ARTIGO
ORIGINAL
Força
muscular ventilatória em tabagistas: é realmente menor?
Respiratory muscle strength in smokers: Is it really smaller?
Cauê Santos da Mata,
Ft.*, Luciana Bilitário Macedo, Ft., M.Sc.**, Cristiane Maria Carvalho
Costa Dias, Ft., D.Sc.***, Francisco Thiago Oliveira
de Oliveira, Ft., M.Sc.****, Beatriz de Carvalho Lins
Andrade Neta*****, Victor Albertassi Vailant, Ft.******, Jefferson Petto, Ft., D.Sc.*******
*Especialista
em Fisiologia do Exercício Aplicado a Reabilitação pela Faculdade Adventista da
Bahia, **Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora do Curso
de Fisioterapia da EBMSP, ***Professora Adjunta da EBMSP, ****Professor da
EBMSP, Professor da Universidade Salvador (UNIFACS), Campus de Feira de
Santana, *****Estudante de Medicina pela EBMSP, ******Especialista em
Fisioterapia Neurológica pelo Hospital São Rafael, Professor das Faculdades
Integradas do Extremo Sul da Bahia, *******Professor da Faculdade Social da
Bahia, Professor da Universidade Salvador (UNIFACS), Campus de Feira de
Santana, Professor da Faculdade Adventista da Bahia, Professor Colaborador do
Mestrado e Doutorado da EBMSP
Recebido em 25 de
outubro de 2017; aceito em 29 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Jefferson Petto, Av. Oceânica, 2717, Ondina, 40170-110 Salvador BA, E-mail: jeffersonpetto@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: O tabagismo é
considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte
evitável em todo o mundo e estima-se que, atualmente, 1,2 bilhão de pessoas
sejam fumantes. Já é conhecida a deterioração dos volumes e capacidades
pulmonares causadas pelo tabagismo. No entanto, poucos estudos avaliaram o
efeito da dependência nicotínica nas pressões inspiratórias e expiratórias
máximas pulmonares. Objetivo: Testar
a hipótese de que existe diferença nos valores de pressões pulmonares de
indivíduos tabagistas em comparação aos valores preditos pela idade e sexo. Métodos: Estudo comparativo de corte
transversal, composto por 22 participantes declaradamente fumantes do Programa
Deixando de Fumar sem Mistérios, do núcleo de saúde comunitária do Candeal, Salvador/BA. Foi preenchida uma ficha clínica e em
seguida realizada a coleta das Pressões Inspiratória (PImáx) e Expiratória (PEmáx)
Máximas. Calculados posteriormente a PImáx
e PEmáx preditas de cada voluntário pela equação de
Neder. Verificado normalidade na distribuição dos dados e então utilizado o
teste t de Student para comparação dos valores
preditos e obtidos de PImáx
e PEmáx. Adotado como critério de significância p
< 0,05. Resultados: Do total de
voluntários, 14 (64%) eram mulheres, sendo a média de idade de 47 ± 11 anos. Os
valores obtidos e preditos da PImáx
foram respectivamente de -87 ± 41 vs -97 ± 19cm H2O
(p < 0,01). Os valores obtidos e preditos da PEmáx foram respectivamente de 88 ± 40 vs. 99 ± 24 cmH2O
(p < 0,01). Conclusão: De acordo
com os resultados deste estudo, indivíduos tabagistas apresentaram medidas de PImáx e PEmáx
menores que as preditas para a idade.
Palavras-chave: tabagismo, pulmão,
pressões respiratórias máximas, força muscular.
Abstract
Introduction: Smoking is considered by the World Health Organization (WHO) the leading
cause of preventable death worldwide and it is estimated that currently 1,2 billion people are smokers. It is already known to
deterioration of lung function caused by tobacco. However, few studies have
evaluated the effect of nicotine dependence on maximal inspiratory and
expiratory lung pressures. Objective:
To test the hypothesis that there is a difference in pulmonary pressure values
of smokers compared to predicted values. Methods:
comparative cross-sectional study, composed of 22
participants self-reportedly smokers from Leaving Smoking Without Mysteries
Program, in the community health center of Candeal,
Salvador, Bahia, Brazil. A clinical form was filled and then the Maximum
Inspiratory (MIP) and Expiratory (MEP) Pressures were collected. It was
calculated afterwards the predicted MIP and MEP of each volunteer by the Neder’s equation. Normality was verified in the
distribution of data and then Student's T test was used to compare the predicted
and obtained values of MIP and MEP. The criterion of significance adopted was p
< 0.05. Results: Of the total volunteers, 14 (64%) were women, with an
average age of 47 ± 11 years. The values obtained and predicted for MIP were
respectively -87 ± 41 vs -97 ± 19cm H2O (p <0.01). The values obtained
and predicted for MEP were respectively 88 ± 40 vs 99 ± 24 cmH2O (p
<0.01). Conclusion: According to the results of this study, smokers
presented MIP and MEP measures smaller than predicted for age.
Key-words: smoking,
lung, maximum respiratory pressures, muscle strength.
O tabagismo é
considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte
evitável em todo o mundo e estima-se que, atualmente, um bilhão e 300 milhões
de pessoas sejam fumantes, dos quais 900 milhões concentram-se em países em
desenvolvimento [1]. O total de mortes devido ao uso de tabaco corresponde a 6 milhões de pessoas por ano, ou seja, mais de 16 mil mortes
por dia [2]. Caso sejam mantidas as tendências atuais de consumo, até o ano de
2020 serão cerca de 10 milhões de mortes anuais por doenças cardiovasculares,
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer de pulmão devido ao consumo
do tabaco [3]. No Brasil são aproximadamente 25 milhões de tabagistas, e morrem
no país cerca de 200 mil pessoas por ano [4].
O principal mecanismo
fisiológico envolvido no surgimento das doenças pulmonares relacionadas ao
tabaco é a inflamação. As substâncias presentes no cigarro levam ao
desequilíbrio das citocinas pró e anti-inflamatórias
e induzem lesão oxidativa resultando em destruição de
células e constituintes da matriz extracelular do pulmão [5]. O centro de
controle e prevenção de doenças dos EUA ressalta que já em 1976 surgiam estudos
que demonstravam a relação do tabagismo com o desenvolvimento de limitação
crônica do fluxo aéreo, que se traduziam no declínio progressivo do volume
expiratório máximo no primeiro minuto (FEV1) e da alteração na razão do FEV1
com capacidade vital forçada (FVC). Estes estudos descreviam, ainda, que apenas
uma porcentagem dos pacientes fumantes desenvolvia a alteração, o que sugeria
um forte componente genético na gênese destas [6].
Apesar das
consequências já conhecidas do tabagismo sobre a função pulmonar, poucos
estudos avaliaram o efeito do fumo sobre a Pressão Inspiratória (PImáx) e Expiratória (PEmáx) máximas [7]. O fato dos estudos mostrarem que a
dependência nicotínica diminui a força da musculatura estriada esquelética nos
remete a ideia de que há diminuição também da força dos músculos ventilatórios
[8]. Freitas cita que a porcentagem e o diâmetro das fibras tipo I encontram-se
inferiores nos fumantes e que, além disso, a capacidade oxidativa
dos músculos esqueléticos destes indivíduos é menor, a julgar pelo decréscimo
na atividade enzimática mitocondrial [9]. Essas pressões refletem a força dos
músculos ventilatórios e estão relacionadas
principalmente a idade e ao sexo. Isso se torna evidente pelas equações que
predizem essas pressões, como, por exemplo, Costa et
al. [10].
Portanto, o objetivo
deste trabalho foi testar a hipótese de que existe diferença nos valores de
pressões pulmonares de indivíduos tabagistas em comparação aos valores preditos
pela idade e sexo.
Desenho
do estudo e população
Estudo comparativo de
corte transversal, composto por 22 indivíduos com idade acima de 18 anos,
declaradamente fumantes, ou seja, indivíduos que fumaram mais de 100 cigarros
na vida e o último fumo foi há menos de 30 dias, participantes do Programa Deixando
de Fumar sem Mistérios, do núcleo de saúde comunitária do bairro Candeal, Salvador/BA, em parceria com a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Foram excluídos
aqueles com história de doenças respiratórias crônicas já diagnosticadas,
gestantes e/ou ex-fumantes.
Avaliação
e coleta de dados
Inicialmente, foi
aplicado questionário construído pelos autores da pesquisa, onde, através do autorrelato dos participantes, foram coletadas informações
sobre as condições sociodemográficas e se os mesmos
realizavam algum tipo de exercício físico. Nesse momento também foram coletadas
as medidas antropométricas: massa e altura, obtidos por meio de uma balança da
marca Welmy®-modelo R-110 e calculado o IMC pela
equação de Quetelete: Massa Corporal / (Estatura)2 (kg/m2).
Ainda no primeiro
encontro foram realizadas as coletas de PImax
e PEmax, da capacidade vital (CV) e da pressão de
fluxo expiratório (PFE).
Calculadas as PI e PEmaxs preditas pela equação de
Neder, desenvolvida em 1999 através da análise de 100 indivíduos saudáveis
entre 20 e 80 anos, no estado de São Paulo, sendo esta uma equação preditiva
sexo e idade dependente [11].
A mensuração da PImax e PEmax
foi realizada através de um manovacuômetro analógico
(Ger-Ar®) previamente calibrado pelo Inmetro. O
aparelho foi conectado a uma traqueia de plástico, na qual foi acoplado um
bocal descartável rígido, e para evitar escapes de ar foi utilizada pinça
nasal. As manobras foram repetidas três vezes selecionando o maior valor das
três medidas. Caso o maior valor fosse o da última tentativa, novas tentativas
eram realizadas até que a última não fosse o maior valor. O intervalo de
descanso entre uma e outra medida foi de um minuto.
A mensuração da CV
foi realizada através da ventilometria (Ferraris - Wright® MK8) com o paciente sentado, numa
posição confortável e com o tórax ereto. Para confirmar se o resultado da CV
foi fidedigno repetiu-se a técnica no mínimo três vezes selecionando-se o maior
valor obtido.
Para mensuração do
PFE foi utilizado um medidor de pico de fluxo (Clement
Clark® - in check-oral) com variação de 60 a 880 L/min. Para que o teste fosse considerado aceitável, o
mesmo foi repetido três vezes consecutivas e o valor mais alto foi registrado,
desde que a diferença entre as mensurações não ultrapassasse 20 L/min. A
literatura sinaliza boa correlação entre o PFE e o Volume Expiratório Forçado
no primeiro segundo (VEF1). Enquanto o VEF1 somente pode ser mensurado por meio
do espirômetro, o PFE é mais acessível, uma vez que
pode ser avaliado através de um equipamento de menor custo e com melhor
portabilidade. Destarte, entende-se que a utilização do PFE não prejudicará a
avaliação da função expiratória do indivíduo, tornando-se assim uma excelente
opção [12].
Variáveis
e análise estatística
Estabelecido como
variável preditora deste estudo o tabagismo e como
variáveis de desfecho PImax
e PEmax.
As variáveis
numéricas foram descritas em média e desvio padrão após a análise de normalidade
pelo teste de Shapiro-Wilk. Para comparação entre as
variáveis numéricas foi utilizado o teste t de Student
pareado bidirecional, já que os valores apresentaram distribuição normal. Para
estabelecer correlação entre variáveis numéricas foi aplicado o coeficiente de
correlação de Pearson. Foram considerados estatisticamente significativos os
valores de p < 0,05.
Aspectos
éticos
Os procedimentos
adotados nesta pesquisa obedeceram aos Critérios da Ética em Pesquisa em Seres
Humanos conforme Resolução no. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
A coleta de dados foi
iniciada somente após avaliação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).
Todos os voluntários participantes assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE) e os mesmos tinham liberdade de se recusar a participar em
qualquer fase da pesquisa sem prejuízo para a sua saúde e nenhum ônus.
Participaram 14 (64%)
mulheres. A média de idade da amostra foi de 47 ± 11 anos, massa corporal de 75
± 20kg, altura 165 ± 8cm e IMC de 27 ± 6kg/m2.
Dezenove participantes (86%) declararam não praticar exercício físico regular.
Sete participantes (32%) afirmaram ter outros fumantes em convivência
domiciliar. As demais características da amostra estão evidenciadas na Tabela
I.
Dentre os
participantes, 16 (73%) representam a principal renda familiar com média de
ganhos na família de R$ 2.893,00. Ainda, a média de pessoas que conviviam na
mesma casa foi de 3,5 ± 1,5 pessoas.
Todos os valores de
força muscular respiratória (FMR), PFE e CV foram menores que os preditos,
variando de acordo com idade, sexo, altura e massa entre os fumantes (Tabela
I).
Tabela
I - Comparação das variáveis preditas e obtidas
da PImax e PEmax e função pulmonar (n = 22).
PImáx = pressão
inspiratória máxima; PEmáx = pressão expiratória
máxima; #Valores preditos pela equação de Neder et al, 1999; *Teste t de Student bidirecional pareado.
Os resultados deste
trabalho sugerem que indivíduos tabagistas apresentam diminuição da força
muscular inspiratória e expiratória. Corroborando nossos resultados, tanto o
estudo de Macedo et al. [7] como no de Tantisuwat
e Thaveeratitham [13], os valores de PImáx e PEmax foram menores que o
predito entre os tabagistas [14]. Foi observado que as médias de PImáx e PEmáx
encontradas nos indivíduos tabagistas desta pesquisa também foram menores que
as mostradas na literatura para indivíduos saudáveis [15]. Os resultados do
estudo realizado por Costa et al. [10]
permitem acreditar que a redução da força dos músculos respiratórios dos
tabagistas possa ocorrer em consequência de alterações nessa musculatura. Já
foi confirmado anteriormente que as medidas de FMR permitem identificar
precocemente o quadro de insuficiência respiratória por falência muscular,
contribuindo assim, para o diagnóstico e prognóstico de doenças neuromusculares
e pulmonares [9].
Os indivíduos
avaliados apresentaram também comprometimento da musculatura expiratória.
Estudo conduzido com idosos tabagistas observou que, em comparação ao grupo
controle (não tabagistas), os valores de PImax
nos primeiros encontravam-se reduzidos, enquanto que, para os valores de PEmáx, não foi encontrada diferença. Os autores sugerem
ainda que alterações nas fibras musculares dos indivíduos tabagistas poderiam
ser responsáveis por este resultado [9]. Esta diferença poderia significar que a longo prazo a alteração na função inspiratória seria
predominante sobre a função expiratória. No trabalho aqui apresentado, também
houve significância estatística (p < 0,01) ao encontrar valores de função
pulmonar abaixo do que é predito. Manzano et al. [16], em 2009, não encontraram
alterações significativas da função pulmonar nos tabagistas da sua amostra.
Porém, a divergência de resultados entre os trabalhos pode ser elucidada pelas
diferentes características das amostras. Na pesquisa de 2009 [16], 80% dos
participantes eram jovens (média de idade de aproximadamente 22 anos), com
pouco tempo de tabagismo e baixo consumo de cigarros. Ainda, neste estudo, 29
anos foi a idade do indivíduo mais jovem, o que
permite inferir que a carga tabágica dessa amostra
era possivelmente maior. Evidente que essa interpretação é subjetiva, pois
considera apenas o tempo de tabagismo dos indivíduos pela sua idade. No
entanto, não está sendo considerado o volume consumido durante os anos. A
despeito disso, entende-se então que o perfil da população estudada pode
explicar a diferença nos resultados encontrados [17].
Esse resultado pode
explicar por que indivíduos fumantes apresentam capacidade funcional e força
muscular menor que os não fumantes, já que
possivelmente eles tenham o metaboreflexo, durante o
exercício, maior do que os indivíduos não fumantes. Este nada mais é do que um
dos mecanismos do sistema nervoso autônomo (SNA), para controle dos ajustes
cardiovasculares e pressóricos. Sendo o mesmo ativado pelo acúmulo de
metabólitos nos músculos, durante o exercício, que irão estimular aferências quimiossensíveis,
induzindo reflexamente a elevação da pressão arterial, tanto por aumento da
atividade do simpático como por retirada do estímulo parassimpático [18].
Os valores de CV
preditos (3450,0 ± 450 L) se mostraram maiores do que
os encontrados (2851,4 ± 1222 L) nessa amostra. Padmavathy
[19], ao avaliar quase 200 indianos, encontrou valores de CVF dos tabagistas
menores que os não fumantes. Tantisuwat
e Thaveeratitham [13] encontraram CVF muito superior
no grupo não tabagista. Esses mesmos autores citaram alguns estudos que seguem
no mesmo sentido, indicando que fumantes apresentam níveis de CVF menores que os
não-fumantes.
Alguns estudos
demonstraram que as medidas de PFE foram menores em fumantes quando comparados
aos não fumantes [12]. Medabala et al. [20], em pesquisa que envolveu fumantes de cigarro, fumantes
de charutos e não fumantes, também encontraram PFE menor nos indivíduos
tabagistas. Os autores explicam que a possível razão para a diminuição do PFE
nesses indivíduos é o processo inflamatório no epitélio das vias aéreas, o qual
é um achado fisiopatológico comum nos fumantes [20].
Os resultados dessa
pesquisa indicaram diferença entre os valores de PFE encontrados e os preditos.
Em consonância com os resultados aqui demonstrados, Karia
[21], que investigou tabagistas e não tabagistas na
Índia, encontrou que apenas os tabagistas apresentarem valores de PFE abaixo do
predito. Essa mesma autora citou um estudo com mais de 600 homens, entre 20 e
60 anos, no qual, os fumantes também apresentaram valores de PFE
significantemente menores do que os não fumantes [21].
Vaidya et al. [22] encontraram que os fumantes
apresentaram função pulmonar significantemente reduzida quando comparados aos
não fumantes.
Em pesquisa realizada
no sul asiático com 300 homens, mais uma vez houve diferença no PFE entre
tabagistas e não tabagistas [23]. No entanto, um dos fatores limitantes da
aplicação clínica do PFE é o fato dos valores preditos serem hoje considerados
obsoletos. Além disso, alguns autores indicam que a diversidade étnica da
população não é considerada nas equações de predição [24]. No estudo de Zawadzki et al. [25], por exemplo,
não houve significância estatística do PFE entre os grupos pesquisados. Por
outro lado, os autores acharam correlação positiva entre valores de PFE e o
nível de metabólitos da nicotina no sangue, o que confirmaria que a exposição
passiva ao tabaco também provoca lesões no sistema respiratório.
Sabe-se que o VEF1
apresenta declínio fisiológico com o passar dos anos, todavia já foi
documentada redução ainda maior do VEF1 na presença do tabagismo [26]. Meireles
et al. [27] encontraram na espirometria
valores de CVF (Capacidade Vital Forçada) e VEF1 abaixo do esperado. Os autores
concluíram, após as análises necessárias, que as alterações espirométricas
foram por razões exclusivamente ligadas ao tabagismo. Em pesquisa publicada em
2013, tabagistas passivos obtiveram VEF1 < 80% do previsto (obstrução das
vias aéreas em grau moderado a grave), enquanto os tabagistas ativos não. Isto
parece estar relacionado a fatores sociológicos e culturais [28]. Manzano et al. [16] e Dias
[29] defendem que, embora valores de VEF1 e CVF menor que 70% do predito sejam
vistos como marcadores de distúrbio obstrutivo, um valor único não deve ser
utilizado como limite inferior. Para casos assim, deve-se considerar a
confirmação do diagnóstico por meio de exames complementares.
No presente estudo,
mais de 30% dos entrevistados afirmaram que convivem com outros fumantes em
casa. Mesmo sem fumar, viver em domicílio onde se consome cerca de vinte
cigarros por dia, é o mesmo que consumir diretamente três cigarros diários.
Feitosa e Pontes [30] encontraram que o tabagismo passivo era muito comum na
sua pesquisa, visto que a maior parte dos tabagistas avaliados tinha o hábito
de fumar em casa. A fumaça inalada por aqueles que convivem com fumantes
durante oito horas por dia, causa prejuízos proporcionais ao consumo direto de
seis cigarros diários.
Fraga et al. [31] concordam que em famílias com
poder econômico menos privilegiado há maior probabilidade dos indivíduos se
tornarem fumantes. No atual estudo, aproximadamente 73% dos participantes
representavam a principal renda familiar. Todavia, chama a atenção o fato da
média mensal de ganhos per capita ser próximo ao valor de 1
salário mínimo. Este dado é justificado pelo perfil e histórico da comunidade
em torno do posto de saúde utilizado pelo programa de cessação do tabagismo. Os
dados encontrados apontam que 86% da atual amostra não pratica nenhum tipo de
exercício físico. Benedetti et al.[3]
indicaram que 83% dos brasileiros não praticam atividade física, número muito
próximo do resultado aqui apresentado. Este quadro de inatividade piora o
prognóstico de vida livre de eventos cardiovasculares e de morbidade e
mortalidade na população.
Pesquisa realizada
com estudantes noruegueses, de 13 a 18 anos, mostrou que os fumantes faziam
menos exercício físico, e também eram os que mais abandonavam as atividades desportivas.
Os autores ainda citaram que aproximadamente 30% dos adolescentes se tornaram
tabagistas no mesmo ano em que deixaram de praticar esportes. Dessa forma, o
tabagismo foi mais prevalente em pessoas sedentárias e outros estudos
consideraram que o exercício físico evita o início e/ou colabora com o abandono
da dependência nicotínica [32,33].
Estudos apontam
relação dose-resposta positiva entre a prática de
atividade física e os volumes e pressões pulmonares. Porém, existem relatos na
literatura que demonstraram que, mesmo em atletas, não houve melhora dos
resultados [34,35]. Considerando-se que existe divergência quanto à influência
da prática de exercício físico nas medidas de CV, PFE, PImáx e PEmáx, os
resultados do atual estudo mantêm sua relevância mesmo com a maior parte da
amostra declarando ser sedentária. Portanto, os resultados do presente estudo,
apontam que fumantes apresentam diminuição da força dos músculos ventilatórios.
De acordo com os
resultados deste estudo, indivíduos tabagistas apresentaram medidas de pressão
inspiratória máxima e pressão expiratória máxima menores
que as preditas para a idade. Isso sugere que o tabagismo diminui a força dos
músculos ventilatórios.