Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(3):195-203
doi: 10.33233/rbfe.v17i3.2418REVISÃO
Treinamento
concorrente e seus efeitos para indivíduos de meia idade e idosos
Concurrent training and their effects in middle age and elderly
Alan Luiz da Silva*, Patricia Amanda Serafim, M.Sc.**, Camilo Antonio
Monteiro Bueno, M.Sc.**
*Bacharel
em Educação Física pela Faculdade de Ensino Superior do Interior Paulista
(FAIP), **Professor do Curso de Educação Física da Faculdade de Ensino do
Interior Paulista (FAIP)
Recebido em 27 de
junho de 2018; aceito em 14 de setembro de 2018.
Endereço
de correspondência:
Camilo Antonio Monteiro Bueno, Rua São Luiz, 1057,
17500-002 Marília SP, E-mail: bueno.camilo@gmail.com; Alan Luiz da Silva:
alan.bc.one@gmail.com; Patricia Amanda Serafim: prof.patriciaserafim@gmail.com
Resumo
Programas de treinamento
físico são utilizados como intervenções e prevenções para os efeitos
degenerativos do envelhecimento. Dentre esses o treinamento concorrente (TC),
que é a combinação de métodos de treinamento em uma mesma sessão, pode ser
considerado proposta interessante para sujeitos de meia idade e idosos, que tem
o intuito de melhorar esses efeitos. O TC pode se caracterizar pela combinação
de treinamento aeróbico (TA) e força (TF). O presente estudo tem como objetivo
verificar na literatura a importância e os benefícios do TC em relação aos
métodos isolados, em tais indivíduos, investigando seus efeitos sobre doenças
crônicas, ação fisiológica, fatores de risco cardiovasculares e protocolos de
treinamento a serem utilizados. Esta revisão teve como fonte primária de
pesquisa artigos e dissertações utilizando bases de dados como Pubmed, Scielo, Lilacs, entre outros, com publicações de 1997 a 2018. A
pesquisa pôde constatar que o TC gera muita discussão no meio acadêmico, porém
o que faz a diferença é o protocolo utilizado. A literatura demonstra que o TC
não traz prejuízo para o público de meia idade frente a outros métodos,
destacam-se os bons resultados no que diz respeito ao aumento da força
dinâmica, VO2 pico e aumento do gasto energético quantificado pelo EPOC. Utilizando-se
para perda de gordura e redução dos fatores de risco cardiovascular, além de
ação hipotensiva relacionada a pessoas hipertensas, e também atua na melhora do
diabetes tipo 2. Conclui-se que o TC é um método
eficaz para essa faixa populacional sendo equivalente ao treinamento de força e
aeróbico isolados e muitas vezes até uma melhor opção.
Palavras-chave: treinamento de
resistência; treinamento aeróbico; saúde do idoso.
Abstract
Physical training programs are used as intervention and prevention for
the degenerative effects of aging, among these the concurrent training (CT),
which is the combination of training methods in the same session, interesting
proposal for middle-aged and elderly subjects. The CT is nothing more than the
combination of training methods: it can be characterized by the combination of
endurance and resistance. The present study aimed to verify in the literature
the importance and benefits of CT in relation to isolated methods,
investigating its effect on chronic diseases, physiological action, cardiovascular risk factors and training protocols to be
used. The literature review was primary source of research papers and
dissertations using databases such as Pubmed, Scielo, Lilacs, among others, with publications from 1997
to 2018. The research has noted that the CT generates much discussion in
academic environment, however, what makes the difference is the protocol used.
Literature shows that the CT does not harm middle-aged people compared to other
methods, good results are highlighted with regard to the increased dynamic
strength, peak VO2 and increased energy expenditure quantified by EPOC. It is
used to burn fat and to reduce cardiovascular risk factors and hypotensive
action related to hypertensive people, also acts in the improvement of type 2 diabetes. We concluded that the CT is an effective method
for this population group and is equivalent to strength training and aerobic
isolated and often a better option.
Keywords: resistance
training; aerobic; aged.
O crescimento da
população idosa no Brasil tem sido foco de discussões para a elaboração de
novas estratégias de promoção da saúde [1]. Visando um envelhecimento com
qualidade de vida e tendo conhecimento que “o envelhecimento vem acompanhado
por alterações fisiológicas graduais, porém progressivas, e também do aumento
da prevalência de enfermidades agudas e crônicas” [1,2] por esses fatores
inerentes a idade, faz-se necessária uma intervenção que primeiramente venha
vinculada à prevenção. O Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda a
realização de exercícios aeróbicos por pelo menos de 30 a 60 minutos, de três a
cinco dias na semana em intensidade vigorosa [3], e para manutenção da
resistência e força muscular, a Associação Americana do Coração recomenda no
mínimo dois dias na semana em intensidade moderada a vigorosa a fim de promover
a saúde e prevenção de doenças em indivíduos idosos [4].
É chamado treinamento
concorrente (TC) a realização de exercícios de força e aeróbicos na mesma sessão
de treinamento, e a principal questão que se levanta é se as adaptações
concorrem ou podem se associar [5]. Muitos estudos apontam benefícios ao aliar
treinamento de força (TF) e treinamento aeróbico (TA) e buscam entender seus
efeitos nos ganhos de força e condicionamento cardiorrespiratório. Segundo Chacon-Mikahil et al. [6], “em
adição, o (TC) tem sido considerado como o ideal para a saúde de pessoas de
meia-idade e idosos” dado importante quando se busca um envelhecimento de
qualidade e a inibição de fatores de risco como sedentarismo.
O estudo busca na
literatura dados que consolidem a importância do TC sobre fatores de risco
inerentes ou não à idade, trazendo como objeto de estudo o público de meia
idade entre 40 a 50 anos de ambos os sexos. A escolha da faixa etária se deu
pelo fato de que esses indivíduos passam por grandes alterações fisiológicas e
que irão se agravar na velhice, tornando assim o público alvo interessante de
ser analisado.
Dessa forma, o
objetivo deste estudo foi analisar a importância do TC e seus benefícios em
indivíduos de meia idade, entender os efeitos da prática na composição física
do indivíduo e em outras variáveis relacionadas ao processo de envelhecimento
como doenças crônicas.
Este estudo
qualitativo de cunho bibliográfico realizou uma investigação que utiliza a
literatura baseada em evidencias, tendo como sua fonte primaria de pesquisa
artigos científicos e dissertações de bases de dados como Pubmed,
Scielo, Lilacs, entre
outros, analisando publicações de 1997 a 2018 que abordam a temática do
treinamento concorrente além de comparativos com treinamento de força e
aeróbico e também estudos relacionados ao público de meia idade e idosos dentro
do exercício físico. Na busca nas bases, foram combinadas as palavras-chave,
força/strength, aeróbico/endurance,
treinamento/training, exercício/exercise,
concorrente/concurrent, resistência/resistence, idosos/old age, meia
idade/middle age, efeitos/effect,
com operador booleano AND.
Relação
treinamento concorrente e métodos isolados
O TC é defendido e
questionado na literatura, Guedes [7] comenta que a diferença nos resultados de
vários estudos parece estar relacionada com os protocolos utilizados, fatores
como volume, intensidade, frequência, população alvo, nível de aptidão inicial
e a estatística utilizada, concluindo que o excesso de treinamento juntamente
com a falta de recuperação adequada parece ser o ponto principal a efeitos
negativos apontados pelo TC.
Revisando dados na
literatura, alguns trabalhos abordam diferentes pontos e efeitos do TC, como o
de Sousa e Nunes [8], que avalia a interferência do TA na produção de força,
que se utilizou de 8 indivíduos treinados, ambos os
grupos tinham mensuração da força realizada através de teste de 1RM após 20
minutos de treinamento aeróbico. No estudo não foi detectada diferença
significativa nos parâmetros de força dinâmica dos grupos.
Para mulheres em
período pré-menopáusicas Gentil et
al. [9] compararam aumentos na força muscular de membros superiores e
inferiores em mulheres pré-menopáusicas que realizam
TF ou TC, de modo intervalo de alta intensidade (HIIT). Em conclusão, realizar
HIIT em um cicloergômetro antes do treinamento de
resistência não parece prejudicar a força muscular.
Na interferência do
TF no TA, Zanon et al. [10] tiveram como objetivo verificar se o TF altera o
desempenho no TA, com sujeitos de 18 a 26 anos treinados, e realizaram 3
testes, sendo um aeróbico, teste de 1RM e o terceiro avaliando o TC através do
número de repetições no TF com base no 1RM, finalizando com um TA, e não houve
prejuízo no desempenho aeróbico dos sujeitos, apesar do público do estudo se
diferenciar do proposto por este estudo, podemos entender isso como um dado importante
a ser considerado.
Adaptações
fisiológicas do TC
É importante entender
os benefícios que se pode adquirir por meio da prática do TC e como podem
influenciar no envelhecimento [8,10-12]. Observa-se o treinamento concorrente
como ótima ferramenta para trabalhar aspectos cardiorrespiratórios e de força
em pessoas de idade elevada. Wood et al. [11]
analisaram diferentes treinamentos em indivíduos de 60 a 84 ano e concluíram
que o TC diminuiu a frequência cardíaca de repouso quando comparado ao grupo TA
e obteve ganhos de força semelhante ao TF, “combinação de treinamento de força
e cardiovascular resulta em melhorias fisiológicas semelhantes em comparação
com cardiovascular ou resistência sozinho”, além de conseguir resultados
significativos em uma frequência semanal de no mínimo duas sessões semanais
[11,13-14].
Diferentes protocolos
de TC são utilizados, um deles realizado por Chacon-Mikahil
et al. [6] avaliou por 12 semanas de TC em homens de
meia idade, a fim de demonstrar as adaptações morfofuncionais, utilizando
quinze homens de (48,12 ± 5,05 anos) sedentários, comparando o grupo que
realizou TC e um grupo controle. No estudo a soma de nove dobras cutâneas, a
gordura relativa e a massa gorda apresentaram reduções significantes no TC após
o período de treinamento, além de aumento na força máxima para os exercícios leg press e supino reto, mas sem
hipertrofia significante, porém o ganho de força sem aumento da massa magra tem
sido presente em indivíduos adultos, de meia idade e idosos, principalmente nas
primeiras semanas de treinamento, isso é atribuído ao aumento de ativação de
unidades motoras nas musculaturas envolvidas. O estudo então aponta que houve
melhoras de aptidão aeróbica e força muscular além de efeitos na composição
corporal [6].
Treinamento
concorrente e hipertrofia
O artigo de Viana et al. [15] estudou os efeitos do TC sobre
a massa muscular, na potência aeróbica e composição corporal em adultos. As
formas de trabalhar força isolada e TC não apresentaram diferença significativa
na composição corporal dos 26 sujeitos estudados, que foram divididos em 3 grupos de treinamento. Ausência de ganho de massa magra se
repete em outros estudos [16,17], entretanto, vale entender os efeitos do TC
para com a hipertrofia. O artigo de Mohamad et al.
[18] analisa a combinação do exercício TA e TF e
os efeitos na
hipertrofia e objetivava mostrar como o exercício
aeróbico pode maximizar o
ganho de massa magra. O autor utiliza de exercícios
aeróbicos de baixa
intensidade nos intervalos entre as series e descreve que esse
método pode
contribuir em fatores importantes para obtenção de massa
muscular como ganhos
mecânicos: aumento da temperatura do músculo para
geração de força, velocidade
e elasticidade muscular; contribuição no metabolismo:
melhora a taxa de
depuração de lactato e índice de
reposição energética; produção
hormonal: gera
hormônios anabólicos como HGH e os mantêm em
níveis elevados no período de
força; adaptação neural: aumento da temperatura do
músculo no intervalo ativo
pode aumentar a velocidade de transmissão nervosa e
sensibilidade do receptor
afetando positivamente a cinemática no período de
trabalho [18].
O trabalho em ciclo ergômetro no TC parece também ser uma estratégia para hipertrofia de membros inferiores. O estudo de Tsitkanou et al. [19] envolveu 22 homens jovens que divididos em grupos que realizavam somente o TF e grupo que realizava o TC, sendo TF seguido de ciclo ergômetro. Constatou-se ganho semelhante de hipertrofia em ambas as abordagens, e o TC foi eficaz na capilarização muscular e melhora nos níveis de aptidão aeróbica. Esses resultados sugerem que o ciclismo de intervalo de alta intensidade realizado após o exercício de resistência pesada não pode inibir a força muscular e hipertrofia induzida pelo exercício de resistência após 2 meses de treinamento, enquanto que eleva a capacidade aeróbica e a capilarização muscular.
A
tabela a seguir mostra a comparação da hipertrofia atingida pelos grupos, sendo
CSA (área de secção transversa do quadríceps) QUAD (quadríceps) VL (vasto lateral)
VI (vasto intermédio) VM (vasto medial) RF (reto femoral). Área de secção transversa
do quadríceps direito e características arquitetônicas do vasto lateral antes e
depois de 8 semanas de treinamento de resistência e resistência mais ciclagem aeróbica
de alta intensidade.
Tabela I - Hipertrofia atingida pelos grupos musculares do quadríceps (área de secção transversa): vasto lateral, vasto intermédio, vasto medial, reto femoral
Fonte: [19]
A metanálise de Kevin e Murach [20] objetivou mostrar os benefícios da inclusão do TA em conjunto com o TF para a hipertrofia, o gráfico 1 demonstra a relação de adaptações que os autores encontraram em diferentes literaturas, com estudos que analisaram apenas TC (barras brancas) TF (barras pretas) e a combinação de TC e TF (barras listradas) e diferentes períodos entre as sessões, demonstrando ganhos equivalentes para TC e TF.
Fonte: [20]
Gráfico
1 - Relação hipertrofia de membro inferior
relação em TF e TC
Apesar
da relevância do protocolo de Mohamad et al. [18] e as adaptações dos achados
de Kevin e Murach [20], tais achados ainda não foram estudados dentro do público
de meia idade e idosos, fato importante visto que essa população sofre com a degradação
muscular, para trazer um melhor entendimento do TC e hipertrofia em pessoas de idade
elevada.
Ordem
dos exercícios
Questionamento sempre presente é a ordem que força e aeróbico devem ser treinados. Wilhelm et al. [21] concluíram que o TC realizado duas vezes por semana aumenta eficazmente o desempenho muscular e capacidade funcional em homens mais velhos, independente da sequência, porém observara-se uma tendência da aplicação da força e aeróbico para ganhos mais expressivos, como no estudo de Cadore et al. [22] que analisou a ordem dos exercícios na população idosa e concluiu que a execução de força antes de exercícios de resistência durante o TC apresentaram maiores ganhos de força, bem como maiores mudanças na economia neuromuscular em idosos. Wilhelm et al. [21] traz no gráfico 2 a média de força gerada por membros inferiores, em máximas repetições de extensão de joelho (1RM) pré e pós-12 semanas de treinamento concorrente.
Força SE antes do
treino de resistência, ES resistência antes do treino de força; *P <0,001,
diferença significativa a partir de valores pré-treinamento. Fonte: [21]
Gráfico
2 – Relação repetições máximas dos extensores
de joelho
Há estudos que
indicam uma redução no desempenho ao treinar capacidade aeróbica antes da
força, o TA pode afetar o TF que viria
subsequentemente, tendo redução em RM de exercícios e queda de força aguda
[23].
O artigo de Jones et al. [24] examinou o efeito da força e
da ordem de treinamento no meio endócrino associado ao desenvolvimento da força
e ao desempenho, amostras de sangue foram tomadas antes de cada protocolo de
exercício respectivo, imediatamente após a cessação do exercício, e 1h após a
cessação do exercício. As amostras de sangue foram posteriormente analisadas
quanto a concentrações totais de testosterona, cortisol e lactato. O TF
realizado antes do TA apresentou maior aumento da testosterona, o que indica
que conduzir o TA antes do treinamento de TF em
desempenho de TF é prejudicado. As concentrações de cortisol e lactato no
sangue foram maiores quando o TA foi conduzido antes
do TF do que vice-versa. Como tal, pode-se sugerir que a condução de aeróbico
antes de força pode resultar em respostas desfavoráveis agudas ao treinamento
de força quando o TF é conduzido com altas cargas [24].
Treinamento concorrente na saúde de indivíduos de meia
idade e idosos
Perda de tecido
muscular e ósseo com o envelhecimento é relatada “A osteoporose é considerada
mundialmente um problema de saúde pública que invalida ou incapacita grande
número de pessoas, principalmente mulheres” [25]. Esse é outro fator de risco
que acompanha as mulheres durante o avanço da idade, no entanto a prática de
exercício físico ajuda a manter a massa óssea e diminuir a perda que ocorre de
maneira mais intensa nos primeiros anos de menopausa. O exercício não é capaz
de restaurar por completo a estrutura óssea, nem modificar os efeitos da baixa
ingestão de cálcio, seus efeitos dependem de variáveis como intensidade, tipo,
frequência e duração [25].
O estudo de Rossato et al. [26]
analisou os efeitos do TC em componentes corporais de mulheres na fase de perimenopausa, fase que antecede a menopausa, e como antes
citado por Matsudo [25], os primeiros anos da
menopausa são quando há maior degradação óssea. Rossato
et al. [26] abordam uma intervenção na perimenopausa, aspecto interessante quando se pensa em
prevenção. Foram sujeitos do estudo oito mulheres na fase de perimenopausa com idades até 48 anos, submetidas ao TC e
tiveram sua composição corporal avaliada por meio de DEXA (Dual Energy X-Ray Absorptimetry). Analisou-se também o consumo de VO2máx, por meio de teste de esteira rolante, e o período de
treinamento foi de 20 semanas. Como resultados, obteve-se um aumento da massa
óssea e da massa magra de 0,81% e 2,82%, respectivamente, e decréscimo da massa
gorda de 3,60%; o VO2máx não foi significativamente
alterado, porém por esse e outros estudos notasse que o TC consegue promover
melhoras na densidade óssea [12,26].
O EPOC (consumo excessivo
de oxigênio pós-exercício) é resultado de um processo que maximiza o gasto
energético após o exercício, portanto, quanto maior o tempo de EPOC maior será
o gasto energético. Visto isso, o TC quando executado na forma aeróbico força,
traz um efeito de consumo de oxigênio mais duradouro, quando a recuperação é em
período subdividido [27]. O potencial gasto energético proporcionado pelo TC é
uma variável interessante para sobrepeso, fator comum visto que 1/3 da
população adulta está acima do peso, o maior pico está entre 45 e 65 anos de
idade [28]. Ho et al. [29] estudaram por 12 semanas o
efeito de TA, TF e TC no risco cardiovascular em pessoas com sobrepeso e
obesos, 97 homens e mulheres obesos foram divididos em 4 grupos sendo controle,
TA, TF e TC. Os resultados do estudo apontam que o TC apresentou uma maior
redução do IMC (índice de massa corporal) pós-período, sendo mais efetivo na
perda de peso mantendo ganhos equivalentes a TF e TA, sendo efetivo na
qualidade de vida de idosos. No perfil de colesterol, o TC foi mais eficiente
na diminuição dos níveis de colesterol LDL, proporcionou aos obesos um consumo
de oxigênio maior que os demais protocolos, outros fatores de risco para
doenças cardiovasculares foram estudados e diante dos resultados os estudiosos
concluíram que há mais benefícios ao público obeso combinar treinamentos do que
executá-los de forma isolada [29].
Estudos vêm mostrando
como o TC pode ser uma ferramenta poderosa na promoção da saúde [29]. Para
compreender melhor como pode ajudar na qualidade de vida é importante analisar
seus efeitos sobre as doenças crônicas. É uma ferramenta aplicada em sujeitos
hipertensos melhorando a função cardiovascular e seu VO2máx
(30) e também prolongando a hipotensão pós-exercício para pressão arterial
sistólica, apontando o efeito hipotensivo do TC como superior ao de TF isolado
[31], ainda se for analisar sujeitos que estão entrando em uma fase que se
associa a velhice, doenças crônicas são um fator que já é encontrado nesta
população [14].
O estudo de Souza et al. [32] buscou entender os efeitos do
TC nos componentes da síndrome metabólica de homens de meia idade. 42 homens de
40 a 60 anos, sedentários, foram analisados e avaliada circunferência de
cintura (CC), perfil lipídico, glicose, pressão arterial (PA) e força máxima e VO2pico. Constatou-se que o TC promoveu redução
na PA, a força máxima e o VO2pico
aumentaram, concluindo que o TC em frequência semanal e com sessões de duração
similares ao TF e TA é mais eficaz na melhora de componentes da síndrome
metabólica.
O diabetes mellitus
já é considerado uma epidemia mundial, segundo o Ministério da Saúde (2006), e
alguns estudos tratam dos efeitos do exercício físico aos portadores de
diabetes tipo 2. Church et al. [33] compararam os protocolos de
treinamento e seu efeito nos níveis de hemoglobina HbA1c (hemoglobina glicada) em diabéticos. O estudo durou dois anos e contou
com 262 sujeitos de 30 a 75 anos de idade sedentários com diabetes tipo 2, que foram divididos em 4 grupos: controle, TA, TF e TC.
Ao final do estudo, o grupo que praticou exercício TC demonstrou uma maior
alteração nos níveis de HbA1c sendo de 0,34% perto dos
0,32 do TF e 0,14% do TA. Ainda avaliou a perda de peso, o grupo TA perdeu 1,4
kg de massa magra enquanto o grupo TC 1,7 kg. Sigal et al. [34] que analisaram 251 adultos de
39 a 70 anos, durante 4 semanas, citam que todos os métodos obtiveram melhoras
nos níveis de hemoglobina glicada, porém o grupo TC
teve uma maior redução. Conclui-se que para pacientes com diabetes mellitus
tipo 2 o TC é a melhor opção para melhora de níveis de
HbA1c, já que o mesmo resultado não foi obtido com os demais métodos [33-34].
A saúde cerebral no
envelhecimento contribui para que o idoso execute suas funções diárias com boa
cognição e preserve sua saúde. O exercício é eficaz e não farmacológico para
tratamento dos efeitos deletérios do envelhecimento na saúde cognitiva e
cerebral. Evidências sugerem que diferentes tipos de exercício podem melhorar a
função cognitiva de caminhos neurobiológicos semelhantes e divergentes. A metanálise de Barha et al. [35] abordou diferenças de sexo na
eficácia do exercício para melhorar a cognição, e comparou diferentes
treinamentos na cognição e sua relação com o gênero. Os participantes eram
adultos de meia idade e idosos (45 anos ou mais) sem nenhum distúrbio neurodegenerativo ou distúrbio clínico. As funções
executivas, memória episódica, função visuo-espacial,
fluência das palavras, velocidade de processamento e a função cognitiva global
foram examinadas, quanto aos efeitos dependentes do exercício e do sexo. Os
resultados sugerem que os processos executivos das mulheres podem se beneficiar
mais do exercício do que os homens, mas de modo geral, em comparação com o
controle, os três treinamentos melhoraram a função visuo-espacial,
mas apenas o TC aumentou a memória episódica. O TA
levou a maiores benefícios do que o TF na função cognitiva global e nas funções
executivas, enquanto o TC levou a maiores benefícios do que o TA para a função
cognitiva global, a memória episódica e a fluência das palavras, possíveis
mecanismos subjacentes, incluindo fator neurotrófico
derivado do cérebro e hormônios esteroides sexuais.
Revisando os dados
encontrados fica clara a relação benéfica trazida pela atividade física no
envelhecimento. Para indivíduos idosos algumas variáveis devem ser priorizadas,
durante o treinamento, a fim de manter a independência funcional, são esses:
força muscular, equilíbrio, potência aeróbica e movimentos corporais totais,
além de manter um estilo de vida saudável que mantenha a totalidade funcional
[36]. O TC entra como uma ferramenta para promoção da saúde e qualidade de
vida, por isso a combinação de exercícios de diferentes capacidades pode ser
extremamente eficiente para prevenção e tratamento de doenças ou perdas
funcionais oriundas da idade. Equilibra as valências físicas atuando na
densidade mineral óssea e muscular, perfil hormonal, e cognitiva cerebral [6,8,10-12,35]. Contudo é importante observar a especificidade
do trabalho que será realizado. No caso da faixa etária objetivada por este
estudo, essa ferramenta foi válida para a busca de saúde e qualidade de vida,
não prejudicando os sujeitos e trazendo adaptações fisiológicas que contribuem
para melhora de quadros patológicos, muito da literatura já demonstra esses
resultados, como os citados durante o presente trabalho.
Ainda há muitas
questões em aberto que devem ser exploradas para
descoberta de novos efeitos do TC sobre o envelhecimento, como protocolos em
períodos mais longos, número maior de indivíduos. Variáveis de treinamento com
volume e intensidade, controle nutricional e flexibilidade, visto o quadro que
o IBGE [37] demostra, no qual, em breve, o contingente de pessoas acima dos 60
anos de idade será uma parcela considerável da população, então métodos que
busquem trazer melhor qualidade de vida a esses indivíduos devem ser
pesquisados, em especial na questão controle de doenças degenerativas.
Após os inúmeros
artigos e materiais revisados, o estudo concluiu que o TC é um método eficaz
para a faixa populacional proposta, sendo equivalente ao TF e TA, não trazendo
prejuízo como acreditado por algumas literaturas, sendo até muitas vezes até uma
melhor opção na prevenção e no tratamento de doenças e efeitos degenerativos, e
destaca a importância de analisar o protocolo utilizado para cada
especificidade, pelo fato das diversas sinalizações que sua aplicação pode
apresentar, observando a ordem dos exercícios, a frequência, volume intensidade
e o descanso entre sessões.
Apesar das
controvérsias na literatura sobre o TC e as discussões existentes sobre sua
aplicação, pode-se entender alguns pontos vantajosos do trabalho envolvendo a
combinação de exercícios, e entende-se que para os públicos de meia idade e
idosos essa combinação pode ter um efeito benéfico frente a outros métodos,
trazendo efeitos similares sem prejuízo, como o aumento de força dinâmica e
VO2PICO e ação hipotensiva, fator interessante para o público hipertenso, gasto
calórico prolongado, indicador que muito se utiliza em treinamento de
indivíduos obesos que buscam redução de percentual de gordura corporal, dentre
outros marcadores importantes para as doenças crônicas e da síndrome metabólica
que vem sendo investigadas em adultos e idosos, como hipertensão e diabetes.
Portanto o TC se mostra relevante para essa população
que busca viver com qualidade e funcionalidade.