Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(4):234-43
REVISÃO
Ansiedade
e esporte
Anxiety and
sport
Suzan Arakaki*, Pedro
Paulo Ribera*, Albino Pacheco Junior*, Taciane Pereira de Siqueira*, Deborah Palma**, Leonardo
Emmanuel Medeiros Lima**, Andreia Camila de Oliveira**
*Graduado(a)
do curso de Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) São Paulo/SP,
**Docentes do curso de Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi (UAM)
São Paulo/SP
Recebido em 17 de
abril de 2018; aceito em 5 de setembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Andreia Camila de Oliveira, Rua Doutor Almeida Lima 1134, 03164-000 São Paulo
SP, E-mail: andoliveira@anhembi.br, Pedro Paulo Ribera:
ribeiraspedro@gmail; Susan Arakaki: suzanarakaki@hotmail.com; Albino Pacheco
Junior: albinopj74@gmail.com; Taciane
Pereira de
Siqueira: tacianepereiradesiqueira@gmail.com; Deborah Palma:
deborah@conexaomagica.com.br; Leonardo Emmanuel Medeiros Lima:
leonardolimadocente@gmail.com
Resumo
O objetivo desta
pesquisa foi verificar como a ansiedade no contexto esportivo pode interferir
no desempenho. Trata-se de um trabalho de revisão sistemática que se baseou nos
últimos cinco anos e em três bancos de dados: Pubmed,
EBSCO e Scielo. Foram utilizadas palavras-chave em
português e inglês para ampliar a busca por artigos científicos. As
palavras-chave foram: ansiedade, esportes e competição. Os critérios empregados
para a inclusão foram: artigos publicados em língua
portuguesa e língua inglesa, entre 2012 e 2017, com participantes com mais de
18 anos de idade. Os resultados apontaram que dentro das pesquisas realizadas
nos bancos de dados utilizados, foi encontrado no EBSCO um total de 46 artigos,
dos quais 14 deles foram incluídos e 32 excluídos. No Pubmed,
um total de 48 artigos foi encontrado, 21 deles foram incluídos e 27 excluídos.
Na Scielo, 21 artigos foram encontrados, 5 foram incluídos e 16 excluídos. No ambiente esportivo,
compreendendo a área de atuação da Educação Física, a psicologia esportiva
mostra sua importância desde a base da formação esportiva, até o alto nível de
desempenho competitivo. Notamos que para embasamento de treinadores,
preparadores e dos próprios atletas, na construção de seus programas de
treinamento incluindo estratégias mentais, com intuito de gerar melhorias
significativas no desempenho esportivo, muito precisa ser estudado, analisado e
fundamentado, porém, a área da psicologia esportiva está em grande expansão e
com isso vêm mostrando sua importância tanto no âmbito da formação esportiva
quanto no âmbito do alto rendimento e desempenho.
Palavras-chave: ansiedade;
competição; esportes.
Abstract
The objective of this study was to verify how the anxiety in the sport
context can interfere in the performance. This is a systematic review work
based on the last five years and three databases: Pubmed,
EBSCO and Scielo. Key words were used in Portuguese
and English to broaden the search for scientific articles. The key-words were:
anxiety, sports and competition. The criteria used for inclusion were: articles
published in English and Portuguese in the period from 2012 to 2017,
participants older than 18 years of age. The results showed that within the
researches carried out in the databases used, a total of 46 articles were found
in EBSCO, of which 14 were included and 32 were excluded. In relation to the Pubmed database, a total of 48 articles were found, of
which 21 were included and 27 excluded. In the Scielo
database, a total of 21 articles were found, of which 5 were included and 16
were excluded. In the sports environment, encompassing the area of Physical
Education, sports psychology shows its importance from the basis of sports
training, to the high level of competitive performance. We note that in the
construction of their training programs, including mental strategies, in order
to generate significant improvements in sports performance, much needs to be
studied, analyzed and grounded, however, in the field of sports psychology is
in great expansion, and with this they have been showing their importance both
in the field of sports training and in the scope of high performance and
performance.
Keywords: anxiety;
competition; sports.
O presente estudo se
refere às possibilidades de interferência da ansiedade no desempenho de atletas
em competições esportivas, haja vista que tal relação pode ocasionar perdas ou
ganhos na prática esportiva. Para Chaves e Bara Filho
[1], a ansiedade pode ser negativa, positiva e/ou nula, dependendo da
personalidade e habilidades de cada indivíduo.
O termo ansiedade vem
sendo utilizado para expressar uma complexa reação ou resposta a um estado
transitório ou condição do organismo variando de intensidade e flutuando sobre
o tempo. Dada esta relação, é comum identificar situações como mãos suando
antes do jogo, frio na barriga e medo, bem como frases “Será que vou perder
esse pênalti?”, “esse barulho é contagiante”, “que torcida!”. Para atletas ou
pessoas ligadas ao esporte, são pensamentos muito comuns de se ouvir e que vêm
à mente no momento da competição. Na esfera competitiva, a ansiedade e o
desempenho esportivo são termos que quando relacionados se tornaram alvo de
pesquisa por profissionais da área [2].
A ansiedade esportiva
é um fator importante que pode interferir ou não de forma significativa no
desempenho. Pelo entendimento do estudo de Judge et al. [3], a competição pode vir a ser um desafio ou uma ameaça
segundo a percepção e estado psicológico de cada atleta. Porém, quando
identificada como um fator de interferência significativa no desempenho, a
ansiedade é uma das variáveis que mais afetam o rendimento do atleta. Por sua
relação ao medo de falhar, esse fator possui grande influência.
A
ansiedade pode ser
vista de quatro formas: ansiedade-traço que se caracteriza
através da
personalidade do indivíduo; ansiedade-estado, caracterizada pela
constante
mudança emocional, que está relacionada com a ansiedade
cognitiva e a ansiedade
somática; ansiedade cognitiva consiste em pensamentos negativos
e preocupações
de momento a momento; ansiedade somática, que está
relacionada não só à
ativação e alterações fisiológicas
de momento a momento, mas também à
percepção
do indivíduo em relação a estas
alterações [4].
Dentre estas
definições, há também a ansiedade pré-competitiva,
caracterizada por um estado de antecipação da competição, que no cenário
competitivo esportivo, é um assunto muito abordado e de grande preocupação
relacionado diretamente ao desempenho do atleta, envolvendo toda sua rotina pré-competitiva e a importância atribuída à determinada
competição, tornando-se assim, alvo de muitas pesquisas [5].
A ansiedade pré-competitiva está relacionada à pressão social que o
atleta sente e também aos pensamentos pré-competitivos
ligados ao medo do fracasso e de decepcionar o público [5]. Sendo assim, o
público presente na competição, composto pela família, treinadores e torcida
são fatores que podem levar ao aumento dos estados efetivos problemáticos na
fase pré-competitiva. De forma geral, quanto mais
importante e incerto é o resultado de uma prova desportiva, maior a probabilidade
dos atletas experimentarem altos níveis de ansiedade antes das competições.
Devido ao que foi
apresentado e por haver relevância na área da Educação Física e da Psicologia
esportiva, o objetivo desta revisão sistemática foi verificar como a ansiedade
no contexto esportivo pode interferir no desempenho competitivo. A
justificativa encontrada nos estudos realizados foi que os psicólogos
esportivos ainda não encontraram de forma exata como fatores psicológicos podem
influenciar o rendimento de atletas [4,2].
Trata-se de uma
pesquisa de revisão sistemática e segundo Sampaio e Mancini [6], é uma
metodologia que utiliza como fonte de dados da literatura já existentes. A
revisão se baseou nos últimos cinco anos, com indivíduos adultos, acima de 18
anos e em três bancos de dados: Pubmed, EBSCO e Scielo. Foram utilizadas palavras-chave em português na Scielo e em inglês nos bancos da Pubmed
e da EBSCO, visando ampliar nossa busca por artigos científicos: ansiedade,
competição e esportes.
Após finalizar a
pesquisa nos bancos de dados, alguns fatores de inclusão e exclusão foram
criados para os reais fins do presente trabalho. No caso da inclusão dos
artigos, os critérios empregados foram: artigos publicados em periódicos de
língua portuguesa e de língua inglesa dentro do período de 2012 a 2017. E como
fatores de exclusão: artigos anteriores ao período citado acima e população
estudada dentro dos artigos não poderia ser abaixo de 18 anos de idade.
Por meio desta
pesquisa, foram encontrados na EBSCO 46 artigos, dos quais 14 deles foram
incluídos e 32 excluídos. Já em relação ao banco da Pubmed
foi encontrado um total de 48 artigos, dos quais 21 deles foram incluídos e 27
excluídos. No banco de dados da Scielo, foram
encontrados 21 artigos, dos quais 5 foram incluídos e
16 excluídos. Os itens elencados para análise pelos pesquisadores deste estudo
estão presentes na tabulação e gráficos apresentados abaixo.
Fonte: Material do
acervo de pesquisa dos autores
Gráfico
1 – Banco de dados
De acordo com o
gráfico 1, foi possível analisar a quantidade de
artigos encontrados em cada banco de dados investigados pelo grupo. Nota-se que
o banco de dados com maior número de publicações entre os anos de 2012 e 2017
foi o Pubmed, seguido pelo Ebsco
e por fim a Scielo. Analisando os dados, foi possível
observar um número de material encontrado em bancos de dados nos quais a língua
predominante não é o português. Isto pode ser um indício de que os países estão
buscando publicações de artigos em uma língua universal para que haja um maior
alcance na área da ciência.
No gráfico 2, notou-se que houve uma evolução em número de publicações
no período de pesquisa deste estudo partindo do ponto de vista dos critérios
estabelecidos pelos pesquisadores.
Fonte: Material do
acervo de pesquisa dos autores
Gráfico
2 –
Ano de publicação
Em relação ao gráfico
3, reafirmou-se o que foi mencionado no gráfico 1 e a
preferência em publicar artigos com uma linguagem universal para que
pesquisadores de todo o mundo consigam colaborar com o progresso da ciência e
além disso, nota-se que no continente Europeu, principalmente no Reino Unido,
encontra-se o polo de pesquisa em se tratando da temática ansiedade e
performance no mundo. Analisando o gráfico, observa-se que o Brasil mostra
grande colaboração produzindo pesquisas na área podendo também se tornar
referência e um grande polo da temática.
Fonte:
Material do acervo de pesquisa dos autores
Gráfico
3 – Países de publicação
Corroborando o que
foi dito sobre os gráficos 1 e 3, o gráfico 4 mostra a
grande diferença entre o número de artigos publicados em português (5) e em
inglês (36), respectivamente. Lembrando que os resultados são referentes aos
artigos analisados pelos colaboradores do presente estudo.
Fonte: Material do
acervo de pesquisa dos autores
Gráfico
4 – Idiomas de publicação
Por fim, o gráfico 5 mostra os instrumentos utilizados em cada artigo analisado
pelos colaboradores deste estudo. A importância deste dado é de mostrar que os
procedimentos utilizados dentro das pesquisas têm evoluído com o tempo. Ou
seja, nota-se que os procedimentos não invasivos são amplamente utilizados nas
pesquisas, porém houve a introdução de novos instrumentos nas pesquisas, como o
procedimento invasivo, como amostra de sangue e o procedimento não invasivo,
como amostra de saliva, para melhorar a avaliação de forma mais profunda, de
âmbito genético. Em outras palavras, entre este período de 2012 a 2017, além de
procedimentos não invasivos, foram necessárias outras formas (coleta de sangue
e de saliva) para quantificar ou qualificar o meu objeto e alcançar o meu
objetivo de estudo. Devido a isso, pode-se afirmar que os procedimentos não
invasivos por si só não sejam mais suficientes para compor uma análise completa
para um determinado objetivo de estudos na área.
Fonte: Material do
acervo de pesquisa dos autores
Gráfico
5 - Contagem de instrumentos/questionários
Cronologicamente, em
meados de 1890 na América do Norte, falou-se sobre a psicologia do esporte pela
primeira vez, e o psicólogo E. W. Scripture foi o
pioneiro, que notou no esporte uma forma de demonstrar o valor da nova
psicologia científica do período entre 1890 e 1920 [4].
Compreendendo esta
nova vertente da psicologia, que começava a se estruturar na história, Weinberg
e Gould [4] apontaram que a psicologia esportiva tem dois objetivos, porém o de
maior relevância para este estudo é que ela busca entender como fatores
psicológicos podem afetar de alguma forma o desempenho físico.
Na área da Psicologia
esportiva existem diversos fatores de preocupação quando o assunto é rendimento
esportivo: a autoconfiança, autoestima, e a ansiedade são alguns deles. Dentre
estes fatores, a ansiedade é um elemento que causa muita curiosidade nos
pesquisadores. Por conta disso, “uma das principais áreas de pesquisa dentro da
psicologia esportiva é o estudo da relação entre ansiedade e rendimento
atlético” [7].
Para
entender a
relação entre a ansiedade e o desempenho, a priori,
necessita-se da compreensão
do termo “ansiedade” e suas categorias, das teorias, e
consequentemente, dos
questionários que surgiram ao longo da história para
avaliar e analisar essa
relação com o desempenho esportivo seja positivamente ou
negativamente. Segundo
a literatura, “a ansiedade é um estado emocional negativo
em que sentimentos de
nervosismo, preocupação, e apreensão estão
associados à ativação ou excitação
do corpo” [4]. Essa podendo ser classificada como ansiedade
traço, uma
predisposição de ansiedade que varia de indivíduo
para indivíduo: ansiedade estado, que varia de acordo com o momento, que por sua
vez, possui duas ramificações: ansiedade cognitiva, aquela que está no
plano mental e, ansiedade somática, aquela que consigo sentir na pele ou
internamente (ex. "frio na barriga") e/ou ver (ex. suor nas mãos
antes de uma partida).
Compreendendo os
conceitos sobre as diferentes classificações de ansiedade e de como ao longo do
tempo foram evoluindo, surgiu a necessidade de
descobrir como estas são mensuradas, para assim relacionar ou não com o
desempenho esportivo. Com isso, criaram-se teorias e questionários para avaliar
a ansiedade no esporte, as teorias são: Teoria do Drive; Teoria do U invertido; Teoria da Zona Ótima de
Funcionamento; Teoria da Catástrofe e a Teoria Multidimensional. Os
questionários desenvolvidos a partir destas teorias são: CSAI-2; CSAI-2R; SCAT;
STAY; SAS-2; IDATE. Estes são alguns dos questionários mais utilizados desde o
início dos estudos sobre o tema, e que evoluíram ao longo do tempo.
Após estas breves
apresentações sobre a trajetória da psicologia do esporte, da conceituação da
ansiedade, das teorias e questionários que surgiram para verificar como esta
ansiedade (traço ou estado, sendo essa última podendo ser cognitiva ou
somática) pode interferir de alguma forma ou não no desempenho esportivo, nossa
discussão se baseará nos achados entre 2012 e 2017 nas bases de dados citadas
acima.
Há relação entre a
ansiedade somática, ansiedade cognitiva e a autoconfiança, conforme Martens et al. [5]. Esse
aumento da ansiedade estado vem acompanhado da queda na autoconfiança. Tal
afirmação não foi universalmente aceita, já que Hardy
e Parfitt [9] sugeriram que ambos os fatores
trabalham de forma independente.
O estudo de Fernandes
et al. [10] corroborou a ideia inicial de Martens et al.
[5], “quando os atletas reportam elevados escores de autoconfiança, geralmente,
encontram-se com baixos níveis de ansiedade cognitiva e somática”. O estudo
afirma que:
“quando
os atletas percebiam sua ansiedade (cognitiva e somática) como facilitadoras do
desempenho, apresentaram aumento da frequência de pensamentos relacionados à
autoconfiança. Por outro lado, quando os atletas percebiam sua ansiedade como
uma barreira do desempenho, apresentaram diminuição de ocorrências de
pensamentos relacionados à autoconfiança. Os atletas com alta experiência
competitiva tendem a interpretar os seus sintomas de ansiedade e a
autoconfiança como facilitadores do desempenho, sendo assim, menor ocorrência
de pensamentos relacionados aos sintomas de ansiedade. No entanto, os atletas
com baixa experiência competitiva tendem a perceber seus sintomas de ansiedade
e a autoconfiança como fatores que dificultam o desempenho, assim como, uma
maior ocorrência de pensamentos relacionados aos sintomas de ansiedade
competitiva comparada aos atletas com alta experiência competitiva”.
Como observado,
estudos anteriores mencionam a ansiedade estado (somática e cognitiva), e sua
relação com a autoconfiança. Contudo, encontrou-se também o estudo de Sari [11], que nos traz a relação entre a ansiedade traço e
autoconfiança. Segundo o autor [11], há uma correlação negativa entre a
ansiedade traço e a autoconfiança, ou seja, a autoconfiança se eleva quando o
nível da ansiedade traço diminui.
É notável que a
autoconfiança e a ansiedade são variáveis que exercem
grande influência na performance esportiva, com isso a experiência competitiva
é um fator decisivo no modo com que o atleta lida com tais variáveis,
principalmente diante de competições importantes e grandes públicos [10].
Moore et al. [12] mostraram que indivíduos que
entendem a competição como um desafio, interpretam a ansiedade como um fator
facilitador para a performance, já indivíduos que entendem a competição como
uma ameaça, interpretam a ansiedade como um fator debilitante para o
rendimento, além de observar também os mesmos efeitos na atenção.
Deste modo, Meijen et al. [13]
sugerem que indivíduos que sofrem de ansiedade são menos comprometidos na
competição, por exemplo, um jogador de basquete ansioso não apresenta tanta
posse de bola quanto seus parceiros de equipe.
Estudos como de Paludo [2] e Arruda [14] corroboram no sentido de que a
ansiedade somática, ansiedade cognitiva e a autoconfiança não têm diferença
significativa quando jogando dentro ou fora de casa. No entanto, Cunniffe et al. [15]
mostram que a localização do jogo e a posição do atleta no início do jogo
(banco ou titular) influenciam na resposta fisiológica do mesmo.
Além da localização,
é evidente que o conceito (masculino ou feminino) é outro fator que exerce
certo grau de influência sobre o rendimento durante o jogo. Em estudo de Judge et al. [3], foi constatado que, em geral,
mulheres possuem maiores taxas de ansiedade que os homens. Além disso, o estudo
realizado com atletas de power lifting sugere que, enquanto participantes reportam altos níveis
de ansiedade, tal estado não impacta em seu melhor desempenho pessoal,
especificamente no agachamento.
Corroborando o estudo
anterior, Fernandes [16] revela que atletas do sexo feminino apresentaram
maiores níveis de ansiedade e menores níveis de autoconfiança, enquanto atletas
do sexo masculino apresentaram baixos níveis de ansiedade e níveis elevados de
autoconfiança. O autor também relata que atletas de esportes individuais apresentaram
menores níveis de ansiedade do que atletas de esportes coletivos, além disso,
atletas com alta experiência possuem menores escores de ansiedade em comparação
a atletas de baixa experiência, ou seja, quanto maior a experiência competitiva
de um atleta, maior a sua autoconfiança. Portanto, destaca-se que o sexo, tipo
de esporte e experiência afetam significativamente a ansiedade de um atleta.
No entanto, Sari [11] e De Pero [17] não partilham das mesmas
conclusões de Judge et al. [3] e Fernandes [16], pois os
resultados apresentados pelos autores revelam que não há diferença
significativa entre os gêneros. Para Sari [11], as
variáveis analisadas foram a orientação da tarefa,
orientação do ego, autoeficácia geral e a ansiedade
traço entre os participantes (homens e mulheres) e, dentre todas não foram
encontradas diferenças significativas entre os sexos. Já no estudo de De Pero [17], as variáveis analisadas foram: ansiedade, autoeficácia e o medo de lesão, e em nenhuma destas
variáveis houve diferença significativa entre homens e mulheres analisados.
Esclarecida a relação
entre a ansiedade e os gêneros, a área da psicologia esportiva revela-se em
grande expansão e surgem artigos mais recentes [7,18,19],
que somente o estudo da relação das condições psicológicas no desempenho
esportivo não é mais suficiente, surge uma demanda agora para a explicação mais
profunda de tais fatores psicológicos, abrangendo suas origens desde questões
que abordam o indivíduo e sua estrutura genética para a explicação dos fatos.
O estudo de Znazen et al. [18] foi o
primeiro a interpretar a relação entre o gene da enzima conversora de
angiotensina (ACE) e a ansiedade somática, ansiedade cognitiva e a
autoconfiança em atletas, testando se os genótipos podem estar associados a tais
ansiedades e se podem ser usadas como preditor da
performance (modalidades de resistência e de força).
Outros trabalhos
focaram a análise genética ou buscaram explorar uma possível relação entre a
presença de polimorfismos relacionados à ansiedade e sua associação com o
desempenho atlético em um grupo de triatletas de longa distância chilenos
[18,7]. Nesses estudos, os pesquisadores mostraram que variantes genéticas
dentro de genes relacionados ao estresse e à ansiedade afetam o desempenho atlético
em triatletas chilenos de longa distância.
Por fim, nesta
aprofundada análise sobre o ser humano, Filonzi et al. [19] avaliaram o contributo dado
por 4 genes envolvidos no desenvolvimento muscular (MSTN) e intuições
comportamentais para performances atléticas: o transportador de serotonina
(5HTT), transportador de dopamina (DAT) e monoamina
oxidase A (MAOA). Nos resultados, quanto à neurotransmissão,
os genes 5HTT, DAT e MAOA foram considerados diretamente envolvidos no manejo
da agressividade e da ansiedade. Encontraram ainda uma correlação significativa
entre o genótipo do transdutor de dopamina 9/9 e o alelo 9
e as performances esportivas de elite. Ainda sobre os resultados, sugerem um
forte papel do neurotransmissor de dopamina na determinação do sucesso do
esporte, destacando o papel do controle emocional e do gerenciamento
psicológico para alcançar o alto nível de performances.
Outro fator que
assemelha os dois estudos [18,7] é que ambos os experimentos foram realizados
dentro de uma nacionalidade específica, no caso do primeiro estudo, atletas
tunisianos, e, no segundo estudo, atletas chilenos, respectivamente. Ao
contrário do estudo de Filonzi et al. [19] que utilizou diferentes etnias em seu grupo de
participantes da pesquisa.
É de consenso que
grande parte dos atletas competitivos fazem treinos físicos por muitas horas
semanais e, por outro lado, se preparam mentalmente somente antes da partida.
Quando acontece uma derrota, atribuem suas falhas às questões psicológicas, não
físicas, como, por exemplo, más decisões, falta de
confiança e perda do foco. Deste modo, quando voltam aos treinos, simplesmente
tentam acertar mais e praticam mais fisicamente, ao invés de trabalhar os
aspectos mentais do jogo [20].
Há ainda indicadores
de que a ansiedade competitiva tem potencial de influenciar negativamente o
desempenho e sugerem que profissionais da área de condicionamento físico e
força deveriam considerar adicionar estratégias para redução da ansiedade
cognitiva em seus programas de treinamento [3].
Elliott [21], por sua
vez, revelou que houve diminuição nos níveis de ansiedade cognitiva e somática,
na frequência cardíaca e aumento na sensação de relaxamento comparando períodos
pré e pós-intervenção de concentração com música.
Foi demonstrado que
atividade esportiva competitiva pode reduzir o risco de desenvolver depressão e
ansiedade, com um efeito positivo no humor em atletas cadeirantes de basquete
[22].
Notada a expansão da
psicologia esportiva e sua evolução em pesquisas, a partir desta revisão, foi
considerada sua importância tanto na área da própria Psicologia quanto na área
da Educação Física, que se faz presente quando o desempenho físico/esportivo é
analisado juntamente com o desempenho mental.
Dentro do ambiente
esportivo, abrangendo a área de atuação da Educação Física, a psicologia
esportiva mostra sua importância desde a base da formação esportiva até o alto
nível de desempenho competitivo.
Por mais que diversos
resultados tenham sido apresentados nesta revisão, notou-se que ainda, sim, são
necessárias novas pesquisas na área de ansiedade e desempenho esportivo como
foco em experimentos de longa duração, embasando assim prescrições de longo
prazo, e que analisem as variáveis que encontramos durante esta revisão com
mais aprofundamento.
A partir das
informações levantadas até agora, os autores acreditam que entendendo tais
variáveis, como a idade, nível da competição, gênero, o tipo de modalidade,
genética dos atletas e possíveis estratégias a serem utilizadas na metodologia
da preparação psicológica, treinadores e preparadores possam colaborar cada vez
mais com o desenvolvimento de seus atletas, possibilitando-os atingirem um
melhor desempenho esportivo.
Foram levantadas
algumas questões que poderão direcionar futuras pesquisas. São necessários
estudos que verifiquem as variáveis da ansiedade, como e o quanto suas
classificações podem interferir no desempenho e em quais momentos do período
competitivo geram impacto significativo.
Observou-se que para
embasamento de treinadores, preparadores e dos próprios atletas, na construção
de seus programas de treinamento incluindo estratégias mentais, com intuito de
gerar melhorias significativas no desempenho esportivo, muito precisa ser
estudado, analisado e fundamentado, porém a área da psicologia esportiva está
em grande expansão, e com isso vêm mostrando sua importância tanto no âmbito da
formação esportiva quanto no âmbito do alto rendimento e desempenho.
As diferentes
estratégias de preparação mental têm efeitos positivos na redução da ansiedade
e no aumento da sensação de relaxamento e da autoconfiança, e, aliadas ao
contexto esportivo competitivo, podem ser decisivos não só no resultado
competitivo final do atleta, mas também na longevidade de sua vida competitiva.
Por este motivo a importância da aplicação prática através dos treinadores, de
todas as descobertas geradas até agora na área da psicologia esportiva e,
principalmente, na área da ansiedade e desempenho esportivo. A atividade física
contribui para a diminuição do nível de ansiedade e estresse devido à liberação
de neurotransmissores que podem garantir sensações de felicidade e de prazer
para os indivíduos.