ARTIGO
ORIGINAL
A
preocupação em cair de idosas praticantes e não praticantes de exercícios
físicos
The concern to fall of elderly practitioners and non-practitioners of
physical exercises
Gabriela Cabrinha da
Silva, Ft.*, Thais Santos Contenças, D.Sc.**
*Academia
do Curso de Pós-Graduação em Saúde do Idoso: Abordagem Multidisciplinar,
**Especialista em Fisioterapia Neurofuncional Santa
Casa de São Paulo, Profa. UNIP, Santos SP
Recebido em 25 de
outubro de 2017; aceito em 30 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Gabriela Cabrinha da Silva, Av. Ana Costa, 65, Vila Mathias 11060-000 Santos
SP, E-mail: gcabrinha@outlook.com; Thaís Contenças: thaiscontencas@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: O estudo teve como
objetivo verificar a preocupação em cair de idosas praticantes e não
praticantes de exercícios físicos. Métodos:
Trata-se de um estudo transversal, quantitativo e exploratório. Participaram do
estudo idosas com idade igual ou superior a 65 anos, deambuladoras na posição ortostática não utilizando de
dispositivos de auxílio à marcha. Foram divididas em dois grupos: grupo 1 (G1) praticava exercício físico e grupo 2 (G2)
sedentárias. Para a avaliação foram utilizados os dados: idade, se praticava atividade física regularmente, se teve quedas
nos últimos 12 meses e quantas vezes haviam caído nesse período, foi utilizada
a escala Falls Efficacy Scale
– Internacional em idosos brasileiros (FES-I- BRASIL). Resultados: Foram incluídas 30 idosas, com idade média de 72,2 ± 5
anos (65 – 80 anos), com histórico de quedas nos últimos 12 meses: No grupo 1, as voluntárias relataram não sofrer quedas em 12 meses.
No grupo 2, três voluntárias sofreram quedas em 12
meses. No escore da escala FES-I observou-se uma diminuição no G1 em comparação
ao G2, respectivamente, 21,8 ± 5,3 e 27,1 ± 5,5 (p=0,01). Conclusão: As praticantes de exercícios físicos tem menor
preocupação em cair do que as idosas sedentárias.
Palavras-chave: idosos, mulheres,
acidentes por quedas, avaliação geriátrica.
Abstract
Objective: The aim of
the study was to verify the concern about falling from practicing and
non-exercising elderly women. Methods:
This is a cross-sectional, quantitative and exploratory study. Elderly patients, aged 65 or over, participated in the study in the
orthostatic position, not using gait devices. They were divided into two
groups: Group 1 (G1) practiced physical exercise and group 2 (G2) sedentary.
The data used were: age, regular physical activity, falls in the last 12 months
and how many times they had fallen during this period, the Falls Efficacy Scale
- International scale was used in Brazilian elderly (FES-I-BRAZIL). Results: Thirty elderly women with a
mean age of 72.2 ± 5 years (65 - 80 years), with a history of falls in the last
12 months were included: In group 1, the volunteers reported not suffering
falls in 12 months. In group 2, three volunteers suffered falls in 12 months.
In the FES-I score, there was a decrease in G1 compared to G2, respectively,
21.8 ± 5.3 and 27.1 ± 5.5 (p = 0.01). Conclusion:
Exercise practitioners are less likely to fall than sedentary women.
Key-words: elderly,
women, accidents by falls, geriatric evaluation.
Segundo a Organização
Mundial de Saúde, pela primeira vez na história, a maioria das pessoas pode
esperar viver até os 60 anos ou mais. A partir dessa perspectiva do aumento da
longevidade dependerá muito de um fator fundamental: a saúde [1].
O envelhecimento
natural e progressivo traz a redução dos níveis de força muscular, prejudicando
assim a marcha e o equilíbrio [2].
O sedentarismo
potencializa o risco de quedas no idoso e limita sua independência nas
atividades de vida diária e no convívio social. Realizar exercícios físicos
regularmente, por pelo menos 150 minutos semanais ou por cinco dias na semana,
durante 30 minutos, mantém um bom desempenho funcional e previne distúrbios da
marcha e do equilíbrio, sendo uma das formas de prevenção de quedas em idosos [1,3].
As quedas representam
um problema na saúde pública, com o aumento dos gastos nas hospitalizações e
qualidade de vida reduzida ao idoso e familiar/ cuidador [4]. Na pós-queda, o
idoso pode diminuir a funcionalidade e aumentar o isolamento social, por
consequência, diminuir a qualidade de vida [4,5].
As principais causas
de quedas estão relacionadas ao solo irregular, chão escorregadio, degraus
altos, déficits da marcha, déficits de equilíbrio e sedentarismo [6].
O medo ou a preocupação
em sofrer uma possível queda são fatores que estão associados a saúde dos idosos, com a redução da mobilidade e restrição
das atividades [7].
O objetivo do
presente estudo foi verificar a preocupação em cair de idosas praticantes e não
praticantes de exercícios físicos.
Tratou-se de um
estudo transversal, quantitativo e exploratório. Esta pesquisa foi aprovada
pelo comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos da Universidade Paulista
(UNIP). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido antes de iniciar a pesquisa, segundo protocolo: 045458/2016.
O estudo foi
realizado no "Espaço do Idoso", localizado na cidade de Santos/SP,
referente ao período de setembro e outubro de 2016.
Participantes
Os voluntários
atenderam os seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 65
anos, gênero feminino, deambular na posição ortostática (não utilizando de
dispositivos de auxílio à marcha). Para os critérios de exclusão: condições de
saúde instáveis ou graves, idoso com sequela de alguma doença neurológica (como
Acidente Vascular Encefálico, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, entre
outros).
Procedimentos
Os idosos foram
divididos em dois grupos: Grupo 1 (G1) idosas que
praticavam exercícios físico e Grupo 2(G2) idosas que não praticavam exercícios
físico. As idosas selecionadas foram entrevistadas individualmente seguindo os
critérios de inclusão. A avaliação durou cerca de 40 minutos.
Os dados coletados
foram: idade, se praticava exercício físico
regularmente, se teve quedas nos últimos 12 meses e quantas vezes haviam caído
nesse período, foi utilizada a escala Falls
Efficacy Scale –
Internacional em idosos brasileiros (FES-I- BRASIL).
A FES-I BRASIL é uma
escala validada na língua portuguesa que verifica a preocupação em cair dos
idosos brasileiros. A escala possui 16 itens com quatro alternativas cada item,
com pontuação de 1 a 4 pontos (1 - nem um pouco preocupado, 2 - um pouco
preocupado, 3 - muito preocupado e 4 - extremamente preocupado). O escore da
escala pode variar de 16 a 64 pontos, quanto maior a pontuação, maior será a
preocupação em cair. O escore total tem como referência: sem associação à queda
(16 a 22 pontos), associados à queda esporádica (23 a 30 pontos) e associado às
quedas recorrentes (≥ 31 pontos). A pontuação do escore total engloba
fatores biopsicossociais, podendo indicar risco de quedas dentro do seu
contexto de vida [7].
Análise
estatística
Os dados coletados
foram inseridos em um banco de dados utilizando-se o programa Excel do pacote office e o teste t para variáveis independentes, comparando
a escala FES-I entre o G1 e o G2. Adotou-se o nível de significância de 5%
(p<0,05).
Participaram do
estudo 30 idosas, com idade média de 72,2 ± 5 anos (65 – 80 anos). Os grupos
foram parecidos com as idades, com 15 idosas no G1 e 15 idosas no G2.
No G1 não houve
histórico de quedas nos últimos 12 meses, entretanto, no G2, três voluntarias
relataram quedas, sendo: 2 voluntárias com 2 quedas e
uma relatou 1 queda (Tabela I).
Tabela
I – Histórico de quedas do G1 e G2.
*G1: Idosas
praticantes de exercício físico; G2: Idosas sedentárias.
Na escala FES-I-
BRASIL observou-se uma diminuição nos escores no G1 em comparação ao G2,
respectivamente, 21,8 ± 5,3 e 27,1 ± 5,5 (p=0,01), indicando que o grupo 2 tem maior preocupação em cair (Tabela II).
Tabela
II -
Escore médio e desvio padrão da Escala
FES-I-BRASIL do G1 e G2.
*G1: Idosas praticantes de exercício físico;
G2: Idosas sedentárias.
No presente estudo o
G1 apresentou escores de 16 a 22 pontos, sendo 60% (N = 9) da amostra e 40% (n
= 6) com escore de 23 a 30 pontos, nenhuma participante teve pontuação maior
que 31 pontos. No G2, 20% (n = 3) pontuaram de 16 a 22 pontos, 47% (n = 7)
fizeram de 23 a 30 pontos e 33% (n = 5) tiveram valores iguais ou maiores que
31 pontos (Tabela III).
Tabela
III -
Pontuação do escore da Escala
FES-I-BRASIL – preocupação em cair, separada por grupo 1
e 2.
*G1: Idosas
praticantes de exercício físico; G2: Idosas sedentárias.
De acordo com os
resultados encontrados foi possível observarmos um risco de quedas maior em
idosas não praticantes de exercícios físicos do que idosas que praticavam
exercícios físicos regularmente.
As alterações
musculoesqueléticas provocadas pelo o envelhecimento natural, o declínio da
força muscular e as alterações em outros sistemas, aumentam o risco de quedas
[8], realizar exercício físico regularmente, aprimora o equilíbrio do idoso,
reduzindo o risco de quedas [9].
As quedas não foram
presentes no G1, e no G2 algumas participantes relataram quedas nos últimos 12
meses. Nos estudos com a população semelhante, ambos os sexos, as quedas
representaram de 30% a 34% [5,8,9], sendo semelhante
ao grupo de idosas sedentárias.
Um estudo realizado
por Siqueira observou que idosos sedentários apresentaram maior prevalência em
quedas [8] que idosos que praticavam exercício físico. Em outras pesquisas, o
exercício físico auxilia a marcha e ajuda na mobilidade funcional dos idosos
reduzindo quedas [3], sendo semelhante ao nosso estudo
comparados ao G1.
Em nosso estudo, o G2
praticava exercícios físicos de forma regular, sugerindo que se previnam
quedas. Em outro estudos com acompanhamento de 12 meses, com exercícios para
prevenir quedas de um grupo composto por 17 mulheres idosas, no início do
tratamento, relataram 8 quedas e, após 12 meses de intervenção,
o grupo relatou 4 quedas. Realizar um o programa de exercícios reduz o número
de quedas [11].
Em relação à escala
FES-I- BRASIL G1, teve menor pontuação no escore quando comparado ao G2, em
outros estudos com idosos sedentários [7,9], o escore médio foi próximo ao G2,
sugerindo que quanto menos atividade maior o risco de queda.
Os itens mais
pontuados da escala FES-I-BRASIL foram os itens 7, 11 e 15, que são referentes
a “subir e descer escadas”, “andar em superfícies escorregadias” e “andar em
superfícies irregulares”, as idosas mostraram preocupação em cair. Em
comparação a outras, os mesmos itens são pontuados com maior valor mostrando
que essas são as maiores preocupações dos idosos em vários países [12].
O presente estudo utilizou
a FES-I-BRASIL, por ser fácil reprodutibilidade e de baixo custo, limitado à
população idosa. Deve-se estimular a comunidade científica quanto a importância de novas pesquisas, relacionadas a quedas e a
preocupação em cair.
De acordo com o
presente estudo, sugere-se que as idosas praticantes de exercício físico
apresentam menor preocupação em cair do que idosas não praticantes de
exercícios físicos. O instrumento FES-I-BRASIL mostrou-se capaz de discriminar
o risco de quedas e o medo de cair entre as idosas. Os exercícios físicos
ajudam a manter o equilíbrio, prevenindo assim as quedas de mulheres idosas.
Sugerimos novos estudos utilizando o instrumento FES-I.
Agradecemos à
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ao coordenador do curso de Pós
Graduação em Saúde do Idoso Doutor Império Lombardi Junior, ao coordenador do
Espaço do Idoso Paulo Henrique Montenegro Lopes, pelo incentivo e colaboração
do presente estudo.