Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(1):1-2
EDITORIAL
Novas
discussões sobre periodização e monitoramento do treinamento
Radamés Maciel Vítor
Medeiros*
*Professor
Doutor do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN),
Correspondência:
radames.medeiros@unifesp.br
O treinamento
esportivo é caracterizado como um processo complexo, cujo resultado final pode
ser atingido diante da união de diversos fatores, sejam eles associados ao
conhecimento de conteúdo teórico acerca do treinamento, ou diante da arte de
intuição do treinador. Assim, o desenvolvimento relacionado ao processo de
preparação esportiva está diretamente relacionado às evidências empíricas da
prática do treinador e a fundamentação teórico-científica
presente nas diversas áreas relacionadas às ciências do esporte [1].
Mesmo diante dos
conceitos, inúmeros analistas, pesquisadores e profissionais do meio esportivo
permanecem com o questionamento: “Como poderia ser planejado o treinamento mais
eficiente para o desempenho do atleta?” No processo histórico da humanidade,
Manso, Valdivieso e Caballero [1] descrevem uma
síntese sobre o treinamento esportivo em três fases ou etapas: a) desde a sua
origem até o ano de 1950, quando se inicia a sistematização do treinamento
esportivo; b) a segunda fase atinge os anos até 1970, momento em que se
questionaram os modelos clássicos de planejamento e apareceram novas propostas
ou modelos; c) a terceira etapa, que se estende até os dias atuais, apresenta a
vivência de uma grande evolução do conhecimento nesta área de pesquisa.
Tal evolução pode ser
observada a partir dos modelos teóricos criados para o planejamento e
periodização do treinamento esportivo. O modelo tradicional (ou moderno),
divulgado pelo cientista russo professor Doutor Leev Pavlovtchi Matveev nos anos 50,
tomou grande repercussão mundial e popularizou as premissas relacionadas à
periodização, fundamentando-se na teoria da Síndrome Geral da Adaptação. A
partir disso, o modelo de periodização e a sua estruturação lógica de
preparação do atleta a partir da hierarquia de ciclos de treinamento e unidades
tornou-se uma ferramenta universal para o planejamento e análise na formação de
atletas em diversos esportes, e sob diferentes níveis
de desempenho.
Apesar de amplamente
aceita, a abordagem da periodização do treinamento merece importante atenção,
especialmente porque os aumentos aleatórios de variáveis como volume,
intensidade ou frequência podem aumentar a probabilidade de lesões e sintomas
de overtraining. Neste sentido, observa-se que o
papel da investigação científica neste processo está se tornando mais
importante, a fim de prescrever programas de treinamento ideais que impeçam o
risco de lesão e propicie alcançar o desempenho desejado.
Em estudo publicado
recentemente, Loturco e Nakamura [3], discutindo as
controvérsias e debates acerca das bases conceituais da periodização do
treinamento, trazem duas questões importantes: 1) o papel da periodização em otimizar o desempenho real durante a fase de pico de
desempenho, planejada previamente; 2) como identificar as melhores estratégias
para controlar e melhorar a capacidade esportiva dos atletas.
Segundo estes
autores, ao examinar o papel do conceito de periodização em alcançar o máximo
desempenho específico nos eventos específicos selecionados pelo atleta / equipe
(jogos amistosos e competitivos, por exemplo), importantes desvantagens
emergem: taxas baixas de eficiência nos resultados de melhor desempenho pessoal
ao longo do ciclo competitivo.
A partir dessa
abordagem, novas perspectivas na literatura são encontradas para o treinamento
esportivo. Para alguns, a periodização permanece como importante ferramenta de
planejamento em preparação para os ciclos competitivos, porém associada ao monitoramento
das cargas de treino. Baseado nas respostas de cada atleta e da equipe ao que
foi programado, o profissional poderá compreender a diferença entre as
expectativas e a realidade para cada momento, readequando o planejamento e
buscando sempre a manutenção do máximo de desempenho.