ARTIGO
ORIGINAL
Comparação
das cargas de treinamento nos testes de repetições máximas e 1RM em indivíduos
praticantes do treinamento de força
Comparing the training load of maximal repetition and 1RM tests in
subjects practicing strength training
Gildiney Penaves de
Alencar*, Jackson Lemos Gonçalves*, Leonardo Emmanuel de Medeiros Lima**,
Aluisio Fernandes de Souza***
*Instituto
de Educação e Pesquisa Alfredo Torres, Campo Grande/MS,**Universidade Anhembi
Morumbi, São Paulo/SP, ***Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande/MS
Recebido em 13 de
maio de 2017; aceito em 6 de junho de 2017.
Endereço
para correspondência:
Gildiney Penaves de Alencar, Rua Major Giovani Francisco Nadalin, 470,
79017532
Campo Grande MS, E-mail: gildiney.gpa@gmail.com; Jackson Lemos
Gonçalves: lemos.jackson@hotmail.com; Leonardo Emmanuel de
Medeiros Lima:
leonardolimadocente@gmail.com; Aluisio Fernandes de Souza: aluisio@ucdb.br
Resumo
O objetivo desta
pesquisa se destinou a identificar se há diferenças significativas entre os
resultados preditivos de 1 repetição máxima (RM) com o
teste de 1 repetição máxima em indivíduos intermediários e avançados
praticantes do treinamento de força no exercício supino reto com barra. A
pesquisa foi realizada com 10 homens (27,7 ± 6,65 anos) com no mínimo quatro
meses de treinamento de força ininterruptos, os quais foram submetidos aos dois
tipos de teste no período de 48 a 72 horas. Não houve diferença
estatisticamente significativa quando comparados os testes de predição de 1 RM e o teste de 1 RM (p = 0,307). Com os resultados,
verificamos que a fórmula proposta por Baechle e Groves pode ser considerada
satisfatória para verificar a força muscular dinâmica de indivíduos
intermediários e avançados no treinamento de força, com idade de 17 a 36 anos
no exercício supino reto com barra.
Palavras-chave: treinamento de
força, teste de 1 RM, teste de repetições máximas.
Abstract
The objective of this study was to identify if there are significant
differences between the predictive results of 1 maximal repetition with the
test of 1 maximal repetition in intermediate and advanced subjects practicing
strength training in the bench press exercise. The research was performed with
10 men (27.7 ± 6.65 years old) with at least four months of uninterrupted
strength training, who underwent both types of test in the period of 48 to 72
hours. There was no statistically significant difference when comparing the
prediction tests of 1 RM and the 1 RM test (p = 0.307). With the results, we
can verify that the formula proposed by Baechle and
Groves can be considered satisfactory to verify the dynamic muscular strength
of intermediate and advanced individuals in strength training, 17 to 36 years
old, in the bench press exercise.
Key-words: training of
force, 1 RM test, test of maximum repetitions.
O exercício físico ou
a atividade física, quando realizada de maneira planejada e controlada quanto à
frequência, intensidade e duração, torna-se imprescindível para a manutenção da
saúde ou até mesmo na aquisição de habilidades exigidas dentro das modalidades
esportivas. Dentre estes exercícios, o treinamento de força é bastante
procurado por diversas pessoas para que estes objetivos anteriormente descritos
sejam alcançados.
O treinamento de
força pode também receber o nome de treinamento com pesos, e diz respeito à
utilização de materiais como halteres, aparelhos, pesos e outros equipamentos
com o intuito de melhorar o condicionamento físico, a aparência e/ou a atuação
esportiva [1].
A força é um dos
componentes da aptidão física relacionada à saúde e influencia na composição
corporal do indivíduo. Portanto, os exercícios que envolvam o treinamento de
força são importantes não somente pelo desempenho físico, mas também na saúde
como um todo do praticante [2].
Muito
se discute
acerca das cargas e pesos mobilizados em salas de
musculação e a importância
que se deve ter em seu controle para atingir o objetivo proposto pelo
programa.
Em meio a isso, um dos métodos de controle de carga e
prescrição de exercícios
estão voltados à avaliação da força
máxima dinâmica com a realização do teste
de 1 repetição máxima (1 RM), muito utilizado e citado
por diversas pesquisas.
O peso utilizado está
diretamente ligado ao número de repetições em cada série e irá determinar o
grau de intensidade dos exercícios prescritos, sendo talvez o principal
estímulo ligado às adaptações fisiológicas do treinamento de força, como o
próprio aumento da força e a resistência muscular localizada [1,3-5].
Como se sabe, o teste
de 1 RM pode sofrer influência de vários fatores e
exige um grau de concentração e conhecimento da técnica para que o resultado
seja o mais confiável possível. Além disso, as cargas elevadas podem ocasionar
um estresse muscular, ligamentar e ósseo muito alto, o qual expõe o praticante
a riscos um pouco maiores de lesões e desconfortos articulares, podendo em
decorrência destes haver prejuízos ao seu desempenho e a sua saúde [6].
De encontro a esta
questão, buscou-se mostrar aos praticantes do treinamento de força que existe
uma maneira confiável e segura de se predizer o 1 RM,
prevenir as possíveis lesões que podem ocorrer na realização do teste de 1 RM,
bem como conseguir adequar os treinamentos de acordo com o objetivo.
Neste sentido, o
objetivo desta pesquisa se destinou a identificar se existem diferenças
significativas entre os resultados preditivos de 1 RM
proposto por Baechle e Groves [1] com o teste específico de 1 RM sugerido por
Uchida et al. [3] em indivíduos
intermediários e avançados no treinamento de força no exercício supino reto com
barra.
A presente pesquisa é
descritiva, já que tem como objetivo estabelecer relações entre as variáveis e
tem como uma de suas características a utilização de técnicas padronizadas de
coletas de dados [7], e qualitativa com cunho de corte transversal. Na pesquisa
qualitativa se pode descrever a complexidade de determinado problema e analisar
a interação das variáveis envolvidas [8]. E, no estudo de corte transversal, a
obtenção dos dados para a pesquisa ocorre num só momento, e tem como intuito
descrever e analisar o estudo de uma ou várias variáveis [9].
A pesquisa foi
realizada contando com a participação voluntária de 10 homens, com idade média
de 27,7 anos, mínima de 17 e máxima de 36 anos, com tempo mínimo de treinamento
de força de quatro meses ininterruptos, aos quais foram submetidos ao método
12-15 RM [1] para predição de 1 RM e, dentro do prazo
de 48 a 72 horas, ao teste de 1 RM [3]. O exercício selecionado para a
realização dos testes foi o supino reto com barra. Os indivíduos que
apresentaram qualquer tipo de lesão nas articulações envolvidas na execução do
exercício previsto, bem como os que responderam positivamente o PAR-Q e
cardiopatas foram excluídos da pesquisa.
Para a predição do 1 RM foi utilizado o método 12-15 RM apresentado por Baechle
e Groves [1]. Obedecendo ao protocolo, os indivíduos selecionaram uma carga,
executaram entre 12 e 15 repetições máximas e realizaram um aquecimento de 10
repetições. Em sequência, foram adicionados 4,5 kg ao peso e executadas 3 repetições. Depois, foram adicionados 4,5 kg e realizado o
número máximo de repetições, após um intervalo de 2 a 5 minutos. Em seguida, o
valor da carga mobilizada de acordo com o resultado de repetições completadas foi
multiplicado pelo fator repetição da tabela I para encontrar o 1 RM predito [1].
Tabela
I – Previsão de 1 RM de
acordo com as repetições completadas.
Fonte: Baechle e
Groves [1].
Para realizar o teste
de 1 RM, o protocolo utilizado na pesquisa foi o de
Uchida et al. [3], no qual os indivíduos avaliados executaram um aquecimento de
5 a 10 repetições com um peso de 40% a 60% da estimativa de 1 RM. Em seguida,
após o intervalo de 1 minuto e execução de um leve alongamento, realizaram um
aquecimento de 3 a 5 repetições com peso de 60% a 80% da estimativa de 1 RM. Após esta etapa, deu-se um intervalo de 2 minutos, os
avaliados estimaram um peso próximo do máximo, de modo que fosse possível
completar de 2 a 3 repetições, adicionando o máximo de 5 kg por tentativas. A
cada tentativa executada, foi realizado o intervalo de 3 a 5 minutos,
aumentando ou reduzindo a carga, até que se executasse apenas uma repetição
máxima.
Foi entregue a cada
sujeito um Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento e uma Ficha de Dados e
Avaliação para Indivíduos Praticantes do Treinamento de Força, juntamente ao
Questionário de Prontidão para a Atividade Física (PAR-Q) [10].
A execução do
exercício supino reto com barra para a realização dos testes foi dividida em
fases. Na fase de preparação, o indivíduo deitou-se no banco em decúbito
dorsal, fez a empunhadura da barra com as palmas das mãos voltadas para cima,
em uma distância igual ou maior do que a largura dos ombros. O corpo manteve o
contato com o banco e com o solo e os olhos ficaram abaixo do suporte,
conservando os punhos alinhados com os cotovelos durante todo o exercício [1].
Na fase descendente
de execução, o indivíduo executou uma inspiração no momento em que esteve
levando a barra próximo ao peito, mantendo sempre os punhos retos. O movimento
executado foi controlado, em média de 2 segundos do início ao término desta
fase [4]. A barra chegou próximo ao peito e realizou o movimento contrário. Já
na fase ascendente, o avaliado empurrou a barra para cima com seus cotovelos se
estendendo de maneira equilibrada, expirando durante esta fase, com os
cotovelos retos e estendidos [1].
O tratamento
estatístico dos dados seguiu as orientações de Callegari-Jacques [11] e Vieira
[12], utilizando o Software Graphpad Prism 6.0 (Graphpad Software, Califórnia)
e aplicado o Test t paramétrico-pareado de Gosset para a comparação das médias
entre as relações analisadas, tendo como critério de significância p ≤ 0,05.
As características
dos participantes da pesquisa (n = 10) se basearam nas variáveis independentes
como a idade (27,7 ± 6,65 anos), estatura (1,74 ± 0,07 metros), peso (85,32 ±
16,69 kg), IMC (28,09 ± 3,79 kg/m²) e tempo de treinamento (4,79 ± 6,04 anos).
Em relação ao tempo de treinamento, existe uma diferença considerável entre o
valor mínimo e máximo (0,41 e 16 anos, respectivamente), assim como o desvio
padrão elevado na variável idade, peso e o próprio tempo de treinamento.
No gráfico 1, as médias dos resultados do método 12-15 RM e 1 RM são
comparadas e, de acordo com as análises (Test t paramétrico – pareado), pode-se
observar que não houve uma diferença estaticamente significativa (p = 0,307).
Gráfico
1 – Comparação entre a média dos resultados do
método 12-15 RM e 1 RM.
No teste de 1 RM a carga obtida foi de 88,20 ± 22,10 kg, com os valores
mínimos e máximos de 40 e 110 kg respectivamente. Já no método 12-15 RM a carga
média predita foi de 86,70 ± 23,76 kg, com variação de 33,9 a 114,3 kg.
Discussão
Observa-se que os
valores de 1 RM preditos e os resultados do teste de 1
RM ficaram muito próximos. Num estudo realizado com 50 homens adultos
sedentários ou moderadamente ativos, com idade de 18 a 32 anos, buscou-se a
validação da equação proposta por Brzycki para a predição de 1
RM no exercício supino em banco horizontal e os valores encontrados também se
apresentaram muito próximos, não havendo diferença estatisticamente
significativa, considerando a média e desvio padrão – 1RM (70,3 ± 18,5 kg) e
Brzycki (70,6 ± 18,9 kg) [6].
Em outro estudo
realizado, buscou-se verificar o grau de confiabilidade das fórmulas sugeridas
por diversos autores para a predição de 1RM, considerando a média e desvio
padrão: O’Conner et
al. (73,05 ± 13,75 kg), Epley
(76,75 ± 14,35 kg), Brzycki (75 ± 13,87 kg), Lander
(75,62 ± 14 kg), Adams (77,38 ± 15,19 kg) e Baechle e
Groves (77,32 ± 13,87 kg). Estas fórmulas preditivas propostas por estes autores
anteriormente mencionados foram comparadas às cargas mobilizadas no teste de 1 RM no exercício supino reto com barra (76,23 ± 12,52 kg) e
foi observado que todas elas foram confiáveis em predizer o 1RM [13].
Numa pesquisa
realizada por Santos et al. [14], os autores compararam o teste
de repetições máximas e o teste de 1RM com o intuito de validar uma fórmula
estimativa de 1 RM. Foram selecionados 15 homens com no mínimo seis meses de
treinamento e submetidos ao teste de 1RM e, no segundo dia ao teste de
repetições máximas, com a carga de 60 a 80% do 1RM encontrado no exercício puxada frontal. As análises estatísticas mostraram
que não se obtiveram diferenças estaticamente significativas e a fórmula
analisada é válida para a estimativa de 1 RM, assim
como na nossa pesquisa.
De acordo com os
resultados encontrados na pesquisa e as comparações necessárias realizadas,
podemos verificar que o método de repetições máximas (12-15 RM) juntamente ao
fator repetição proposto por Baechle e Groves pode ser utilizado com segurança
para predizer a carga de 1RM, já que não houve uma diferença estatisticamente
significativa quando comparada a média de valores encontrados e preditivos de 1 repetição máxima (p = 0,307). Com isso, os riscos
apresentados pelo teste de 1RM no exercício supino reto com barra em relação às
cargas elevadas mobilizadas e a própria segurança do indivíduo durante o teste
são reduzidos.
Ao praticante do
treinamento de força, se faz importante respeitar os princípios do treinamento
esportivo e aplicá-los adequadamente conforme a sua experiência. Visando o
aumento da força. É necessário aplicar o princípio da sobrecarga progressiva e
variabilidade, aumentando não somente a carga de treinamento, mas também
controlando o número de repetições, velocidade de execução dos exercícios,
intervalo de descanso entre as séries e exercícios e o volume deste
treinamento, ou seja, para se alcançar os objetivos propostos, a alternância
das variáveis do treinamento de força apresentadas nesta são fundamentais [3-5,15,16].
Observa-se com os
resultados de nosso estudo e as comparações realizadas que a fórmula proposta
por Baechle e Groves se mostra como uma maneira segura de determinar a
quantidade de força máxima dinâmica em 1RM, podendo ser utilizada durante a
prescrição e controle desta importante variável da aptidão física.
É importante
salientar que outras pesquisas devem ser realizadas com outras populações, bem
como a avaliação de outros exercícios, a fim de melhorar a gama de conhecimento
pertinente a essa área de atuação, promovendo o melhor desenvolvimento dos seus
praticantes e contribuindo para uma prática regular de exercícios.
Por fim, vale
ressaltar que o método de predição de 1 RM através da
execução do teste de repetições máximas (método 12-15 RM) pode ser considerado
satisfatório para verificar a força muscular dinâmica de indivíduos
intermediários e avançados no treinamento de força, com idade de 17 a 36 anos
no exercício supino reto com barra.