Rev Bras Fisiol Exerc 2018;17(4):244-56
REVISÃO
Perfil e
aspectos metodológicos da preparação física de surfistas
Profile and methodological aspects of surfers physical
training
Krom Marsili
Guedes*, Rodrigo Pereira da Silva**, Victor Zuniga Dourado***, Dilmar Pinto Guedes Junior****
*Egresso
da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), Santos/SP,
Laboratório de Epidemiologia
do Movimento Humano (EPIMOV), Santos/SP, **Docente da Universidade
Metropolitana
de Santos (UNIMES), Docente da Faculdade Praia Grande (FPG), Praia
Grande/SP, Aluno
de Doutorado no programa de pós-graduação em
ciências do movimento humano e reabilitação
na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Santos/SP,
Laboratório da EPIMOV,
***Docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
Santos/SP, Laboratório
da EPIMOV, ****Docente da Universidade Metropolitana de Santos
(UNIMES), Docente
da Universidade Santa Cecilia (UNISANTA), Santos SP, Centro de
Fisiologia do Exercício
e Treinamento (CEFIT), São Paulo/SP
Recebido em 17 de outubro
de 2018; aceito em 26 de dezembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Rodrigo Pereira da Silva, Rua Dr. Egydio Martins, 195/43, Ponta da Praia Santos,
11030-161 São Paulo SP, E-mail: r.pereirads@hotmail.com; Krom
Marsili Guedes: kromguedes@hotmail.com; Victor Zuniga
Dourado: vzdourado@gmail.com; Dilmar Pinto Guedes Junior:
ciadofisicodilma@uol.com.br
Resumo
Introdução: No ano de 2016 o surfe
tornou-se um esporte olímpico, atraindo o interesse em novas pesquisas para maior
entendimento das características físicas dos surfistas e, através do treinamento,
promover um aumento no desempenho dos mesmos. Objetivo: Analisar, através de revisão bibliográfica, as metodologias
de treinamento utilizadas e as variáveis investigadas no treinamento de surfistas
amadores e profissionais, além da incidência de lesões nesse esporte. Métodos: Foram consultadas as bases de dados
Pubmed, Scielo, Sportdiscus e Lilacs, utilizando os
seguintes termos: surfe, treinamento de força, treinamento
aeróbio, lesões e surfistas, em suas versões em português
e inglês, entre 2000 e 2018. Resultados:
Dos artigos encontrados, após filtragem por título e resumo, foram utilizados para
este estudo 17 artigos científicos. Três artigos abordaram o treinamento de força
e o desempenho na remada, um artigo analisou o treinamento intervalado intenso (HIIT)
e o desempenho na remada, quatro estudos analisaram o comportamento da frequência
cardíaca durante uma sessão de surfe, dois estudos analisaram o consumo máximo de
oxigênio de surfistas profissionais e amadores, três estudos analisaram a incidência
de lesões em surfistas e um artigo avaliou a força de surfistas brasileiros através
de dinamômetro isocinético. Conclusão: De acordo com os resultados encontrados, os surfistas profissionais
e recreativos, apresentam boa aptidão cardiorrespiratória. O treinamento de força
para membros superiores se mostra eficiente para a remada dos atletas e o maior
fator de lesão é o contato com a prancha, além de lesões de impacto e gestos repetitivos,
respectivamente no joelho e ombros. Nenhum estudo investigou o efeito específico
do treinamento físico na melhora do rendimento do surfista na onda.
Palavras-chave: surfe; treinamento de
força; treinamento aeróbio; lesões, surfistas.
Abstract
Introduction: In 2016, surf became an Olympic Sport and the interest of the scientific
community about the sport grew. Objective:
To carry out a literature review about the characteristics and training methodology
in recreational and professionals surfers. Methods:
A survey study from Pubmed, Scielo,
Sportdiscus e Lilacs databases
with the key words: surf, strength training, endurance training, lesion and surfers
in Portuguese or English language, during 2000-2018. Results: After selection by title and abstracts, seventeen studies were
selected. Three studies investigated the strength training and paddling performance,
one study investigated HIIT and paddling performance, four studies investigated
surfers heart rate during a surf session, two studies investigated the oxygen consumption,
three studies investigated the incidence of injuries and one study analyzed the
isokinetic strength in surfers. Conclusion:
Recreational and professional surfers have good cardiorespiratory fitness, strength
training enhance the paddle performance and the principle
factor that trigger injuries is the contact with the surfboard. No studies were
found about the specific training and the surfer performance in the wave.
Keywords: surf; strength
training; aerobic training; injuries, surfers.
No ano de 2016 o surfe
foi incluído no cronograma olímpico para as olimpíadas de 2020 em Tokyo, dando início a uma nova era no universo competitivo do
esporte [1]. Nos últimos anos, a popularização da modalidade gerada pelas olimpíadas
despertou o interesse de pesquisadores e diferentes estudos envolvendo surfistas
foram desenvolvidos.
De acordo com Gomes [2],
a preparação física é um componente do sistema de treinamento do desportista e tem
como objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento do desempenho na modalidade específica.
O desenvolvimento das capacidades motoras, que são a força, a resistência, a velocidade,
a flexibilidade e a coordenação, de forma integrada, é fundamental
para o melhor desempenho esportivo de atletas [2,3]. A remada é um momento importante
na performance do surf, o objetivo é garantir um melhor
posicionamento na entrada do surfista na onda ou então para uma volta mais rápida
ao fundo (outside).
A melhora da performance na remada de surfistas profissionais
e recreativos através do treinamento de força está documentada na literatura [4].
O comportamento da frequência cardíaca de surfistas durante uma sessão de surf também
vem sendo investigado em surfistas de diferentes níveis. O monitoramento da frequência
cardíaca é fundamental para determinar o gasto energético da sessão e determinar
as vias metabólicas utilizadas, fatores fundamentais para a prescrição do treinamento.
Além da remada e da frequência cardíaca o equilíbrio foi investigado e apresentou
algumas diferenças significativas em relação ao nível de habilidade do surfista.
O treinamento específico
do gesto motor esportivo está ligado diretamente com a melhora do desempenho. Além
disso, a procura por parte dos surfistas pelo treinamento físico supervisionado
aumenta a cada dia com objetivo de proporcionar um menor risco de lesões e melhorar
o desempenho na remada. Não são encontrados na literatura dados consistentes quanto
ao treinamento das capacidades motoras e sua transferência direta na performance do surfista na onda. O objetivo do presente estudo
é analisar, através de revisão bibliográfica, as metodologias de treinamento utilizadas
e as variáveis investigadas no treinamento de surfistas amadores e profissionais.
Para a escolha dos artigos
que compõem a presente revisão foram consultadas as bases de dados Pubmed, Scielo, Sportdiscus e Lilacs utilizando os
termos: surfe, treinamento de força, treinamento aeróbio, lesões e surfistas, nas
versões em português e inglês, além de livros para referencial teórico.
Após filtragem por título
e resumo, foram utilizados 17 artigos pertinentes ao tema e que utilizaram instrumentos
de avaliação consistente para cada objetivo. Três artigos abordaram o treinamento
de força e o desempenho na remada, um artigo analisou o treinamento intervalado
intenso (HIIT) e o desempenho na remada, quatro estudos analisaram o comportamento
da frequência cardíaca durante uma sessão de surfe, dois estudos analisaram o consumo
máximo de oxigênio de surfistas profissionais e amadores, um estudo analisou a incidência
de lesões em surfistas, um artigo avaliou a força de surfistas brasileiros através
de dinamômetro isocinético.
Quadro 1 - Característica dos artigos selecionados.
Aptidão
cardiorrespiratória e desempenho na remada
Uma remada eficiente permite
que o surfista tenha um melhor posicionamento no momento adequado para pegar a onda,
além da função de locomoção dentro do mar. Portanto, a remada pode variar entre
sprints de alta intensidade e curta duração e remadas
contínuas de maior duração e menor intensidade.
Um estudo realizado por
Minahan et al. [5] analisou
o gasto energético de jovens surfistas competidores e recreativos através de um
ergômetro de banco para nadadores. A amostra foi composta por 18 homens divididos
em dois grupos, o grupo competitivo era composto por oito jovens filiados à Associação
de Surfe da Austrália que disputavam competições profissionais e o grupo recreativo
composto por oito jovens surfistas recreacionais com ao
menos duas sessões de surf por semana, porém sem nenhuma participação em campeonatos
por no mínimo dois anos. Três dias de testes foram necessários para cada grupo.
No primeiro dia foi feita a familiarização com o ergômetro, no segundo dia foi realizado
o teste de sprint de remada de 30 segundos para determinar
o pico de potência média de sprint, índice de fadiga e
o déficit de O2 acumulado e no terceiro dia os surfistas realizaram um teste de
remada incremental até a exaustão. O resultado do estudo demonstrou que surfistas
competitivos apresentaram um maior pico de potência de sprint
e maior déficit de O2 acumulado durante o teste de velocidade de 30 segundos, enquanto
o pico de O2 médio durante o teste de remada incremental não teve diferença significativa
entre os grupos avaliados. Surfistas mais experientes apesar de não apresentarem
uma melhor eficiência do sistema aeróbio em relação aos surfistas recreativos, demonstraram
uma melhor eficiência do sistema anaeróbio.
Diferentes metodologias
de treinamento para a remada foram analisadas em um estudo realizado por Farley et al. [9], no qual
foi investigado o efeito de cinco semanas de treinamento intervalado de velocidade
(SIT) e treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) em surfistas profissionais
remando 400 metros contra o relógio. A amostra foi composta por 24 adolescentes,
sendo 19 homens e 4 mulheres divididos igualmente em 2
grupos, SIT e HIIT. Os treinamentos e os testes foram realizados com a prancha utilizada
pelo surfista na competição em uma piscina de 25 metros. Os participantes foram
avaliados no teste de 400 metros contra o relógio e o Repeat Sprint Paddle Test (RSPT). O grupo HIIT obteve
um decréscimo de tempo total no teste de 400 metros contra o relógio, enquanto o
grupo SIT obteve uma melhora significativa no RSPT. As duas metodologias de treinamento
promoveram ajustes positivos na remada dos surfistas, o HIIT promoveu uma melhoria
do componente aeróbio da remada, enquanto o SIT melhorou o componente anaeróbio.
A utilização das duas estratégias parece ser indicada em diferentes momentos de
uma periodização do treinamento para surfistas.
Segundo Brasil et al. [22], em estudo piloto, monitoraram
o comportamento da frequência cardíaca e o tempo de movimento durante uma sessão
de surfe recreacional. Foram analisados 10 surfistas durante
uma sessão de surf através de um frequencímetro e filmados
para determinar o tempo no qual passavam realizando cada ação dentro da sessão de
surf, entre elas: remar, sentar na prancha, surfar a onda e outros. O resultado
do estudo, apesar de algumas limitações citadas pelos próprios autores, concluiu
que o surfista passa a maior parte do tempo remando em uma intensidade moderada-leve.
Corroborando os resultados, outros estudos também investigaram o tempo que o surfista
passa realizando cada atividade durante a sessão de surf e o monitoramento da frequência
cardíaca [11,14,16,19]. Aproximadamente 50% do tempo total
de uma sessão de surf são gastos remando em uma frequência cardíaca de 143 bpm e o consumo pico de oxigênio (VO2pico)
varia de 38 a 54 ml kg-1 min, durante remada simulada em surfistas homens
recreacionais e competitivos de 18-25 anos de idade. As
frequências cardíacas durante uma sessão de surf estão de acordo com as recomendações
do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) para exercícios moderados (50-70%
da FC máxima predita para a idade), se equiparando a diferentes outras formas de
atividades físicas como: nadar, jogar voleibol, canoagem, ciclismo, entre outras
[16,22].
De acordo com Lalanne et al.
[7], o aumento
da idade do surfista não tem influência no tempo gasto em
cada atividade durante
uma sessão de surf, além de não influenciar no
tempo total da sessão, contrariando
a hipótese inicial de que com o aumento da idade o surfista
passaria mais tempo
sentado na prancha e menos tempo remando ou surfando a onda,
além de um decréscimo
no tempo total da sessão de surfe. O surfe, por estar dentro das
recomendações do
CDC para prescrição de exercícios físicos
é uma alternativa interessante para prevenção
de doenças causadas pela inatividade física [7,16,19].
Com o aumento da idade
há uma mudança na característica das pranchas, de forma que um melhor desempenho
na remada possa ocorrer, apesar do leve declínio da aptidão física. Isso poderia
explicar o fato de não ocorrer o decréscimo no tempo total da sessão [7]. Um estudo
conduzido por Loveless & Minahan
[14] não encontrou diferença significativa entre o VO2 pico em surfistas
recreacionais e competitivos durante um teste incremental
até a exaustão, porém os surfistas recreacionais apresentaram
maiores concentrações sanguíneas de lactato quando comparados
aos surfistas profissionais. Surfistas competitivos possuem um maior limiar de lactato
quando comparados aos surfistas recreativos, apesar de não existir diferenças significativas
no VO2pico.
Diversos estudos na literatura
concluem que o surfe é uma excelente estratégia para treinar a capacidade aeróbia,
principalmente com os membros superiores utilizados durante a remada [7,9,14,16,19]. Por outro lado, Farley
et al. [19], através de revisão de literatura,
constataram diferenças nos estudos que analisaram o pico da frequência cardíaca
durante competições, simulações de baterias e sessões de surf recreacionais. Durante a competição os picos de frequência cardíaca
são maiores quando comparados com simulações de baterias e sessões de surf recreacionais.
Força muscular
e desempenho na remada
No estudo de Teixeira
et al. [3] relataram a importância do treinamento
das capacidades biomotoras (força, potência, resistência,
equilíbrio, coordenação, agilidade, velocidade, flexibilidade) para promover uma
maior segurança e eficiência na realização de atividades da vida diária (AVDS) e
no gesto motor especifico do esporte. Danucalov et al. [10] investigaram a força isocinética associada a razões de força da musculatura do ombro
em surfistas. Foram analisados 9
surfistas brasileiros
do sexo masculino, com prática semanal entre 10 e 24 horas,
livres de qualquer tipo
de lesões ortopédicas na região do ombro. Os
surfistas apresentaram um desequilíbrio
muscular de rotação externa fraca em
relação à rotação interna. Esse
desequilíbrio
muscular também é apresentado por nadadores [23].
Estudos citados anteriormente
constataram que o pico de VO2 ou a endurance
da remada não são fatores determinantes para diferenciar a aptidão física de surfistas
recreacionais e competidores, porém a potência de remada
em curtas distâncias pode ser um diferencial para um melhor posicionamento na onda
[14]. No experimento de Sheppard et al. [4] investigaram a associação entre a antropometria e o desempenho
da força de remada em surfistas competidores. Participaram do estudo 10 surfistas
divididos em 2 grupos. Um grupo realizou o teste de remada
enquanto o outro realizava a avaliação antropométrica através de um compasso de
dobras cutâneas, após 10 minutos de intervalo se invertiam as avaliações. O teste
de força foi realizado através de pull-ups (Barra fixa)
com incrementos de 2,5 kg através de um cinturão de peso, até que o sujeito não
conseguisse realizar uma repetição, sendo válida a carga anterior. Através de um
tensiômetro preso no short do surfista, foi analisada
a potência de sprint de remada durante um sprint de 5, 10 e 20 metros. Não foi encontrada correlação significativa
entre a espessura de dobras cutâneas e o desempenho de sprint.
A força máxima de Pull-ups obteve correlação moderada
com a velocidade de sprints principalmente em 5 m e 10
m, porém a força relativa (relação com a massa corporal) resultou em forte correlação
com a melhor performance nos sprints.
Foi encontrada correlação positiva entre uma maior força muscular de membros superiores
(1 RM pull-up) quando comparado
os mais rápidos em relação aos mais lentos. O estudo concluiu que surfistas precisam
de eficiente força de tração da parte superior do corpo para obter uma melhor perfomance em sprints de remada e
isso deve ser acompanhado com uma baixa porcentagem de gordura, para melhorar sua
relação com a força relativa.
Por outro lado, um estudo
realizado por Coyne et al. [13] observou uma correlação moderada (r = 0,41-0,43) entre a força
máxima de pull-ups (barra fixa) através do teste de 1RM
e a velocidade máxima de sprint em 5 m, 10 m, 15 m em
um grupo de surfistas recreacionais e competitivos. Porém
quando os surfistas competidores foram examinados separadamente, não existiu correlação
significativa entre a força de 1RM e maior velocidade de sprint.
No mesmo estudo foi encontrada alta correlação (p = 0,01) entre a força de 1RM nas
barras paralelas (Dips) e melhor rendimento nos testes
de sprint de remada de 5m 10m 15m. Não foi encontrada
correlação significativa entre 1RM de barras fixas ou barras paralelas e o teste
de endurance de ramada (400 m).
Estudo realizado por Silva
et al. [6] teve como objetivo averiguar o pico
de força produzido na água, identificar a força máxima dinâmica na terra e investigar
as magnitudes de correlação entre as variáveis analisadas. Participaram do estudo
10 surfistas amadores com idade entre 15-25 anos, de ambos os gêneros, cada um submetido a cinco testes. Através de um tensiômetro preso na borda da piscina e na prancha do dia a
dia do surfista, foi analisado o pico de força produzido na água durante um ciclo
de 5 braçadas após 15 segundos para sair da inércia. O
segundo teste avaliou o tempo que o surfista percorria a distância de 15 m na piscina
remando em sua prancha. Os testes de força fora da água foram realizados através
de três exercícios: pulldown (extensão do ombro em pé),
supino e remada baixa. Os testes de força foram realizados
aleatoriamente através de sorteio, e para isso foi utilizado o Teste de 1RM.
O estudo concluiu que
os surfistas apresentaram correlação significativa entre o teste de pico de força
na remada e os testes de força na terra. A mais alta correlação ocorreu entre a
força máxima no exercício pulldown (p = 0.01), enquanto
o supino e a remada baixa apresentaram p = 0,04 e p = 0,07 respectivamente. Esse
resultado pode estar relacionado à maior semelhança entre o gesto motor da remada
e o exercício pulldown. O nível de força fora da água
mostrou uma alta correlação com melhores performances em testes de sprint na remada de surfistas, sendo interessante a inclusão
de treinamento de força para a melhoria da remada em surfistas. Estudo, no qual
o exercício pulldown apresentou maior correlação com a
remada no surfe quando comparado ao supino e a remada baixa, sugere algumas considerações
interessantes sobre a classificação de exercícios gerais, específicos e competitivos,
utilizados em momentos distintos da periodização do treinamento, visando uma melhor
atuação esportiva [2].
Um estudo realizado por
Coyne et al. [13] investigou
o efeito de 5 semanas de treinamento de força máxima para membros superiores na
velocidade de sprint e endurance
de surfistas. A amostra contou com 17 surfistas homens, profissionais e amadores,
com idade entre 18-48 anos, separados pela ordem de importância para a remada: massa
muscular, tamanho do braço, idade, força e a habilidade de surfe, divididos de forma
mais equiparada possível entre um grupo controle composto por 6 surfistas, sendo 2 competidores e o grupo de treino com 11
surfistas sendo 4 competidores.
Os protocolos de teste
foram: a composição corporal realizada com um compasso de dobras cutâneas, o teste
de sprint na piscina, realizado com um tensiômetro preso no short do surfista, teste de 1RM na barra
fixa (Pull-up) e nas barras paralelas (DIP) e o teste
de endurance de remada de 400 m. Para o protocolo de treinamento
foram escolhidos os exercícios barra fixa e paralelas, com frequência de 2 vezes por semana com total de 18 sessões de treinamento. No
primeiro dia, era realizada primeiro a barra fixa, com
5, 4, 3, 2, 1 repetições com incremento de carga externa, até que chegasse na carga
para 1 repetição, o tempo de contração concêntrica e excêntrica foi controlado (2s
para a fase concêntrica e 2s para a fase excêntrica) sendo que o participante só
aumentava a carga quando realizava a repetição de maneira correta e dentro do tempo
determinado, com intervalo de 180 segundos.
Os participantes foram
instruídos a continuar de maneira normal seu tempo de prática semanal de surfe e
atividades do dia a dia. O tempo foi mensurado e não houve diferença significativa
no tempo total de surfe entre os dois grupos. O grupo de treino apresentou uma melhora
na composição corporal, aumento da massa magra e diminuição do percentual de gordura
em relação ao grupo controle. Um resultado interessante ocorreu no teste de sprint de 5 m, 10 m e 15 m, enquanto o grupo experimental apresentou
uma melhora significativa no tempo de sprint, o grupo
controle demonstrou uma queda de performance em relação
a primeira avaliação.
O grupo experimental também
apresentou uma melhora significativa no teste de resistência de remada, segundo
os autores talvez por uma maior economia de movimento obtida através do treinamento
de força. Os autores concluíram que existe um efeito benéfico na melhora da performance da remada de surfistas em um período de 5 semanas
de treinamento de força máxima para membros superiores. Uma observação feita pelos
autores é a de que 5 semanas é um período curto para o
treinamento de acordo com a literatura, porém nos dias atuais surfistas competem
em diferentes partes do mundo, realizando inúmeras viagens durante o ano sendo raro
uma pausa por 5 ou mais semanas. Quando o grupo de treino foi dividido entre mais
fortes e mais fracos e comparados entre si, os sujeitos mais fracos apresentaram
uma melhora superior em todos os testes de sprint e no
de resistência. O estudo avaliou o efeito do treinamento de força máxima.
Outras manifestações de
força, como força explosiva e força rápida merecem ser investigadas em novos estudos,
da mesma forma que outras metodologias de treinamento para o desenvolvimento da
força máxima envolvendo diferentes controles das variáveis do treinamento.
Desempenho
e lesões em surfistas
Ferrier et al. [15] analisaram o impacto das manobras aéreas nas notas das ondas
de surfistas profissionais. Foram analisadas através de filmagens 23,631 ondas durante
as etapas dos anos de 2014, 2015 e 2016 do circuito mundial de surfe (WCT). O estudo
concluiu que existe um aumento significativo na nota quando o surfista executa uma
manobra aérea na onda (p = 0,0001), além de um aumento da quantidade de aéreos executados
ao longo dos anos. As manobras do surfe moderno atingiram um patamar inimaginável,
o impacto das manobras imposto aos surfistas atuais requer um melhor preparo físico
para que as lesões sejam evitadas. Outro estudo diretamente ligado a perfomance encontrou uma alta correlação entre um maior tempo
de bottom turn (cavada) e maior
somatório de notas na bateria [17].
Alguns estudos investigaram
a prevalência de lesões em surfistas e concluíram que as lesões no joelho e tornozelo
por entorse, além de lesões no ombro por movimentos repetitivos na remada são alguns
dos diferentes tipos de lesões relatados por surfistas, porém o maior fator de lesão
demonstrado pelos estudos foram os traumas causados pelo contato com a prancha.
Outro fator a ser considerado na prevalência de lesões é o tipo de ondas e fundo
do mar (areia, coral, pedra) onde predominam as sessões de surfe [6,12,20,24].
De acordo com os estudos
analisados na respectiva revisão, os surfistas, tanto recreativos quanto competitivos,
apresentam boa aptidão cardiorrespiratória e o comportamento da frequência cardíaca
durante uma sessão de surfe se mostra semelhante ao comportamento durante uma sessão
de natação, corrida ou voleibol. Os surfistas recreativos e competitivos não apresentam
diferenças significativas em relação ao VO2 máximo, porém surfistas competitivos
demonstram maior eficiência do metabolismo anaeróbio.
O treinamento de força
para membros superiores se mostra eficiente na melhora do rendimento na remada de
surfistas recreativos e competitivos, considerando a especificidade do gesto e um
planejamento adequado das etapas de treinamento. Durante as competições ocorre correlação
significativa entre um maior número de manobras aéreas na onda e a pontuação atingida
na mesma. No entanto, o impacto gerado por tais manobras pode proporcionar um potencial
risco de lesões. Os estudos demonstram que o maior causador de lesões no surfista
é o contato com a prancha, porém lesões de joelho e tornozelo, principalmente entorses,
além de lesões por movimentos repetitivos nos ombros também costumam acontecer com
certa frequência e podem ser prevenidos com a prática do treinamento de força.
Como resultado da presente
revisão de literatura, é possível perceber que são escassos os trabalhos relacionados
diretamente ao treinamento específico para melhorar o rendimento do gesto motor
específico do surfista na onda. Apesar de a remada ser considerada um fundamento
importante para colocar o surfista adequadamente na onda, não é fator determinante
no aumento das notas na competição para o surfista competitivo e nem da performance do surfista recreativo na onda.
Dessa forma, se torna
necessário o delineamento de estudos cujo foco seja investigar as capacidades biomotoras determinantes para a melhora da performance específica de surfistas na onda e as estratégias
de treinamento mais eficientes para alcançar esse objetivo.