Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(1):10-8
doi: 10.33233/rbfe.v17i1.2362ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
dos exercícios aeróbico e resistido em pacientes cardiopatas
Effects of aerobic and resistance exercises in patients with heart
disease
Cezenário Gonçalves Campos,
Ft.*, Ana Paula Silva, Ft.**, Michelle Aparecida Silva Camargos,
Ft.**, Shirlei Aparecida de Queiroz, Ft.**, Juliana
Cleusa de Almeida***, Carla Cristine Cunha Casali, M.Sc.***
*Bacharel
em Fisioterapia, Universidade de Itaúna (FUIT) Itaúna/MG, **Preceptora do
Estágio Hospitalar em Fisioterapia Intensiva e Cardiorrespiratória,
Universidade de Itaúna, ***Mestre em Fisioterapia Cardiorrespiratória - UNITRI,
Docente da Universidade de Itaúna
Recebido em 16 de
novembro de 2017; aceito em 20 de dezembro de 2017.
Endereço
de correspondência:
Cezenário Gonçalves Campos, Rua Vereador Elizeu Zica
585 Catalão 35501-220 Divinópolis MG, E-mail: cezenario@yahoo.com.br; Ana Paula
Silva: paula.silva.w@hotmail.com; Michelle Aparecida Silva Camargos:
michelleapcamargos@hotmail.com; Shirlei Aparecida de
Queiroz: shirleiqueirozoliveira@hotmail.com; Juliana Cleusa de Almeida:
aasena@ig.com.br; Carla Cristine Cunha Casali: ccasali@uai.com.br
Resumo
A reabilitação
cardíaca é o somatório das atividades necessárias para garantir melhores
condições físicas, mentais e sociais. O objetivo deste estudo foi verificar os
efeitos proporcionados pelos exercícios aeróbico e resistido
em pacientes cardiopatas com relação à capacidade funcional, força
muscular e qualidade de vida. Foram analisados o TC6’,
o teste de 10 repetições máximas e o questionário de qualidade de vida SF-36,
em 25 cardiopatas de ambos os sexos, divididos em três grupos: Grupo 1 -
treinamento aeróbico, Grupos 2 - treinamento combinado (aeróbico e resistido) e
Grupo 3 - treinamento resistido (fortalecimento muscular). Os programas foram
realizados por um período de oito semanas, com frequência de três vezes por
semana e duração de 50 minutos cada sessão. Houve melhora significativa da
força muscular em todos os grupos, sendo esse efeito mais pronunciado no grupo
de treinamento resistido. A capacidade funcional melhorou, embora sem
significância estatística em todos os grupos, especialmente no que associou os
exercícios de força e resistência. O treinamento resistido e o combinado
melhoraram significativamente o aspecto social relacionado à qualidade de vida.
De acordo com os nossos resultados o treinamento combinado (aeróbico e
resistido) proporciona melhora na aptidão cardiorrespiratória, sendo
fundamental em um programa de reabilitação cardíaca.
Palavras-chave: reabilitação
cardíaca; força muscular; capacidade funcional; qualidade de vida.
Abstract
Cardiac rehabilitation is the total of the activities to ensure better
physical, mental and social conditions. The aim of this study was to
investigate the effects caused by aerobic exercise and resistance training in
cardiac patients with respect to functional capacity, muscular strength and
quality of life. We analyzed the 6MWT, the 10 repetition maximum test and the
questionnaire quality of life SF-36 in 25 cardiac patients of both sexes,
divided into three groups: Group 1 - aerobic training, Group 2 - combined
training (aerobic and resistance) and Group 3 - resistance training (muscle
strengthening). The programs were performed for a period of eight weeks, with a
frequency of three times per week, for about 50 minutes each session. We
observed a significant improvement in muscle strength in all groups, and this
effect was more pronounced in the group of endurance training. Functional
capacity improved, although not statistically significant in all groups,
especially when linked to the strength and endurance exercises. Resistance
training and the combination significantly improved the social aspect related
to quality of life. According to our results, combined training (aerobic and
resistance) improves cardiorespiratory fitness, and is fundamental in a cardiac
rehabilitation program.
Keywords: cardiac
rehabilitation; muscle strength; functional capacity; quality of life.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a reabilitação cardíaca é o somatório das atividades
necessárias para garantir aos portadores de cardiopatia as melhores condições
físicas, mentais e sociais, de forma que eles consigam, pelo seu próprio
esforço, reconquistar uma posição normal na comunidade e levar uma vida ativa e
produtiva [1].
Para que um programa
de reabilitação cardíaca seja benéfico, os exercícios físicos devem ser
prescritos seguindo critérios corretos que incluam componentes de exercícios
aeróbicos e fortalecimento muscular [2]. Os exercícios aeróbicos são aqueles
que envolvem grandes grupos ou massas musculares e proporcionam, em longo
prazo, melhora no consumo máximo de oxigênio, redução da frequência cardíaca em
repouso e redução da pressão arterial [3]. Os exercícios de fortalecimento
muscular objetivam preservar e aumentar a força e a potência musculares. Esse
tipo de exercício tem se mostrado seguro e eficiente em cardiopatas. Entre os
seus benefícios estão: melhora da endurance muscular,
da função cardiovascular e do metabolismo, redução dos fatores de risco
coronarianos e melhora do bem-estar geral [4].
Tanto o treinamento
aeróbico quanto o de força produzem efeitos favoráveis sobre a qualidade de
vida, apesar de os mecanismos de melhora serem
diferentes. Qualidade de vida é usada na medicina para caracterizar a percepção
da pessoa sobre seu estado de saúde em grandes domínios ou dimensões de sua
vida. Portanto, difere de pessoa para pessoa e também está diretamente
associada ao contexto cultural no qual ela está inserida [5].
O presente estudo
justificou-se pela necessidade de verificar os efeitos proporcionados pelos
exercícios aeróbicos e resistidos em pacientes cardiopatas com relação à
capacidade funcional, à força muscular e à qualidade de vida, uma vez que os
fatores de risco para doenças cardiovasculares podem ser controlados com a
prática de atividade física.
Dessa maneira, o
objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos dos exercícios aeróbico e
resistido na capacidade funcional, força muscular e qualidade de vida em
pacientes cardiopatas.
Este foi um estudo do
tipo quase experimental, em que participaram 25 voluntários portadores de
cardiopatias, de ambos os sexos, funcionalmente independentes e encaminhados às
Clinicas Integradas de Fisioterapia da Universidade de Itaúna para o programa
de reabilitação cardiovascular. Os voluntários estavam em acompanhamento médico
obrigatório e uso regular da terapêutica medicamentosa. Os critérios de
exclusão do estudo foram: presença de descompensação
da doença, comprometimento musculoesquelético, neurológico ou outros que impossibilitassem
a realização das atividades propostas.
O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Itaúna (CEP-UI) sob o
parecer número 005/10. Os participantes do estudo, após explicação dos
procedimentos e objetivos, assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Inicialmente os
voluntários foram submetidos a uma avaliação fisioterapêutica constando de
história clínica e exame físico.
Em seguida todos os
voluntários realizaram o teste de caminhada de seis minutos (TC6’) [6], com
todos os voluntários, no início e ao final do tratamento, em um corredor plano
de 30 metros com uma cadeira no ponto de partida e um cone em seu ponto final,
através do número de voltas obtivemos a distância percorrida, com o objetivo de
avaliar a capacidade funcional do voluntário.
Para avaliação da
qualidade de vida foi utilizado o questionário genérico SF-36 [7]. O mesmo é
composto de 11 questões com 36 itens englobados em 08 domínios: 1) aspectos
físicos; 2) aspectos sociais; 3) capacidade funcional; 4) aspectos emocionais;
5) saúde mental; 6) vitalidade; 7) dor; 8) estado geral de saúde. Apresenta uma
pontuação mínima de 1 e máxima de 6 pontos, com escore
final de 0 a 100, onde 0 corresponde ao “pior” e 100 ao “melhor” estado de
saúde. Para o presente estudo, foram selecionados os domínios (2) aspectos
sociais e (4) aspectos emocionais.
Para a prática dos
exercícios de fortalecimento muscular foi realizado um teste de força de 10
repetições máximas no início e ao final do tratamento. De acordo com a massa
corpórea do voluntário, foram calculados 10% do seu peso para início do teste.
Se o mesmo não conseguisse completar as 10 repetições, era dado um intervalo de
dois minutos e diminuído um quilo até que o paciente conseguisse completar o
teste (10 repetições). Se o paciente conseguisse completar as 10 repetições
máximas, era acrescentado um quilo até que o paciente não conseguisse completar
as 10 repetições máximas, sendo usado o último valor suportado pelo voluntário
na realização do teste [8].
Treinamentos
resistido e aeróbico
Os voluntários foram
divididos homogeneamente em três grupos em relação à idade e sexo. Grupo 1 (G1) - realizou treinamento aeróbico; Grupo 2 (G2) -
treinamento combinado (aeróbico e resistido); Grupo 3 (G3) - treinamento
resistido (fortalecimento muscular). Todos os voluntários foram submetidos à
reabilitação cardíaca, por um período de oito semanas, com frequência de três
vezes por semana e duração de 50 minutos cada sessão.
O grupo 1 realizou exercícios aeróbicos em bicicleta ergométrica,
com intensidade calculada entre 50% e 70% da frequência cardíaca máxima [9].
Cada sessão consistiu de 10 minutos de aquecimento, 30 minutos de exercício
aeróbico em bicicleta ergométrica e 10 minutos de resfriamento.
O grupo 2 realizou exercícios aeróbicos com intensidade calculada
entre 50% e 70% da frequência cardíaca máxima [9] em bicicleta ergométrica
durante 15 minutos, e exercícios resistidos em três grupos musculares, dois
para membros inferiores (cadeira flexora e banco de panturrilha) e um para
membros superiores (puxada na frente com polia alta). Os exercícios foram
realizados utilizando-se aparelhos de musculação com carga de treinamento
estabelecida em 40% da máxima obtida no teste de 10 repetições máximas. Cada
sessão consistiu em 10 minutos de aquecimento, 15 minutos de exercício aeróbico
e 15 minutos de exercícios resistidos (três séries de 10 repetições com
intervalo de um minuto entre as séries) e 10 minutos de resfriamento. Durante
as quatro semanas iniciais, a intensidade do treino resistido foi de 40% da
carga obtida no teste de 10 repetições máximas e nas quatro semanas finais foi
aumentada para 50% da mesma.
O grupo 3 realizou exercícios resistidos em seis grupos musculares,
três para membros superiores (puxada na frente com polia alta, peitoral fixo e
remada baixa) e três para membros inferiores (cadeira flexora, banco de
panturrilha e extensão de joelho com peso livre) utilizando aparelhos de
musculação e caneleiras. Os exercícios para membros superiores foram alternados
com os exercícios para membros inferiores usando, nas quatro semanas iniciais
uma intensidade de 40% da carga máxima obtida no teste de 10 repetições máximas
e 50% nas quatro últimas semanas de treinamento [8]. Cada sessão consistiu em
10 minutos de aquecimento, 30 minutos de exercício contra resistência (três
séries de 10 repetições com intervalo de um minuto entre as séries) e 10
minutos de resfriamento.
Em todos os grupos
foram mensurados parâmetros como pressão arterial, saturação de oxigênio e
frequência cardíaca, no início, durante (15 minutos iniciais de treino) e ao
final de cada sessão.
Análise
estatística
A estatística
descritiva, incluindo índices de medida de tendência central (média), dispersão
(desvio padrão) e proporção, foi usada para caracterização dos dados. O teste
Shapiro-Wilk foi utilizado para verificar a
normalidade dos dados das variáveis quantitativas do estudo. Para as variáveis
com distribuição simétrica que atenderam os pressupostos da técnica foi
utilizado Anova one way
comparando os grupos na pré-intervenção, com relação
às variáveis antropométricas e idade. E para as variáveis nominais clínicas
(sexo e co-morbidades) foi
empregado o teste de qui quadrado. Para a análise das
variáveis dependentes do estudo com distribuição normal foi utilizado Anova
fatorial mista 3x2 para comparação intra e inter grupos
com análise de post hoc LSD (Least Significant Difference) e
comparação par a par. Para os dados não homogêneos, foi utilizado o Teste Wilcoxon para
análise intragrupo (pré-intervenção
e pós-intervenção) e o Teste Kruskal-Wallis
para comparação intergrupos pós-intervenção.
O valor de p foi
ajustado pelo número de variáveis dependentes consideradas no estudo, sendo α
=0,05. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se o programa Statistical Package for
Social Sciences (SPSS), versão 15.0.
Dos 25 voluntários
avaliados inicialmente, quatro não completaram as oitos semanas de tratamento,
dois em consequência de abandono e dois devido à internação hospitalar.
Portanto, a amostra final foi composta por 21 voluntários (16 homens e 5 mulheres) hemodinamicamente estáveis com diagnóstico
clínico de: coronariopatia, insuficiência cardíaca
congestiva e valvulopatia.
Figura
1 - Amostra das cardiopatias envolvidas no
estudo
Os 25 voluntários
foram distribuídos em 3 grupos: grupo 1: treinamento
aeróbico; grupo 2: treinamento combinado (aeróbico e resistido) e grupo 3:
treinamento resistido.
De acordo com as
variáveis da amostra apresentadas nas tabelas I e II, os grupos se mostraram
homogêneos inicialmente.
Tabela
I – Característica dos grupos no pré-teste em
relação às variáveis antropométricas e doenças associadas
Teste One way Anova; *Teste Kruskal-Wallis; +Teste Qui-quadrado
Tabela
II –
Médias e Desvios-padrão dos grupos 1, 2 e
3 para as variáveis distância percorrida em metros no
TC6, força muscular, pressão arterial sistólica e diastólica (PAS e PAD) e
qualidade de vida no início do tratamento
Teste One way Anova, *Teste Kruskal-Wallis
As tabelas, III e IV
apresentam as variáveis relacionadas à distância percorrida
(TC6’), pressão arterial, qualidade de vida (domínios AS e AE do SF36) e
força muscular, intra e entre grupos, no pré-teste e
no pós-teste.
Tabela
III
– Análise descritiva (média e DP):
distância percorrida (TC6), pressão arterial, qualidade de vida (SF36) e força
muscular, divididas por grupo e período de avaliação
ANOVA, t (p)
Tabela
IV –
Comparação intragrupo (pré-teste e pós-teste) das
variáveis relacionadas à distância percorridas (TC6), pressão arterial,
qualidade de vida (domínios, AS e AE do SF 36) e força muscular
*= Wilcoxon
Z (p), + = Mann Whitney U, ** = Anova, t(p), **Pos
Hoc LSD
De acordo com a
tabela IV, a comparação intragrupos não revelou
diferenças estatísticas significativas em relação às variáveis descritas, com
exceção da força muscular que aumentou de maneira significativa em todos os
grupos.
Com relação à
comparação entre grupos (G1, G2 e G3), houve diferença estatística
significativa entre as variáveis força e qualidade de vida, conforme
demonstrado nas figuras 2 e 3. Houve um maior incremento da força muscular nos
grupos 2 e 3 em relação ao 1, sendo os melhores
resultados observados no G3. Quando comparado o G1 com o G2 obteve-se um p =
0,05. Ao comparar o G1 com o G3, encontrou-se um p = 0,001. Na comparação entre
o grupo G2 e o G3 observou-se um p = 0,054.
Figura
2 - Comparação da variável força entre grupos
Em relação à
qualidade de vida houve diferença estatística no aspecto social do questionário
SF36-AS, indicando que os treinamentos combinado (G2)
e resistido (G3) proporcionaram efeitos positivos superiores ao treinamento
aeróbico isolado (G1) em relação à melhora da qualidade de vida (AS). Na
comparação entre G1 e G2 obteve-se um p = 0,018. Ao comparar o grupo G3 com o
grupo G1 encontrou-se um p = 0,013. Com relação à comparação entre G2 e G3,
encontrou- se um p = 0,562.
Figura
3 - Comparação da variável qualidade de vida -
aspecto social (AS) entre grupos
A reabilitação
cardiovascular é de fundamental importância a fim de evitar os efeitos
deletérios da inatividade e a perda da capacidade funcional. Os programas de
reabilitação cardíaca foram desenvolvidos com o propósito de possibilitar aos
pacientes portadores de doenças cardiovasculares o retorno às suas atividades
diárias, com ênfase na prática do exercício físico, reduzindo também o custo
efetivo do tratamento [1].
As doenças
cardiovasculares prevalecem como a principal causa de mortalidade e
incapacidade no Brasil e no mundo [1], sendo a doença arterial coronariana
(DAC) responsável por 80% das incidências [10]. A Dislipidemia, juntamente com
outros fatores como o tabagismo, o diabetes mellitus, a hipertensão arterial
sistêmica (HAS), a obesidade, o sedentarismo, a história familiar, os fatores
psicossociais, como estresse emocional estão entre os principais riscos para o
aparecimento da DAC [1]. Em nosso estudo houve um predomínio de voluntários
portadores de DAC (72%), a maioria apresentava mais de um fator de risco para
doenças cardíacas associado, conforme descrito pela
literatura.
A reabilitação
cardiovascular é de fundamental importância a fim de evitar os efeitos
deletérios da inatividade e a perda da capacidade funcional. Os programas de
reabilitação cardíaca foram desenvolvidos com o propósito de possibilitar aos
pacientes portadores de doenças cardiovasculares o retorno às suas atividades
diárias, com ênfase na prática do exercício físico, reduzindo também o custo
efetivo do tratamento [1].
O objetivo deste
estudo foi, portanto, avaliar os efeitos do treinamento físico realizado
através de 3 diferentes programas de reabilitação
cardíaca, empregando somente exercícios aeróbicos, somente exercícios
resistidos e a combinação de ambos. Cada protocolo consistiu em 3 sessões de 50 minutos por semana (em dias alternados),
durante 8 semanas. Cada sessão foi composta por 10 minutos de aquecimento, 30
minutos de exercícios (de acordo com cada protocolo), 10 minutos de
resfriamento e mensuração de parâmetros como pressão arterial, saturação de
oxigênio e frequência cardíaca, no início, durante e ao final de cada sessão. O
treinamento de força utilizou nas quatro semanas iniciais, uma intensidade
equivalente a 40% da carga obtida no teste das 10 repetições máximas e nas
quatro semanas finais foi aumentada para 50%.
Os exercícios de
reabilitação devem ser realizados de 2 a 3 vezes por semana, com duração de 20
a 40 minutos cada sessão e com intensidade moderada [11], os de fortalecimento
muscular deve constituir-se de 2 a 3 séries de 6 a 12 repetições, com
intensidade entre 40 e 60% da carga obtida no teste de força muscular [12].
A capacidade
funcional surge como novo paradigma na área da saúde, particularmente um valor
ideal para se viver independente, sendo esta a capacidade de realizar
atividades físicas cotidianas, ocupacionais, esportivas e de lazer. Está
relacionada à capacidade de suportar uma atividade dinâmica, que envolva
grandes grupos musculares por longo período [4].
A atividade física é
fundamental para a saúde e para a manutenção de uma boa capacidade funcional.
Entre seus benefícios incluem-se a melhora da angina em repouso, melhora na
relação ventilação/ perfusão pulmonar, melhora a capacidade oxidativa
musculoesquelética e controle dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares [13].
Um aumento na
distância percorrida no TC6’ de 41 metros pode estar associado com uma melhora
clínica do paciente cardiopata [1]. No presente estudo houve melhora, embora
sem significância estatística, da capacidade funcional determinada pelo aumento
da distância percorrida no TC6’ em todos os grupos. Os pacientes do G2 que
realizaram a reabilitação com associação dos exercícios aeróbicos e de
resistência apresentaram o maior incremento na distância percorrida (67
metros), indicando a possibilidade de melhora clínica. A amostra pequena e a
grande variabilidade dos dados podem explicar a falta de significância
estatística.
Em nosso estudo, a
variável pressão arterial apresentou uma redução nos valores médios no G1, que
realizou treinamento aeróbico e um aumento nos grupos 2
e 3, que realizaram treinamento combinado e resistido respectivamente.
Entretanto, esses resultados não foram significativos em nenhum dos grupos
avaliados.
O condicionamento
físico aeróbico reduz os níveis pressóricos e provoca adaptações autonômicas e
hemodinâmicas que melhoram de forma expressiva o funcionamento do sistema
cardiovascular, sendo uma estratégia para o tratamento da hipertensão arterial
sistêmica. No G1 houve uma tendência à redução da PAS e manutenção da PAD [14].
A elevação da pressão
arterial sistólica é decorrente da tensão muscular contra resistência, que leva
à restrição do fluxo sanguíneo muscular durante a contração, devido à
compressão das arteríolas e capilares que perfundem o
leito muscular, desencadeando resposta pressórica desproporcional ao consumo de
oxigênio local, a fim de manter a pressão de perfusão da musculatura em
atividade [1]. Nos grupos 2 e 3 as pressões tenderam a
ficar mais elevadas, o que pode ser explicado pela presença dos exercícios
resistidos no protocolo de exercício.
A força muscular é
fundamental para saúde, manutenção da capacidade funcional e melhora da
qualidade de vida [15].
No presente estudo
observamos melhora significativa da força muscular, avaliada pelo teste de 10
repetições máximas, após a realização dos protocolos em todos os grupos (G1,
G2, G3), quando realizadas as comparações intragrupos.
Vale ressaltar que os pacientes apesar de já terem participado de programa de
reabilitação cardíaca anteriormente ao estudo, não realizavam exercícios
resistidos, apenas o treinamento aeróbico. Com relação à comparação entre os
grupos houve um maior incremento da força muscular nos grupos 2 e 3 nos quais o treinamento resistido esteve presente,
sendo os melhores resultados observados no G3.
Uma revisão de 12
estudos sobre o treinamento de força em programas de reabilitação cardíaca
mostrou que, em portadores de DAC estável, já em treinamento aeróbico por pelo
menos 3 meses, adicionar o treino de força parece
bastante seguro, promovendo melhora da força muscular e da endurance,
sem desencadear episódios de isquemia miocárdica, ou anomalias hemodinâmicas
[1].
Ambos os exercícios
físicos, aeróbico e de força, podem promover benefícios substanciais em termos
de aptidão física e fatores relacionados à saúde, embora os benefícios
fisiológicos de ambas as modalidades sejam substancialmente diferentes. O
treinamento aeróbico melhora o consumo de oxigênio (VO2max),
a capacidade funcional e de forma mais eficaz modifica os fatores de risco
relacionados à DAC. O treinamento de força oferece maior desenvolvimento de
força muscular, resistência e massa muscular, auxiliando na função cardíaca e
na manutenção da taxa metabólica basal [9]. Um estudo com 24 pacientes
randomizados, 6 para exercícios aeróbicos, 7 para
exercícios resistidos e 11 no grupo controle, demonstrou não haver diferenças
significativas em relação à frequência cardíaca (FC) e à pressão arterial (PAS
e PAD). O treinamento resistido produziu ganhos na força muscular e capacidade funcional associados à melhora da qualidade de vida e do
prognóstico [15].
Qualidade de vida é a
percepção do estado funcional, condições de tratamento, impacto, limitações e
perspectivas que o paciente tem da sua doença num contexto cultural e social. A
aquisição de uma boa qualidade de vida é o maior desejo que se pode alcançar.
Assim, entende-se que qualidade de vida seja algo intrínseco, que só pode ser
avaliado pelo próprio sujeito, sendo um conceito individual que se configura
diante da história de cada um. [16].
A prática regular de
exercício físico traz inúmeros benefícios à qualidade vida dos pacientes
cardiopatas, dentre eles a diminuição da fadiga e do estresse e o aumento do
vigor e do estado de alerta [16].
Com relação à
variável qualidade de vida, não houve diferença significativa dos domínios
social e emocional do SF36, quando observamos as comparações intra-grupos, apesar de ter ocorrido melhora dos escores
indicando melhora da qualidade de vida nos grupos 2 e
3. Ao realizarmos as comparações entre os grupos constatamos diferença
significativa do aspecto social do SF36, indicando que os treinamentos combinado (G2) e resistido (G3) proporcionaram efeitos
positivos superiores ao treinamento aeróbico isolado (G1) com relação à melhora
da qualidade de vida. Essa melhora pode ser devida à implantação de um novo
componente no treinamento (exercício de força), que os voluntários não estavam
praticando, gerando assim um estímulo, reduzindo a ansiedade e o estresse
levando a uma melhor socialização entre os voluntários dos grupos (G2 e G3).
Ao realizarmos o
estudo, encontramos dificuldades relacionadas ao número de participantes e a
indisponibilidade de testes específicos para mensurar a qualidade de vida em
cardiopatas, devido às várias patologias cardiovasculares em nosso estudo.
Sugerimos um novo
estudo com uma amostra maior, dosagem de testes bioquímicos, e a incorporação
do treinamento de força como método de tratamento no programa de reabilitação
cardíaca, para melhor desempenho nas atividades de vida diária e na qualidade
de vida.
Segundo este estudo,
o programa de reabilitação cardíaca composto tanto por treinamento aeróbico
quanto resistido melhora a força muscular, sendo esse efeito mais pronunciado
no treinamento resistido. A capacidade funcional melhorou especialmente no G2,
que associou os exercícios de força e resistência. Porém, não houve
significância estatística nos três grupos. O treinamento resistido e o
combinado melhoraram significativamente o aspecto social relacionado à
qualidade de vida.
Todos os pacientes,
independente do grupo a que pertenciam, relataram uma melhor tolerância para
realização de suas atividades de vida diária e qualidade de vida em geral.
De acordo com os
nossos resultados, o treinamento combinado (aeróbico e resistido) proporciona
melhora na aptidão cardiorrespiratória, sendo fundamental em um programa de
reabilitação cardíaca.