REVISÃO
O
efeito de suplementação de simbióticos e exercícios aeróbios sobre a inflamação
sistêmica em indivíduos idosos obesos
The effect of symbiotic supplementation and aerobic exercises on
systemic inflammation in elderly and obese people
Rubens da Costa Lino
Filho*
*Universidade
Paulista, Campinas, Pós-Graduado Treinamento Desportivo, Universidade Candido Mendes
Recebido em 30 de
maio de 2017; aceito em 25 de agosto de 2017.
Endereço
para correspondência:
Rubens da Costa Lino Filho, Rua Antônio Honório, 168, 13920-000 Centro Pedreira
SP, E-mail: lino.edfisica@live.com
Resumo
O
processo de
envelhecimento traz consigo alterações
fisiológicas associadas ao avanço da
idade que singulariza um aumento na produção de citocinas
pró-inflamatórias,
caracterizando uma condição de inflamação
crônica de baixo grau. O objetivo
deste estudo é verificar os benefícios da
suplementação de substância
simbiótica junto com exercícios aeróbios,
diminuindo a inflamação sistêmica de
idosos obesos. Indicando a hipótese de que esta
inflamação de baixo nível está
associada a um desequilíbrio na microbiota, a
alterações na permeabilidade
intestinal e a diminuição com exercícios
aeróbicos, que estimulam, através da
contração muscular, a produção de
interleucina-6 (IL-6) que promove um ambiente
anti-inflamatório. A estratégia de busca desenvolvida foi
encontrar artigos
controlados que avaliaram os parâmetros inflamatórios em
indivíduos idosos
obesos tendo um resultado significativo. Portanto, o uso de
substâncias
simbióticas e o exercício físico são
capazes de reduzir a produção e a ação de
marcadores inflamatórios, podendo prevenir doenças
crônicas de baixo grau.
Palavras-chave: exercício físico,
microbiota, inflamação, sistema imunológico, interleucinas.
Abstract
The aging process brings with itself physiologic alterations associated
to advanced age which distinguishes by an increase of pro-inflammatory
cytokines production featuring a condition of chronic inflammation of low
degree. The study’s purpose is to verify the benefits of symbiotic substance
supplementation related with aerobic exercises, reducing the systemic
inflammation of advanced age and obese people. The study indicates the
hypothesis this low level inflammation is associated with a
disequilibrium in the microbiota, alterations in the intestinal
permeability and the decrease with aerobic exercises, that stimulate, through
the muscular contraction, the interleucina-6 production (IL-6) that promotes an
anti-inflammatory environment. The search strategy was developed to find
controlled articles which measure these evaluated inflammatory parameters in
advanced age and obese individuals that manifested a significant result to the
research. Therefore, the use of symbiotic substance and the physical exercise
is capable to reduce the production and the action of inflammatory markers that
could prevent chronic diseases of low degree.
Key-words: physical
exercise, microbiota, inflammation, immune system, interleukins.
Sob a perspectiva
biológica, o envelhecimento caracteriza-se pela diminuição da capacidade de
manter o equilíbrio homeostático sob condições de
sobrecarga funcional, conduzindo à maior vulnerabilidade [1]. É um processo
natural trazendo alterações fisiológicas que afetam de forma direta, como
deposição de gordura visceral altamente relacionada à inflamação sistêmica e à
redução da gordura subcutânea. No entendimento das pesquisas, a obesidade é
vista como uma espécie de inflamação crônica, chamada de subclínica porque não
têm sintomas aparentes e, por causa da inflamação, as células de gordura do
obeso aumentam o que contribui para o ganho de peso [2,3]. Assim o tecido
adiposo pode ser considerado um dos focos de inflamação sistêmica, pois esse é
capaz de secretar mediadores inflamatórios na circulação, reconhecidos como
base comum para uma gama de desordens do organismo como, por exemplo,
resistência à insulina e doenças cardiovasculares [4].
O intestino é outro
local ao qual se atribui à origem da inflamação sistêmica, dependendo da
microbiota do indivíduo, esse fenômeno inflamatório pode ficar muito acentuado,
mas mascarado até não existir. Nenhum estudo ainda conseguiu identificar quais
são exatamente essas espécies de bactérias causadoras da obesidade, mas a
hipótese dos pesquisadores é que todas sejam do tipo
Gram-negativa. Uma bactéria é chamada de Gram-negativa quando não reage
ao teste chamado coloração de Gram, isso acontece porque na membrana dessas
bactérias existe um composto chamado lipopolissacarídeo (LPS) [5,6].
O sistema imunológico
percebe o LPS das bactérias Gram-negativas no intestino como um corpo estranho
e é isso que causa inflamação subclínica. Quando alguém se torna obeso, as
células da parede intestinal ficam ainda mais permeáveis aos LPS e permitem que
entrem em maior quantidade no intestino. Essa inflamação originada no intestino
é denominada endotoxemia [5-7]. O LPS adentra nos capilares pela permeabilidade
intestinal alterada, ou pela sua incorporação aos quilomícrons (QM).
Posteriormente, o LPS
liga-se a receptores específicos (principalmente o tool-like receptor- TLR-4)
no tecido adiposo, no tecido muscular, e outros tecidos, estimulando a
infiltração de macrófagos, e ativando vias para secreção de citocinas
inflamatórias. Quanto mais corpo estranho, maior a reação do sistema imune, e
as pesquisas mostraram também que quanto mais o sistema imune trabalha contra a
presença da molécula estranha no intestino mais as células dos músculos do
tecido adiposo e do fígado ficam resistentes à insulina e esse é um dos fatores
que provoca o diabetes [5-7].
Dentre as alterações
observa-se um declínio do funcionamento normal do sistema imunológico
denominado de imunossenescência, que se refere à deterioração provocada pelo
envelhecimento, diminuindo a memória imunológica e a capacidade do organismo em
responder a infecções, o que está associado à susceptibilidade dos idosos a
doenças infecciosas [8]. Sua etiologia é multifatorial e entre estas a
exposição constante a patógenos e vírus ao longo da vida leva a exaustão das
células do sistema imune, principalmente, aquelas que fazem parte do sistema
imune adquirido [8].
Uma alteração
importante é a relacionada com um aumento na concentração de marcadores
inflamatórios no sangue, o que tem sido associado com um processo mais amplo,
denominado inflammaging que está
associado ao aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias caracterizando
uma condição de inflamação crônica de baixo grau, que parece ser o fator comum
na patogênese de doenças crônicas não transmissíveis como doenças
cardiovasculares, Diabetes Mellitus tipo 2, cânceres
[8-11]. As citocinas Proteína C Reativa (PCR), Fator de Necrose Tumoral-α
(TNF-α), Interleucina-10 (IL-10) e Interleucina-6 (IL-6) podem ser
considerados biomarcadores da função imune e associados com as doenças crônicas
e as incapacidades relacionadas à idade [12,13].
As respostas aos
exercícios físicos, as citocinas pró-inflamatórias são aquelas que estimulam o
processo inflamatório e as que estão relacionadas com o processo de regeneração do tecido textual
são as citocinas anti-inflamatórias. A inflamação é um fenômeno generalizado em
reposta a uma lesão em algum tecido, quer seja por bactérias, calor, ou
exposição a contaminantes, e é desencadeada por receptores da imunidade inata
que reconhecem patógenos e células danificadas, liberando várias substâncias,
acarretando alterações nos tecidos circundantes não inflamados [14,15]. Então o
organismo quando tem uma infecção e uma lesão por um trauma, uma cirurgia, uma
queimadura que é a resposta inflamatória, ocorre a
liberação de duas substâncias: duas citocinas pró-inflamatórias, que é TNF-α,
e a interleucina fator 1 Beta. Essas duas interleucinas são exclusivamente
inflamatórias, elas promovem a resposta inflamatória, (edema, hiperemia
(vermelhidão), aumento da temperatura, dor) e todos esses sinais diminuem a
dilatação periférica e ocorre a liberação de leucócitos na região em virtude
dessas estruturas que são liberadas, principalmente pelos neutrófilos e
macrófagos, que chegaram ao local lesionado.
À medida que esse
processo inflamatório evolui em algumas horas, após o trauma ou a entrada de um
antígeno, observa-se um índice secundário chamado de fase aguda da inflamação
que é outra citocina chamada interleucina-6. A interleucina-6 é difícil de ser
estudada porque ela tem efeito umbigo, pois pode ser tanto pró ou
anti-inflamatória. Mas nessa fase ela tem efeito inflamatório, contribuindo
para o processo inflamatório, inibindo tanto a TNF-α como a interleucina 1 Beta, estimulando a partir do seu pico a produção de
fatores receptores solúveis contrários a essas citocinas que inibem e também
por ela interleucina-6 que estimula a produção de citocinas anti-inflamatórias
chamada Interleucina 10, que é envolvida com a regeneração tecidual, ativando o
citoplasma que começa a se regenerar. Esse é o processo inflamatório normal.
A atividade física
pode induzir uma resposta inflamatória, através de aumentos nos níveis séricos
de IL-1, TNF-α e da citocina responsiva IL-6, seguido pela liberação de
citocinas anti-inflamatórias, como IL-10, e de IL-1ra, sTNF-r2
que são inibidores das citocinas pró-inflamatórias [16].
Em particular, o
efeito do exercício físico em longo prazo pode ser explicado em parte, pelo
efeito anti-inflamatório do exercício agudo, sendo mediado
pela produção de IL-6 derivada do músculo esquelético [17].
A IL-6 é produzida
tanto por células do sistema imune quanto por outras células, como adipócitos.
Considerada uma citocina induzida por estresse e um mediador inflamatório com
diversas funções em diversos tecidos como a indução do aumento de produção de
PCR no fígado. Sua concentração plasmática está associada a gordura e peso
corporal [18]. Possui características pró e anti-inflamatórias demonstrando uma
natureza ambígua, visto que o aumento dos níveis crônicos de IL-6 está
associado com o aumento da inflamação, ao passo que o aumento da IL-6 logo após
o exercício físico parece demonstrar efeitos anti-inflamatórios [19].
Já o TNF-α tem
propriedades pró-inflamatórias e está relacionado aos distúrbios metabólicos
decorrentes da inflamação crônica e também possui correlação com a gordura e
peso corporal [18]. Seus níveis aumentam com a progressão da idade [20]. A PCR,
por sua vez, é uma proteína de fase aguda produzida, prioritariamente, no
fígado em resposta aos estímulos de IL-6 e TNF-α [21,18].
Neste trabalho
discutiremos que o uso de suplementações simbióticas com exercícios é
claramente promotor do efeito anti-inflamatório, beneficiando muitos sistemas
orgânicos e oferecendo proteção contra doenças metabólicas como obesidade e
diabetes.
Objetivos
Este estudo foi
conduzido para avaliar os efeitos de uma suplementação com substância
simbiótica junto com exercícios físicos sobre a inflamação sistêmica de idosos
obesos.
Estratégia de busca
foi desenvolvida para encontrar artigos controlados que avaliassem parâmetros
com benefícios suplementação microbiotas e parâmetros inflamatórios em
indivíduos com idade acima de 40 anos obesos após uma intervenção composta por
treinamento aeróbio com suplementação com substância simbiótica. Realizou-se a
busca no banco de dados Medline, acessado através do Pubmed, em 12 de Nov e 23
Dez de 2016. Foram realizadas duas buscas: a primeira sobre as citocinas
anti-inflamatórias e a segunda sobre probióticos simbióticos.
Na primeira busca
foram encontrados (n = 504) artigos, excluídos da meta-análise. Resumo e Título
(n = 390), excluídos da meta-análise. Texto Completo (n = 112). Artigos
incluídos na meta-análise (n = 4) [22-25]. Os termos utilizados para a
realizarmos a pesquisa foram elderly, physical exercise, inflammation, immune
system.
Figura
1 - Fluxograma do processo de seleção dos
estudos primeira busca.
Na segunda busca
foram encontrados (n=18) artigos, excluídos da meta-análise: resumo e texto
completo (n=11): Artigos incluídos na meta-análise (n=7): [26-32]. Os termos
utilizados para realizarmos a pesquisa foram: obesity, elderly probiotics and inflammation.
Figura
2 - Fluxograma do processo de seleção dos
estudos segunda busca.
De acordo com o
exposto nos presentes artigos, o treinamento físico junto com
a injeção de alimentação simbiótica podem oferecer proteção contra
doenças crônicas induzidas por mediadores inflamatórios. Este efeito pode ser
atribuído em parte pela liberação de IL-6 em resposta a contração muscular e
também pelas regulagens das bactérias Gram - positivas com suplementação
simbióticas.
A tabela I mostra as
características de 4 estudos que foram publicados
entre os anos de 2009 e 2015 [22-25]. Em relação aos treinamentos, observa-se
que a intensidade foi controlada, prioritariamente, pela frequência cardíaca
que esteve entre 45-85% da FCmáx; a
frequência semanal variou de 3 a 7 dias por semana; duração da sessão foi de no
máximo 60 minutos e a duração do treinamento de 8 a 96 semanas.
A tabela II revelou
que o treinamento aeróbio foi eficiente para reduzir os valores plasmáticos de
IL-6. Verificou-se que quatro estudos tiveram efeito positivo significativo
sobre esta variável levando a um efeito significante global do TA.
A tabela III mostra
resultados significativos dos 6 estudos, em relação
aos suplementos, os quais foram publicados entre os anos de 2009 e 2015
[26,27,29,30,31]. Com evidências sobre a eficácia na diminuição do IMC,
inflamação, permeabilidade e prevenção da conversão da tolerância à glicose
prejudicada pelo diabetes.
Tabela
I - Caracterização dos estudos de exercícios
selecionados.
M = masculino; F =
feminino; IMC = índice de massa corporal; TA = treinamento aeróbio; 1RM = 1
repetição máxima; FCmáx = frequência cardíaca máxima;
DP = desvio padrão.
Tabela
II -
Efeitos dos modelos de Treinamentos
Físicos sobre IL-6.
TA = Treinamento
Aeróbio; ES = Effect Size; K = número de estudos; IC = intervalo
de confiança.
Tabela
III
- Caracterização dos estudos microbiotas
selecionados.
*= Significante. x =
Sem dados.
Diante da importância
deste trabalho de estratégias para minimizar os efeitos de citocinas
pró-inflamatórias nas doenças crônicas, verifica-se que esta inflamação de
baixo nível está associada a um desequilíbrio na microbiota, a alterações na
permeabilidade intestinal e ao efeito do envelhecimento, que influenciam na
diminuição do funcionamento do sistema músculo esquelético decorrente da
inatividade física. Por isso, justifica-se o uso de substâncias simbióticas que
em associação com exercícios físicos estimulam, através da contração muscular,
a produção de interleucina-6 (IL-6), que promove um ambiente anti-inflamatório
[26], capaz de melhorar a transmissão do sinal insulínico [31].
No entanto, no estudo
de Marques et al. [33], encontrou-se uma redução
significante na IL-6 decorrente do treinamento físico. Da mesma forma, vários
estudos [26,27,29,32,34] evidenciaram que houve uma
alteração positiva da composição corporal, a qual não foi acompanhada por
melhora das concentrações de IL-6, tendo um relacionamento com a obesidade. No
estudo [30] a permeabilidade ao intestino dos pacientes aumentou
significativamente.
O exercício físico,
se não provocar dano, lesão muscular, vai ter na entidade a curva sem a parte
inicial, sem TNF-α e a interleucina 1 Beta,
aumentando a interleucina-6 e da interleucina 10, por essa razão o exercício
físico é reportado claramente na literatura como promotor do efeito
anti-inflamatório [35].
O
uso de substâncias
simbióticas diminui riscos de infecções por
patógenos, o que pode causar
doenças que também contribuem para a ação
no sistema imunológico [26]. As
correlações entre exercício físico e
suplementação de probióticos mostram
resultados satisfatórios. No entanto, no Brasil, os
pesquisadores envolvidos
com essa temática ainda estão iniciando seus estudos.
Dessa forma, este artigo
objetiva mostrar novas perspectivas acerca deste assunto, além
de promover a
disseminação e discussão de trabalhos mais
recentes sobre a microbiota e sua
relação com o exercício físico e sua
atuação sobre a saúde imunológica. Com
isso, há possibilidade de ter resultados positivos, porém
sugere-se que mais
estudos sejam realizados.
Neste estudo
conclui-se que os exercícios físicos combinados com alimentação de substâncias
simbióticas parecem ser eficazes beneficiando a população idosa obesa. Mais
estudos serão necessários para outras etapas intermediárias dos efeitos dos
exercícios físicos junto com a composição da microbiota e a inflamação.