ARTIGO
ORIGINAL
Efeito
do treinamento de força no desempenho de atletas de arremesso e lançamentos do
atletismo
Effect of strength training in shot put and throwing
performance
Deborah Sena da
Silva*, Dilmar Pinto Guedes Jr., M.Sc.**, Flávio
Barbosa da Cruz***, Cláudio Scorcine, M.Sc.****, Rodrigo Pereira, M.Sc.*****
*Graduada em Educação Física, Especialização em Fisiologia do Exercício
aplicada a Clínica pela Universidade Federal de São Paulo, **Especialização em
Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho, Docente titular da
Universidade Metropolitana de Santos, ***Graduado em Educação Física pela
Universidade Santa Cecília (FEFESP), ****Docente da Universidade Metropolitana
de Santos (FEFIS), Membro do grupo de estudos de fisiologia do exercício na
UNIFESP, Docente da Faculdade de Educação Física da Universidade Metropolitana
de Santos (FEFIS-UNIMES), *****Especialização em Biomecânica pela Gama Filho e
especialização em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP, Líder do grupo de
estudos e pesquisa em Fisiologia do Exercício da FEFIS/UNIMES
Recebido em 15 de
março de 2017; aceito em 16 de junho de 2017.
Endereço
para correspondência:
Deborah Sena da Silva, Av. Marquesa de Santos, 685, Tude Bastos, Praia Grande
11725-050 Santos SP, E-mail: deh_atletismo@hotmail.com, Dilmar Pinto Guedes Jr:
ciadofisicodilma@uol.com.br; Flávio Barbosa da Cruz: flaviodisco@hotmail.com;
Cláudio Scorcine: claudio-scorcine@uol.com.br; Rodrigo Pereira: r.pereirads@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Analisar e comparar
o efeito do treinamento de força, após oito semanas de periodização, utilizando
o modelo de blocos em atletas da categoria de base das provas de arremesso de
peso, lançamento do disco e martelo. Métodos:
Participaram do experimento seis atletas do sexo feminino, com idade entre 14 e
16 anos, todas com mais de um ano de treinamento e competição. Foram realizadas
duas avaliações, sendo a primeira o protocolo de 1RM seguido dos testes com implemento específico dos sujeitos simulando uma competição
oficial. O método de treinamento utilizado foi a
periodização em blocos de Verkhoshanski. Resultados:
Após 8 semanas de treinamento de força, foi observado
um aumento no ganho de forca significativo, para todos os testes de 1RM
realizados. No teste de agachamento, a melhora foi de 25,4 %, no supino de
20,08%. Nos exercícios de levantamento de potência olímpico (LPO) arranco e
encaixe, os atletas obtiveram aumento nas duas variáveis analisadas, 10,5% e
11% respectivamente. Conclusão: Os
achados do estudo demonstraram que a periodização em blocos realizada durante
oito semanas de treinamento foi eficiente para o aumento das capacidades
físicas do treinando esportivo e melhora na performance
do gesto esportivo das atletas.
Palavras-chave: arremesso de peso,
lançamento do dardo, lançamento do disco, treinamento de força, periodização.
Abstract
Objective: To analyze
and compare the effect of strength training after eight weeks of periodization
using the block model in athletes of base category of shot put, disc and hammer
throw. Methods: Six female athletes,
14 to 16 years old, participated in the experiment, all of them training and
competing for more than one year. Two evaluations were performed, first with
the 1RM protocol, followed by tests with specific implement of the subjects
simulating an official competition. The training method used was Verkhoshanski block periodization. Results: After eight weeks of strength training, an increase in
significant gain was observed for all 1RM tests performed. In the squatting
test the improvement was 25.4%, and in the supine 20.08%. In the Olympic power
lifting exercises (OPL), the athletes obtained an increase in the two analyzed
variables, 10.5% and 11%, respectively. Conclusion:
The study findings demonstrated that the periodization in blocks performed
during eight weeks of training was efficient to increase the physical abilities
of the athletic trainee and to improve the performance of athletes' athletic
gestures.
Key-words: Shot put,
javelin throw, discus throw, strength training, periodization.
As provas de
arremessos e lançamentos são provas extremamente técnicas, que exigem do atleta
alto grau de força muscular. Segundo Tiggemann et al.
[1], a força é determinante para a performance nessas modalidades, além de
reduzir o risco de lesões características da prática de exercícios de alta
intensidade.
Para tanto a
preparação do treinamento de força, dentro do treinamento esportivo é de extrema
importância [2], principalmente quando se fala das provas, de arremesso e
lançamento do atletismo, as quais exigem as principais capacidades de força:
força-máxima, força-explosiva e força-velocidade, para melhor desempenho dos
indivíduos durante a temporada de treinamentos e competições.
Na literatura,
encontram-se três modelos mais utilizados do treinamento de força: o modelo não-periodizado, no qual não se varia a intensidade e o
volume do treinamento, o de periodização linear, que se utiliza a diminuição do
volume e aumenta gradativamente a intensidade, e o modelo ondulatório, que se
altera o volume e intensidade de acordo com o desempenho, todos os modelos
citados por Minozzo et al. [3].
As manifestações de
força são dispostas ao tempo da temporada de força periodizada. Sendo assim, o
presente estudo buscou investigar o efeito do treinamento de força, no
desempenho de atletas, das categorias de base do atletismo, das provas de
arremesso de peso, lançamento do disco e martelo, através do método ondulatório
em blocos de Verkhoshanski [4].
Objetivo
Investigar o efeito
do treinamento de força no desempenho de atletas das categorias de base, das
provas de arremesso e lançamento através do método em bloco de Verkhoshanski.
Fizeram parte do
experimento seis atletas do sexo feminino, das provas do arremesso de peso,
lançamento do disco e lançamento do martelo, com faixa etária entre 14 e 16
anos. Todas com mais de um ano de treinamento e participações em competições
oficiais de âmbito estadual e nacional.
Os testes de 1RM e
dos implementos foram divididos por três dias, realizados respectivamente
segunda, quarta e sexta feira. Antes de iniciar os testes, os sujeitos fizeram
um trabalho de aquecimento na pista de atletismo (corrida), além de
alongamentos dinâmicos com movimentos específicos para a prova.
Para a avaliação da
força muscular foi utilizado o protocolo de Kraemer et
al. [5], com exercícios de agachamento, arranco, (encaixe primeira fase do
arremesso) e supino reto. Inicialmente, realizaram-se duas séries do exercício
como aquecimento, a primeira tentativa com carga entre 40 e 60% da força máxima
estimada e a segunda entre 60 e 80% da força máxima estimada, com intervalos de
três a cinco minutos de duração. Os sujeitos realizaram até quatro tentativas
para alcançar a força máxima dinâmica, com intervalos de três minutos entre
cada tentativa. A escolha dos exercícios de arranque e encaixe se deu, por
serem exercícios característicos de levantamentos de potência olímpicos (LPO),
além do meio agachamento e supino reto.
Nos testes com o implemento específico dos sujeitos, foi utilizado o peso de
três quilos, o disco de um quilo, além do martelo de três quilos, todos da
marca Polanik. Os testes foram feitos de acordo com as regras da competição
oficial, tendo cada indivíduo seis tentativas, com seu implemento
específico, considerando para a amostra o melhor desempenho entre as seis
tentativas. O peso de cada implemento estava de acordo
com a categoria sub16, conforme especificação da Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAT).
Cargas
de treinamento
Após todos os
protocolos de avaliação, os sujeitos foram submetidos a oito semanas de
treinamento de força, utilizando o método de periodização em blocos de
Verkhoshanski [4].
O treinamento foi
dividido em três partes contendo: No bloco A: força máxima com exercícios de
levantamento terra, meio agachamento e arremesso completo; Bloco B: força
explosiva, exercícios como; arranco; e encaixe. Bloco C: força-velocidade,
exercícios como; arremesso do peso, lançamento do disco e martelo, com implemento leve simulando a competição.
Todos os treinos
foram elaborados pelo treinador responsável pelos sujeitos. Os dados foram
coletados uma semana antes do início do treinamento de força e durante a semana
seguinte ao término da periodização.
Análise
estatística
Após a não
normalidade dos dados através do teste de Shapiro-Wilk optou-se pelo teste de
Wilcoxon para a comparação entre os momentos pré e pós-intervenção, dos testes
de 1RM. Os dados estão em forma de mediana e desvio padrão, o nível de
significância é de (p ≥ 0,05).
A tabela I apresenta
diferença estatística significativa no desempenho da força muscular nos testes
de 1RM, dos exercícios de agachamento, arranco,
encaixe e supino reto.
Tabela
I - Resultados dos testes de carga máxima
dinâmica dos sujeitos pré e pós- treinamento de força.
Os dados estão em
forma de mediana e desvio padrão (DP); *Indica diferença significativa entre os
momentos pré e pós (≥ 0,05); dos exercícios (Sup) supino reto;
(Aga) agachamento; (A) arranco; (Enca) encaixe, todos com unidade de medida em
kg.
A tabela II demonstra
os resultados descritivos dos testes de implemento pré
e pós, os dois mesociclos de treinamento.
Tabela
II -
Resultados dos testes com implementos de
lançamento e arremesso.
*indica melhora
descritiva dos testes com implemento pós-periodização,
medidos por metros; Δ = delta por porcentagem dos momentos pré e pós.
Após oito semanas de
treinamento de força, foi observado um aumento no ganho de forca significativo,
para todos os testes de 1RM realizados. No teste de agachamento a melhora foi
de 25,4 %, no supino de 20,08%. Nos exercícios de levantamento de potência
olímpico (LPO) arranco e encaixe, os atletas obtiveram aumento nas duas
variáveis analisadas, 10,5% e 11% respectivamente, ocasionando melhor performance.
Os resultados indicam
que o método em blocos utilizado se mostrou eficiente para a melhora da força e
desempenho dos arremessadores e lançadores. Como no estudo de Bazyler et al. [6] que corrobora nossos achados,
os autores avaliaram seis universitários, sendo três atletas do lançamento do
martelo, dois do lançamento do disco e um do lançamento do dardo, durante doze
semanas utilizando a periodização em blocos, e a carga de esforço e volume do treinamento
eram controlados semanalmente.
Os atletas foram
testados pre e pós-intervenção, sendo utilizado o salto contra movimento,
agachamento, medidas de arquitetura do vasto lateral e os testes de desempenho
específico. Após o período de treinamento, cinco dos seis atletas melhoram seu
desempenho em competições. Além disso, a espessura do músculo vasto lateral
aumentou significativamente, e a forca de pico do salto contra movimento e a
potência também. Isso demonstra que o treinamento de uma semana de sobrecarga e
outra de cargas relativamente baixas é capaz de
melhorar a forca e potência dos atletas.
A periodização do
treinamento de força tem uma probabilidade de ocasionar melhora no desempenho
dos atletas em diversas modalidades, além de gerar hipertrofia muscular e
diminuir os riscos de lesões [4].
Nos testes realizados
com implemento específicos, como demostra na segunda
tabela dos resultados descritivos, todas as atletas obtiveram aumento no
desempenho, das provas de arremesso do peso, lançamento do disco e lançamento
do martelo. Uma das hipóteses para o aumento da performance,
além do treinamento (LPO) é o treinamento pliométrico realizado dentro da
periodização, objetivando o aumento da forca e potência dos indivíduos.
Estudo realizado por
Zaras et al. [8] analisou o efeito de dois
protocolos de treinamento, força máxima e força explosiva, na performance de
atletas do arremesso de peso. Participaram do experimento 20 indivíduos com
pelo menos seis meses de experiência, divididos em três grupos, força máxima e
força explosiva, juntamente com o grupo controle, durante um período de seis
meses de treinamento. Os protocolos de treinamento foram desenvolvidos para se
enquadrarem nos tipos de manifestação de força máxima e explosiva. O estudo
apresentou resultados significativos na melhora do desempenho de arremesso dos
atletas para ambos os grupos, 7-13,5% e 6-11,5%
respectivamente, contudo as adaptações musculares ocorridas foram diferentes
entre os grupos.
Já no artigo de Kyriazis
et al. [9], foram avaliados nove sujeitos
atletas do arremesso do peso, entre a pré-temporada e competição, no qual
investigaram a potência muscular e potência do arremesso, com a técnica de
rotação. Encontraram relação significativa maior entre o salto contra movimento
(pliometria) e a performance dos arremessadores de
peso do que com o teste de 1RM (força máxima). Os resultados sugerem que a
potência muscular é melhor preditor para a técnica com giro dos arremessadores.
No estudo de Kyriazis
et al. [10], foi possível observar
correlação significativa entre a composição corporal e a performance do
arremesso de peso em oito atletas de nível nacional, após 12 semanas de
periodização. Observou-se que no arremesso parado os sujeitos obtiveram um
aumento de 3%, e na técnica de rotação o aumento foi de 6,5% após o período de
pré-temporada e competição.
Outro estudo analisou
dez sujeitos atletas do arremesso do peso, quanto aos efeitos agudos do contra
movimento e dos sprints. Foram encontradas diferenças estatísticas
significativas na performance, quando precedida de
saltos contra movimento como nos sprints [11].
Os achados do estudo
demostraram que a periodização em blocos realizada durante oito semanas de
treinamento foi eficiente para o aumento das capacidades físicas do treinando
esportivo e melhora na performance do gesto esportivo
das atletas. Apesar de não ter sido encontrada correlação estatística entre o
treinamento de força e o gesto esportivo, provavelmente devido ao tamanho da
amostra nas modalidades esportivas especificas, os resultados descritivos
sugerem relação entre o aumento da força muscular e o desempenho específico dos
atletas. Estudos com amostras maiores devem ser realizados para melhor
comparação, quanto à melhora do rendimento e desempenho dos arremessadores e
lançadores.