevalência dos afastamentos do trabalho por doenças
osteomusculares são fundamentais. Entre estas iniciativas destacam-se os benefícios
à saúde, potencialmente proporcionados pela prática regular de atividade física,
entre os programas de promoção da saúde, como estratégia para reduzir o sedentarismo
e melhorar a condição física e funcional dos trabalhadores [3].
A implantação de programas
de exercícios físicos no ambiente de trabalho, mais conhecidos no Brasil como ginástica
laboral, é uma das ações utilizadas pelas empresas com o objetivo de prevenir alterações
musculoesqueléticas, desencadeadas pela fadiga durante o trabalho [4].
De acordo com a Associação
Brasileira de Ginástica Laboral (2012), entende-se a Ginástica Laboral como “um
programa de exercícios aplicados durante a jornada de trabalho, que contempla em
seus objetivos específicos minimizar e compensar a sobrecarga gerada nas estruturas
musculoesqueléticas; otimizar a percepção corporal e da
postura; contribuir para a diminuição dos índices de acidente de trabalho e afastamentos;
promover educação em saúde e estilo de vida ativo” [5].
A Organização Mundial
da Saúde (2010) enfatiza que um ambiente de trabalho saudável é aquele em que os
trabalhadores e os gestores colaboram na direção da sustentabilidade nos ambientes
de trabalho por meio de um processo de melhoria contínua da proteção e promoção
da segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores. Entre os exemplos para atingir
esse objetivo a OMS destaca a flexibilidade nos horários e ritmos de trabalho e
a adoção de pausas de trabalho para permitir a prática de exercícios [6].
Quando os programas de
ginástica laboral são bem estruturados e associados com intervenções ergonômicas
sobre as condições de trabalho, os resultados são significativos, tais como a melhora
dos indicadores de aptidão física relacionadas à saúde, como a flexibilidade e a
mobilidade articular [7-9], força de membro superior [10], diminuição da percepção
de dor, fadiga e tensão muscular [11-13] e contribui substancialmente na redução
dos sintomas musculoesqueléticos [14].
Além
disso, os programas
de ginástica laboral têm a potencialidade de proporcionar
aos trabalhadores uma
melhor condição física para a
execução de suas tarefas laborais diárias e
têm sido
utilizados para provocar alguma mudança no comportamento dos
trabalhadores ao engajar
indivíduos sedentários na prática da atividade
física, inclusive fora do ambiente
de trabalho [15-17,3].
São
apontadas dificuldades
para avaliar e mensurar a real contribuição da
eficácia e efetividade dos programas
de exercícios no local de trabalho na preservação
da saúde dos trabalhadores e prevenção
de distúrbios musculoesqueléticos, já que boa
parte dos estudos não pode ser reproduzido devido aos problemas metodológicos descritos em revisões
já realizadas [18,19].
Não há na literatura científica,
até o presente momento, um instrumento de avaliação específico para acompanhamento
e mensuração de resultados de programas de ginástica laboral. Resultados de avaliações
utilizando instrumentos validados quanto as suas propriedades psicométricas para
avaliação dos programas são cruciais para compreender a eficiência dos exercícios
nas práticas corporativas e na orientação dos profissionais que atuam na área de
saúde do trabalhador com programas de ginástica laboral.
O objetivo desta revisão
sistemática é identificar os instrumentos de avaliação específicos para acompanhamento
e mensuração da eficácia dos programas de ginástica laboral, em estudos publicados
nos últimos 15 anos.
A revisão sistemática
da literatura foi realizada a partir de pesquisas bibliográficas e adotou-se como
critérios de inclusão artigos científicos publicados na íntegra, em português, inglês
e espanhol, durante o período de 1 de janeiro de 2000 a
31 de dezembro de 2015, e que discutiram e analisaram os resultados de programas
de implantação de uma série de exercícios realizados durante e no local de trabalho,
com objetivo de melhorar o desempenho (força e flexibilidade), os aspectos psicossociais
e bem-estar dos trabalhadores e diminuir a percepção de fadiga e dor.
A seleção dos descritores
em português e espanhol foi efetuada mediante consulta ao DeCS (Descritores em Ciências
Saúde - Bireme), a busca dos descritores em inglês foi de acordo com os MeSH (Medical Subject
Headings) Terms do Pubmed. Foram definidos os descritores em português (Ginástica
OR Exercício AND Local de Trabalho), em espanhol (Gimnasia OR Ejercicio AND Lugar
de Trabajo) em inglês (Gymnastics OR Gymnastic OR Exercise OR Exercises AND Workplace).
A partir da definição da pesquisa, foram estabelecidos os critérios de inclusão
e exclusão e quais as bases de dados eletrônicas seriam utilizadas para a pesquisa.
Para a coleta das informações, utilizou-se a pesquisa avançada nas bases de dados
eletrônica da Bireme, Medline via PubMed, Embase, Scopus
e Web of Science, no período de janeiro a fevereiro de 2016.
Os critérios de inclusão
adotados na seleção dos artigos consideraram a descrição da metodologia e dos instrumentos
de avaliação utilizados nos programas de ginástica laboral, que apontassem a efetividade
ou não de sua implantação. Inicialmente foi realizada a leitura dos títulos, a fim
de verificar a adequação ao propósito dessa revisão. Em seguida, foram selecionados
os estudos para leitura dos resumos.
Após a leitura dos resumos
foram excluídos os artigos que tratavam de exercícios com equipamentos de academia,
exercícios aeróbicos (caminhada ou corrida), de condicionamento físico, ou que continham
programas de exercícios para perda de peso e controle de dislipidemias, hipertensão
e diabetes ou que incluíam exercícios realizados fora do local e horário de trabalho.
Na última etapa foi realizada a leitura integral dos trabalhos selecionados.
Na primeira fase da revisão
foram encontrados 1980 estudos, os filtros adotados foram: adultos (19 anos +),
período de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2015,
idiomas português, inglês e espanhol.
A figura 1 apresenta um
organograma que descrimina cada fase da estratégia utilizada para a seleção dos
estudos encontrados.
Após a leitura e análise
de 104 estudos na íntegra, foram selecionados para este trabalho 09 estudos, considerando-se
o grau de evidencia e impacto da pesquisa, com base nos seguintes critérios: tamanho
da amostra (superior a 100 sujeitos), instrumentos utilizados para a investigação,
tipo de estudo (clínicos randomizados e controlado-ECR), ano e país de publicação
e variáveis analisadas.
Figura 1 - Organograma com as fases da metodologia utilizada
para seleção dos estudos incluídos na revisão sistemática.
Tabela I - Artigos selecionados segundos critérios adotados
revisão sistemática. GI = Grupo de intervenção; GC = Grupo controle: NAF = Nível
Atividade Física.
Foram selecionados para
esta revisão apenas estudos clínicos randomizados e controlados (ECR). Cinco estudos
(55%) utilizaram escalas numéricas de dor, escala visual analógica e a escala de
Borg (CR10) para avaliar a intensidade de dor percebida por região corporal. Em
quatro estudos utilizaram o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO),
desenvolvido por Kuorinka et al. [29] para identificar as regiões corporais
com dor e desconforto muscular. Em uma das pesquisas utilizou-se, também, o questionário
Deficiência do Braço, Ombro e Mão (DASH), desenvolvido por Orfale et al. para medir a incapacidade física e sintomas dos membros
superiores em indivíduos com incapacidade leve, moderada ou grave e distúrbios de
extremidade superior [30].
Dois estudos utilizaram
um questionário para avaliar a autoeficácia em relação a barreiras para a atividade
física, o quanto os trabalhadores estavam convencidos de que eram capazes de cumprir
a frequência e duração estipulada pelo programa e quais seriam as barreiras que
poderiam interferir na adesão ao programa proposto. Os estágios de mudança de comportamento
e o cumprimento do treinamento também foram variáveis controladas.
O Questionário Internacional
de Atividade Física (IPAQ) foi utilizado em dois estudos para determinar o nível
de atividade física total e atividades de intensidade vigorosa durante o trabalho,
transporte, tarefas domésticas ou jardinagem e de lazer, além de verificar o impacto
do programa na motivação para a prática de exercícios.
As técnicas mais utilizadas
nas intervenções realizadas foram de fortalecimento dos membros superiores, os quais
foram avaliados por meio de testes de força de preensão manual e isométrica com
dinamômetro (manual e digital) e testes de força máxima e submáxima para avaliação
da resistência muscular. Nos estudos que incluíram exercícios de alongamento e relaxamento,
foi utilizado o goniômetro como instrumento para medir a amplitude articular em
graus.
Chama
a atenção que, com
a exceção de um estudo italiano, todas as pesquisas
selecionadas para a produção
deste artigo foram realizadas na Dinamarca, entre 2010 e 2015, e
tiveram como principal
objetivo verificar os efeitos fisiológicos e a eficácia
da prática de exercícios
de fortalecimento e alongamento na redução da
percepção de dor e distúrbios
musculoesqueléticos.
Além dos exercícios físicos, algumas
intervenções incluíram ajustes nos postos de
trabalho, treinamento de ergonomia e campanhas motivacionais.
Também foi utilizada a
avaliação de desempenho e produtividade para verificar mudanças na capacidade de
trabalho e produtividade. Somente um estudo buscou avaliar o impacto dos exercícios
físicos nos fatores psicossociais e satisfação no trabalho.
As abordagens para a mensuração
de dor incluem variados instrumentos, tais como: escalas verbais, numéricas, observacionais,
questionários, autorregistros e respostas fisiológicas [31]. Nesta revisão, os estudos
demonstraram o interesse de observar se a intervenção de exercícios, além de efeitos
na diminuição de percepção de dor, poderia indicar uma redução da intensidade da
dor musculoesquelética percebida e referida.
Para esta aferição foram
utilizadas as Escala de Categoria Numérica (NRS), Escala de Borg (CR-10) e Escala
Analógica Visual (VAS). Na escala de categoria numérica utilizada o indivíduo estima
a sua dor numa escala de 0 a 9, com 0 representando “nenhuma
dor” e 9 a “pior dor possível”. A escala numérica visual tem como vantagens a facilidade
de ser utilizada, alta taxa de aderência, além de ser válida para vários contextos
e tipos de dor.
Na
Escala de Borg (CR-10),
descritores verbais foram posicionados numa escala de razão de 0
a 10, sendo “absolutamente
nada” (0), “extremamente fraco” (0,5), “muito
fraco” (1), “fraco” (2), “moderado”
(3), “forte” (5), “muito forte” (7) e
“extremamente forte” (10). Inúmeros estudos
têm investigado a fidedignidade e validade da Escala CR-10 de
Borg, especialmente
quando comparada com a VAS. A Escala de Borg foi considerada
válida e fidedigna
na avaliação de dor e nos valores extremos da dor durante
exercícios físicos. As
vantagens de administração da escala de Borg é sua
fácil aplicação, simples de descrever,
utiliza números e descritores verbais, mede uma variedade de
tipos de dor, sintomas
e sentimentos emocionais associados à dor. Uma das desvantagens
é que depende da
linguagem e sua validade e fidedignidade ainda não foram
claramente estabelecidas
para diferentes tipos de dor [31].
O questionário DASH foi
desenvolvido para medir a incapacidade física e sintomas dos membros superiores
em indivíduos com leve, moderada ou grave incapacidade e uma ampla variedade de
distúrbios da extremidade superior [30]. Os itens informam sobre o grau de dificuldade
no desempenho de atividades; a intensidade dos sintomas de dor, fraqueza, rigidez
e parestesia; o comprometimento de atividades sociais; a dificuldade para dormir
e o comprometimento psicológico [32].
O Questionário Nórdico
Musculoesquelético (NMQ) foi desenvolvido por Kuorinka et
al. [29] a partir de um projeto financiado pelo Nordic Council of Ministers. O objetivo deste projeto foi desenvolver
e testar uma metodologia de questionário padronizado que permitisse comparações
da coluna lombar, pescoço, ombro e queixas gerais na triagem de distúrbios musculoesqueléticos,
em um contexto de ergonomia, serviços de saúde e ocupacional, para uso em estudos
epidemiológicos. A ferramenta não foi desenvolvida para o diagnóstico clínico [33].
No
estudo de tradução
e validação para a versão brasileira, o
questionário recebeu a denominação
Questionário
Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), com o objetivo de
apresentar as relações
entre morbidade osteomuscular e variáveis demográficas,
ocupacionais e relativas
a hábitos [34].
O QNSO possui um diagrama
corporal de localização de dor, o que possibilita, de maneira simples, a identificação
de sintomas musculoesqueléticos pelo trabalhador. Porém, exige que o trabalhador
recorde dos sintomas como dor, formigamento e dormência nos últimos seis meses e
na semana anterior. De acordo com Kuorinka et al. [29], esse rastreio dos distúrbios musculoesqueléticos pode servir
como uma ferramenta de diagnóstico para análise do ambiente de trabalho, estação
de trabalho e projetos de design, já que localizar os sintomas pode indicar as causas.
Embora os questionários
QNSO e DASH sejam instrumentos amplamente utilizados pela comunidade científica
para avaliar a percepção de dor, desconforto muscular ou fadiga, fica claro que
não foram desenvolvidos considerando a especificidade dos programas de ginástica
laboral ou com objetivo de avaliar intervenções de programas de exercícios físicos.
Além
do impacto dos programas
de ginástica laboral na capacidade funcional, os estudos
consideraram importante
avaliar, também, os fatores organizacionais do trabalho que
podem influenciar na
aderência e impedir a participação do trabalhador
na prática de exercícios físicos
durante a jornada. O questionário de autoeficácia foi
utilizado em dois estudos
[20,28] para analisar, fundamentalmente, os fatores responsáveis
pelo aumento da
motivação para o cumprimento dos treinamentos, assim como
as razões para o descumprimento
e abandono. O questionário tem por objetivo o desenvolvimento de
uma medida multidimensional
da autoeficácia do exercício, o quão
“confiante” o indivíduo está ou não
para praticar
atividade física e o programa de exercício proposto. A
escala utilizada foi de cinco
pontos, sendo 1 “De modo nenhum Confiante e 5 “Completamente
Confiante”.
A teoria social cognitiva
aponta a autoeficácia como o grau de confiança/crença que o indivíduo deposita na
realização de determinada atividade ou na mudança de comportamento, como uma das
variáveis importantes no processo de mudança de comportamento [35].
De acordo com Bredahl
[28], em geral, os funcionários no local de trabalho possuem flexibilidade muito
diferente no planejamento das tarefas, tornando fácil para alguns e difícil para
outros participarem das intervenções. Aqueles que informaram maior flexibilidade
no planejamento das tarefas, afirmaram que essa flexibilidade os mantêm motivados
e torna possível o exercício durante a jornada de
trabalho.
Alguns participantes também mencionaram como barreiras para o
baixo cumprimento
do programa e desistência, a ausência do local de trabalho
para reuniões, tarefas
urgentes, prazos e imprevisibilidade (tarefas que tinham que ser
resolvidas imediatamente).
Enfatizaram que, em muitos casos, priorizaram o trabalho para evitar
ficar muito
para trás, pois havia a sensação que enquanto se
exercitavam as tarefas se acumulavam.
Nos fatores individuais, os participantes descreveram que a
redução de dor no pescoço
e região dos ombros, punho, parte inferior das costas e
cabeça foi uma das principais
motivações para a participação. Para
outros, a motivação para a participação foi
o treinamento gratuito, a esperança de reduzir o número
de dias de doença e realizar
atividades sociais com os colegas de trabalho. A maioria informou que
eles sofreram
mudanças físicas, psicológicas e sociais, ganho de
força e melhora da postura corporal
durante a intervenção de exercícios físicos
no local de trabalho.
Andersen & Zebis
[26] ressaltam a importância de alguns fatores contextuais como apoio e aprovação
da administração superior para os trabalhadores participarem durante o horário de
trabalho. O local de trabalho pode ser um ambiente social para encorajar e realizar
exercícios físicos e promover saúde em conjunto com os colegas. Porém, as avaliações
com um processo rigoroso são importantes para explicar os mecanismos do sucesso
ou fracasso das intervenções de exercícios no local de trabalho, principalmente
sobre a dor.
O principal desfecho encontrado
nesta revisão sistemática foi que não há modelos padronizados para verificar a eficácia
dos programas de ginástica laboral. Os estudos utilizaram diferentes modelos de
questionários para avaliar a redução dos desconfortos musculoesqueléticos de acordo
com o treinamento físico estabelecido (frequência, duração e intensidade), a influência
da capacidade funcional no desempenho e produtividade, os aspectos ligados à organização
do trabalho que possibilitam realizar pausas durante o expediente para a prática
de exercícios e motivar os trabalhadores a adotar um estilo de vida mais ativo também
nas horas de lazer.
A revisão sistemática
evidenciou grande variedade de instrumentos para avaliar a eficácia dos programas
de ginástica laboral no trabalho. Observou-se a diversidade dos métodos utilizados
e a falta de uniformidade dos instrumentos padronizados, apesar das suas boas propriedades
psicométricas. Desta forma evidencia-se na comunidade científica, bem como para
os profissionais responsáveis pela aplicação dos programas, a necessidade de padronizar
e validar um instrumento homogêneo de referência, com boas propriedades psicométricas
e elaborado com o objetivo específico para avaliação dos programas de ginástica
laboral.