Rev Bras Fisiol Exerc 2019;18(4):180-5
ARTIGO ORIGINAL
Análise comparativa do
sono em idosos praticantes de Pilates e hidroginástica: um estudo transversal
Comparative sleep analysis in elderly practitioners of Pilates or water
aerobics exercises: a cross-sectional study
Ana Jéssica Ferreira de
Sousa*, Juliana Pereira dos Santos*, Francisco Fleury Uchoa Santos-Júnior, D.Sc.**
*Discentes do Centro
Universitário Estácio do Ceará, Fortaleza/CE, **Docente do Centro Universitário
Estácio do Ceará, Fortaleza/CE
Recebido em 29 de julho
de 2019; aceito 20 de dezembro de 2019.
Correspondência: Francisco Fleury
Uchoa Santos Júnior, Rua Eliseu Uchôa Beco, 600, Água Fria 60810-270 Fortaleza
CE
Francisco Fleury Uchoa
Santos Júnior: drfleuryjr@gmail.com
Ana Jéssica Ferreira de
Sousa: anajessicasousa2009@hotmail.com
Juliana Pereira dos
Santos: julianasantos.fisiot@gmail.com
Resumo
A população idosa vem
crescendo significativamente ao longo dos anos e, com ela, as alterações do
processo de envelhecimento que acompanham esses indivíduos, como distúrbios do
sono e diminuição da qualidade de vida. Nesse sentido, este estudo teve por
objetivo avaliar o sono em idosos praticantes de Pilates e hidroginástica.
Tratou-se de um estudo transversal, tendo como instrumento de coleta a
aplicação de três questionários, Mini Exame de Estado
Mental (MEEM), Escala de Sonolência de Epworth (ESE)
e Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI). A amostra compreendeu 13
idosos a partir de 60 anos praticantes do método Pilates (n = 5) ou
hidroginástica (n = 8). Quando comparados entre si, não houve diferença
estatística na cognição, sonolência e qualidade do sono entre os grupos
analisados.
Palavras-chave: sono, envelhecimento,
exercício.
Abstract
The
elderly population has grown significantly over the years and, with it, some
changes in the aging process accompanied these individuals, such as sleep
disorders and decreased quality of life. In this sense, this study aimed to
evaluate sleep in elderly Pilates and water aerobics practitioners. This was a
cross-sectional study, using as a collection instrument the application of
three questionnaires, Mini Mental State Examination (MMSE), Epworth Sleepiness
Scale (ESE) and Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). The sample was 13
elderly from 60 years old Pilates (n = 5) or water aerobics exercises (n = 8).
When compared to each other, there was no statistical difference in cognition,
sleepiness and sleep quality between the analyzed groups.
Key-words: sleep, aging,
exercise.
Define-se
envelhecimento como um processo contínuo, individual, irreversível e não
patológico de um organismo, sendo comum a toda população de uma espécie [1].
Caracteriza-se como uma experiência vivenciada, seja ela, negativa ou positiva
[2]. A população idosa representou, até o ano de 2017, cerca de 12% da
população mundial, com estimativas de, até 2050, serem duplicadas e até
triplicadas em 2100 [3]. Dentre as características que compõem o processo de
envelhecimento estão as alterações do sono, atingindo mais de 50% dos idosos
[4].
O sono é caracterizado
como uma função biológica fundamental para os diversos sistemas e funções do
corpo humano [5]. Dentre os principais sintomas relacionados aos distúrbios do
sono encontra-se a insônia [6], e em relação ao seu tratamento incluem-se as
intervenções medicamentosas, objetivando a sedação, redução da ansiedade e/ou
relaxamento muscular. Evidencia-se também as condutas não-medicamentosas, com
destaque para a prática de exercícios físicos [7]. Na população idosa, as
principais queixas relacionadas à insônia são um despertar antecipado,
dificuldade em manter o sono ao acordar pela manhã e diminuição de um sono eficiente
e reparador [4]. Os distúrbios estão associados a fatores como sobrepeso, má
alimentação e alcoolismo. Em contrapartida, a melhora da qualidade do sono está
relacionada a fatores como a prática regular de atividade física [8].
Durante a senescência,
o corpo do idoso sofre diversas alterações como perda da força muscular,
diminuição da flexibilidade e coordenação [9]. A prática regular de atividade
física é considerada um meio de prevenção primária eficaz para manter e
recuperar a condição de saúde física e mental do idoso [10]. A modalidade de
exercício físico mais indicada para os idosos são as de baixa a média potência,
baixo impacto e longa duração, entre elas a caminhada, natação, hidroginástica,
dança e atualmente o método Pilates [11], utilizados também na prevenção de
quedas, doenças e melhora do equilíbrio [12].
O método Pilates atua
como uma atividade física com foco em resistência e o alongamento dinâmico,
propondo evolução do funcionamento motor, controle do corpo e postura [13].
Deste modo, o método pode contribuir para a recuperação da amplitude de
movimento, redução de dores e conservação da qualidade de vida [14]. Já a
hidroginástica se constitui como outra modalidade de atividade física
recomendada para o idoso, proporcionando a prática de exercícios em um ambiente
confortável e lúdico [15]. É realizada no meio líquido e tem como benefícios a
melhora do condicionamento cardiorrespiratório, força muscular, resistência e
flexibilidade [16]. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o sono
em idosos praticantes de Pilates e hidroginástica.
O presente estudo é
comparativo do tipo transversal com aprovação no Comitê de Ética (parecer n
3.347.845) do Centro Universitário Estácio do Ceará, tendo como instrumento de
coleta a aplicação de questionários, sendo eles o Sociodemográfico para caracterização
da amostra, Mini Exame de Estado Mental – MEEM [17], Escala de sonolência de Epworth – EPW [18], Índice de qualidade do sono de
Pittsburgh [19].
A amostra foi formada
por idosos a partir de 60 anos, praticantes do método Pilates ou hidroginástica
em um projeto de responsabilidade social (RS) de uma Instituição de Ensino
superior e em uma Clínica de Fisioterapia na cidade de Fortaleza/CE. Os
critérios de exclusão foram indivíduos abaixo de 60 anos, que praticassem mais
de uma atividade além do Pilates ou hidroginástica, ou ambos simultaneamente.
Obteve-se um total de 13 participantes, por conveniência, sendo divididos em
Grupo Pilates (n = 5) e Grupo Hidroginástica (n = 8). Os dados foram tabulados
no Microsoft Excel. Foi utilizado o Teste de Fisher para amostras independentes
com o objetivo de comparar os dois grupos e p<0,05, por meio do software
estatístico GraphPad Prism8.0 para Windows®. Os dados foram expressos na forma
de Média ± desvio padrão.
O estudo contou com 13
participantes voluntários, divididos em 2 grupos, sendo o Grupo Pilates,
composto por 5 indivíduos e o Grupo Hidroginástica, 8 indivíduos, sem diferença
na caracterização entre os grupos (Tabela I).
Tabela I - Caracterização da
amostra (n = 13).
De acordo com a Figura
1, observa-se que quando relacionado ao nível de cognição, 87,50% dos
indivíduos praticantes de hidroginástica apresentaram nível de cognição dentro
da pontuação de normalidade, enquanto 12,50% apresentaram considerável déficit
cognitivo. Ao relacionar o grupo dos indivíduos que praticavam Pilates, 60% dos
avaliados apresentaram um nível de cognição dentro da pontuação de normalidade
e 40% apresentaram pontuação representando déficit cognitivo considerável (p =
0,510), não apresentando diferença estatística entre os grupos.
Figura 1 - Comparação dos
dois grupos em relação ao déficit cognitivo
De acordo com a Figura
2, observa-se quanto ao nível de sonolência, 87,50% dos indivíduos praticantes
de hidroginástica não apresentaram sonolência e 12,50% do mesmo grupo
apresentou algum distúrbio do sono. Quando relacionado ao grupo dos indivíduos
que praticavam Pilates, 60% não apresentaram sonolência e 40% apresentaram
pontuação representando algum distúrbio do sono (p = 0,510), não apresentando
diferença estatística entre os dois grupos.
Figura 2 - Comparação dos
dois grupos em relação sonolência
Na figura 3, com
relação à qualidade do sono, 50% dos indivíduos praticantes de hidroginástica
apresentaram uma boa qualidade do sono e a outra metade apresentou uma
qualidade ruim ou a presença de algum distúrbio do sono. Quanto ao grupo dos
indivíduos que praticavam Pilates, 20% não apresentaram uma boa qualidade do
sono, já 80% apresentaram pontuação representando um sono ruim ou a presença de
algum distúrbio do sono (p=0,564), não apresentando diferença estatística.
Figura 3 - Comparação dos
dois grupos em relação à qualidade do sono
De acordo com os
resultados obtidos e considerando a amostra, observa-se que em relação a
cognição, sonolência e qualidade do sono, não houve divergência entre os
grupos. Avaliando o nível de cognição dos dois grupos através do Mini-exame de Estado Mental (MEEM), observa-se que a maior
parte do grupo praticante de hidroginástica apresentou nível de cognição dentro
da pontuação de normalidade, em relação ao grupo Pilates, 60% apresentaram
nível de cognição dentro da normalidade. De modo que não foi possível evidenciar
diferença cognitiva entre os grupos.
O exercício físico
contribui para a preservação da função cognitiva em idosos saudáveis,
incluindo-se a hidroginástica, sendo observados melhora da capacidade funcional
em idosos praticantes, melhora das funções de memória e atenção, bem como da
mobilidade funcional desses indivíduos [20]. Entretanto, não existem diferenças
entre a capacidade funcional e cognitiva dos idosos praticantes de
hidroginástica quando comparado a outras modalidades. Porém, capacidade
funcional e a capacidade cognitiva foi classificada como normal, sugerindo um
impacto positivo dos exercícios físicos na saúde mental da população idosa
[21].
Quando avaliado o nível
de sonolência dos dois grupos por meio da Escala de Sonolência de Epworth, observou-se que a maioria dos praticantes de
hidroginástica não apresentaram sonolência, com relação ao grupo Pilates, o
resultado mostrou-se similar, ou seja, sem diferença entre os grupos no nível
de sonolência.
Em um estudo
quantitativo, transversal e descritivo, com 128 idosos, que se avaliou nível de
sonolência diurna através da Escala de Sonolência de Epworth,
qualidade do sono através do índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh e
qualidade de vida através do WHOQOL-BREF, constatou-se que fatores como
alterações intrínsecas e extrínsecas decorrentes do envelhecimento, como
modificação do padrão social, padrão doméstico, redução dos ciclos de amizade,
inação física e profissional contribui para uma maior sonolência diurna e,
assim, um sono noturno de qualidade ruim, tendo um resultado negativo na
qualidade de vida [22].
Quando avaliada a
qualidade do sono dos dois grupos, observa-se que cerca de 50% dos indivíduos
praticantes de hidroginástica apresentaram uma boa qualidade do sono, enquanto
a outra metade apresentou uma qualidade ruim ou a presença de algum distúrbio
do sono. No grupo praticante de Pilates, a maior parte dos avaliados apresentou
uma qualidade ruim do sono ou a presença de algum distúrbio do sono.
Entretanto, sem diferença entre os grupos na qualidade do sono. Em um estudo de
revisão da literatura sobre atividade física e qualidade do sono, evidenciou-se
o efeito benéfico do exercício físico, de modo que ele proporciona melhoria na
percepção subjetiva e objetiva da qualidade do sono e qualidade de vida,
podendo ser utilizado como intervenção terapêutica nos tratamentos dos
distúrbios do sono [23].
Igualmente,
constatou-se, em um estudo com idosos, que exercícios aeróbicos com intensidade
moderada mostram efeito positivo e significativo na qualidade do sono e de
seus componentes [24]. Em um estudo de revisão sistemática, o método Pilates
proporciona muitos benefícios a saúde, podendo ser recomendado aos idosos,
sendo efetivo também como conduta fisioterapêutica para prevenir e tratar as
desordens geriátricas. Deste modo, o método deve ser praticado
progressivamente, respeitando o desenvolvimento do paciente e os princípios do
método [25].
Diante da avaliação da
qualidade do sono em ambos os grupos e comparados, não houve um grupo superior
ao outro. Quanto a sonolência, observou-se que ambos os grupos apresentaram
grau de sonolência e, quando comparados, nenhum se sobressaiu ao outro. Sendo
assim, considerando a amostra do presente estudo concluímos que novos estudos
devem ser encorajados para análises mais robustas sobre a repercussão do
Pilates e da hidroginástica no sono de idosos.