Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(4):223-28
ARTIGO
ORIGINAL
Nível
de satisfação com a imagem corporal, sintomas de ansiedade e depressão de
estudantes do curso de Educação Física em Teresina/PI
Level of satisfaction with body image, anxiety symptoms and depression
of students of the Physical Education course in Teresina/PI
Laura Stephane de Oliveira Lima*, Marcela Araújo Sá Nogueira**,
Cláudia Maria da Silva Vieira***, Mara Jordana Magalhães Costa*
*Profissional
de Educação Física, Universidade Federal do Piauí (UFPI), **Professora de
Educação Física - atualmente substituta na UFPI), ***Professora de Educação
Física no Instituto Federal do Maranhão (IFMA)
Recebido em 20 de
dezembro de 2018; aceito em 30 de dezembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Mara Jordana Magalhães Costa, Rua Juiz Joao Almeida, 2251, Condomínio Belo
Horizonte, bloco Savassi, 64049650 Teresina PI, E-mail:
marajordanamcosta@gmail.com, Laura Stephane de
Oliveira Lima, E-mail: lauralima14@hotmail.com; Marcela Araujo
Sá Nogueira: marcelaaraujosaa@hotmail.com; Cláudia Maria da Silva Vieira: claudiavieiraef05@hotmail.com
Resumo
Introdução: A imagem corporal é
definida como a imagem que se tem na mente sobre o tamanho e a forma do próprio
corpo, incluindo sentimentos em relação a essas características e as partes
constituintes do corpo. Objetivo: Analisar o nível de satisfação da imagem
corporal e relacionar com os sintomas de ansiedade e depressão de estudantes do
curso de Educação Física da Universidade Federal do Piauí. Métodos: A pesquisa foi do tipo quantitativo, descritivo. A amostra
foi composta por 50 acadêmicos do curso de Educação Física da UFPI. Para a
coleta dos dados, inicialmente foi aplicada a escala de nove silhuetas, e em
seguida o questionário que avalia os sintomas de ansiedade e depressão (EHAD).
Utilizou-se o teste do qui-quadrado para as análises
inferenciais com o nível de significância p < 0,05. O software utilizado foi
o STATA 12.0. Resultados: Os resultados
mostraram que a maioria dos estudantes pesquisados era do sexo masculino (56%)
e 70% dos estudantes estavam insatisfeitos com sua imagem corporal. Em relação
aos sintomas de ansiedade e depressão, 36% dos pesquisados foram classificados
como prováveis de apresentar alguma característica da ansiedade e somente 4%
foram classificados como possíveis de ter alguma característica da depressão.
Não foram observadas associações estatisticamente significativas da imagem
corporal com a ansiedade (p = 0,764) e nem com a depressão (p = 0,529). Conclusão: Assim, pode-se observar que
houve um elevado percentual de estudantes insatisfeitos e com prováveis
sintomas de ansiedade, apesar de estaticamente essas variáveis não ter
apresentado associação.
Palavras-chave: imagem corporal;
universitários; ansiedade; depressão.
Abstract
Introduction: Body image is defined as the image that everyone has in mind about the
size and shape of one's own body, including feelings about these
characteristics and the constituent parts of the body. Objective: To analyze the level of body image satisfaction and to
relate to the symptoms of anxiety and depression of students of the Physical
Education course of the Federal University of Piauí. Methods: The sample research of this
quantitative and descriptive type consisted in 50 academics from the UFPI
Physical Education course. In order to collect the data, the scale of nine
silhouettes was initially applied, followed by the questionnaire assessing the
symptoms of anxiety and depression (HADS). The chi-square test was used for the
inferential analyzes with significance level p < 0.05. The software used was
Stata 12.0. Results:
The results showed that the majority of students surveyed were male (56%) and
70% of students were dissatisfied with their body image. Regarding the symptoms
of anxiety and depression, 36% of respondents were classified as likely to
present some characteristic of anxiety and only 4% were classified as possible
to have some characteristic of depression. There were no statistically
significant associations of body image with anxiety (p = 0.764) or with
depression (p = 0.529). Conclusion:
We observed that a high percentage of students is dissatisfied and with
probable symptoms of anxiety, although statistically these variables had no
association.
Keywords: body image;
university students; anxiety; depression.
O conceito do corpo
ideal vem sofrendo alterações com o passar do tempo. No início do século XX o
corpo considerado belo nas mulheres, por exemplo, era aquele que apresentava
formas mais arredondadas [1]. Contudo, durante o século seguinte o padrão se
modificou de forma considerável, e o corpo tido como ideal era aquele mais
magro, mais atlético e definido que passou a ser objeto de busca pelas pessoas
[2].
Estudos sobre imagem
corporal tentam entender quais fatores mais contribuem para os distúrbios da
imagem corporal, dentre eles se destacam os sociais, os interpessoais e os
biológicos, em consequência dos padrões de beleza que a mídia impõe para a
sociedade, causando muitas vezes baixa autoestima nas pessoas e tendência a
estar sempre comparando sua aparência com a de outras [3].
Tendo em vista isso,
muito pode se associar a insatisfação corporal com doenças psicológicas, como a
depressão que é caracterizada por alteração bioquímica em nível cerebral tendo
como causa principal dessa alteração o metabolismo deficiente de serotonina,
principal neurotransmissor responsável pelo equilíbrio do humor e da sensação
de bem-estar [4].
Além da depressão, a
ansiedade é outro problema que afeta a saúde mental e pode estar relacionada
com as questões de insatisfação com o próprio corpo. A ansiedade é considerada
uma emoção natural em situações que o indivíduo se sente ameaçado, ela é vista
com uma resposta de sobrevivência que o ser humano adquiriu em situações de
“luta ou fuga” [5]. É muito comum observar a presença da ansiedade em pelo
menos em algum momento ao longo de nossas vidas e muitos dos estudantes têm a
ansiedade como um sentimento cada vez mais presente, e isso
se deve a várias situações que ocorrem no decorrer do curso no ambiente
acadêmico que acabam se tornando fonte geradora de ansiedade nos alunos.
Assim, o objetivo
geral do presente estudo foi analisar o nível de satisfação da imagem corporal
e relacionar com a ansiedade e depressão, de estudantes do curso de Educação
Física de uma Universidade Pública de Teresina/PI.
A pesquisa foi do
tipo transversal, descritiva, com abordagem quantitativa, com uma amostra
composta por 50 estudantes (28 homens e 22 mulheres), com idade variando entre
19 e 50 anos, selecionada de forma não probabilista, por conveniência. Todos
são acadêmicos de Educação Física de uma Universidade pública de Teresina.
Os critérios de
inclusão foram: ser estudante regularmente matriculado no curso; entregar os
questionários devidamente preenchidos; não apresentar problemas cognitivos
severos.
Para avaliar a
insatisfação com a imagem corporal, foi utilizado uma escala visual de Stunkard et al. [6] que
propõem uma escala de nove silhuetas, que representa um continuum
desde a magreza (silhueta 1) até a obesidade severa (silhueta 9). A partir
deste conjunto de silhuetas foram realizadas duas perguntas aos acadêmicos:
Qual o número da silhueta que você considera mais semelhante com sua aparência
real? e Qual o número da silhueta que você gostaria de
ter? Para verificar a percepção da imagem corporal foi realizada uma subtração
entre a silhueta corporal atual e a silhueta corporal ideal; se essa variação
fosse igual a zero, os acadêmicos foram classificados
como satisfeitos e se diferente de zero, como insatisfeitos. Uma diferença
positiva indica insatisfação pelo excesso de peso (desejo de diminuir o tamanho
da silhueta) e diferença negativa, uma insatisfação pela magreza (desejo de
aumentar a silhueta).
Para verificar os
sintomas de ansiedade e depressão foi utilizado o questionário Escala
Hospitalar de Ansiedade e Depressão (EHAD) composto
por 14 perguntas que avaliavam possíveis sintomas de ansiedade e depressão, no
final os pontos eram somados e obtinha-se um escore. De 0 a 7 pontos era
classificado como improvável, de 8 a 11 pontos como possível e de 12 a 21
pontos como provável.
Os dados foram
analisados inicialmente por meio de uma estatística descritiva e em seguida,
realizou-se uma bivariada por meio do teste do qui-quadrado
para verificar associações entre as variáveis qualitativas. O nível de
significância adotado para as análises foi de 5% e o programa estatístico
utilizado foi o Stata 12.0.
Todos os
participantes foram esclarecidos sobre a finalidade da pesquisa, no qual todos
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a mesma
obedeceu aos requisitos constantes da Resolução nº 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde.
A pesquisa foi
realizada com 50 indivíduos do sexo masculino e feminino, com idade variando
entre 19 e 50 anos. A maioria era do sexo masculino (56%) e tinha uma média de
idade de 24.06 (±5.38). Os estudantes em sua maioria (78%) praticavam
atividades físicas e não faziam dietas (87.76%).
Quando avaliado o
nível de satisfação com a imagem corporal, observou-se que a maioria dos
estudantes (70%) estava insatisfeita com seu corpo. Nesse contexto, o estudo de
Frank et al. [7], também mostra uma elevada
prevalência de insatisfação com a imagem corporal em acadêmicos de Educação
Física (76,6%), corroborando os dados do presente estudo. Dados que também são
semelhantes aos resultados de Coqueiro et al. [8] em que
demonstraram que a maioria dos indivíduos (78,8%) estavam insatisfeitos com a
própria imagem corporal. Além disso, observou-se que 49,2% dos indivíduos
apresentaram desejo de reduzir o tamanho da silhueta, enquanto que 26,6%
desejavam aumentar. As figuras 1 e 2 mostram o perfil da silhueta atual e ideal
dos alunos pesquisados.
Fonte: Dados da
Pesquisa, 2017
Figura
1 - Percentuais referentes às silhuetas atual
dos estudantes. Teresina, 2017
Fonte: Dados da
Pesquisa, 2017
Figura
2 - Percentuais referentes às silhuetas
desejadas pelos estudantes. Teresina, 2017
A figura 1 mostrou a
silhueta atual dos participantes pesquisados incluindo homens e mulheres e
observou-se que a maioria possuía silhuetas entre os números 3
e 5. A silhueta de número 3 é uma silhueta de um corpo atlético (20%), a de
número 4 (38%) que é um corpo um pouco acima do peso e 14% com a silhueta de
número 5 que é uma silhueta de um corpo com gordura corporal elevada. Com
relação à figura 2, que diz respeito à silhueta ideal, observou-se que 14%
desejavam ter a silhueta de número 2 representada na escala por um corpo magro,
30% desejavam ter a silhueta de número 3 que representa um corpo atlético, 46%
desejavam ter a silhueta 4 que é de um corpo com
músculos e um pouco volumoso. Por fim, 10% almejavam a silhueta de número 5 que
é de um corpo com um volume significativo.
Dessa forma,
observam-se muitos estudantes insatisfeitos com seu corpo. Claumann
et al. [9] supõem que a elevada quantidade
de acadêmicos insatisfeitos pode estar relacionada as exigências intrínsecas a
profissão e ao curso, fazendo com que eles se constituam em uma população em
risco. Uma possível explicação para tal é que este comportamento está
relacionado, em partes, às maiores exigências físicas e estéticas inerentes ao
curso e à profissão que optaram por seguir, em que o corpo e a aparência em
geral passam a ser o “cartão de visitas” destes futuros profissionais.
Ainda, reflete-se
sobre a possibilidade destes indivíduos buscarem o ingresso em cursos de
Educação Física a fim de conhecer melhor o próprio corpo e as ferramentas
disponíveis para modificá-lo, de forma que possam melhorar sua percepção e,
consequentemente, a satisfação [9].
O presente estudo
avaliou a prevalência dos sintomas de ansiedade e depressão dos estudantes. A
tabela I mostra os resultados para ambas as variáveis.
Tabela
I - Prevalência dos sintomas de ansiedade e
depressão dos estudantes avaliados. Teresina, 2017
Fonte: Dados da
pesquisa, 2017
A tabela I mostra a
prevalência de sintomas de ansiedade e depressão nos participantes pesquisados
e pode-se observar, de acordo com o questionário que foi utilizado para obter
esses dados, que 62% dos participantes da pesquisa foram classificados como
improváveis de ter ansiedade, 36% foram classificados como “possíveis” de ter
os sintomas de ansiedade e apenas 2% dos participantes se classificaram como
“prováveis” de ter sintomas de ansiedade. Quanto à depressão, 96% dos
estudantes se apresentaram na categoria “improvável” para ter a depressão e
apenas 4% foram classificados como possíveis de ter algum sintoma que
caracteriza a depressão.
Estudo realizado por
Faria et al. [10], objetivando avaliar os níveis
de ansiedade, depressão, atividade física diária, laboral e de aptidão física
de um grupo de estudantes universitários, observaram resultados similares aos
do nosso estudo, no qual encontraram que a maioria dos voluntários não
apresentava risco de desenvolverem ansiedade e depressão, (improvável em 65%
dos homens e 82,6% das mulheres para ansiedade e 90% dos homens e 87% das
mulheres para depressão). Morais, Mascarenhas e Ribeiro [11], por sua vez, ao
constatarem os sintomas de ansiedade e depressão nos estudantes universitários,
propuseram como medida interventiva trabalhos que atuassem de forma psicopedagógica e psicológica na vida desses alunos,
visando à melhoria das relações interpessoais.
Conforme as
conclusões de Moreno, Dias e Moreno [12], Sadock B e Sadock V [13] e Lucchese [14], a
ocorrência desses sintomas depressivos podem progredir de forma repetitiva
durante a vivência no âmbito universitário e apesar da prevalência de depressão
não ter sido elevada no presente estudo, já se torna preocupante, pois a
prevalência de ansiedade foi elevada e se não tratada pode, juntamente com
outros problemas, evoluir para depressão.
Não foram observadas
associações estaticamente significativas entre imagem corporal e ansiedade (p=
0,764), apesar da maior prevalência de insatisfação ter sido entre aqueles que
apresentaram sintomas prováveis de ansiedade (Tabela II). Também não foram
encontradas associações estatisticamente significativas entre imagem corporal e
depressão (p = 0,529). (Tabela III).
Tabela
II -
Associação entre imagem corporal e
ansiedade dos estudantes avaliados. Teresina, 2017
Fonte: Dados da
Pesquisa, 2017
Tabela
III
- Associação entre imagem corporal e
depressão dos estudantes avaliados. Teresina, 2017
Fonte: Dados da
Pesquisa, 2017
O escopo de estudos
que associam imagem corporal com ansiedade e depressão em estudantes
universitários é pequeno quando comparado com outras variáveis como estado
nutricional, transtornos alimentares, mídia, gênero, dentre outros. Porém,
alguns estudos como o de Lawler e Nixon [15] e o Stice, Marti e Durant [16] têm
mostrado que um elevado nível de insatisfação com a imagem corporal é um fator
de risco para perturbações tanto no comportamento alimentar como no
aparecimento dos sintomas depressivos e de ansiedade. O que a literatura
explica é que o jovem ao estar insatisfeito com seu corpo, observa que existe
uma discrepância entre a percepção, o tamanho do corpo e a forma desejada, e
isso pode traduzir-se em níveis elevados de ansiedade, afeto
negativo, baixa autoestima e medo da rejeição social [17].
Conclui-se que a
maioria dos estudantes pesquisados está insatisfeita com sua imagem corporal e
observou-se uma elevada prevalência de estudantes com provável ansiedade. Não
foram observadas associações estatisticamente significativas entre imagem
corporal e sintomas de ansiedade e depressão.
Esses resultados são
importantes para que possíveis transtornos de imagem corporal possam ser
percebidos e tratados por meio de medidas que melhorem os níveis de atividade
física e a busca de hábitos mais saudáveis pela sociedade.
Observando também,
dessa forma, a importância da necessidade de realização de estudos futuros que
utilizem instrumentos que venham a complementar à escala de silhuetas possibilitando
assim uma compreensão para análise de outras dimensões relacionadas à imagem
corporal, além dos motivos já identificados geradores de tal insatisfação.