Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(1):93-97
ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
antropométrico e motivos de desistência de mulheres participantes de programa
de exercício físico aeróbio
Anthropometric profile and withdrawal reasons of women participating in
aerobic physical exercise program
Felipe Augusto da
Silva*, Juciléia Barbosa Bezerra, D.Sc.**
*Discente
do curso de Educação Física da Universidade Federal do Pará, Campus de
Castanhal, **Docente do curso de Educação Física da Universidade Federal do
Pará (UFPA), Campus de Castanhal
Recebido em 20 de
fevereiro de 2018; aceito em 30 de junho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Juciléia Bezerra, Travessa Dino Souza, 2802 Novo
Estrela 68743651 Castanhal PA, E-mail: jucileia.bezerra@gmail.com, Felipe
Augusto Silva: felipesilva.ufpa@gmail.com
Resumo
O objetivo desta
pesquisa foi investigar os motivos que levam mulheres da cidade de Castanhal/PA
a desistirem da prática de exercícios físicos aeróbios e mostrar o perfil
antropométrico de mulheres iniciantes no programa de exercícios físicos. A amostra
contou com 22 mulheres com sobrepeso ou obesidade com idade entre 18 e 40 anos.
A avaliação física foi constituída de avaliação das circunferências (cintura e
quadril) para calcular a relação cintura quadril (RCQ) e peso e altura, para
calcular o índice de massa corporal (IMC). Para conhecer os motivos de
desistência das participantes foi realizado um contato via telefone para
perguntar: Por que a senhora não está mais participando do projeto? As
respostas foram anotadas e codificadas em motivos de desistência. Nossos
resultados demonstraram que as mulheres com idade de 20-29 anos (n=10)
apresentaram média de IMC 29,03 ± 3,34 kg/m2 e RCQ 0,78 ± 0,03 o que
representa risco alto a saúde, a outra faixa etária foi de 30-39 anos (n = 12)
com a média de IMC de 32,89 ± 3,88 kg/m2 e RCQ de 0,85 ± 0,06 o que
representa risco muito alto à saúde. Os principais motivos de desistência
apontados pelas participantes foram saúde e problemas pessoais com 31,81% cada.
Palavras-chave: motivação;
exercício físico; índice de massa corporal; obesidade.
Abstract
The aim of this study was to investigate the reasons that women from the
city of Castanhal/PA give up of aerobic physical
exercises practice and to show the anthropometric profile of beginner women in
physical exercise program. The sample consisted in 22 overweighted
or obese women between 18 and 40 years old. The physical evaluation consisted
of assessing the waist and hip circumference to calculate the waist hip ratio
(WHR) and weight and height to calculate the body mass index (BMI). To know the
reasons for the participants' withdrawal, a telephone contact was made to ask:
Why are not you participating anymore of the project? Responses were recorded
and coded in withdrawal reasons. Our results show that women aged 20-29 years
old (n = 10) presented a mean of BMI 29.03 ± 3.34 kg/m2 and WHR 0.78
± 0.03, which represents a high risk to health. The other age group was 30-39
years old (n = 12) with a mean of BMI 32.89 ± 3.88 kg/m2 and a WHR
of 0.85 ± 0.06, which represents a very high risk to health. The main reasons
for withdrawal indicated by the participants were health and personal problems
with 31.81% each one.
Keywords: motivation;
physical exercise; body mass index; obesity.
Hoje o número de
pesquisas a respeito da adoção do exercício físico vem crescendo para
incentivar a prática e manutenção do exercício físico. Embora saibamos dos
benefícios do exercício para a saúde, ainda não é seguro dizer que as pessoas
vão aderir a esta prática, portanto, é importante ter conhecimento sobre os
fatores que podem influenciar tanto positiva quanto negativamente a adoção
dessa atividade [1].
Achados de Mallmann e Berleze [2] concluíram
que a maior parte das pessoas busca nas academias a melhoria da saúde e
entendem que o exercício físico regular vai proporcionar essa melhora, no
entanto, não buscam um profissional para orientá-las quanto a sua alimentação.
Igualmente, Gonçalvez e Alchieri
[3] verificaram em não atletas de várias modalidades que o motivo principal
para a prática foi a saúde.
Em um estudo que
verificou a existência de diferenças significativas entre as pontuações médias
dos fatores motivacionais à pratica regular de
atividade física nos sujeitos investigados controlando as variáveis sexo e
idade, observou que na faixa etária específica de 21 a 40 anos a saúde é fator
motivacional primordial tanto para homens quanto para mulheres adotarem prática
de exercícios em suas vidas, seguida das dimensões prazer e controle de
estresse [4].
Em pesquisa realizada
por Castro et al. [5], que procurou investigar
motivos que influenciam a permanência de praticantes inscritos nos programas de
exercícios físicos oferecidos nos SESC-DF, encontrou que a identificação com o
professor, a percepção do trabalho de qualidade desenvolvido pelo professor, a
sensação de bem-estar, o lazer, precaução com doenças, assim como atingir o
objetivo de condicionamento físico são os motivos mais relevantes para essas
pessoas não abandonarem a prática de exercícios físicos, e a prescrição médica
não representa o aspecto mais importante para justificar a permanência desses
indivíduos na prática do exercício físico, o que sugere que a prevenção de
doenças, e recuperação da saúde não é fator principal para essas pessoas
seguirem com a prática de exercícios físicos.
Em se tratando de
desistência da prática de exercícios físicos, estudo realizado em academias de
ginástica mostra que o não alcance de objetivos, questões financeiras, a falta
de afinidade com o professor, falta de tempo e também a distância das academias
foram dados obtidos sobre os motivos de abandono de academias por
universitários com sobrepeso ou obesidade [6].
Em estudo cujo
objetivo foi investigar os motivos que levam os idosos a desistirem das aulas
de um projeto de extensão universitária, encontrou em seus resultados que fatos
relacionados à saúde foram o maior obstáculo para que esses idosos
permanecessem no projeto [7].
A desistência da
prática do exercício físico vem sendo causa de questionamentos. Por que tantas
pessoas começam a praticar exercício físico e desistem? Desta forma, o objetivo
do estudo é investigar quais os motivos que levam mulheres da cidade de
Castanhal/PA a desistirem da prática de exercícios físicos aeróbios e mostrar o
perfil antropométrico de mulheres iniciantes no programa de exercícios físicos.
Justificamos este
estudo pela necessidade de compreendermos os motivos que levam pessoas com
sobrepeso ou obesidade a desistirem de programas de exercício físico, mesmo
sabendo que o exercício físico agregado à alimentação equilibrada auxilia a
perda de peso e na melhoria da qualidade vida. Consideramos importante conhecer
tais motivos para traçarmos estratégias que diminuam esse percentual de
desistência e ampliem a adesão e permanência de praticantes de exercício
físico.
Este estudo
caracteriza-se como quantitativo descritivo e foi realizada na Universidade
Federal do Pará, Campus Castanhal, especificamente no projeto de pesquisa
“Influência do exercício físico aeróbio em mulheres obesas ou com sobrepeso do
município de Castanhal/PA”. Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética em
pesquisa da UFPA/ Belém através da Plataforma Brasil (Parecer nº 1.337.401).
Para seleção da amostra divulgamos o projeto em de redes sociais, e mídias
locais.
Seleção
Realizamos primeiramente
verificação do peso e altura para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC) o
que serviu para verificar se as candidatas se enquadram no estado de sobrepeso
ou obesidade. Em seguida foi realizada uma anamnese. Selecionadas, as
candidatas receberam uma ligação para marcar sua avaliação física. O projeto
selecionou 50 mulheres, destas 31 desistiram da prática de exercícios físicos.
Tivemos casos de: 1) Mulheres que foram selecionadas, mas não participaram
nenhum dia do projeto; 2) Mulheres que só fizeram a anamnese; 3) Mulheres que
foram dispensadas do projeto por baixa frequência nas aulas e 4) Mulheres que
saíram e não conseguimos saber o motivo da desistência. Portanto, conseguimos
saber os motivos de desistência de 22 mulheres, que compõem a amostra deste
estudo. A idade média das mulheres foi 30,6 ± 7,3 anos, obesas ou com sobrepeso
devidamente liberadas pelo médico para a prática de exercício físico.
Procedimentos
A avaliação física
foi constituída de avaliação das circunferências (cintura e quadril) para
calcular a relação cintura quadril (RCQ), peso e altura, para calcular o índice
de massa corporal (IMC).
O IMC foi calculado e
classificado de acordo com a World Health Organization [8], que classifica indivíduos com
sobrepeso com IMC entre 25,00 e 29,00 kg/m2 e obesidade IMC ≥ 30,00kg/m2.
Para a RCQ,
realizamos as mensurações da cintura e do quadril, utilizamos o método de Bray e Gray [9] e a circunferência da cintura é medida na
área mais estreita acima do umbigo e a circunferência do quadril está na parte
de maior circunferência glútea. Segundo esses autores essa relação avalia o
risco relacionado à saúde por faixa etária. Na faixa etária de 20-29 anos, os
valores são: <0,71 (risco baixo); 0,71-0,77 (risco moderado); 0,78-0,82
(risco alto) e >0,82 (risco muito alto), para a faixa etária de 30-39 anos
encontramos: <0,72 (risco baixo); 0,72-0,78 (risco moderado); 0,79-0,84
(risco alto) e >0,84 (risco muito alto).
Para conhecer os
motivos de desistência das participantes realizamos um contato via telefone e
perguntamos: Por que a senhora não está mais participando do projeto? As
respostas foram anotadas e codificadas em motivos de desistência.
A pesquisa respeita
os critérios éticos de pesquisas realizadas em humanos com base na Resolução
466/12 que ressalta o respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e
autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de
contribuir e permanecer, ou não na pesquisa, por intermédio de manifestação
expressa, livre e esclarecida. As participantes que aceitaram participar
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Análise
de dados
Os dados
antropométricos e os motivos de desistência foram organizados no software
Excel®. Os dados antropométricos são apresentados em Média ± Desvio Padrão e os
motivos de desistência em forma de percentual.
Os dados
antropométricos e os motivos de desistência são apresentados em forma de
tabelas. A tabela I apresenta os dados antropométricos estratificados por idade
para classificá-los quanto a RCQ.
A amostra foi
composta por 22 mulheres, 10 com idade de 20-29 anos apresentaram média de IMC
29,03 ± 3,34 kg/m2 e RCQ 0,78 ± 0,03 o que representa risco alto a
saúde, a outra faixa etária presente no estudo foi de 30-39 anos (n = 12)
apresentou média de IMC de 32,89 ± 3,88 kg/m2 e RCQ de 0,85 ± 0,06 o
que representa risco muito alto à saúde. A média geral do IMC da amostra é de
31,13 ± 4,07 kg/m2.
Tabela
I – Dados antropométricos da amostra total
IMC = Índice de Massa
Corporal; RCQ = relação cintura quadril; *Fonte da classificação: Bray e Gray (1988)
Figura
1 – Motivos de desistência de mulheres
participantes do programa de exercício físico aeróbio
Para melhor discutir
os resultados obtidos optou-se por abordá-los em duas sessões. Inicialmente
analisamos o perfil antropométrico da amostra. Em seguida discutimos os motivos
associados à desistência dos praticantes no programa investigado.
Os resultados
revelaram que os principais motivos (figura 1) que podem levar mulheres a
desistirem da prática de exercício físico aeróbico são saúde e problemas
pessoais com 31,81% cada.
Panda e Silva [10]
apontam que os conhecedores da área da saúde compreendem o sobrepeso como um
dos motivos que traz maior risco para a saúde pública e a obesidade já é vista
como uma doença. Sua existência tem aumentado nos últimos anos bem como o
cuidado sobre as implicações que a obesidade causa na vida das pessoas.
Nossos resultados
revelaram que o perfil antropométrico das mulheres de ambas as faixas etárias
possui risco a saúde, por exemplo, as mulheres na faixa etária de 30-39 anos
(54,5%) apresentaram risco muito alto à saúde e as mulheres da faixa etária de
20-29 anos (45,5%) apresentaram risco alto à saúde, segundo Bray
e Gray [9] (tabela 1). Esses dados corroboram estudo de Brandão e Silva [11],
que avaliaram um grupo de 206 participantes acima de 18 anos de idade e
encontraram 38,8% com risco muito alto e 31,1 % com risco alto à saúde. Nesse
estudo e no nosso a maioria da amostra apresentou risco muito alto à saúde.
Apesar da faixa
etária e grupos diferentes, o principal motivo de desistência apontado por
Ribeiro et al. [12], que investigou o tempo de
adesão, motivos de desistência e perspectivas de retorno de idosos
participantes de um programa de atividades físicas, foi problema de saúde, o
que corrobora com os resultados do nosso estudo que mostrou que um dos
principais motivos de desistência foi problemas de saúde.
É importante
esclarecer que o motivo de desistência saúde, é descrito pelas mulheres como
justificativa para deixarem de frequentar o projeto para cuidar de problemas
como: tratar problemas na coluna, inflamações, realizar cirurgias, etc. Klain et al. [13] analisando as determinantes
demográficas, indicadores/percepção de saúde, socioeconómicas e motivacionais
da adesão e desistência de um programa de treino personalizado em adultos do
sexo masculino e feminino, encontraram que os motivos como falta de tempo,
falta de motivação, distância da academia e recuperação de cirurgia, foram
alguns dos motivos mais apontados para a desistência. Encontramos resultados
semelhantes em nosso estudo considerando que distância da academia e recuperação
de cirurgia do estudo citado estão relacionados aos
motivos local do projeto e de saúde respectivamente, do nosso estudo.
Alguns exemplos de
problemas pessoais citados pelas participantes da nossa pesquisa foram: cuidar
do filho da amiga, fazer trabalho de conclusão de curso (TCC), estágio,
trabalho, entre outros.
Weinberg e Goud [14] relatam que é essencial o compromisso e empenho
para manter uma atividade física constante diante de uma rotina ocupada com
trabalho, família e amigos. Por outro lado torna-se fácil permitir que outras
ocupações do dia a dia roubem todo seu tempo.
Wing e Jakicic [15] evidenciam que para que se mantenha uma perda
de peso a longo prazo se faz necessário que as pessoas
obesas não apenas adotem o exercício físico em sua vida, mas que permaneçam
praticando. Os autores ressaltam também que pessoas com excesso de peso
apresentam uma maior dificuldade para se manter
participando de um programa de exercícios físicos.
Após verificação do
perfil antropométrico das mulheres da nossa pesquisa, observamos que todas
possuem risco à saúde. Acreditamos que esse risco pode ser reduzido com a perda
de peso.
Através deste estudo,
é possível concluir que os principais motivos que levaram a desistência das
mulheres do projeto foram problemas pessoais, problemas relacionados à saúde e
problemas familiares.
O perfil
antropométrico das mulheres estudadas demonstra que todas possuem riscos à
saúde, provavelmente devido ao seu excesso de peso corporal, no entanto, elas
se mostraram pouco motivadas a mudar esse aspecto, desistindo da prática do
exercício físico aeróbio. Acreditamos que elaborar meios de motivação pode ser
eficiente para que mulheres permaneçam em programas de exercício físico.