Rev Bras Exerc Fisiol 2019;18(4):209-16
ARTIGO ORIGINAL
Efeito do treinamento
de força com restrição de fluxo sanguíneo sobre a composição corporal de jovens
jogadores de futebol
Effect of strength training with blood flow restriction in body
composition in young soccer players
Ezequias Pereira-Neto*,
Ragami Chaves-Alves**, Tácito Pessoa de
Souza-Junior**, Vanessa Marques Schmitzhaus*, Marzo Edir Da Silva-Grigoletto*,
Marcos Bezerra de Almeida*
*Universidade Federal
de Sergipe, São Cristovão/SE, **Departamento de
Educação Física, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR
Recebido em 24 de
setembro de 2019; aceito em 11 de novembro de 2019.
Correspondência: Ezequias Pereira
Neto, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Avenida Marechal Rondon, s/n –
Jardim Rosa Elze, 49100-000 São Cristóvão SE
Ezequias Pereira-Neto:
neto.pereiraedf@gmail.com
Ragami Chaves Alves:
ragami1@hotmail.com
Tácito Pessoa de
Souza-Junior: tacitojr2009@hotmail.com
Vanessa Marques Schmitzhaus: vanessams@academico.ufs.br
Marzo Edir Da Silva-Grigoletto: medg@ufs.br
Marcos Bezerra de
Almeida: mb.almeida@gmail.com
Resumo
Introdução: A composição corporal
é um fator de grande influência no desempenho esportivo de atletas. De maneira
acessória o treinamento de força (TF) tem o papel de auxiliar na manutenção e
desenvolvimento de valências físicas fundamentais aos atletas. Dentre os
modelos de TF, o TF associado a restrição de fluxo sanguíneo (RFS) torna-se uma
alternativa capaz de auxiliar na preservação da boa composição corporal dos
atletas. Objetivo: Verificar os efeitos do treinamento de força sem e
com restrição do fluxo sanguíneo sobre a composição corporal em futebolistas. Métodos:
Fizeram parte da amostra 18 jogadores de futebol da categoria sub 20, divididos
em grupo treinamento de força tradicional (GTT; n = 09) e treinamento de força
com restrição de fluxo sanguíneo (GRF; n = 09) e treinados por 4 semanas. Resultados:
Ambos os grupos não alteraram a composição corporal (p ≥ 0,05). Contudo,
a inferência baseada em magnitude aponta uma tendência de melhora no percentual
de gordura e massa adiposa no GRF com D = -4,9% para
percentual de gordura e D = -5,7% para massa
adiposa. Conclusão: Os protocolos realizados por 4 semanas não se
mostraram eficazes na melhora da composição corporal.
Palavras-chave: hipóxia;
emagrecimento; hipertrofia.
Abstract
Introduction: Body composition is a factor of great influence on sports performance
of athletes. In an ancillary way resistance training (RT) has the role of
assisting maintenance and development of fundamental physical valences for
athletes. Among the RT models, the RT associated with blood flow restriction
(BFR) becomes an alternative capable of helping to preserve the athletes' good
body composition. Objective: To verify the effects of RT without and
with blood flow restriction on body composition in soccer players. Methods:
Eighteen soccer players under 20 were randomly assigned a group of traditional
resistance training (GTT; n = 9) and resistance training with blood flow
restriction (GRF; n = 9) and trained for 4 weeks. Results: Both groups
did not change body composition (p ≥ 0.05). However, the magnitude-based
inference indicates a tendency for improvement in the percentage of fat and fat
mass in the GRF with D = -4.9% for fat percentage and D = -5.7% for fat mass. Conclusion: Protocols performed for 4
weeks were not effective in improving body composition.
Key-words: hypoxia; weight loss;
hypertrophy.
Diversos fatores podem
influenciar o desempenho de jogadores de futebol, dentre eles a composição
corporal dos atletas [1]. Alterações na composição corporal, com destaque para
o aumento do percentual de gordura (%GC), podem gerar declínio na velocidade
dos processos de fornecimento de energia assim como no desempenho físico e no
rendimento esportivo [2].
Atletas de alto nível
diferem dos demais, não só por suas qualidades físicas ou técnico-táticas, mas
também devido à sua composição corporal [3]. Jovens jogadores de futebol
caracterizam-se por apresentar um perfil mesomorfo
(musculoso) quanto a seu somatotipo e composição
corporal, característica essa pouco notada nos primeiros anos de prática [4].
Com a maturação, esses jovens jogadores apresentam maior estatura e massa
corporal do que a média da população nessa idade [5], o que tende a modificar a
composição corporal.
O perfil de somatotipo meso-endomórfico
apresentado por jovens futebolistas é semelhante ao encontrado em atletas
profissionais da modalidade [6]. Indivíduos fisicamente ativos, com somatotipo e idade similares, apresentam valores de %GC em
torno de 20-22%, ao passo que os atletas estão situados na faixa entre 12 e 13%
[7]. O aumento no %GC de jovens atletas de futebol está relacionado ao declínio
de desempenho de capacidades físicas como potência e velocidade [2,8].
Desta forma,
estratégias de manutenção ou aumento de massa muscular podem ser eficazes na
melhora do %GC, massa muscular e massa livre de gordura de atletas [9].
Considerando que atletas de força e potência têm demonstrado massa muscular
três vezes maior do que indivíduos não treinados [10], o aumento da massa
muscular (hipertrofia) através do treinamento de força (TF) tem sido um
objetivo comum entre atletas de esportes de força e potência, como futebol, em
momentos específicos dentro da periodização de treinamento [11].
Atuais diretrizes
preconizam que os programas de TF devam ser compostos por duas a três sessões
de treinamento semanal e com cargas superiores a 70% de uma repetição máxima
(RM), pois de acordo com essas diretrizes essa intensidade de treino pode
resultar em hipertrofia muscular [12]. Nessa perspectiva, Barjaste
e Mizaei [13] conduziram um estudo que avaliou o TF
tradicional com intensidade de 70% de 1RM, com e sem periodização, sobre a
composição corporal de jogadores de futebol amadores. Em ambos os grupos investigados,
a intervenção mostrou-se ineficaz na melhora de %GC e massa corporal total. Por
outro lado, houve aumento da massa livre de gordura no grupo com periodização.
Contudo, um modelo de
treinamento de baixa intensidade (20-50% de 1RM) vem ganhando notoriedade nas
investigações acadêmicas acerca do ganho de massa muscular. Esses estudos
demonstram que o uso de treinamento de força de baixa intensidade associado à
restrição de fluxo sanguíneo (TFRFS) pode favorecer a hipertrofia muscular e a
melhora da composição corporal em indivíduos não atletas [14]. Esses ganhos de
hipertrofia no TFRFS são comparáveis aos do TF de alta intensidade, e foram
recentemente confirmados em uma revisão sistemática e meta-análise conduzida
por Lixandrão et al. [15].
A hipertrofia
tradicionalmente é descrita como um processo crônico e que leva um período
longo para ser alcançado [16]. Porém, estudos mais recentes com TF tradicional
reportam a quebra dessa lógica construída ao longo do tempo sobre a hipertrofia
e apontam aumento significativo de tamanho muscular já num curto período (até
quatro semanas) [17,18]. Essa adaptação observada, desde as primeiras sessões
de treino, era uma vantagem amplamente atribuída ao TFRFS, possibilitando a
obtenção de resultados em intervenções relativamente curtas [19].
Porém, os grupos de
indivíduos que tiveram melhoras na hipertrofia em curtos períodos de
intervenção, seja em TF ou TFRFS, eram sujeitos treinados recreacionalmente
ou mesmo inativos. Esse é um fato importante de se destacar, pois atletas
tendem a minimizar os ganhos quanto a melhoras na composição corporal em
programas de TF, haja vista sua condição vigente no princípio da treinabilidade, o qual sustenta que quanto mais treinado um
sujeito, menos treinável ele se torna [20].
Esse tipo de
modificação na composição corporal parece ser mais desejável ao atleta de
futebol, não apenas no que tange ao prazo de resposta, mas também pela possível
menor interferência no programa de treinamento específico do futebol. Ainda
assim, tendo em vista que o treinamento de futebol normalmente tem
características multicomponentes e concorrentes, não há evidências científicas
suficientes para constatar modificações na composição corporal de futebolistas
jovens, sobretudo acerca de %GC, massa muscular e massa livre de gordura, após
um curto período de intervenção de quatro semanas.
Isto posto, o presente
estudo teve como objetivo verificar e comparar os efeitos de um programa de TF
tradicional de alta intensidade e um programa de TFRFS sobre a composição
corporal (percentual de gordura, massa adiposa, massa livre de gordura e massa
muscular) de atletas de futebol da categoria sub 20 em quatro semanas.
Abordagem experimental
do problema
Este foi um estudo
transversal controlado e randomizado, desenhado para verificar os efeitos de
dois distintos modelos de TF sobre a composição corporal em jogadores de
futebol sub-20. Os atletas foram divididos em dois grupos, sendo grupo
treinamento de força tradicional (GTT) e grupo treinamento de força com
restrição de fluxo sanguíneo (GRF). Para todos os atletas foram determinados a
força máxima (1RM), a potência de salto vertical, a restrição de fluxo
sanguíneo e a composição corporal, esta última realizada nos momentos pré e pós-intervenção. O desempenho no salto vertical foi
utilizado para randomizar os grupos de forma balanceada. Todos os indivíduos ou
seus responsáveis legais leram e assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Sergipe, sob parecer nº 3.493.367.
Amostra
Originalmente, fizeram
parte da amostra 36 atletas de futebol da categoria sub 20 (18,1 ± 1,3 anos,
IMC 21,9 ± 1,4 kg.m-2). A amostra foi alocada aleatoriamente nos grupos GTT ou
GRF com base na estratificação em quartis da altura máxima obtida no salto
contra movimento (Countermovement Jump
- CMJ). Posteriormente, os indivíduos de cada quartil foram aleatoriamente
distribuídos de forma equilibrada em um dos dois grupos (n = 18 jogadores por
grupo). Optou-se usar a altura do salto vertical para classificar os grupos
experimentais por conta da familiarização dos atletas com este gesto motor, que
fornece uma avaliação consistente e válida de sua capacidade de potência
muscular.
Durante o período de
intervenção, a programação dos treinos ao longo da semana contemplava duas
sessões de treino técnico-tático (60 min), e três sessões de treino físico (20
a 40 min), já incluídas as duas dessas sessões da intervenção do nosso estudo.
Critérios de seleção da
amostra
Estavam elegíveis a
participar do estudo atletas de futebol nascidos entre 1999 e 2003 (idade entre
16 e 20 anos), pertencentes ao elenco de uma equipe vinculada à federação
estadual de futebol local, sem participação recente (últimos seis meses) em
programa de TF de qualquer tipo. Atletas que apresentassem fatores de risco
cardiovascular ou lesões musculoesqueléticas que pudessem impedir ou limitar a
realização dos procedimentos seriam excluídos da amostra (nenhuma ocorrência
inicial). Contudo, ao longo do estudo, seis atletas foram excluídos em
decorrência de lesão musculoesquelética e um por episódio cardiovascular.
Adicionalmente, quatro atletas deixaram o estudo pois foram transferidos para
outros clubes, e outros sete desistiram por razões pessoais não especificadas.
Em função disso, a amostra final contou com 18 atletas (nove em cada grupo).
Teste de 1RM
O teste de 1RM seguiu
as recomendações da National Strength and Conditioning
Association [21], inclusive quanto às estratégias
sugeridas para reduzir erros de execução do movimento. Todos os atletas foram
orientados de forma padronizada, indicando cuidadosamente a técnica do
movimento. As anilhas utilizadas no teste foram aferidas previamente em balança
de precisão. Todos os testes foram conduzidos por um único e experiente
avaliador que ficou atento durante toda a execução do movimento para evitar
interpretações errôneas dos escores obtidos, e manteve constante encorajamento
verbal para que os participantes possam obter seu melhor desempenho. O
exercício selecionado para o teste foi o agachamento na barra guiada, cuja
reprodutibilidade tem demonstrado valores de correlação teste-restes superiores
a 0,9 [22].
Determinação de
restrição de fluxo sanguíneo
As medidas de RFS foram
feitas com os atletas em decúbito dorsal em uma maca localizada no laboratório,
com ambiente calmo e silencioso. O manguito (Premium, lote nº 0718014890529,
aferido pelo Inmetro) foi posicionado na região inguinal da coxa e posteriormente
inflado até o ponto de interrupção do pulso auscultatório da artéria tibial
[23]. Com base nesses resultados, foi adotada uma pressão de restrição de fluxo
para os treinos equivalente a 80% da pressão de restrição total de cada atleta.
Composição corporal
A avaliação de
composição corporal foi realizada utilizando um equipamento de biompedância (BIA) elétrica octapolar,
BC-601 (Tanita Corp., Tokyo, Japan).
Os indivíduos
foram orientados a vestir roupas leves, sem meias e certificar-se que
estariam
com os calcanhares devidamente posicionados nos eletrodos da
plataforma. Em
seguida, foram solicitados a segurar com as mãos um manete
retrátil com
eletrodos que atuaram em conjunto com os eletrodos posicionados nos
pés. O
manete esteve paralelo ao corpo e os sujeitos foram orientados a
não se mexer
até que a medição fosse concluída.
Após essa medição, com duração
média de 30
segundos, o visor apresentou automaticamente o resultado da
avaliação da
composição corporal. A partir do resultado, a
composição dos atletas foi
estratificada em massa corporal total (MC), percentual de gordura
(%GC), massa
adiposa total (MA) e massa livre de gordura (MLG), massa muscular (MM).
Protocolos de
treinamento
Para reduzir possíveis
interferências na performance dos atletas, os treinos de força foram agendados
para as segundas e quintas-feiras, dias não coincidentes com os dos treinos
técnico-táticos. O grupo GTT realizou seis séries de 10 repetições a 80% de
1RM, ao passo em que o grupo GRF realizou quatro séries de 15 repetições a 30%
de 1RM e pressão do manguito a 80% da restrição de fluxo sanguíneo total. Houve
um intervalo de um minuto de recuperação entre séries, independentemente do
grupo, que permitiu que o número de repetições pré-estabelecido fosse alcançado
em cada série. No GRF, os manguitos formam mantidos inflados ao longo de toda a
sessão de treino, mesmo durante os intervalos de recuperação. Em cada sessão de
treino, ambos os grupos realizaram a mesma quantidade total de repetições (60 reps)
ao longo de todo o experimento.
Análise estatística
Os dados não
apresentaram distribuição normal (teste de Shapiro-Wilk: p ≤ 0,05).
Diante disso, foi utilizado o teste não paramétrico de Friedman para analisar o
comportamento das variáveis tanto nos momentos pré e
pós-intervenção, como na comparação entre grupos. Adicionalmente, foi aplicada
a análise de inferência baseada na magnitude das diferenças [24], através de
planilha disponibilizada por Hopkins [25]. Todos os cálculos estatísticos foram
realizados utilizando o software SPSS 22.0 (IBM, Inc),
exceto onde indicado. O nível de significância para as diferenças foi aceito
até o limite de 5%.
As características dos
18 atletas que completaram o estudo podem ser observadas na tabela I.
Tabela I – Características básicas da amostra
Dados descritivos dos
sujeitos expressos em média (X) ± Desvio Padrão (DP) (n = 18)
O teste de Friedman não
identificou diferenças estatísticas em qualquer das variáveis referentes à
composição corporal antes e depois do período de intervenção, independentemente
do grupo de treinamento. Ainda assim, é possível observar tendências possivelmente
favoráveis à redução tanto do %GC como da massa adiposa no grupo GRF. Mesmo
considerando a ordem de grandeza, essas variáveis foram as que apresentaram
maior diferença percentual pós-intervenção (tabela II).
Tabela II - Efeitos do
treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo versus treinamento de
força tradicional sobre as variáveis da composição corporal de jogadores de
futebol Sub-20. Dados são apresentados como média ± desvio padrão, diferença
percentual e inferência estatística
GRF = grupo de
treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo; GTT = grupo de
treinamento de força tradicional; MC = massa corporal; %GC = percentual de
gordura corporal; MA = massa adiposa; MLG = massa livre de gordura; MM = massa
muscular; D% = diferença percentual
O presente estudo
buscou verificar e comparar os efeitos de curto prazo de um programa de treino
de força tradicional e um programa de treino de força com restrição do fluxo
sanguíneo sobre a composição corporal em atletas de futebol da categoria
sub-20. O principal achado do estudo foi que o período de quatro semanas de
treino não foi suficiente para promover modificações na composição corporal dos
atletas, independentemente do modelo de treino. Em adendo, é importante apontar
a tendência de melhora do %GC e da massa adiposa quando os dados são analisados
sob a ótica da magnitude das diferenças e do D% para o GRF.
A amostra apresentou
valores iniciais de %GC mais baixo que o padrão convencionalmente observado em
sua categoria. Nesse sentido, Chamari et al.
[8] observaram %GC para atletas sub 20 na ordem de 12,6% ± 2,3%, enquanto nossa
amostra iniciou com %GC de 9,7% ± 2,7%. Isso representa diferença importante na
característica da nossa amostra em relação ao padrão de referência da
categoria. Isso indica uma baixa possibilidade de adaptação da composição
corporal em direção à diminuição tanto relativa como absoluta dessas variáveis.
O que vai ao encontro do princípio da treinabilidade,
pois as alterações fisiológicas não se comportam de maneira progressiva
ilimitada, de forma que quanto mais próximo do limite fisiológico menor será a
magnitude de resposta dessa variável [20].
Após o período de
intervenção de quatro semanas não foi observada mudança na composição corporal
dos atletas, independentemente da metodologia de treino. Nessa perspectiva,
nossos resultados se assemelham aos de Barjaste e Mirzaei [13], os quais não encontraram mudanças
significativas para %GC e massa corporal de jogadores de futebol mesmo após
seis e doze semanas de intervenção. Os autores reportam que o pouco tempo de
intervenção é capaz de gerar apenas adaptações neurais, implicando assim em
melhoras não expressivas da composição corporal. Ao nosso conhecimento, a
hipótese de adaptações neurais iniciais se adequa ao grupo GTT, contudo, essa
expectativa não representa ao GRF uma justificativa para resultados limitados
na composição corporal.
Mesmo entre os atletas
do GRF, não houve mudanças na composição corporal, a despeito do que é sugerido
por Loenneke et al. [26], que apontam que
programas de TFRFS geram adaptações iniciais em direção dos ganhos em
hipertrofia e só posteriormente em adaptações neurais. Contudo, apesar de não
haver diferença estatística pós-intervenção em nosso estudo, o GRF
apresentou-se como uma possibilidade possivelmente favorável à redução de %GC e
de massa adiposa por análise de inferência de magnitude e D%.
Essa diferenciação de resultados em tendência ao GRF, no tocante à melhora do
perfil de composição dos atletas, não é observada nas variáveis de massa
muscular e massa livre de gordura, as quais apontariam uma melhoria na
hipertrofia desses atletas.
Uma possível explicação
para o fato de não encontrar mudanças na massa muscular dos atletas é que o
método de avaliação adotado em nosso estudo pode ter sido menos sensível para
este fim. A utilização da BIA para análise de mudanças de hipertrofia não é a
mais aconselhada, haja vista que exames de imagem são os mais indicados para
tal (ultrassom, DEXA ou ressonância magnética).
Consoante a isso,
estudos que reportaram ganhos hipertróficos em curto período de intervenção
(até quatro semanas) em programas de TF, com ou sem restrição de fluxo
sanguíneo, tiveram suas medidas realizadas a partir de exames de imagem
[14,17-19]. É possível que os atletas avaliados em nosso estudo não tenham
obtido, de fato, ganho de massa muscular (hipertrofia) em magnitude suficiente
para ser detectado tanto clínica como estatisticamente.
Outro ponto a ser
destacado é que em todos os estudos citados, as populações investigadas foram
de não atletas. Desta forma, a maioria dos grupos apresentava níveis de
treinamento muito baixos, ao menos comparados com um típico perfil de atletas.
Esses indivíduos seriam, assim, mais suscetíveis a adaptações musculares de
curto prazo, ao passo que jovens atletas de futebol, em função das rotinas e
demandas de treinamento ao longo da semana, podem necessitar de estímulos
maiores ou de duração mais prolongada para que esses efeitos sejam observados.
Em adendo, não foram identificados na literatura, estudos que pudessem
esclarecer essa questão, tomando por base protocolos de treinamento de curto
prazo (≤4 semanas).
Por fim, apesar das
limitações para a detecção de hipertofia muscular, em
que pese a medida da composição corporal para massa livre de gordura, é
importante ressaltar que o uso da BIA em futebolistas pode ser considerado
válido e apresenta um alto valor de correlação com DEXA [27].
Conclui-se que o
período de quatro semanas de treinamento de força com ou sem RFS não gera
melhora na composição corporal de atletas de futebol da categoria sub 20. O
TFRFS ou TF se mostram uma alternativa limitada para melhoria da composição
corporal de atletas em um período curto de intervenção. Contudo, TFRFS
apresenta uma tendência à melhora quanto ao %GC e à massa adiposa de jovens
atletas de futebol.