ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
do estanozolol na pressão arterial sistólica de ratos
sedentários
Effects of the stanozolol on systolic blood
pressure of sedentary rats
Gyl Everson de Souza
Maciel*, Mariane Mikaele Silva dos Santos**, Fernanda
das Chagas Angelo Mendes Tenorio***,
Ana Janaina Jeanine Martins de Lemos Jordao****,
Carina Scanoni Maia*****
*Professor
Assistente de Fisiologia do Instituto Brasileiro de Saúde (IBS/UNIBRA),
Recife/PE, **Aluna de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Pernambuco, Centro de Biociências (UFPE/CB), Recife/PE, ***Professora
Adjunto I de Citologia, Histologia e Embriologia da Universidade Federal de
Pernambuco, Centro de Biociências (UFPE/CB), Recife/PE, ****Professora Adjunto
I de Citologia, Histologia e Embriologia da Universidade Federal de Campina
Grande, Centro de Ciências da Saúde (UFPE/CB), Recife/PE, *****Professora
Adjunto I de Citologia, Histologia e Embriologia da Universidade Federal de
Pernambuco, Centro de Biociências (UFPE/CB), Recife/PE
Recebido 17 de outubro
de 2017; aceito 15 de dezembro de 2017
Endereço
para correspondência:
Gyl Everson de Souza Maciel, Rua Padre Champagnat,
120, BlA, Apt 02 Várzea 50740-320 Recife-PE, E-mail:
gyl.everson@gmail.com; Mariane Mikaele Silva dos
Santos: maris_ufpe@hotmail.com; Fernanda das Chagas Angelo
Mendes Tenorio: fcas14@hotmail.com; Ana Janaina Jeanine Martins de Lemos Jordao:
janainajeanine@yahoo.com.br; Carina Scanoni Maia:
carina.scanoni@gmail.com
Resumo
O estanozolol
apresenta uso crescentes nas academias
pelo fato de
promover aumento de força sem ganho de peso extra, não se
converter em
estrógeno, não causar retenção de
água em excesso, além de ajudar na perda de
gordura preservando a massa muscular. No entanto, o uso indiscriminado
e sem
orientação de um especialista, pode causar
complicações cardiovasculares,
disfunção hepática, lesão renal,
distúrbios psiquiátricos, redução da
tiroide e
infertilidade. O principal objetivo do presente estudo foi investigar
os
efeitos do estanozolol sobre a pressão sistólica em
ratos sedentários, tendo em vista que a literatura aborda apenas durante
atividades físicas. Para tanto, foram selecionados oito animais, com 90 dias e
divididos em dois grupos: grupo controle veiculo (n=4)
que recebeu solução salina, via intramuscular e o grupo controle estanozolol (n=4) no qual foi administrado estanozolol. Mesmo sem realizar atividades físicas, a
pressão arterial sistólica entre os grupos, apresentou diferenças
significativas, em 30 e 60 dias de experimento o grupo tratado teve aumento de ±4%.
O uso de estanozolol 10,0 mg/kg/semana
durante oito semanas, promove alterações significativas na pressão arterial.
Palavras-chave: anabolizantes,
pressão sistólica, estilo de vida sedentário, ratos.
Abstract
Stanozolol is increasingly used
in academies because it promotes increased strength without gaining extra
weight, does not convert to estrogen, does not cause excess water retention,
and helps in fat loss while preserving muscle mass. However, the indiscriminate
use and without guidance of a specialist, can cause cardiovascular
complications, liver dysfunction, kidney damage, psychiatric disorders, thyroid
reduction and infertility. The main objective of the present study was to
investigate the effects of stanozolol on systolic
pressure in sedentary rats, considering that the literature addresses only
during physical activities. The animals were divided into two groups: vehicle
control group (n = 4) receiving saline solution intramuscularly and the stanozolol control group (n = 4) in which stanozolol was administered. Even without physical
activities, the systolic blood pressure between the groups presented
significant differences, in 30 and 60 days of the experiment the treated group
had an increase of ± 4%. The use of stanozolol 10.0
mg / kg / week for eight weeks, promotes significant changes in blood pressure.
Key-words: anabolic
steroids, blood pressure, sedentary lifestyle, rats.
O uso indiscriminado
de esteroides anabolizantes (EA), incluindo compostos naturais e análogos sintéticos
da testosterona com o objetivo de obter maior delineamento da musculatura em
curto período é de grande preocupação, uma vez que é utilizado em doses
superiores às recomendadas pelos profissionais da saúde causando graves
alterações funcionais e estruturais principalmente, no sistema cardiovascular
[1,2]. A maioria dos esteróides é transportada na
circulação sanguínea na forma livre ou ligada às proteínas plasmáticas e atuam
através de receptores intracelulares específicos [3].
De forma preocupante,
a literatura científica relata que nos últimos anos ocorreu um considerável
aumento do uso de EA por jovens escolares e praticantes de atividade física,
principalmente em academias ou centros de práticas esportivas [4].
O estanozolol
é um esteróide heterocíclico sintético, derivado da dihidrotestosterona (DHT), com propriedades anabolizantes e
androgênicas, que foi amplamente utilizado por atletas profissionais em virtude
da rápida metabolização e excreção na urina [5].
Dentre os diversos esteroides
comercializados, o estanozolol é um dos mais
utilizados entre os atletas [6]. Produzido na forma oral (mais difícil de ser
encontrado) e na forma injetável por laboratórios credenciados, é obtido mais
comumente de forma ilegal no mercado negro [7,8].
Por ser um andrógeno
atenuado, normalmente, é utilizado com outras drogas no meio de um ciclo longo
de esteroides mais androgênios, para manter o máximo possível de peso e
diminuindo os efeitos colaterais. A combinação do estanozolol
com o Parabolan e ou Primobolan
pode ser usada quando se desejam dar uma pausa nos esteroides mais androgênios,
mantendo o peso adquirido e minimizando as consequências adversas [9].
O estanozolol
é produzido na Europa pelo laboratório Zambon e chega
ao Brasil através do mercado negro. Encontra-se disponível em ampolas de 50 mg/ml e cápsulas de 10 mg e é extremamente tóxico ao fígado.
É indicado terapeuticamente em estados na deterioração
geral, magreza de origem diversa, anorexias rebeldes, convalescentes, crônicas
e debilitantes, síndrome nefrótica, asma, artrite reumatóide, etc. Utiliza-se também para compensar os
efeitos catabólicos da cortisona, como adjuvante no
tratamento de úlceras de decúbito, lenta consolidação de fraturas, osteoporose,
queimaduras extensas, pré e pós-operatório. Na
pediatria é utilizado em pacientes que apresentam retardo de crescimento e
peso, em distrofias e imaturidade [10].
Porém, tanto
indivíduos atletas ou sedentários, usam estanozonol
para melhorar desempenho físico e/ou aparência [11].
Tendo em vista os
informes mencionados acima e a escassez na literatura sobre os efeitos do estanozolol na condição sedentária, o referido estudo tem
por objetivo avaliar a pressão sanguínea na ausência de atividades físicas.
Animais
Ratos machos Wistar aos 90 dias de vida foram mantidos no biotério
setorial do Departamento de Fisiologia e Farmacologia sob o ciclo de
claro/escuro 12/12. Divididos em dois grupos: grupo controle veiculo (CV, n=15)
que recebeu solução salina, via intramuscular e o grupo controle estanozolol (CS, n=15) no qual foi administrado estanozolol, via intramuscular na dose de 10,0 mg/kg/semana, dividida em duas doses semanais, durante oito
semanas consecutivas [1,11].
O uso dos animais foi
aprovado pelo Comitê de Ética de Uso Animal (CEUA) da UFPE, Processo:
23076.026362/2014-56.
Avaliação
da pressão sanguínea sistólica
A pressão arterial
sistólica (PAS) foi medida por pletismografia de
cauda (IITC Life Science B60-7 / 16'', Life Science Instruments,
Woodland Wills, CA). Os
animais foram aclimatados às condições experimentais para a obtenção da PAS
durante três dias consecutivos. Para obter uma média da PAS, o procedimento de
medida em cada rato foi repetido por cinco vezes.
Os animais foram
acompanhados, quinzenalmente durante os 90 aos 270 dias de vida, para a
avaliação da pressão arterial sistólica.
Análise
estatística
Os resultados foram
interpretados por Análise de Variância e quando significativa,
esta foi complementada pelo teste de Comparações Múltiplas Tukey e Kramer. Os dados foram tabulados e processados em
programa estatístico SAS (Statistical Analysis System, 2001). Adotando-se o nível de
significância de 5% (p £ 0,05).
A pressão arterial
sistólica entre os grupos CV e CS apresentou diferenças significativas. Em 30 e
60 dias de experimento o grupo CS teve um aumento de ± 4%, (P < 0,05 e P
< 0,01) respectivamente. Nos demais períodos não houve diferenças significativas
(Figura 1).
Figura
1 - O uso do estanozolol
10,0 mg/kg/semana durante oito semanas
consecutivas elevou as pressões arteriais sistólicas (mmHg) entre os grupos CV
e CS, apresentaram diferenças significativas, em 30 e 60 dias de experimento o
grupo CS teve um aumento de ± 4%, (*P< 0,05 e **P<0,01).
Discussão
O aumento da PAS na
presente pesquisa concorda com os achados de Bocalini
et al. [11] que destacaram que a mesma ocorreu
independente de atividade física. Os autores destacaram ainda o aumento da
massa cardíaca pela hipertrofia do ventrículo esquerdo, possivelmente, por
efeito secundário a hipertensão arterial já que o ventrículo direito não foi
alterado. Porém, o estanozol é melhor
associado as funções cardíacas sistólica e diastólica durante as atividades
físicas.
Nossos achados
concordam ainda com pesquisas semelhantes realizadas por Acikgoz
et al. [12] e Beutel
& Bergarmaschi [1] que trabalharam com o mesmo
anabolizante e dose em ratos, tanto sedentários como submetidos a atividades
físicas.
Segundo Hartgens et al. [13], o
aumento da PAS também foi constatado em humanos, quando pesquisou atletas
submetidos à administração de estanozolol. O mesmo
afirma que em atividades físicas ou não, o referido aumento pode ocorrer dentro
de quatro semanas após o início da administração por dois motivos: 1)
estimulação da eritropoiese pelo estanozolol,
levando ao aumento do hematócrito e, consequentemente, ao aumento da
viscosidade do sangue; 2) aumento da atividade simpática devido à administração
de EAA.
Ainda segundo
Nascimento et al. [14], um dos motivos que explica o
desenvolvimento da hipertensão é a retenção hídrica e de sais desencadeados por
esteroides anabolizantes, principalmente relacionado a frequência e a dose. O
aumento do volume plasmático total que ocorre nesses usuários, provavelmente
contribui para elevação da mesma.
Agentes androgênicos
parecem afetar mais a pressão arterial do que os agentes anabólicos, porém, o
mecanismo exato ainda precisa ser estabelecido [15].
No presente estudo,
demonstramos que o uso de estanozolol 10,0 mg/kg/semana durante oito semanas, promove alterações
significativas na pressão arterial sistólica.
Aos integrantes do
Departamento de Fisiologia, Histologia e Embriologia da UFPE que
ajudaram de forma direta ou indireta nessa pesquisa.