Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(3):178-184
doi: 10.33233/rbfe.v17i3.2275
ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
agudos do body weight
training na frequência cardíaca
Acute effects of body weight training on heart rate
Tatiana Leodorio da Silva*, Kaio Luiz Gasques Martins*, Fernando de Oliveira Rosa**, Rodrigo
Maciel Andrade***, Fernando Rodrigues****, Leonardo Emmanuel de Medeiros
Lima***, Deborah Duarte Palma***, Paulo Costa Amaral***
*Graduado
em Educação Física pela Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/ SP,**Docente
de cursos de Pós-Graduação na área de Educação Física, ***Docente do curso de
Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP, Docente de
cursos de Pós-Graduação na área de Educação Física, ****Docente do curso de
Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP
Recebido em 5 de junho de 2018; aceito em 5 de setembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Paulo Costa Amaral, Rua General Porfírio da Paz, 1350 Bloco J/14 Vila Bancária 03918-000 São Paulo SP, E-mail:
pcamaral@anhembi.br; Tatiana Leodorio da
Silva: tatileodorio@hotmail.com; Kaio Luiz Gasques Martins: kaio.martins@outlook.com.br; Fernando
de Oliveira Rosa: fernando12392@yahoo.com.br; Rodrigo Maciel Andrade: rmandrade@anhembi.br;
Fernando Rodrigues: frrodrigues@anhembi.br; Leonardo Emmanuel de Medeiros
Lima: leonardolimadocente@gmail.com ; Deborah Duarte
Palma: esportes@anhembi.br
Resumo
Objetivo: Analisar os efeitos
agudos body weight training
na frequência cardíaca. Material e
métodos: Participaram deste estudo 20 voluntários (10 homens e 10
mulheres), entre 21 e 33 anos (27 ± 6), praticantes de exercícios físicos
regularmente há pelo menos seis meses. Todos os participantes realizaram uma
sessão de body weight training
com duração de 20 minutos, realizado em formato de circuito, isto é, sem
intervalo. Para a análise estatística, foi utilizado o software SPSS (versão
22.0), e o nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: A fase repouso inicial apresentou valores
significantemente (p < 0,05) menores (77 ± 6) do que o encontrado nos demais
instantes; a fase de aquecimento valores significantemente (p < 0,05)
maiores (97 ± 18) do que a fase repouso inicial, porém menores (p < 0,05) em
relação às demais fases; a fase principal valores significantemente (p <
0,05) maiores (152 ± 6) em relação as demais fases; a
fase de volta a calma valores significantemente (p < 0,05) menores (129 ± 5)
do que a fase principal, porém maiores (p < 0,05) em relação as demais
fases; e a fase repouso final (129 ± 5) comportamento idêntico a fase volta a
calma. Conclusão: A prática de body weigth training é um meio de treinamento
predominantemente na zona aeróbia (76% a 81% FCmax).
Palavras-chave: treinamento de
resistência; exercício; ginástica; frequência cardíaca.
Abstract
Objective: To analyze
the acute effects of body weight training on heart rate. Methods: Twenty volunteers (10 men and 10 women),
aged between 21 and 33 years (27±6), practicing physical exercise regularly for
at least six months participated in this study. All participants performed a
20-minute body weight training session, performed in circuit format without
interval. For the statistical analysis, we used SPSS software (version 22.0)
and the level of significance was 5%. Results:
The initial rest phase presented values significantly (p < 0.05) lower (77 ±
6) than that found in the other instants; (p < 0.05) higher values (97 ± 18)
than the initial rest phase, but smaller (p < 0.05) in relation to the other
phases; the main phase values significantly (p < 0.05) higher (152 ± 6) in
relation to the other phases; the phase of return to calm values significantly
(p < 0.05) smaller (129 ± 5) than the main phase, but larger (p < 0.05)
in relation to the other phases; and the final resting phase (129 ± 5)
identical to phase behavior returns to calm. Conclusion: The practice of body weight training is a means of
training predominantly in the aerobic zone (76% to 81% HRmax).
Keywords: resistance
training; exercise; gymnastics; heart rate.
O exercício físico é
definido como qualquer atividade física planejada, estruturada e repetitiva,
que tem como objetivo final ou intermediário aumentar ou manter a saúde e
aptidão física [1].
No entanto, muito se
tem discutido sobre meios de treinamentos baseados na funcionalidade. Neste
sentido, o treinamento funcional é uma das estratégias que visa à seleção de
atividades, exercícios e movimentos considerados funcionais. Segundo Heyward [2], treinamento funcional é um sistema de
progressão de exercícios para grupos musculares específicos. À medida que a
dificuldade dos exercícios aumenta, mais força, equilíbrio, estabilização do
centro do nosso corpo (conhecido como core)
e coordenação são exigidos.
Este tipo de
treinamento envolvendo habilidades motoras como equilíbrio, coordenação,
marcha, agilidade e treinamento proprioceptivo [3] prepara o organismo de
maneira completa, segura e eficiente através do core [4]. Já para Boyle [5],
treinamento funcional é um contínuo de exercícios que prepara o indivíduo com o
seu peso corporal em todos os planos de movimento.
Deste modo, um dos
objetivos do treinamento funcional é a utilização dos padrões fundamentais do
movimento humano, como empurrar, puxar, agachar, girar e lançar, abrangendo
assim um gesto motor específico em diferentes planos de movimento [4].
No entanto, todo
movimento é funcional e é uma reação em cadeia, não um evento isolado [4], e
envolve 4 níveis: 1) compreendem movimentos articulares
menores e isométricos; 2) envolvem contração concêntrica e excêntrica por meio
de toda a amplitude de movimento; 3) há uma progressão na velocidade, na
especificidade e na demanda neural dos exercícios; 4) integra os movimentos de
estabilização neuromuscular, força de estabilização e força dinâmica, em
atividades com progressões específicas. Assim, os níveis aplicados de forma
progressiva, dependendo do nível de condicionamento de cada aluno, promove a
realização dos movimentos com segurança e eficiência [4].
Através do
treinamento funcional os componentes de aptidão física relacionados à saúde
podem ter desenvolvimento por meio de tarefas que estimulem os componentes
relacionados ao desempenho [4]. E um dos meios de treinamento funcional mais
utilizado na atualidade é o Body Weight Training (BWT), conhecido como treinamento
utilizando o peso corporal.
Segundo publicações
do ACSM, em 2014, o BWT apareceu em 2º colocado como tendência do fitness [6],
em 2015 foi o destaque em 1º colocado [7], em 2016 e 2017 constava no 2º
colocado [8,9], e em 2018 está no 4º colocado [10].
Em estudo realizado
por Botelho et al. [11], utilizando ginástica
funcional, foi constatado que este tipo de treinamento é uma alternativa de
treinamento que contribui na diminuição da pressão arterial, prevenção de
lesões e melhora da qualidade de vida do indivíduo. Além disso, os mesmos
autores relatam que o comportamento da frequência cardíaca (FC) é uma variação
importante para o diagnóstico, prognóstico de doenças cardiovasculares e para a
prescrição e controle do treinamento físico.
Todavia, poucos
estudos têm enfocado as respostas de frequência cardíaca no treinamento de BWT.
Neste sentido, qual será a zona alvo de treinamento de uma sessão de BWT?
Deste modo, o
objetivo deste estudo foi analisar os efeitos agudos em uma sessão de body weight training
na frequência cardíaca.
Tipo e
delineamento do estudo
Para os fins a que se
propõe este estudo, os procedimentos metodológicos seguiram a linha da pesquisa
experimental, com uma amostra não probabilista intencional.
Amostra
Participaram do
estudo 20 voluntários (10 homens e 10 mulheres), entre 21 e 33 anos (27 ± 6),
praticantes de exercícios físicos regularmente há pelo menos seis meses.
Protocolo
de intervenção
Todos os
participantes preencheram uma anamnese, a qual constava informações sobre a
identificação do participante (nome, endereço, idade, telefone, dados do
convênio médico, contato em caso de emergência, estado de saúde, fatores de
risco de doenças crônicas, medicamentos, prática de atividade física, saúde
psicológica e dores articulares, ósseas ou musculares) e coleta de dados dos
testes durante a intervenção.
A sessão de BWT teve
duração de 20 (vinte) minutos, realizados em formato de circuito, isto é, sem
intervalo, conforme segue:
a) aquecimento
(2min15seg):
b) parte principal
(13min45seg):
c) volta a calma (4min):
A sessão de body weight training foi
ministrada por um profissional de Educação Física registrado junto ao Conselho
Regional de Educação Física do Estado de São Paulo (CREF4/SP).
Procedimentos
para análise de dados
A frequência cardíaca
(FC) dos participantes foi mensurada com um frequencímetro
da marca Polar (modelo F5). Foi determinada a FC em repouso inicial. Para
tanto, cada avaliado permaneceu sentado em uma cadeira antes do início da
sessão de body weight training
por 5 minutos. Foi considerada a FC média deste intervalo.
Durante a aula, a FC
foi mensurada de forma contínua. A média de cada fase da aula foi considerada
para análise. Cinco minutos após o término da aula, também foi mensurada a
frequência cardíaca, sendo a média deste período, retida para análise.
Anterior a qualquer
tipo de análise, a aderência à curva normal e a homocedasticidade
dos dados foram checados pelos testes Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. Considerando que nenhuma das
análises violou os pressupostos para utilização de ferramentas paramétricas,
foram utilizadas as medidas de tendência central e de dispersão media e desvio
padrão. Seguiu-se, então, a análise exploratória para a identificação e
eliminação de observações atípicas por meio de diagramas de caixa (box-plot).
Para a análise da
comparação intragrupos, foi utilizada a análise
variância (Anova) para medidas repetidas. Quando necessário, utilizou-se o post hoc de Bonferroni.
Para todas as análises, foi utilizado o software
SPSS® versão 22b para Windows®.
A significância
estatística estabelecida foi de p<0,05.
Aspectos
éticos
Este estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi (São
Paulo/SP), sob CAAE nº 56460816.9.0000.5492, em sessão de 23 de maio de 2016.
Todos os participantes concordaram em participar do estudo e assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados foi realizada no
período de junho e julho de 2016.
A análise descritiva
nos momentos repouso inicial, aquecimento, fase principal, volta calma e
repouso final está apresentada na Tabela I e na Figura
1.
Tabela
I - Análise descritiva da frequência cardíaca
entre as diferentes fases da prática de body weight training
FC = frequência
cardíaca; bpm = batimentos cardíacos por minuto; DP =
Desvio padrão; %FCmáx =
percentual da frequência cardíaca máxima prevista
bpm = batimentos
cardíacos por minuto; a = diferença com significância estatística (p<0,05)
em relação as fases aquecimento, principal, volta e repouso final; b =
diferença com significância estatística (p < 0,05) em relação as fases repouso
inicial, principal, volta e repouso final; c = diferença com significância
estatística (p < 0,05) em relação as fases repouso inicial, aquecimento, volta
e repouso final; d = diferença com significância estatística (p<0,05) em
relação as fases repouso inicial, aquecimento e principal
Figura
1 - Análise comparativa da frequência cardíaca
entre as diferentes fases da prática de body weigth training
Foi evidenciada
efeito com significância estatística quando consideradas as variáveis
dependentes fase da aula [Wilks' lambda=0,370, F(4,16)=943,20, p<0,05]. A análise de post hoc de Bonferroni sinalizou diferenças com significância
estatística entre os instantes analisados.
A fase repouso
inicial apresentou valores significantemente (p < 0,05) menores (77 ± 6) do
que o encontrado nos demais instantes; a fase de aquecimento valores
significantemente (p < 0,05) maiores (97 ± 18) do que a fase repouso inicial,
porém menores (p < 0,05) em relação às demais fases; a fase principal
valores significantemente (p < 0,05) maiores (152 ± 6) em relação às demais
fases; a fase de volta à calma valores
significantemente (p < 0,05) menores (129 ± 5) do que a fase principal,
porém maiores (p < 0,05) em relação às demais fases; e a fase repouso final
(129 ± 5) comportamento idêntico a fase volta à calma.
Observou-se que a
média do percentual da frequência cardíaca máxima prevista (%FCmáx) nas fases de aquecimento
(56%FCmáx) e volta à calma (59%FCmáx) foram classificadas como zona de
atividade moderada [3,12], ao ponto que a fase principal apresentou
classificação de zona aeróbia (77%FCmáx) [3,12]. Estes dados sinalizaram
inicialmente adequado planejamento e organização da
aula observada. Tal afirmação reside no fato de que, baseado no %FCmáx, houve na fase de
aquecimento uma adequação metabólica e mecânica antecipatória do esforço a ser
aplicado na fase principal, e na fase de volta a calma, uma diminuição
gradativa de intensidade da fase principal, evitando possíveis efeitos
deletérios funcionais aos praticantes.
Ainda, reflete
adequado planejamento e organização da aula observada quando referido a fase
principal, que foi classificada como zona aeróbia (77%FCmáx),
dado que em um treinamento com o método em circuito, alterando o volume do
treinamento, aumentando a duração da sessão e ativando mais o sistema aeróbio,
acarreta em um maior gasto energético durante o exercício [12].
De acordo com Edwards
[13], a zona aeróbia é aquela que o indivíduo começa a entrar em um intervalo
de resistência, mas não podendo atingir o limiar anaeróbio entre 80 a 90% do
limiar máximo de FC.
Segundo Fleck e Kraemer [12], o
treinamento em circuito desde que alterando o volume do treinamento, aumentando
a duração da sessão e ativando mais o sistema aeróbio, pode acarretar em um
maior gasto energético durante o exercício, porém ainda dentro das
características dos exercícios de força. Contudo, neste estudo a frequência
cardíaca sofreu uma redução com significância (p < 0,05) nas comparações
entre as fases de volta à calma em relação à fase principal e entre a fase
repouso final e fase principal.
Segundo
Figueiredo
[14], a ativação simpática e a
inibição parassimpática sobre o
coração resultam
no aumento da frequência cardíaca e no aumento da
força de contratilidade do
miocárdio. De acordo com o mesmo autor, os fatores iniciais dos
testes
progressivos parecem assumir maior amplitude de ajustes que os fatores a longo prazo. Entre eles a influência das catecolaminas
sobre o coração aumentando assim a FC e consequentemente diminuindo a
variabilidade da frequência cárdica durante o exercício.
No estudo de Farinatti e Assis [15] é comparado exercícios de
fortalecimento muscular e aeróbio, no qual é relatado que quanto maior o tempo
de exposição ao exercício, maior a resposta hemodinâmica, ou seja, o aumento da
FC.
Em outro estudo
realizado por Sankako [16], foram testados indivíduos
através de exercícios físicos dinâmicos em esteira rolante e, por meio do
comportamento da FC em cada velocidade aplicada, pôde-se observar que ocorreu
um aumento abrupto dos valores absolutos da FC nos primeiros segundos de
esforço, atribuído à retirada vagal e consequentemente foi constatada uma
redução da variabilidade da frequência cardíaca. O referido estudo apresenta
resultado semelhante ao trabalho realizado por Sartor
[17], em aulas de zumba, o qual pode verificar que atingiram a zona aeróbia de
treinamento, na qual foi considerada a zona mais expressiva de treinamento cuja
média da FC na fase principal encontra-se na zona aeróbica entre 70% a 80% FCmáx. Resultado semelhante também
foi constatado no estudo de Domen e Oliveira [18],
aplicando o treinamento de força na musculação, constatando que o treino de
resistência muscular localizada provoca uma maior sobrecarga no sistema
cardiovascular.
No entanto, em estudo
realizado por Saccomani et al. [19], com adolescentes (média de 16 anos de idades), foi
constatado que o treinamento de força em circuito predominantemente foi acima
da zona aeróbia de treinamento.
Com base nos
resultados apresentados conclui-se que a prática de body weigth training é um meio de treinamento
predominantemente na zona aeróbia (77%FCmáx), podendo
ser uma alternativa para as aulas coletivas e treinamento personalizado (personal training).
Na trajetória deste
estudo, tivemos dificuldade em achar artigos relacionados ao BWT pela pouca
publicação sobre a temática. Diante deste contexto, tornam-se necessários mais
estudos focados em sessões de BWT que busquem esclarecer melhor esse meio de
treinamento.