Rev Bras Fisiol Exerc
2019;18(2):78-82
doi : 10.33233/rbfe.v18i2.2822
ARTIGO ORIGINAL
Percepção da imagem corporal e caracterização de
idosas sedentárias e praticantes de atividades físicas de um centro de
convivência de Teresina/PI
Perception
of body image of active and sedentary elderly women from a community center for
the elderly in the city of Teresina/PI
Juliana
Maria Barbosa de Sousa Santos*, Marcela Araújo Sá Nogueira**, Mara Jordana
Magalhães Costa, D.Sc.***
*Profissional de Educação Física, **Professora de
Educação Física, Especialista em Reabilitação Cardíaca e Grupos Especiais,
Mestranda em Ciências e Saúde, ***Professora Adjunta do curso de Educação
Física – Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Recebido
em 19 de março de 2019; aceito em 25 de junho de 2019.
Correspondência: Mara Jordana
Magalhães Costa, Rua Juiz João Almeida, 2251, Condomínio bloco Savassi,
Planalto Ininga 64052-880 Teresina PI
Mara
Jordana Magalhães Costa: marajordanamcosta@gmail.com
Juliana
Maria Barbosa de Sousa Santos: jullis_242@hotmail.com
Marcela
Araújo Sá Nogueira: marcelaaraujosaa@hotmail.com
Resumo
O
processo de envelhecimento está em constante crescimento mundial,
principalmente nos países em desenvolvimento nos quais se observa um aumento
desta população. O objetivo do presente estudo foi analisar a percepção da
imagem corporal de idosas ativas e sedentárias de um centro de convivência de
idosos na cidade de Teresina/PI. A pesquisa é do tipo transversal, descritiva e
com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por um grupo de 40 idosas
divididas em dois grupos: 20 praticantes de atividades físicas e 20 idosas
sedentárias. Inicialmente foi utilizado um roteiro complementar e em seguida
aplicação da escala de nove silhuetas. Para análise dos dados realizou-se o
teste do qui-quadrado com nível de significância de p
< 0,05. Os resultados mostraram que a média da idade das idosas avaliadas
foi de 67,6 ± 6,8 anos, e que 77,5% estão insatisfeitas com sua imagem
corporal, principalmente pelo excesso de peso (67,50%). Observou-se ainda que
não houve diferença estatisticamente significativa entre o grupo de idosas
ativas e sedentárias com relação a sua imagem corporal (p = 0,563). Portanto,
os dados apresentados mostram um elevado percentual de idosas insatisfeitas com
sua imagem corporal, independente do seu nível de atividade física.
Palavras-chave: envelhecimento;
imagem corporal; atividade física.
Abstract
The
aging process is constantly growing worldwide; especially in developing
countries population is projected to increase. The objective of the present
study was to analyze the body image of active and sedentary elderly women from
a community center in the city of Teresina/PI. This research was a transversal,
descriptive and quantitative study. The sample consisted of a group of 40
elderly women divided into two groups: 20 physical activity practitioners and
20 sedentary elderly women. Initially, a complementary script was used and then
the nine silhouettes scale. For data analysis, the chi-square test was
performed with a significance level of p < 0.05 and the statistical program
was STATA 12.0. The results showed that the mean age of the elderly women
evaluated was 67.6 ± 6.8 years, and that 77.5% were dissatisfied with their
body image, mainly due to the excess weight (67.50%). It was also observed that
there was no statistically significant difference between the group of active
and sedentary women with respect to their body image (p = 0.563). Therefore,
dissatisfaction with body image was prevalent in both groups, being these
elderly active or not.
Keywords: aging; body
image; physical activity.
O
processo de envelhecimento populacional está ocorrendo de forma gradual e
progressiva, além disso, trata-se de um aumento populacional mundial, no qual é
mais perceptível nos países em desenvolvimento [1]. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística [2], em 2025, estima-se que no Brasil
serão mais de 30 milhões de idosos. Em 2050 acredita-se que o número de idosos
será igual ao de crianças [1].
Envelhecer
trata-se de um conceito profundo, que notoriamente quando utilizado associa-se
a termos e ideias cronológicas. Reconhece que tal processo é afetado de maneira
significativa tanto por fatores sociológicos como por fatores psicológicos,
causando alterações cognitivas e físicas, ambas são visíveis e fazem parte
desse processo natural. Além destes, fatores ambientais assim como estilo de
vida podem influenciar nesse processo [3].
Ainda
segundo Taylor e Johnson [3], ao longo dos séculos foram criadas inúmeras
teorias sobre o processo de envelhecimento, porém nenhuma teve aceitação.
Porém, apesar disso, os autores sugerem que o envelhecimento não é causado
somente por um fator, mas sim por um conjunto de fatores que contribuem para
esse processo. Tal teoria explica o fato de existir o envelhecimento cronológico,
assim como o envelhecimento biológico [3].
Ainda
nesse contexto, ressalta-se que o processo de envelhecimento não se trata
somente de um processo unitário, mas um processo associado a múltiplos fatores,
englobando fatores moleculares, celulares, cognitivos, comportamentais e
sociais. Estes fatores acabam atuando em conjunto e modificando o processo
biológico do idoso [4].
Segundo
Teixeira et al. [5], essa etapa da
vida é caracterizada por uma série de fatores que acabam influenciando os
idosos na visão sobre seu corpo quando são relacionados aos fatores estéticos e
biológicos. Blessmann [6] reforça isso quando diz que
o processo de envelhecimento se torna uma etapa difícil, pois se trata de um
momento com estigmas no qual sua imagem corporal é repudiada em uma sociedade
que valoriza a imagem da juventude.
Nesse
sentido, Gonçalves et al. [7] relatam
que a imagem e percepção corporal podem ser entendidas como um conjunto no qual
se englobam fatores cognitivos, emocionais e comportamentais e esse conjunto
torna-se uma representação mental do corpo. Nessa etapa da vida, a percepção
corporal que o idoso tem de si próprio está relacionada com a relação e bom
funcionamento do sistema nervoso e esquema corporal [8].
Uma
forma de minimizar essa insatisfação com seu próprio corpo é a adesão a um
programa de atividade física que, muitas vezes, reflete de uma maneira positiva
no processo de envelhecimento, contribuindo para o bem-estar, melhorando a
autoimagem e autoestima [9]. A atividade física proporciona uma melhor
compreensão da imagem corporal de idosas, além de influenciar visivelmente na
melhora das condições psicológicas e sociais aumentando a autoestima [9].
De
acordo com os dados abordados acima, observa-se que a população idosa está em
contínuo processo de crescimento e que a imagem corporal é um tema relevante a
ser discutido nessa faixa etária no intuito de minimizar prejuízos a saúde de
forma geral.
Assim,
o objetivo geral do presente estudo foi analisar a percepção da imagem corporal
de idosas ativas e sedentárias em um centro de convivência da cidade de
Teresina/PI.
O
presente estudo caracteriza-se como um estudo transversal, descritivo e com
abordagem quantitativa. A amostra foi constituída por um total de 40 idosas, na
faixa etária de 60 a 80 anos de idade do centro da cidade de Teresina/PI. As
idosas foram divididas em dois grupos. Um grupo foi composto por 20 idosas que
praticavam atividades físicas (Grupo ativo) e o outro grupo foi composto por 20
idosas sedentárias (Grupo sedentário).
A
amostra foi selecionada por amostragem não probabilística e de forma
intencional, as idosas foram selecionadas no Centro de Convivência do Idoso
(CCI) localizado no centro da cidade de Teresina/PI.
Os
critérios de inclusão para esse estudo foram: mulheres idosas, na faixa etária
de 60 a 70 anos, que sejam praticantes de exercício físico e também idosas
sedentárias que frequentavam o centro de convivência dos idosos para realizarem
atividades culturais e oficinas de aprendizado.
Inicialmente
foi aplicado um roteiro complementar no qual continha informações sobre nome,
idade, sexo, nível de escolaridade, nível da renda familiar e teve como
finalidade principal complementar os dados obtidos por meio dos outros
instrumentos e assim facilitar as análises dos dados.
Para
avaliar a imagem corporal (IC) foi utilizada a escala de silhueta de nove
silhuetas proposta por Stunkard et al. [10], utilizada pelo estudo de Matsuo
et al. [9] na qual as idosas
identificaram o tipo de Silhueta Atual (SA) e o tipo de Silhueta Ideal (SI).
Esta escala foi aplicada juntamente com o roteiro antes das aulas de exercícios
físicos que elas realizavam.
Na
análise de dados, realizou-se uma estatística descritiva, por meio de
percentuais, média e desvio padrão. Em seguida foi realizada uma análise
inferencial por meio do teste do qui-quadrado. O
nível de significância adotado foi de 5% e todos os dados foram analisados no
programa estatístico STATA 12.0.
Todos
os participantes foram esclarecidos sobre a finalidade da pesquisa, no qual
todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assim como
o responsável pela Instituição na qual a pesquisa ocorreu, assinou o Termo de
Anuência. O presente estudo obedeceu aos requisitos constantes da Resolução nº
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Ao
final do estudo, os pesquisadores apresentaram os resultados por meio de uma
palestra informativa a fim de oferecer uma devolutiva aos mesmos.
A
média de idade das idosas participantes foi de 67,77 ±7,07 anos. Foi avaliado o
grau de escolaridade assim como a renda familiar das participantes,
apresentados na Tabela I. Na análise da escolaridade observou-se um baixo nível
de escolaridade, com 32,5 % apresentando fundamental completo e 30,0%
fundamental incompleto. As participantes apresentaram também uma baixa renda
familiar, 77,5% possuem apenas um salário como renda familiar. A tabela I
apresenta a caracterização das idosas.
Tabela I - Características das idosas avaliadas quanto à renda familiar, nível de
escolaridade e imagem corporal. Teresina, 2016
Fonte:
autor; SM = salário mínimo
Primeiramente
foi realizada uma caracterização da amostra e observou-se que em ambos os
grupos as participantes possuíam uma baixa renda familiar, sendo que 77,5%
apresentam como renda apenas um salário. Comparando esse resultado com
resultados do estudo de Fonseca et al.
[11], que teve como objetivo realizar a investigação sobre a autoestima e
satisfação corporal de idosas participantes e não participantes de atividades
corporais, encontraram-se resultados semelhantes aos do nosso estudo quanto a
renda, mostrando que 68,25% das idosas tinham uma renda de até dois salários.
Outra
característica do perfil das idosas avaliada foi o nível de escolaridade, em
ambos os grupos a maioria concluiu apenas o ensino fundamental, correspondendo
no total de 32,5% das idosas participantes do estudo. O estudo de Fonseca et al. [11] mostra que 21,86% das idosas
que participaram do estudo tinham o ensino fundamental completo. Outro estudo
[12] também mostra que a maioria dos idosos brasileiros possui baixa renda. Os
autores analisaram os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
(2008-2009) e relataram que alguns dos dados socioeconômicos mostrados no
estudo reafirmam os trazidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) [13], mostrando que os idosos são, em sua maioria, mulheres e apresentam
baixa escolaridade.
Com
relação à imagem corporal, não foi observada uma associação estatisticamente
significativa com realizar (ativa) ou não atividades físicas (sedentária) (p =
0,563) (Tabela II).
Tabela II - Associação entre satisfação com a imagem corporal e praticar atividades
físicas. Teresina, 2016
Fonte:
autor; Não = grupo sedentário; Sim = grupo ativo
Um
ponto que pode ser observado é o fato de idosas ativas não estarem satisfeitas
com a imagem corporal. No estudo de Soares e Pádua [14] foi observado que
apesar do tempo de prática de atividade física, muitas mulheres estão
insatisfeitas com sua imagem corporal e correm riscos cardiovasculares. Isso
pode ocorrer também pelo fato da silhueta imposta como ideal pela sociedade e
pela mídia, que é um corpo magro e perfeito, e muitas delas podem possuir uma
distorção na percepção da autoimagem.
Ainda
nesse contexto, resultados similares ao nosso estudo são mostrados no estudo de
Souto et al. [15], que teve o
objetivo de comparar a imagem corporal de mulheres de meia idade e mulheres
idosas praticantes e não praticantes de atividade física. Observou-se que o
grupo 2 (composto por idosas praticantes de hidroginástica) e o Grupo 3
(composto por idosas não praticantes) apresentaram insatisfação com a imagem
corporal. O grupo 2 apresentou um valor de 97,4% na escolha da SI e o Grupo 3
apresentou um valor de 77,8% na escolha da SI. Percebe-se que o grupo de idosas
praticantes de hidroginástica apresentou um percentual maior de insatisfação
quando comparado com o grupo não praticante.
O
estudo de Fonseca et al. [11], que
teve como objetivo realizar a investigação sobre a autoestima e satisfação
corporal de idosas participantes e não participantes de atividades corporais,
encontrou como resultado geral que ambos os grupos encontram-se insatisfeitas
com a imagem corporal correspondendo a um número de 66%, concluindo que o nível
de satisfação corporal não foi influenciado pela prática de atividades corporais.
Dessa
forma, pode-se observar que o presente estudo e outros estudos na literatura
mostram idosas insatisfeitas com sua imagem corporal independente de praticar
ou não atividades físicas. O estudo de Menezes et al. [14] ressalta que a insatisfação com a imagem corporal em
idosos pode ser por fatores como excesso de peso, avaliação negativa da saúde,
prática de atividades físicas regulares e estado nutricional acima do padrão
normal.
A
insatisfação corporal pode ser também justificada pelo que a mídia transmite na
atualidade, venerando cada vez mais o culto a silhuetas perfeitas, o que pode
afetar uma distorção na percepção da imagem corporal, especialmente em
mulheres. A atividade física nessa fase da vida é importante, pois acaba por
influenciar na saúde, bom-humor, socialização e também na qualidade de vida, e
todos esses fatores associados podem influenciar na satisfação da imagem
corporal.
Pode-se
observar que tanto as idosas ativas quanto as sedentárias encontram-se
insatisfeitas com sua imagem corporal, mostrando que neste grupo de idosas a
prática de exercícios físicos não teve influência na forma de como essas idosas
se veem.
Quanto
à escolaridade e renda, observou-se um baixo nível de escolaridade e uma baixa
renda familiar, respectivamente, o que corroborou outros estudos da literatura.
Assim,
observa-se ainda que a imagem corporal envolve um conjunto complexo e que nele
estão inseridos fatores fisiológicos, sociais, psicológicos que determinam
subjetivamente como as idosas se percebem. Contudo, é importante avaliar outras
variáveis como estado nutricional e autopercepção da saúde para ampliar as
discussões acerca do tema.
Portanto,
para que idosos possam ter uma melhor autopercepção do corpo é importante que
haja uma conscientização que o corpo é sinônimo de saúde e não apenas da
beleza. E que a mídia possa utilizar-se do seu aspecto positivo, para noticiar
e propagar notícias sobre como gostar de si mesma, sem comparar e impor padrões
de corpos.