ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
do efeito da Dança Sênior sobre a qualidade de vida, equilíbrio e
funcionalidade de idosos
Evaluation of the effect of the Senior Dance on the quality of life,
balance and functionality of the elderly
Graziela I. C.
Lourenço*, Neide Sara Lima Freire*, Danilo Alexandre da Silva*, Laercio da
Silva Paiva*, Alexandra Carolina Canonica**, Angelica Castilho Alonso***,
Fernanda Antico Benetti****
*Curso
de Fisioterapia, Faculdade de Medicina do ABC, **Laboratório de Estudos do
Movimento, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Hospital das Clínicas,
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, ***Laboratório de Estudos do
Movimento, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Hospital das Clínicas,
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, Programa de pós-graduação em
Ciências do Envelhecimento, Universidade São Judas Tadeu, ****Curso de
Fisioterapia, Faculdade de Medicina do ABC
Recebido em 23 de
março de 2017; aceito em 29 de agosto de 2017.
Endereço
para correspondência:
Angelica Castilho Alonso, Rua Ovídeo Pires de Campos, 333, Cerqueira Cesar,
05403-010 São Paulo SP, E-mail: angelicacastilho@msn.com; Laercio
Paiva: laerciospaiva@gmail.com; Fernanda Benetti:
benetti.fernanda@gmail.com; Alexandra Canonica: accanonica@yahoo.com.br;
Graziela Lourenço: lourenco.graziela@hotmail.com; Neide Sara:
saralima.jc@hotmail.com; Danilo Silva: daniloalexandre@bol.com.br
Resumo
Objetivo: Caracterizar o
efeito da Dança Sênior sobre a qualidade de vida, equilíbrio e funcionalidade
de idosos. Métodos: Estudo
experimental, realizado no Centro de Reabilitação de São Caetano do Sul,
selecionou 19 idosos entre 60 e 80 anos para participar da Dança Sênior por um
período de quatro meses, duas vezes por semana. Foi aplicado o questionário
SF-36, Teste de equilíbrio de BERG, Index de Independência nas Atividades de
Vida Diária antes de iniciar a prática da dança e quatro meses após o início da
prática. Resultados: A qualidade de
vida apresentou melhoras significativas em relação às limitações por aspectos
físicos (p = 0,032), sociais (p = 0,006) e emocionais (P ?
0,001). Houve melhora significante do equilíbrio postural avaliado pela escala
de BERG (p = 0,001) e o índice de Katz apresentou resultados significativos no
item continência (p = 0,04) após o período de quatro meses de intervenção. Conclusão: Pode-se concluir que a
prática da Dança Sênior como atividade física possuiu efeitos benéficos aos
idosos contribuindo para a melhora da qualidade de vida, do equilíbrio, mantendo-os
independentes na realização das atividades de vida diária.
Palavras-chave: idoso, dança, equilíbrio postural, qualidade de vida.
Abstract
Objective: To
characterize the effect of the Senior Dance on the quality of life, balance and
functionality of the elderly. Methods:
This experimental study which was carried out in São Caetano do Sul Rehabilitation Center selected 19 elderly, aged 60 to
80 years, to participate in the Senior Dance for a period of four months, twice
a week. The SF-36 questionnaire, BERG Balance Test, Independence Index in Daily
Life Activities were applied before starting the dance practice and four months
after the beginning of the practice. Results:
Quality of life showed significant improvements in relation to physical (p =
0.032), social (p = 0.006) and emotional (P ? 0.001)
aspects. There was a significant improvement in the postural balance assessed
by the BERG scale (p = 0.001) and the Katz index presented significant results
in the item continence (p = 0.04) after the four-month intervention period. Conclusion: The practice of Senior Dance
as a physical activity has beneficial effects on the elderly contributing to
the improvement of the quality of life, of balance, keeping them independent in
performing daily life activities.
Key-words: aged,
dancing, postural balance, quality of life.
Nas últimas décadas
observou-se um nítido processo de envelhecimento demográfico. Nos países em
desenvolvimento, o envelhecimento populacional foi ainda mais significativo e acelerado,
destaca a Organização das Nações Unidas, enquanto nas nações desenvolvidas, no
período de 1970 a 2000, o crescimento observado foi de 54%, e nos países em
desenvolvimento atingiu 123% [1].
O envelhecimento é
caracterizado por alterações biológicas, psicológicas, cognitivas e sociais que
aumentam a predisposição a situações de incapacidade funcional, multimorbidade
e aumento de risco a situações de vulnerabilidade. Essas alterações são
bastante diversificadas e individuais, fazendo do envelhecimento uma
experiência heterogênea e subjetiva [2].
Segundo a literatura,
o Brasil ainda é carente em direcionar um programa de governo que atenda a
população idosa. A busca por um envelhecer saudável deve ser vista como uma
necessidade devido ao aumento da longevidade do país [5,6].
Sabemos que a
senilidade pode ser retardada e um dos recursos que tem se tornado alvo de
estudo e ganhando espaço é a Dança Sênior (DS). A aula de DS envolve movimentos
simples e rítmicos com músicas folclóricas rítmicas através de diferentes
coreografias, a qual desafia o equilíbrio, a coordenação motora e a função
cognitiva [7].
A DS pode produzir
efeitos preventivos e terapêuticos, pois estimula a mobilidade articular,
ativação neuromuscular, motricidade, coordenação motora, auxiliando no bom
equilíbrio e na boa postura corporal. Proporciona a manutenção da amplitude de
movimento, possibilita a busca da flexibilidade, mobilidade e agilidade [8].
Porém há poucos trabalhos na literatura que avaliaram os efeitos da DS sobre o
envelhecimento.
Assim o objetivo do
presente estudo é avaliar o efeito da Dança Sênior sobre a qualidade de vida,
equilíbrio e funcionalidade de idosos.
Casuística
Este foi um estudo
experimental, submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Medicina do ABC e realizado com idosos do Centro de Reabilitação
de São Caetano do Sul.
Participaram da
pesquisa 19 idosos na faixa etária de 60 a 80 anos, elegíveis para a
intervenção. Os critérios de inclusão para participação no estudo foram: não
ter intervenções prévias relacionadas ao equilíbrio, marcha, fortalecimento e
alongamento; não ser portador de doenças que comprometessem a marcha, mobilidade
física ou equilíbrio; não ter alguma doença que contraindicasse a prática da
dança; não tomassem medicamentos que interferissem no equilíbrio e marcha, não ter presença de déficit cognitivo e alterações
visuais não compensadas e concordância na participação por meio da assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido. Critérios de exclusão: não
realizar os testes iniciais e finais e mais de três faltas durante a
intervenção.
Avaliações
Para avaliar o efeito
da DS sobre a qualidade de vida, o equilíbrio e a funcionalidade de idosos
foram utilizados o questionário de qualidade de vida SF-36, a escala de
equilíbrio de Berg e o Índice de Katz, respectivamente.
O SF-36 é composto
por 11 questões e 36 itens que englobam oito componentes (domínios ou
dimensões), representados por capacidade funcional (dez itens), aspectos
físicos (quatro itens), dor (dois itens), estado geral da saúde (cinco itens),
vitalidade (quatro itens), aspectos sociais (dois itens), aspectos emocionais
(três itens), saúde mental (cinco itens) e uma questão comparativa sobre a
percepção atual da saúde e a de um ano. O indivíduo
recebe um escore em cada domínio, que varia de 0 a 100, sendo 0 o pior escore e 100 o melhor.
A escala de
equilíbrio de Berg avalia o equilíbrio do indivíduo em 14 situações
representativas de atividades do dia a dia, tais como: ficar em pé,
levantar-se, andar, inclinar-se à frente, transferir-se, virar-se, dentre
outras. A pontuação máxima alcançada é de 56 pontos e cada item possui uma
escala ordinal de cinco alternativas variando de 0 a 4 pontos, de acordo com o
grau de dificuldade.
O Índice de Katz
representa atividades do dia a
dia, tais como: banhar-se, vestir-se, ir ao
banheiro, transferir-se, ser continente e
alimentar-se. O indivíduo é classificado como independente se o mesmo
desenvolver as atividades (qualquer das seis propostas) sem supervisão,
orientação ou qualquer tipo de auxílio.
Todas as avaliações
foram realizadas pré e pós-intervenção que teve duração de quatro meses, com
frequência de duas vezes por semana num período de 60 minutos cada sessão.
Intervenção
de dança
A terapia de DS se
iniciava com a gerontoativação e, em seguida, com as músicas Valsa Sentada,
Sete Pulos, Casatschok, Vilma Stomp, Blues na Roda, Dança do Moinho e
finalizava com a gerontoativação. A gerontoativação foi realizada com a música
Triolet que é utilizada como aquecimento para “despertar” o corpo, incluindo
sessões que estimulam uma parte do corpo de cada vez e favorecem a memorização
da sequência dos exercícios. Os movimentos são variados e intercalados entre
todas as articulações do corpo.
As coreografias da
dança senior tem o objetivo de proporcionar socialização e entrosamento do
grupo. Algumas músicas possuem um ritmo mais agitado, que promove interação
entre duplas e proporciona trabalhar o equilíbrio. Além disso, as músicas
contemplam movimentos que exigem uma interação entre os membros superiores e os
inferiores, além de flexibilidade e alongamento. As danças trabalham movimentos
de membros inferiores, membros superiores e lateralidade corporal, ajudando a
aprimorar o equilíbrio e os movimentos que imitam as AVDs. As músicas são
alternadas entre ritmos lentos e rápidos e com coreografias sentadas e em pé de
baixo impacto, passos leves e curtos, de movimentos suaves, respeitando sempre
os limites de cada participante.
Análise
estatística
A análise descritiva
foi feita com base em valores de frequência absoluta, relativa, medidas de
tendência central e dispersão. Para avaliar se houve diferença entre as
proporções das atividades realizadas antes e após a intervenção, foi utilizado
o teste de Mc Nemar para amostras dependentes com nível de significância de p
< 0,05. O software estatístico utilizado foi o Stata 11.0.
Dos 19 voluntários
que participaram do estudo, 2 (%) eram do sexo
masculino e 17 (%) do sexo feminino. Não houve perda de participantes, nem por
desistência, nem por exclusão.
A tabela I compara os
valores médios dos escores para as variáveis relacionadas à qualidade de vida e
equilíbrio de idosos antes e após a realização da prática de DS.
Observa-se melhora
estatisticamente significativa para os aspectos: limitações por aspectos
físicos (p = 0,032), aspectos sociais (p = 0,006), aspectos emocionais (P ? 0,001) e equilíbrio (p = 0,001).
Tabela
I – Comparação dos escores das variáveis
relacionadas à qualidade de vida e equilíbrio de idosos antes e após a
realização da prática de Dança Sênior.
* p ≤ 0,05
Observa-se que em
todas as variáveis de funcionalidade analisadas houve um aumento no percentual
após a intervenção (Tabela II). A diferença antes e depois da intervenção foi
estatisticamente significativa para a variável incontinência (p = 0,04). Para
as demais variáveis não foi observada diferença estatisticamente significativa.
Tabela
II -
Comparação dos aspectos de funcionalidade
segundo momento da intervenção de Dança Sênior (antes e depois) em idosos.
*p ≤ 0,05
Foram sujeitos deste
estudo 19 voluntários, sendo 2 do sexo masculino e 17
do sexo feminino, com idades entre 60 e 80 anos, media de 70 anos (65-76) que
participaram do grupo de Dança Sênior. Por meio das avaliações verificou-se
melhora na qualidade de vida, equilíbrio e funcionalidade dos idosos após a
prática de DS.
Com a aplicação do
questionário SF-36 observa-se a melhora de todos os aspectos, estatisticamente
significativas para limitações de aspectos físicos, aspectos sociais e aspectos
emocionais. Oliveira [9] também encontrou melhora na qualidade de vida de
idosos após a intervenção de DS por 4 meses. A dança
pode promover a sensação de bem-estar e de valorização pessoal, justificando a
melhora na qualidade de vida da população do presente estudo [9].
O presente estudo
demonstrou que a DS influencia no equilíbrio dos idosos praticantes, pois é
possível verificar alterações na pontuação do teste de Equilíbrio de Berg
significativas, sendo esta maior depois da realização da DS. Silva [10] também
verificou melhora do equilíbrio em idosos após 4 meses
de prática de DS. A melhora no equilíbrio pode ser explicada devido ao fato da
dança em geral atuar sobre os três sistemas necessários para manutenção do
equilíbrio [11].
Na fase pré dança
sênior, 56% dos participantes apresentaram algum sintoma relacionado à
incontinência urinária ou fecal, na avaliação pós dança sênior, 33% relataram
ter alteração presente. Silva [10] também mostrou melhora na independência para
realizar atividades de vida diária em idosos após um período de 4 meses de DS. A redução no relato de sintoma de
incontinência pode ser pelo fato da dança ativar a musculatura, em especial a
pélvica, melhorando assim a função do assoalho pélvico.
A prática da DS como
atividade física apresenta efeitos benéficos aos idosos contribuindo para a
melhora da qualidade de vida e do equilíbrio, mantendo-os independentes nas
realizações das atividades de vida diária e prevenindo consequentemente os
fatores de risco que a falta desta representa, sendo uma interferência eficaz
na senilidade.