Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(4):205-13
doi: 10.33233/rbfe.v17i4.1919ARTIGO
ORIGINAL
Influência
das aulas de movimento e expressão corporal na motricidade global e equilíbrio
em crianças de 3 a 5 anos do SESC Escola Horto
Influence of classes of movement and body expression in global motricity and balance in 3-5 year old children of SESC Horto School
Kalinca dos Anjos Silva*,
Leonardo Emmanuel Medeiros Lima**, Gildiney Penaves de Alencar***
*Graduação
em Educação Física (UNIGRAN/MS), Estagiária do Programa Especial de Bolsa de
Estágio (SESC/MS), **Docente na Universidade Anhembi Morumbi no curso de
Educação Física, Professor convidado de cursos de pós-graduações na FMU,
Estácio de Sá, Instituto de Educação e Pesquisa Alfredo Torres, ENAF, CEAT,
Anhanguera, CEFIT e UNICID, Grupo de Pesquisa em Performance
Humana da Universidade Anhembi Morumbi, ***Graduação em Educação Física
(UCDB/MS), Especialização em Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo
(IEPAT/MS), Mestrando em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste (UFMS),
Professor de Educação Física no Serviço Social do Comércio (SESC/MS), Professor
Tutor Presencial na Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) polo de Campo
Grande/MS, Supervisor do Programa Especial de Bolsa de Estágio no Serviço
Social do Comércio (SESC/MS)
Recebido em 8 de janeiro de 2018; aceito em 28 de agosto de 2018.
Endereço
para correspondência:
Gildiney Penaves de
Alencar, Rua Major Giovani Francisco Nadalin, 470
Oscar Salazar 79017-532 Campo Grande MS, E-mail: gildiney.gpa@gmail.com; Leonardo Emmanuel Medeiros Lima:
leonardolimadocente@gmail.com; Kalinca dos Anjos
Silva: kalincajensen@gmail.com
Resumo
A Educação Física
dentro da Educação Infantil assume um papel importante para levar o estímulo
integral do seu aluno, seja no aspecto físico, psicológico, intelectual e
social. O objetivo desta pesquisa foi verificar a influência das aulas de
Movimento e Expressão Corporal na motricidade global e equilíbrio em crianças
de 3 a 5 anos do Sesc Escola Horto. Trata-se de uma
pesquisa descritiva, quantitativa e longitudinal. A amostra foi composta por 42
crianças (4,48 ± 0,63 anos) que realizaram os testes da motricidade global e
equilíbrio da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) no mês de maio e o reteste em setembro e outubro de 2017. Foi aplicada a
quantidade de 30, 31 e 32 aulas de Movimento e Expressão Corporal com os alunos
de 3, 4 e 5 anos, respectivamente, no período entre o teste e o reteste, sendo definida a idade motora inicial e idade
motora final das crianças e realizadas as comparações entre essas idades e a
idade cronológica em relação à motricidade global e equilíbrio através do Software Graphpad Prism 6.0, tendo como critério de significância p ≤
0,05. Observamos que a idade motora final se mantém diferente estatisticamente
da idade cronológica e da idade motora inicial, tanto para a motricidade global
(p < 0,0001) quanto para o equilíbrio (p<0,0001). Ainda, somente para o
equilíbrio houve uma diferença estatisticamente significativa entre a idade
cronológica e a idade motora inicial (p = 0,0125). Os resultados mostraram que
a quantidade de 30, 31 e 32 aulas entre o teste e reteste
ocorreu um avanço significativo na idade motora inicial para a final do grupo
como um todo e nas turmas, nos elementos básicos do desenvolvimento motor
avaliados da motricidade global e equilíbrio.
Palavras-chave: educação física;
educação infantil; movimento.
Abstract
The Physical Education within the Infantile Education plays an important
role to achieve integral stimulus of the student, can be in the physical,
psychological, intellectual and social aspect. The objective of this research
was to verify the influence of the classes of Movement and Body Expression in
the global motricity and balance in children from 3
to 5 years of Sesc Escola Horto. This is a descriptive, quantitative and longitudinal
research. The sample consisted of 42 children (4.48 ± 0.63 years) who carried
out the tests of the global motor and balance of the Motor Development Scale
(EDM) in the month of May and the retest in September and October 2017. They
were applied the number of 30, 31 and 32 classes of Movement and Body
Expression with the students of 3, 4 and 5 years, respectively, in the period
between the test and the retest, being defined the initial motor age and final
motor age of the children and performed the comparisons between these ages and
the chronological age in relation to the global motricity
and balance through the Graphpad Prism 6.0 Software, having
as criterion of significance p≤0.05. We observed that final motor age
remained statistically different from chronological age and initial motor age,
both for global motor (p<0.0001) and for balance (p<0.0001). Still, for
balance alone there was a statistically significant difference between
chronological age and initial motor age (p=0.0125). The results showed that the
amount of 30, 31 and 32 classes between the test and retest produced a
significant advance in the initial motor age for the final of the group as a
whole and in the classes, in the basic motor development elements evaluated of
the global motor and balance.
Keywords: physical
education; child education; movement.
A Educação Infantil
vem sendo um importante objeto de estudo no cenário atual, pelo fato de ser uma
fase da vida que deve ser tratada de forma cautelosa, de maneira a desenvolver
o aluno integralmente, seja no aspecto físico, psicológico, intelectual e
social, sendo uma das etapas da Educação Básica [1]. Seguindo esta linha de
pensamento, a Educação Física dentro da Educação Infantil assume um papel
importante para incitar diferentes tipos de atividades, capazes de levar o
estímulo de todos os aspectos mencionados anteriormente e cumprindo o objetivo
previsto nas Leis de Diretrizes e Bases [1].
De acordo com a
Proposta Pedagógica da Educação Infantil do Serviço Social do Comércio “o
movimento está presente em todos os momentos da vida das crianças, quer seja
nas atividades que tenham como foco, [...] quer seja na vida cotidiana”. Com
isso, o movimento é uma das principais atividades a serem trabalhadas com as
crianças nesta faixa etária, tendo de ser planejado e estruturado para que
atinjam os objetivos propostos [2].
Na unidade escolar
denominada Sesc Escola Horto, a Educação Física leva
como nome de componente curricular de Movimento e Expressão Corporal, já que
envolve o movimento e a expressão através das manifestações corporais [2].
Dentro das aulas, o desenvolvimento motor e seus elementos são levados em
consideração, sendo estimulados em constância, desde movimentos mais amplos e
de fácil realização quanto os mais complexos [3], envolvendo também situações
de equilíbrio [4,5].
Rosa Neto [3]
menciona que o desenvolvimento está presente desde a gravidez, dando sinais de
vida ao mundo exterior, através da atividade motora. Ainda, Gallahue
e Ozmun [6] citam que é um processo que se inicia
dentro da barriga e termina, apenas, na morte.
Um dos elementos do
desenvolvimento motor, a motricidade global é entendida como movimentos
dinâmicos realizados que envolvem o controle dos grandes músculos nos
movimentos mais amplos. Durante as brincadeiras, as crianças correm, saltam e
realizam diversas maneiras de movimentações, envolvendo a utilização da
musculatura de maneira global e, durante as aulas de Educação Física, é
importante permitir que a criança experimente a diversidade de movimentos,
respeitando sua individualidade [3].
Outro elemento que
também é bastante trabalhado durante as aulas de Educação Física dentro da
Educação Infantil é o equilíbrio, que envolve características da capacidade do
indivíduo manter uma posição em relação à força da gravidade, mantendo ou
recolocando o centro de sua massa corporal sobre sua base de apoio [4].
Antes de obter
equilíbrio, a criança reage com reflexos aos diversos estímulos proporcionados,
adotando apenas posturas. Assim, é de extrema importância que o professor
realize atividades que desenvolvam o equilíbrio, pois este tem um papel fundamental
no desenvolvimento motor, e contribui para que a criança tenha capacidade de
realizar movimentos harmônicos que pouparão energia durante atividades paradas
ou atividades em movimento [3].
Neste sentido, o
objetivo da pesquisa foi verificar a influência das aulas de Movimento e
Expressão Corporal na motricidade global e equilíbrio em crianças de 3 a 5 anos
do Sesc Escola Horto. Acredita-se que a Educação
Física na Educação Infantil pode influenciar positivamente no desenvolvimento
motor das crianças pela rica gama de experiência motora que as mesmas podem
vivenciar [7].
Ainda, este estudo
pode ajudar professores de Educação Física a aperfeiçoarem o processo de
ensino-aprendizagem do desenvolvimento motor e componentes como a motricidade
global e equilíbrio, elementos essenciais das crianças nesta faixa etária
trabalhada na Educação Infantil.
A pesquisa em questão
é descritiva [8], quantitativa [9-10] e de caráter longitudinal [11].
Participaram do estudo 42 crianças (4,48 ± 0,63 anos), uma turma de cada nível
de ensino da Educação Infantil, sendo elas matriculadas no Nível I B (3,63 ± 0,52
anos), Nível II C (4,15 ± 0,38 anos) e Nível III B (5,00 ± 0,00 anos) da
Educação Infantil do Sesc Escola Horto e frequentes às
aulas do componente curricular de Movimento e Expressão Corporal, nome dado à
disciplina de Educação Física.
Foram realizados
testes específicos para a avaliação da motricidade global e equilíbrio com base
na Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Rosa Neto [3], em que cada teste
possui graus de dificuldade distintos entre si e são apresentados em ordem de
aumento progressivo, sendo a tarefa de 2 anos a mais
simples e a tarefa de 11 anos a mais complexa. A criança iniciou o teste de
acordo com a idade cronológica e seguiu a complexidade dos testes conforme foi
executando o exercício proposto até a sua falha, avançando nos testes de cada
faixa etária, a fim de verificar a idade motora e, caso a criança não
conseguisse cumprir o teste da respectiva idade cronológica, esta realizou o
teste da idade anterior.
Para avaliar a
motricidade global, as crianças seguiram o protocolo da EDM que possui os
seguintes testes de acordo com a faixa etária: a) 2
anos – subir, com apoio, e descer de um banco de 15 centímetros de altura
situado ao lado de uma parede; b) 3 anos – saltar sobre uma corda estendida ao
solo, com os pés juntos; c) 4 anos – dar saltos, sete ou oito sucessivamente,
sobre o mesmo lugar com as pernas ligeiramente flexionadas; d) 5 anos – saltar,
sem impulso, uma altura de 20 centímetros; e) 6 anos – caminhar 2 metros em
linha reta com os olhos abertos; f) 7 anos – com os olhos abertos, saltar ao
longo de uma distância de 5 metros com a perna esquerda, a direita flexionada
em ângulo reto com o joelho, os braços relaxados ao longo do corpo. Após um
descanso de 30 segundos, o mesmo exercício com a outra perna; g) 8 anos – com os pés juntos, saltar sem impulso uma altura de
40 centímetros; h) 9 anos – saltar no ar, flexionar os joelhos para tocar os
calcanhares com as mãos; i) 10 anos – joelho flexionado em ângulo reto, braços
relaxados ao longo do corpo. A 25 centímetros do pé que repousa no solo se
coloca uma caixa de fósforos. A criança deve levá-la impulsionando-a com o pé
até o ponto situado a 5 metros; j) saltar sobre uma cadeira de 45 centímetros a
50 centímetros com uma distância de 50 centímetros da mesma. O encosto é
sustentado pelo examinador [3].
Para a avaliação do
equilíbrio seguiu-se da mesma maneira que os testes da motricidade global, de
acordo com a faixa etária: a) 2 anos – sobre um banco
de 15 centímetros de altura, a criança deve se manter imóvel durante 10
segundos, pés juntos e braços relaxados ao longo do corpo; b) 3 anos – braços
ao longo do corpo, pés juntos, apoiar um joelho no chão sem mover os braços ou
o outro pé. Manter esta posição durante 10 segundos, com o tronco ereto, sem
sentar-se sobre o calcanhar. Após 20 segundos de descanso, o mesmo exercício
com a outra perna; c) 4 anos – Com os olhos abertos,
pés juntos, mãos apoiadas nas costas: flexionar o tronco em ângulo reto e
manter esta posição durante 10 segundos; d) 5 anos – Manter-se sobre a ponta
dos pés, olhos abertos, braços ao longo do corpo, pés e pernas juntos durante
10 segundos; e) 6 anos – Com os olhos abertos, manter-se sobre a perna direita
durante 10 segundos, a outra permanecerá flexionada em ângulo reto, coxa paralela
à direita e ligeiramente em abdução, braços ao longo do corpo. Fazer um
descanso de 30 segundos, o mesmo exercício com a outra perna; f) 7 anos – Durante 15 segundos, manter-se sobre o pé esquerdo,
a planta do pé direito apoiada na face interna do joelho esquerdo, mãos fixadas
nas coxas, olhos abertos. Após um descanso de 30 segundos, executar o mesmo
movimento com a outra perna; g) 8 anos – manter-se de
cócoras no tempo de 10 segundos, braços estendidos lateralmente, olhos
fechados, calcanhares e pés juntos; h) 9 anos – Durante 10 segundos e com os
olhos abertos, mãos nas costas, elevar-se sobre as pontas dos pés e flexionar o
tronco em ângulo reto (pernas retas); i) 10 anos – manter-se sobre a ponta dos
pés durante 15 segundos, olhos fechado, braços ao longo do corpo, pés e pernas
juntas; j) 11 anos – Com os olhos fechados no período de 10 segundos, manter-se
sobre a perna direita, o joelho esquerdo flexionado em ângulo reto, coxa
esquerda paralela à direita e em ligeira abdução, braços ao longo do corpo. Após
30 segundos de descanso, repetir o mesmo exercício com a outra perna [3].
Com os alunos do
Nível I B (3,63 ± 0,52 anos), o teste foi aplicado no dia 11 de maio de 2017 e
o reteste aplicado no dia 28 de setembro de 2017,
sendo aplicadas 31 aulas de Movimento e Expressão Corporal. Já com o Nível II C
(4,15 ± 0,38 anos), o teste foi realizado no dia 18 de maio de 2017 e o reteste no dia 05 de outubro de 2017, totalizando 30 aulas
dadas. No Nível III B (5,00 ± 0,00 anos), o teste foi feito no dia 09 de maio
de 2017 e o reteste no dia 26 de setembro de 2017,
com o total de 32 aulas dadas, conforme exposto na tabela a seguir (tabela I).
Tabela
I - Data do teste, reteste,
número de aulas dadas e quantidade de crianças avaliadas por turma e total
Fonte: Dados da
pesquisa
Todos os pais e
responsáveis por cada criança foram informados sobre os objetivos e
procedimentos do estudo, os quais assinaram duas vias de igual teor do Termo de
Consentimento Livre Esclarecido de Participação das Crianças, autorizando a
aplicação dos testes e utilização dos dados, conforme preconiza a resolução nº
466/2012 do Ministério da Saúde [12].
Foram comparados os
dados referentes à idade cronológica, idade motora inicial obtida no teste e
idade motora final obtida no reteste de cada turma
entre os alunos e entre as turmas durante o período, não comparando os meninos
e meninas, considerando que nesta faixa etária o desenvolvimento motor está
equiparado entre os sexos [3-6]. O tratamento estatístico dos dados seguiu as
orientações de Callegari-Jacques [13] e Vieira [14], utilizando o Software Graphpad Prism 6.0 (Graphpad Software, Califórnia) e aplicado o Test t
paramétrico - pareado de Gosset para a comparação das médias das idades obtidas
(cronológica, motora inicial, motora final), considerando a margem de erro e
desvio padrão, tendo como critério de significância p ≤ 0,05.
Participaram do
estudo 42 crianças, sendo elas 08 crianças do Nível I B (3,63 ± 0,52 anos), 13
crianças do Nível II C (4,15 ± 0,38 anos) e 21 crianças do Nível III B (5,00 ±
0,00 anos).
Quando analisada a
motricidade global no Nível I B, observamos de acordo com as análises que a
idade cronológica pouco difere da idade motora inicial, sem significância (p =
0,1036), mesmo que a idade motora inicial (3 anos e 1
mês) tenha se apresentado inferior à idade cronológica (3 anos e 7 meses),
demostrando um certo nível de atraso. Entretanto, tanto a idade cronológica (3 anos e 7 meses) quanto a idade motora inicial (3 anos e 1
mês) se diferem significativamente da idade motora final (4 anos e 7 meses),
demonstrando um avanço na idade motora das crianças (p = 0,0072ª e p=0,0001b,
respectivamente).
Encontramos
resultados parecidos com as crianças do Nível II C, no qual a idade cronológica
(4 anos e 2 meses), mesmo sendo inferior, não
apresenta diferença significativa em relação à idade motora inicial (4 anos e 4
meses; p=0,1902), a idade cronológica (4 anos e 2 meses) e a idade motora
inicial (4 anos e 4 meses) são estatisticamente significantes em relação à
idade motora final (6 anos), mostrando também um avanço significativo
(p < 0,0001b; p < 0,0001b, respectivamente).
Já no nível III B,
observa-se que a idade cronológica (5 anos) se
apresentou estatisticamente diferente da idade motora inicial (4 anos e 9
meses; p=0,0423c), a idade cronológica (5 anos) estatisticamente
diferente da idade motora final (6 anos e 5 meses; p < 0,0001b) e a
idade motora inicial (4 anos e 9 meses) difere significativamente da idade
final (6 anos e 5 meses; p<0,0001b), conforme dados apresentados
na Tabela II.
Tabela
II – Idade cronológica, idade
motora inicial e idade motora final das crianças em relação à motricidade
global (n = 42)
Significância
estatística p = 0,0072a; p < 0,0001b; p = 0,0423c
Em relação ao
equilíbrio, foi possível observar que na turma do Nível I B a idade cronológica
pouco difere da idade motora inicial, sem significância (p = 0,1705). Porém,
tanto a idade cronológica (p = 0,0331d) quanto a
idade motora inicial apresentam diferença estaticamente significativa em
relação à idade motora final (p = 0,01999e).
No Nível II C,
verificam-se resultados parecidos, a idade cronológica não apresenta diferença
significativa em relação à idade motora inicial (p=1,0000), mas a idade
cronológica (p=0,0004f) e a idade motora inicial são
estatisticamente significantes em relação à idade motora final (p = 0,0019g).
Já no nível III B,
observa-se que a idade cronológica se apresentou estatisticamente diferente da
idade motora inicial (p = 0,0143h), a idade cronológica da final
(p < 0,0001i) e a idade motora inicial se difere significativamente
da idade motora final (p < 0,0001i), resultados expressados na
tabela a seguir (Tabela III).
Tabela
III
– Idade cronológica,
idade motora inicial e idade motora final das crianças em relação ao
equilíbrio (n = 42)
Significância
estatística p = 0,0331d; p = 0,01999e; p = 0,0004f; p = 0,0019g; p = 0,0143h;
p < 0,0001i
Quando avaliamos o
grupo como um todo (n=42), observamos que a idade motora final se mantém
diferente estatisticamente da idade cronológica e da idade motora inicial,
tanto para a motricidade global (p<0,0001), representadas no Gráfico 1, quanto para o equilíbrio (p<0,0001), no Gráfico 2.
Gráfico
1 – Diferença entre idade cronológica, motora
inicial (teste) e motora final (reteste) no grupo
como um todo para a motricidade global (n = 42)
Observamos ainda que
somente para o equilíbrio houve uma diferença estatisticamente significativa
entre a idade cronológica e a idade motora inicial (*p = 0,0125) representada no
Gráfico 2.
Gráfico
2 – Diferença entre idade cronológica, motora inicial
(teste) e motora final (reteste) no grupo como um
todo para o equilíbrio (n = 42)
O objetivo desta
pesquisa foi verificar a influência das aulas de Movimento e Expressão Corporal
na motricidade global e equilíbrio em crianças de 3 a 5 anos do Sesc Escola Horto. A hipótese foi corroborada, a Educação
Física na Educação Infantil influencia, positivamente, o desenvolvimento motor
das crianças pela rica gama de experiência motora que as mesmas podem vivenciar
[7,15].
Os achados desta
pesquisa vão ao encontro com o estudo realizado por Caetano, Silveira e Gobbi [16] quando diz respeito à motricidade global, pois,
na primeira avaliação realizada, as idades motoras das 35 crianças, que
participaram do estudo, correspondiam às idades cronológicas e, na segunda
avaliação, após 13 meses, as idades motoras apresentaram-se superiores às
idades cronológicas. Os autores explicaram o avanço dos resultados com os
fatores crescimento, maturação e com os estímulos dados na escola, que contribuem
com o desenvolvimento da motricidade global, o que também pode ser visível com
as crianças avaliadas na nossa pesquisa.
Outro estudo foi
realizado com crianças na faixa etária de 6 a 7 anos, também, com a intenção de
avaliar a motricidade global e demonstrar a importância dos jogos pré-desportivos nesta idade. Após quatro meses de aulas
voltadas com este objetivo os autores perceberam uma melhora significativa na
maioria das crianças, mostrando que as aulas de Educação Física com este enfoque
nesta faixa etária produz resultados significativos, uma possibilidade lúdica
para estas crianças, o que torna a aula mais atraente, algo a ser pensado
também com os alunos de 6 anos da Educação Infantil
[17].
A infância representa
uma etapa, extremamente, importante no caminho da maturidade para a vida adulta
e, por essa razão, se faz necessário garantir que, nesta etapa, a criança
vivencie atividades que estimularão o desenvolvimento motor, o que será
fundamental na vida adulta [6,18]. Caso a criança não seja estimulada durante
os primeiros seis anos de vida, terá reflexos negativos em sua vida adulta,
pois as habilidades aprendidas nesta fase inicial são aperfeiçoadas com o
crescimento [19].
Mesmo para aquelas
crianças que possuem determinado atraso no desenvolvimento psicomotor, as aulas
de Educação Física podem proporcionar resultados positivos e eficazes na
motricidade global [20], desde que bem acompanhadas e planejadas, como mostra a
pesquisa de Maronesi et al. [21], tendo como estratégias de intervenção as atividades
lúdicas corporais que estimulam tal desenvolvimento.
Fatores que podem
influenciar no desenvolvimento motor das crianças na faixa etária avaliada
neste estudo dizem respeito ao gênero e à idade, como mostra o estudo de
Oliveira, Oliveira e Cattuzzo [22]. Em relação ao
fator idade, foi possível perceber que as crianças mais velhas avaliadas
conseguiram obter melhores resultados nos testes aplicados nesta pesquisa.
Neste sentido, as
experiências motoras vivenciadas na escola contribuem na parte motora [23-24],
ganhando destaque no decorrer do período das fases iniciais do desenvolvimento
da criança [17,25] e deve ser realizado um programa interventivo que estimule o
desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais [26], sendo este um dos
principais objetivos das aulas de Movimento e Expressão Corporal [2].
No estudo de campo
quantitativo longitudinal realizado por Costa e Silva [27], que objetivou
investigar o desenvolvimento motor em crianças de uma escola da rede particular
de ensino de Cuiabá/MT, com a amostra de 14 crianças da educação infantil e 30
meses entre teste e reteste, os autores observaram
que houve uma pequena melhora no desenvolvimento da motricidade global, não
apresentando diferença estatisticamente significativa entre as médias. Os
autores constataram que a melhora dos resultados pode ser explicada pelo fato
da corrida ser a principal atividade realizada no ambiente escolar, pois tal
atividade exige a participação de grandes grupos musculares, além de ser
prazeroso para a criança e de fácil execução.
Em relação ao
equilíbrio, no mesmo estudo feito por Costa e Silva [27] com a Escala de
Desenvolvimento Motor [3], foi investigada uma amostra de crianças matriculadas
na Educação Infantil que tinham apenas uma aula semanal de Educação Física e o
grupo apresentou a média do reteste (83,9773)
inferior à média do teste (84,1618), sendo encontrada uma estabilização no
desenvolvimento, sem avanço ou atraso.
De acordo com Gallahue e Ozmun [28], “o
equilíbrio é crítico em todo o comportamento motor e é influenciado por uma
variedade de estímulos sensitivos”, confirmado no estudo de Alves et al. [29]. Assim, a vivência da criança com experiências
motoras dentro do ambiente escolar vai permiti-la realizar tarefas de
equilíbrio com sucesso, contribuindo significativamente com seu desenvolvimento
[18,28] e consequentemente influenciando nas suas atividades de vida diária
[30].
Na pesquisa realizada
por Caetano, Silveira e Gobbi [16], os autores
constataram que para o equilíbrio, na primeira avaliação das 35 crianças que
participaram do estudo não foram localizadas diferenças significativas entre os
grupos de 3 a 7 anos. Na segunda avaliação, os autores encontraram diferenças
na idade motora entre os grupos, obtendo uma melhora significativa nos grupos
de 5 anos e 7 anos, e uma queda nos resultados do
grupo de 6 anos.
De acordo com os
autores, a queda dos resultados obtidos no grupo de 6
anos pode ser justificada pelo fato da criança não ter vivenciado experiências
motoras suficientes que contribuíssem com a melhora e desenvolvimento do
equilíbrio. Ainda, o avanço dos outros grupos se deu ao estímulo suficiente
para o período de 13 meses, de modo que ocorreu um aumento da idade motora,
ultrapassando inclusive a idade cronológica, e fatores de crescimento,
maturação e experiências motoras [16].
Contudo, verifica-se
que os estímulos realizados com os alunos avaliados em nosso estudo foram
satisfatórios para promover um desenvolvimento significativo do equilíbrio,
mesmo pelo pouco tempo de estímulo. Um fator que pode ter contribuído neste
avanço da idade motora foi a quantidade de duas aulas
semanais, pois o aluno repetia o estímulo na primeira aula da semana,
aperfeiçoando os movimentos realizados na aula anterior, motivando os alunos a
buscarem sempre o melhor desempenho [31].
Ainda, os resultados
apontam que a melhora deste desenvolvimento poderia ter sido ainda melhor, caso
a quantidade de aulas semanais fossem superiores e o tempo entre o teste e reteste fosse maior [32]. Mesmo assim, a quantidade de 30,
31 e 32 aulas aplicadas no Nível I, Nível II e Nível III, respectivamente,
foram adequadas para obter um resultado estaticamente significativo para
desenvolver esses dois elementos básicos investigados na pesquisa.
As aulas de Movimento
e Expressão Corporal ofertadas aos alunos da Educação Infantil do Sesc Escola Horto oferecem a oportunidade de conhecerem suas
possibilidades motoras e desenvolverem a autoestima [2]. Os planejamentos são
desenvolvidos com o objetivo de propiciar ao aluno compreender a importância da
linguagem corporal, e utilizá-la em diferentes situações, aprendendo a cuidar
de si e do próprio corpo, alcançando habilidades e a criatividade, sempre
conduzidas por um professor de Educação Física [33]. As dinâmicas são
desenvolvidas de acordo com a necessidade de cada grupo, por meio de atividades
em roda, corrida com velocidade, corrida com barreira, atividade com corda,
circuitos motores, experimentação de movimentos com pneus, mini
trampolins, arcos, entre outras atividades que permitem ao aluno
diversas formas de exploração motora através dos jogos, brincadeiras e a
ludicidade [34].
Os resultados
mostraram que a quantidade de 30, 31 e 32 aulas entre o teste e reteste ocorreu um avanço significativo na idade motora
inicial para a final do grupo como um todo e nas turmas, nos elementos básicos
do desenvolvimento motor avaliados da motricidade global e equilíbrio. Este
fato evidencia a influência positiva que as aulas de Movimento e Expressão
Corporal e os estímulos ofertados têm sobre o desenvolvimento motor da criança.
Estas informações sugerem que se a quantidade de aulas e estímulos for maior,
será possível observar um melhor desenvolvimento das habilidades básicas.
Ainda, a Escala de
Desenvolvimento Motor pode ser muito importante e pode contribuir de forma
positiva durante o diagnóstico do desenvolvimento motor infantil. Essa
avaliação deve ser contínua, a fim de mensurar e proporcionar à criança o
desenvolvimento de suas habilidades, considerando os fatores individuais, da
tarefa e do ambiente.