Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(1):34-7
doi: 10.33233/rbfe.v17i1.2083ARTIGO
ORIGINAL
Prevalência
de lesões em surfistas amadores da região da Baixada Santista
Prevalence of injuries in amateur surfers at Santos Brazil
Adilson Junior*,
Fabricio Madureira*, Dilmar Pinto Guedes Jr*, Rodrigo
Pereira*
*Universidade
Metropolitana de Santos – UNIMES/ FEFIS
Recebido em 25 de
janeiro de 2018; aceito em 30 de março de 2018.
Endereço
para correspondência:
Adilson Junior: adilson.jrsurf@gmail.com; Fabricio Madureira:
shark_jaws@hotmail.com; Dilmar Pinto Guedes Jr:
ciadofisicodilma@uol.com.br; Rodrigo Pereira: r.pereirads@hotmail.com
Resumo
Atualmente, o surfe
tem um expressivo número de praticantes no Brasil e existem pessoas praticando
o esporte em todos os tipos de ondas e locais. O aumento da popularidade do
esporte e a evolução da prancha, nos últimos anos, aumentam a probabilidade de
lesões. O objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência de lesões
relatadas por surfistas amadores durante sua experiência esportiva. O estudo
foi realizado na cidade de São Vicente/SP e participaram do estudo 19 surfistas.
Cada participante respondeu a um questionário sobre as lesões que havia sofrido
durante todo o período de prática desta modalidade. Foram encontradas 17 lesões
entre todos os participantes, dois que nunca se lesionaram e o ferimento
contusão foi a lesão com maior ocorrência. Concluiu-se
que grande parte das lesões encontradas ocorrem devido
ao contato com o próprio equipamento, entretanto, os fatores externos também
tiveram contribuição no número de lesões.
Palavras-chave: prevalência lesões; surf.
Abstract
Currently surfing has an expressive number of practitioners in Brazil
and there are people practicing the sport in all kinds of waves and places. The
increased popularity of the sport and the evolution of the board in recent
years increase the likelihood of injury. The objective of the present study was
to investigate the prevalence of injuries reported by recreational surfers. The
study was carried out in the city of São Vicente/SP and participants of the
study were 19 surfers. Each participant answered a questionnaire about the
injuries suffered during the practice of this modality. There were 17 injuries
among all participants, two that were never injured and the contusion injury
was the most frequent lesion. We concluded that most of the injuries occur due
to the contact with the equipment itself, however, the
external factors also had a contribution in the number of injuries.
Keywords: prevalence
injuries; surf.
Segundo dados da International Surfing Association (ISA) [1], [U1] o surf é um esporte com
cerca de 35 milhões de praticantes distribuídos por todo planeta, divididos
entre 81% de homens e 19% de mulheres. As Américas ficam com a maior parte dos
praticantes com 13,5 milhões de surfistas, já o Brasil possui cerca de 3 milhões de surfistas, talvez devido a sua enorme costa
litorânea que favorece a prática desse esporte e ao sucesso dos últimos
surfistas brasileiros campeões mundiais. De acordo com a ISA, são reconhecidas 6 modalidades: surfboard, longboard, skimboard, bodyboard, kneeboard e bodysurf [2].
Cada esporte
necessita de alguns tipos de equipamentos e no surf isso não é diferente, com o
passar dos anos vem surgindo uma variedade de pranchas e quilhas com vários
formatos e tamanhos, que são desenvolvidas de acordo com o grau de habilidade
de cada praticante. Esta especificidade além de tornar a modalidade mais
dinâmica, é também produzida com propósitos de aumentar a segurança do
surfista, como no estudo de Steinman et al. [3] que há sugestões de campanhas
preventivas que enfatizam a importância do uso de protetores de bico da
prancha, da utilização de rabetas, bicos menos
pontiagudos e quilhas feitas com materiais emborrachados. A cada ano, alguns
fabricantes estão desenvolvendo pranchas muito mais velozes e progressivas o
que pode proporcionar ao praticante uma maior variedade de manobras e com isso
podendo aumentar o risco de lesões. No estudo de Base et al. [4], do total das lesões encontradas a que teve maior
prevalência foi o ferimento corto-contuso, o mecanismo para esse tipo de lesão
foi o choque com a própria prancha em 64,2% dos casos.
Outros fatores que
podem interferir na integridade física dos surfistas são as condições
climáticas, pois a todo momento o surfista está
exposto a mudanças de marés, correntes marítimas, ventos, raios solares,
temperatura da água, tamanho das ondas, tipos de fundo e animais marinhos. No
estudo de Almeida et al. [5] o contato com o banco de
areia foi a principal causa das lesões agudas, seguido de fundo de pedra, fundo
misto (pedra e areia), fundo de coral e outros tipos de fundo. Ainda no mesmo
estudo foram relatadas lesões devido a altura das
ondas. As ondas de altura menor à altura do surfista foram as mais lesivas
42,7%, menos frequentes foram as lesões agudas em ondas de altura maior que a
altura do surfista 30,1%, igual a altura do surfista
13,8% e por fim 7,7% proporcionalmente a altura do surfista.
Dos estudos
investigados, uma das principais causas de lesões é o contato com o próprio
equipamento (prancha), como no estudo de Base et al. [4] no qual a colisão com a prancha foi a principal causa de
lesões, seguida das manobras. Já no estudo de Garrett et
al. [6], investigaram-se lesões de surfistas em membros inferiores, a entorse
de joelho grau III foi a principal lesão encontrada com 29,2% dos casos, 16,7%
apresentaram lesões de menisco, 16,7% corto-contuso, 8,3% fratura de hálux e 8,3% estiramento muscular. Já os resultados de Chueiri et al. [7], que analizaram a prevalência de lesões em surfista do litoral
paranaense, as lesões mais frequentes foram as contusões, seguida de lacerações
e queimaduras, lesões musculo-ligamentares e entorses.
O surf é um esporte
que requer elevado nível de habilidade neuromuscular e equilíbrio, envolvendo
movimentos dos membros superiores, inferiores e da região do tronco. Apesar de
ser considerado esporte com pouco ou nenhum contato físico com outros
surfistas, representa risco de lesões principalmente devido à possibilidade de
exigências musculares do gesto esportivo e as pranchas que se tornaram mais
velozes e com melhor hidrodinâmica, o que propiciou maior diversidade de
manobras, colocando a relação surfista e equipamento em situações mais extremas
de interação.
Objetivo
Investigar a
prevalência de lesões em surfistas amadores da região da Baixada Santista.
A pesquisa foi
realizada nas cidades de Santos/SP e de São Vicente/SP, e participaram deste
estudo 19 surfistas do sexo masculino com idade entre 15 e 57 anos, com média
de 21,1 anos de prática nessa modalidade esportiva. Dos surfistas avaliados, 17
deles usam shortboard e 2 longboard. Cada participante assinou um termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE), para, então, responder a um
questionário fechado. O instrumento de avaliação foi aplicado pelo próprio
pesquisador contendo perguntas como: tempo e frequência de prática da
modalidade, histórico de lesões caracterizando o tipo, local e como ocorreu. As
lesões foram divididas conforme o tipo, sendo diferenciadas como fratura,
entorse, estiramento, corte, queimadura, contusão e aqueles que nunca se
lesionaram surfando e também em relação a topografia:
cabeça, tronco, membros superiores e membros inferiores. Os resultados estão
apresentados de forma descritiva para os dados absolutos e relativos da frequência
de respostas.
Tabela
I - Descrição dos dados antropométricos, tempo
de prática em anos, frequência semanal e tempo de prática dos avaliados
Os dados estão em
forma de média e desvio padrão (D.P.); Índice de massa corporal (IMC)
Tabela
II -
Causa das lesões dos surfistas avaliados
Os dados estão em
forma de ocorrências absolutas e relativas (%) lesão por esforço repetitivo
(LER)
Tabela
III
- Tipo e frequência das lesões da amostra
avaliada
Os dados estão em
forma de ocorrências absolutas e relativas (%).
Tabela
IV -
Região anatômica mais acometida na
amostra de surfistas
Os dados estão em
forma de ocorrências absolutas e relativas (%)
Do total de lesões
encontradas no presente estudo, a que teve maior prevalência entre todos os
participantes foi a lesão contusão, a parte do corpo
mais acometida foram os ombros, o mecanismo para esse tipo de lesão foi a
colisão com a própria prancha.
No estudo realizado
por Base et al. [4], durante uma etapa do
campeonato brasileiro de surf profissional, foi encontrado um total de 112
lesões entre todos os participantes, e constatou-se que dos agentes causais a
prancha foi a maior responsável por ferimentos corto-contuso, 50,6%, e
contusões, 31,6%. O presente estudo corroborou os dados supracitados
apresentando os ferimentos de contusão e corte como as lesões de maior
incidência, especificamente o contato com a própria prancha foi a principal
causa de lesões entre os surfistas.
No estudo de Chueiri et al. [7] foi
investigada a análise da prevalência de lesões em surfistas do litoral
paranaense, participaram da pesquisa três categorias de surfistas, entre eles,
profissional, amador e recreacional. Ao total foram
encontradas 387 lesões entre todos os surfistas avaliados. As lesões mais
frequentes foram as contusões 29%, seguidas de
lacerações e queimaduras 23% cada, lesões músculo-ligamentares e entorses 9%
cada, luxação 4% e outras lesões 2%. A região anatômica mais acometida foram os
membros inferiores 46%, especialmente pernas 26% e pés 20%, seguidos dos
membros superiores 22%, cabeça/pescoço 16% e tronco 15%. Entretanto, no
presente estudo, a região do corpo com maior número de lesões foram os membros
superiores ombro 24%, boca 16%, pescoço 12% e braço 6%.
No trabalho de Steinman et al. [3] que
trata sobre epidemiologia dos acidentes no surf no Brasil, a lesão classificada
como corte foi a que teve maior prevalência (44%), as regiões do corpo mais
acometidas foram os membros inferiores com (36,9%), seguido de cabeça e pescoço
com (17,5%). A causa imediata dessas lesões continua corroborando o presente
estudo, sendo o contato com o próprio equipamento. No estudo de Almeida et al. [5] sobre lesões agudas no surf em Portugal, as
lesões mais comuns foram lacerações, contusões, entorses e fratura, e a
laceração foi a lesão com maior porcentagem 57,7%. A localização anatômica
dessas lesões foi tanto na parte superior quanto na inferior do corpo e as mais
acometidas foram a face e os pés com 25% cada. O contato
com a prancha foi a segunda principal responsável pelo surgimento dessas lesões
com 53,3%. Essa variável também está de acordo com este estudo no qual a
colisão com a prancha 28% e quilhas 21% foi o fator predominante na causa
dessas lesões.
Em um estudo
realizado por da Silva [8], investigando-se a incidência de lesões em membros
inferiores de praticantes de surf profissionais, foram encontradas um total de
48 lesões. A entorse de joelho foi a principal lesão encontrada com 29% dos
casos, entretanto, neste estudo não foi encontrada lesão alguma classificada
como entorse, ressaltando que foram entrevistados apenas surfistas amadores. Na
pesquisa realizada por Junior et al. [9] que
investigou as características do treinamento e as lesões em surfistas amadores,
foram relatadas 122 lesões entre todos os indivíduos, a amostra desta pesquisa
também corrobora o nosso estudo, em que a laceração e contusão lidera a
incidência de lesões, tendo a prancha como principal agente causador.
Finalmente, na
pesquisa realizada por Furness et al. [10] via on-line na Gold Coast australiana durante um período
de 12 meses, que envolveu 1.348 surfistas, dos quais 581 competitivos e 767
surfistas recreativos. Os autores detectaram que entre os profissionais, 243 deles
relataram ter sofrido algum tipo de lesão e entre os recreativos 269 surfistas
haviam se sustentado em alguma lesão. O resultado dessa pesquisa vai de
encontro com o presente estudo, no qual o ombro foi apontado como a parte do
corpo com maior número de lesões, entre os surfistas competitivos e
recreativos, entretanto, o causador das lesões foi devido ao excesso de
movimentos repetitivos e a variação de manobras.
Foi possível concluir
que a maior prevalência de lesões entre os indivíduos entrevistados foram
traumáticas, nos membros superiores e inferiores, e a prancha foi apontada como
o principal causador das lesões seguido de contato com bancos de areia.