Rev Bras
Fisiol Exerc 2019;18(3):153-61
ARTIGO ORIGINAL
Aptidão física
relacionada à saúde em adolescentes de Itabaiana/SE
Physical fitness related to health
in scholars of Itabaina/SE
Rafael
Luiz Mesquita Souza*, Silvia Schütz**, Felipe José
Aidar Martins, D.Sc.***, Anderson Carlos Marçal, D.Sc.****, Nara Michelle Moura Soares, D.Sc.*
*Programa
de
Pós-Graduação em Educação
Física, Universidade Federal de Sergipe, Universidade
Tiradentes, Aracaju/SE, **Programa de
Pós-Graduação em Educação
Física,
Universidade Federal de Sergipe, Secretaria de Estado da
Educação do Amazonas,
Humaitá/AM, ***Programa de Pós-Graduação em
Educação Física, Universidade
Federal de Sergipe, Departamento de Educação
física, Universidade Federal de
Sergipe, São Cristóvão/SE, ****Programa de
Pós-Graduação em Educação
Física,
Departamento de Morfologia, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão/SE
Recebido
em 24 de setembro de 2019; aceito em 30 de setembro de 2019.
Correspondência: Rafael Luiz Mesquita
Souza, Universidade Tiradentes, Rua Quintino de Lacerda, 648, 49500-004
Itabaiana SE
Rafael
Luiz Mesquita Souza: rlms2010@hotmail.com
Silvia
Schutz: silvia_schutz@hotmail.com
Felipe
José Aidar Martins: fjaidar@gmail.com
Anderson
Carlos Marçal: acmarcal@yahoo.com.br
Nara
Michelle Moura Soares: narasoares863@hotmail.com
Resumo
Introdução: É amplamente
conhecido os efeitos da prática do exercício físico sobre o organismo. De uma
forma geral promove melhora do bem-estar físico,
mental e social e atenua a incidência de doenças ou enfermidades não
transmissíveis como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso,
a aptidão física é reconhecida como importante preditor de doenças
hipocinéticas. Todavia, há necessidade de estudos envolvendo adolescentes. Objetivo: Analisar os indicadores de
aptidão física em 77 escolares do ensino médio nas idades de 15-17 anos na
cidade de Itabaiana/SE. Métodos: Foi
avaliada a força, flexibilidade e resistência cardiovascular correlacionando as
variáveis obtidas entre idades e o sexo. Resultados:
Na avaliação do Percentual de Gordura e de Flexibilidade (com exceção das
meninas com 16 anos) os escolares se mantiveram dentro de uma classificação
aceitável, com maioria razoável e muito bom. Já para os testes de Capacidade
Cardiorrespiratória e Força/Resistência abdominal, apresentaram resultados
insatisfatórios variando entre os indicadores fraco e muito fraco. Conclusão: Os escolares não se encontram
dentro de uma Aptidão Física Relacionada à Saúde aceitável, sendo necessária
uma intervenção juntamente com os pais e a escola, para conscientizar e
incentivar a prática de atividade física por parte desses adolescentes e dos
demais escolares.
Palavras-chave: aptidão física,
escolares, saúde.
Abstract
Introduction: The effects of practicing
physical exercises are widely known. In a general way it improves physical, mental and social well-being, and it also mitigates
the incidence of non-communicable diseases or infirmities,
such as obesity, diabetes and cardiovascular diseases. Furthermore, physical fitness is recognized as an important predictor
of hypokinetic diseases. Nevertheless, there is a need
for studies on that field concerning
teenagers. Objective:
To analyze the indicators of physical fitness of 77 secondary scholars aged between 15 and 17 years old,
in the city of Itabaiana (Sergipe). Methods: After
evaluating their physical strength, body flexibility and cardiovascular endurance, the variables were
correlated with both age and gender.
Results: In
the evaluation of Body Fat and
Flexibility Percentage, the pupils (except
for 16 year-old girls) presented
an acceptable outcome, with the
most part of them receiving
"average" or
"very good"
ratings. As for the tests of Cardiorespiratory Capacity and Physical
Strength/Abdominal Endurance,
they showed unsatisfactory results, varying from "weak" to "very weak". Conclusion: The pupils cannot be
considered to present an acceptable
health-related physical
fitness, and it is thus necessary that parents and
school staff intervene in order to raise
awareness and encourage these teenagers and other pupils
to engage in physical activities.
Keywords: physical
fitness, school, health.
A aptidão física relacionada a saúde (AFRS) é
uma diretriz que tem se mostrado imprescindível para o controle e manutenção da
saúde, assim como diminuição dos riscos de se desenvolver doenças crônico
degenerativas, principalmente as de origem hipocinética, como, por exemplo,
diabetes, a hipertensão arterial e a obesidade [1]. Diversos estudos envolvendo
crianças, adolescentes e adultos sugerem que programas específicos de
exercícios físicos induzem importantes ajustes em componentes da (AFRS),
principalmente para aptidão física aeróbica, a qual associa-se inversamente aos
fatores de risco de doenças cardiovasculares (DCV) [2].
O conceito de aptidão física relacionada à
saúde (AFRS) é definido como a capacidade de executar atividades físicas com
energia e vigor sem excesso de fadiga, e também com demonstração de qualidades
e capacidades físicas que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenças
hipocinéticas [3,4]. Operacionalmente, os componentes da AFRS contemplam
indicadores quanto à capacidade cardiorrespiratória, força/resistência
muscular, flexibilidade e composição corporal, e avaliação destes indicadores
proporciona informações relevantes volvidas tanto aos programas de Educação
Física pautados na saúde como em relação ao treinamento esportivo [5]. Nesse
sentido, percebe-se que a avaliação da AFRS torna-se
fundamental no contexto escolar.
O ambiente escolar, conjuntamente com a fase
infanto juvenil, torna-se apropriado para o desenvolvimento da AFRS, já que uma
criança fisicamente ativa provavelmente será um adulto fisicamente ativo e com
isso diminuirá bastante a chances de ser acometido por doenças hipocinéticas
[6]. Conforme Bergman [7], os índices de crescimento, aptidão física e de
estilo de vida têm sido relacionados com os níveis de saúde da população,
assim, pessoas com estilo de vida mais ativo tendem a ter uma melhor ARFS,
sendo o baixo nível de aptidão física também relacionada com a mudança no
estilo de vida dos mesmos.
Frente ao exposto, no que tange saúde, educação
física e juventude, torna-se relevante saber como se configura a AFRS dos
escolares de maneira geral. A Educação física dispõe de ferramentas
imprescindíveis para a manutenção e melhora da saúde geral dos indivíduos,
sendo considerada como ferramenta essencial utilizada para avaliar o estado
físico tanto de adultos, como de crianças e adolescentes.
Neste sentido, o objetivo do presente estudo
foi avaliar a condição de saúde dos adolescentes a partir dos testes
preconizados pela AFRS (composição corporal, capacidade cardiorrespiratória,
flexibilidade e força/resistência abdominal) como forma de intervenção, com o
intuito de contribuir para a prevenção de doenças e avaliar o perfil físico dos
jovens do colégio estadual César Leite, na cidade de Itabaiana/SE.
Tipo de estudo
O presente estudo teve delineamento transversal.
Conforme Gordis [8], foram abordados três aspectos:
definição de uma população de interesse; estudo por meio da realização de censo
ou amostragem; e determinação da presença ou ausência do desfecho e da
exposição para cada um dos indivíduos. A coleta de dados foi realizada por dois
avaliadores previamente treinados e familiarizados com a rotina do estudo, em
que foram avaliadas as variáveis antropométricas e motoras.
Amostra
A amostra foi constituída por escolares do
ensino médio da escola Estadual Professor César Leite centro da cidade de
Itabaiana/SE, com as idades de 15, 16 e 17 anos, contendo um total de 77
escolares. Todos os escolares matriculados na referida escola, com idade entre
13 e 14 anos, foram convidados a participar do estudo. A idade decimal das
crianças foi empregada para que haja maior precisão quanto ao intervalo entre a
data de nascimento e a data do teste [9].
Critérios de inclusão
Foram incluídos alunos com idade entre 15 e 17
anos. Sendo considerados com 15 anos de idade os alunos que, de acordo com a
idade decimal, estiverem entre 14,50 e 15,49 anos (20 alunos); com 16 anos (30
alunos), entre 15,50 e 16,49 anos; com 17 anos (27 alunos), entre 16,50 e
17,49. Participaram dos testes todos os alunos, de ambos os sexos, devidamente
matriculados e que participavam das aulas de Educação Física.
Foram excluídos do estudo os alunos que
apresentavam doenças: 1) relacionadas ao sistema cardiorrespiratório; 2) à
coluna vertebral; 3) ou alguma patologia; 4) que estavam fora da faixa etária
adotada; 5) que optaram por não participar do estudo; 6) ou que não
compareceram a algum dia dos testes.
Antropometria
A composição corporal foi obtida a partir da
análise das espessuras das dobras cutâneas tricipital e subescapular utilizando
um compasso (marca SANNY®, Brasil), os resultados foram analisados pela equação
por Lohman [10] (%G = 1,35 (TR + SE) - 0,012 (TR + SE)2
- C*), cujas variáveis representadas são: %G = Percentual de gordura; TR =
Dobra tricipital; SE = Dobra subescapular; C* = constantes por sexo, raça e
idade), adaptada por Orsano [11]. Logo abaixo
demonstrada para estimar a gordura corporal em crianças e jovens conforme
proposto por FITNESSGRAM [12]. Além disso, para a constante C* recomenda-se a
utilização dos valores contidos na tabela I.
Tabela I - Constantes com as idades para o cálculo do percentual de gordura
Testes motores
Os adolescentes realizaram três tipos de testes
motores em um único dia a partir da seguinte ordem: Teste de flexibilidade
(sentar e alcançar), Teste de força/resistência abdominal (realizar abdominais
durante um minuto) e Teste cardiorrespiratório (andar ou correr durante 9
minutos)
O Teste de flexibilidade foi realizado pelo
teste de sentar e alcançar, a partir do Banco de Wells, que integra a bateria
de testes de AFRS. Este teste foi utilizado para identificar o nível de
flexibilidade da região lombar e a extensibilidade da musculatura posterior das
coxas. Foram realizadas quatro tentativas, sendo desprezada a primeira que visa
o reconhecimento do teste pelo avaliado e considerada a maior das três
tentativas como resultado do teste.
O Teste de flexibilidade é utilizado para
identificar o nível de flexibilidade da região lombar e a extensibilidade da
musculatura posterior das coxas. Para testar a flexibilidade foi realizado pelo
teste de sentar e alcançar, a partir do Banco de Wells, que integra a bateria
de testes de AFRS. Foram realizadas quatro tentativas, sendo desprezada a
primeira que visa o reconhecimento do teste pelo avaliado e considerada a maior
das três tentativas como resultado do teste [13].
O teste abdominal foi adotado para avaliar a força/resistência
muscular localizada. Foi registrado o número máximo de execuções completas em
60 segundos (tocar o solo com as costas e tocar os joelhos com os cotovelos
[13]. O avaliado, inicialmente, realizou o teste deitado em colchonete com os
joelhos fletidos, pés seguros por outro aluno e com as mãos cruzadas sobre o
peito, sendo cronometrado durante a execução de abdominais.
Para a resistência cardiorrespiratória
utilizou-se o teste de correr/andar durante 9 minutos, computando-se a máxima distância
percorrida em metros conforme o PROESP-BR07) [13]. Havia uma linha no solo
demarcando a distância que indicava o número de voltas e os metros percorridos
de cada sujeito.
Análise de dados
Foram utilizadas as medidas de tendência
central, média ± Desvio Padrão (X±DP), além do IC 95%. Foi feito o teste de
normalidade Shapiro-Wilk tendo em vista o tamanho da
amostra. Para análise das possíveis diferenças entre os grupos, foi feita a
análise de variância One Way Anova Post Hoc de Bonferroni, nos resultados dos três grupos etários, uma vez
que as classificações mudam conforme a idade. Para avaliar os indicadores de
AFRS do estudo, foram utilizados os critérios de referência da PROESP-BR (2007)
[13]. O nível de significância adotado foi de P<0,05. Foi utilizado o pacote
estatístico SPSS (20). Foi verificado o tamanho do efeito através do teste Eta2
Parcial.
A avaliação da AFRS foi realizada com base nos
resultados da composição corporal, testes de flexibilidade, de
força/resistência muscular localizada, e de resistência cardiorrespiratória,
proposto pelo PROESP [13] sendo a composição corporal avaliada a partir dos
critérios da FITNESGRAM [12].
Verificou-se que a composição corporal de todos
os jovens se encontra dentro dos padrões ideais classificados pelos valores
referenciados pela FITNESSGRAM.
Para os indivíduos do sexo masculino houve uma
variação significativa entre a idade de 15 anos com relação às demais, variando
68,35% e 36,55% para as idades de 16 e 17 anos, respectivamente, p < 0,05,
conforme a tabela I. Com relação ao sexo feminino, as médias entre as idades se
mantiveram com menor variação, não sendo significativa, variando principalmente
nas idades entre 16 e 17 anos 13,48% para mais (Tabela II).
Tabela II - Média e desvio padrão do percentual de gordura de acordo com a idade e
sexo dos adolescentes do Colégio Estadual César Leite, Itabaiana/SE
M
= masculino; F= feminino; Média ± desvio padrão p < 0,05; *Classificação do
percentual de gordura de acordo com os valores obtidos pelo FITNESSGRAM (Plowman; Mahar, 2013)
O teste de flexibilidade apresentou os
indicadores que mais variaram, sendo observadas variações de fraco a muito bom.
Os escolares do sexo masculino, com idade de 15 anos, foram os que apresentaram
melhor escore de flexibilidade, havendo variação de 25,03%, em comparação com a
idade de 17 anos, a qual ficou com menor escore entre as idades, e 12,62 % quando
comparado com a idade de 16 anos, ocorrendo uma diminuição gradativa da
flexibilidade com o passar da idade.
Os escolares do sexo feminino com idade de 15
anos apresentaram melhor escore de flexibilidade, variando 23% em relação à
idade de 16 anos, que obteve o pior indicador de flexibilidade entre as idades,
uma pequena variação foi observada nos jovens com idade de 17 anos (Tabela II).
Analisando os dados encontrados, e comparando-os com os que Burgos et al. [14], notou-se uma grande
variação para menos, em relação aos nossos achados (Tabela III). Os valores
encontrados para as idades de 15, 16 e 17 anos, do sexo masculino, variaram
respectivamente 66,88%, 26,52 % e 54%, já para o sexo feminino, a variação
também se manteve muito alta 29,59%, 55,87 % e 69,29%, simultaneamente para as
idades de 15, 16 e17 anos.
Tabela III - Média e desvio padrão de Flexibilidade (Teste de sentar e alcançar no
banco de Wells) de acordo com a idade e sexo dos adolescentes do colégio
estadual César Leite, Itabaiana/SE
M
= masculino; F = feminino; Média ± desvio padrão p<0,05; *Classificação da
flexibilidade de acordo com a PROESP-BR (2007)
A variável de força e resistência abdominal
está diretamente relacionada com a flexibilidade, a fraqueza de regiões, como a
coluna e o abdome, implicando diretamente em problemas posturais, desvios e
dores, principalmente na parte lombar da coluna. A manutenção de boa força e
resistência do músculo abdominal e boa flexibilidade dorsal reduz o risco de se
desenvolver lombalgias entre outros problemas relacionados a essa região [15].
Tabela IV - Média e desvio padrão da Força/Resistência abdominal (Realizar o maior
número de abdominais em 1 minuto) de acordo com a idade e sexo dos adolescentes
do colégio e estadual César Leite, Itabaiana/SE
M
= masculino; F = feminino; Média ± desvio padrão p < 0,05; *Classificação da
força pela resistência abdominal de acordo com os critérios propostos pela
PROESP-BR (2007)
Nos escolares do sexo masculino a idade de 15
anos se manteve com o menor número médio de repetições, variando 67,47% em
relação a idade de 16 anos que obteve o maior indicador entre as idades e
37,51% em comparação com a idade de 17 anos. Para o sexo feminino a idade de 15
anos, conseguiu maior número de abdominais ocorrendo variação de praticamente
15,47% em comparação com as demais idades (tabela IV).
Tabela V - Média e desvio padrão da capacidade cardiorrespiratória (andar ou
correr por 9 minutos) de acordo com a idade e sexo dos adolescentes do Colégio
estadual Professor Artur Fortes – Itabaiana/SE
M
= masculino; F = feminino; Média ± desvio padrão p<0,05; *Classificação da
capacidade respiratória de acordo com os critérios propostos pela PROESP-BR
(2007)
Na tabela V, para o sexo masculino, apesar da
pouca diferença, a idade que apresentou menor indicador foram os jovens de 16
anos, variando 10,15% em relação à idade de 17 anos, que obteve melhor idade de
17 anos, ocorrendo variação 17,12% em comparação com idade de 15 anos que
obteve melhor resultado entre as idades e variando muito pouco em relação à
idade de 16 anos.
O objetivo do estudo foi analisar os
indicadores de aptidão física em 77 escolares do ensino médio nas idades de 15
a 17 anos na cidade de Itabaiana/SE .Verificamos que a variação do percentual
de gordura no sexo masculino, com o avançar da idade, aumentou expressivamente,
principalmente na idade entre 15 e 16 anos, sugerindo que os adolescentes
tornaram-se fisicamente menos ativos e, embora não investigado no presente
estudo, possivelmente adotem padrões alimentares inadequados, evidenciando um
aumento do número de pessoas com sobrepeso ou obesas. Uma criança fisicamente
ativa poderá ser um adulto saudável, desde que mantenha regularmente estes
hábitos de prática de exercícios físicos e de alimentação saudável [16]. Vale
ressaltar a importância de se manter a gordura corporal dentro dos padrões
ideais, principalmente na fase infanto-juvenil, já que a obesidade é um dos
principais problemas nessa faixa etária. Segundo Bar-Or
[17], a obesidade na infância e adolescência é o principal causador da baixa aptidão
física, sendo um problema primário de saúde pública na população jovem.
Ao analisarmos e compararmos os resultados de
percentual de gordura obtidos por Silva et
al. [18] com os dados do presente estudo, observou-se que, embora dentro da
normalidade, os adolescentes investigados por estes autores apresentaram
valores de 64,93%, acima para a faixa etária de 15 anos e 37,50%, acima para as
faixas etárias de 16 e 17 anos. Quanto ao sexo feminino, sensíveis variações
foram observadas para a idade de 15 anos, contudo, nas idades de 16 e 17 anos
verificou-se um aumento de 13,48% em comparação com o estudo citado. Embora
ambos os estudos tenham sido realizados com adolescentes que moram em cidades
do interior, essas variações podem ter relação com as características
socioculturais de cada região, uma vez que os jovens avaliados por Silva et al.
[18] são naturais da região sudeste.
Informações epidemiológicas, relacionadas ao
sedentarismo e à obesidade de populações jovens, revelam que ao se perpetuarem
estas tendências comportamentais atualmente observadas, estima-se que em 2020,
73% dos adultos poderão apresentar disfunções orgânicas decorrentes da
aquisição de hábitos alimentares e de prática de atividade física inadequados
[19].
Informações epidemiológicas, relacionadas ao
sedentarismo e à obesidade de populações jovens, revelam que ao se perpetuarem
estas tendências comportamentais atualmente observadas, estima-se que em 2020,
73% dos adultos poderão apresentar disfunções orgânicas decorrentes da
aquisição de hábitos alimentares e de prática de atividade física inadequados
[19].
Os valores encontrados por Burgos et al. [20] apresentaram indicador
razoável para todas as idades e sexo, sendo melhores indicadores que o presente
estudo constatou. O pico de flexibilidade encontrado, demonstra que para o sexo
masculino se deu aos 16 anos, assim como no estudo de Burgos et al. [20], com
uma diferença de 26,52% para menos em relação aos achados neste trabalho. Para
o sexo feminino [20], o pico de flexibilidade se deu aos 17 anos que em
comparação aos dados no presente estudo para mesma idade, está 69,29% acima.
A variação da flexibilidade entre as idades de
ambos os sexos, havendo seu pico aos 16 anos no sexo masculino, aos 15 anos no
sexo feminino, pode ser explicada a partir dos conceitos de idade cronológica e
biológica. A idade cronológica é a idade determinada pela diferença entre um
dado dia e o dia do nascimento do indivíduo [21]. Já a idade biológica é
definida por Tourinho et al. [21]
como a idade correspondente e determinada pelo nível de maturação dos diversos
órgãos que compõem o homem. Sendo a idade biológica mais importante nesse
contexto, pois a partir dela podemos supor que o pico de desenvolvimento pode
não acontecer necessariamente com a idade mais avançada, sendo afetada
diretamente pela prática ou inatividade física.
Provavelmente as dúvidas existentes nesse
processo ocorram devido a alguns programas de atividade física levarem às
modificações morfofuncionais na mesma proporção que é esperado para o próprio
processo de maturação biológica [9]. Bergman [7] aponta, em seu estudo, um
padrão ondulatório para a flexibilidade e não um padrão crescente, com
comportamentos de variação em ambos os sexos. Assim pode ser explicado o que
ocorreu nesse teste, no qual os meninos de 16 anos e as meninas de 15 tiveram
melhores resultados que as idades mais avançadas.
A baixa flexibilidade envolve a pouca
mobilidade de articulações principalmente, como consequência, resultará em
maior esforço e risco de lesões. Movimentos envolvendo articulações com
flexibilidade limitada são executados com menor eficiência mecânica e,
portanto, maior gasto energético [22]. Pode acarretar ainda doenças,
principalmente na região lombar da coluna. A menor flexibilidade das regiões
lombar e posterior da coxa parece predispor ao desenvolvimento de lombalgia
crônica [23].
Em outro estudo [14] que envolvia análise da
força e resistência, detectou resultados superiores em escolares, ainda que na
maioria estivessem dentro do indicador “Razoável”. Nas idades de 15,16 e 17
anos dos rapazes houve variação para mais em comparação com o estudo citado.
Assim como as moças tiveram variação de escore nas idades de 15,16 e 17 foi de
29,59%, 55,87 % e 54,05%.
Tendo em vista que no sexo masculino o melhor
indicador se encontra na idade de 16 anos, evidencia que a evolução
maturacional pode acontecer antes ou depois das idades já estabelecidas. A
força/resistência abdominal apresenta um padrão de desenvolvimento crescente para
o sexo masculino, com diminuição e estagnação por volta dos 14-15 anos, assim
como para as meninas se dá de maneira parecida ocorrendo por volta dos 15-16
anos [24]. A variável força/resistência muscular localizada na região
abdominal, também foi adotada na bateria de testes da AFRS, por considerar-se
que o desenvolvimento adequado da força da musculatura abdominal é importante
na prevenção e reabilitação de problemas da coluna lombar [25].
Com relação à capacidade cardiorrespiratória,
todos os escolares apresentaram valores muito abaixo do proposto pela
classificação da PROESP-BR [13], sendo todos classificados no indicador de
muito fraco, fato além de insatisfatório, muito preocupante. Relacionando os
dados e resultados obtidos com o estudo de Burgos et al. [20], no qual o sexo masculino está na classificação
razoável e apenas a idade de 15 anos está no indicador fraco, a variação entre
as idades nos estudos foi de 36,66% para menos entre as idades de 15 anos, de
16 anos 66,66%, de 17 anos 51,32%. Nas idades do sexo feminino o estudo citado
mostrou que as idades de 15 e 16 anos estavam classificadas como razoável,
contudo a idade de 17 anos estava no indicador fraco. A variação de resultados
entre estudos foi de 32,82% entre as idades de 15 anos, de 45,73% nas idades de
16 anos e de 54,76% para as idades de 17 anos para menos. Esse estudo [20],
realizado no Sul do país, demonstrou, em comparação aos achados neste estudo,
que os jovens dessa região se encontram com a capacidade cardiorrespiratória muito
abaixo do desejado e com grande diferença em relação aos jovens da região Sul
do país. Esse baixo nível da capacidade cardiorrespiratória implica em uma
série de fatores negativos à saúde desses jovens, principalmente em relação a
cardiopatias.
Níveis adequados de aptidão cardiorrespiratória
reduzem a mortalidade por todas as causas e por doenças cardíacas [26]. Além
das doenças cardíacas, a baixa aptidão cardiorrespiratória está ligada ao
excesso de gordura corporal, quantidade de massa magra, entre outros.
Diferenças no VO2máx resultam na diminuição ou aumento do
condicionamento cardiorrespiratório, e essas diferenças podem estar
relacionadas com quantidade de gordura corporal, de hemoglobina e massa
muscular [27]. Ainda, ao relacionar o VO2máx com a densidade mineral
óssea, constatou-se que quanto melhor a capacidade aeróbica (maior VO2máx),
maior e é a densidade óssea na região envolvida com a atividade física [28].
Devido à homogeneidade entre as idades
estudadas, não houve diferença significativa entre as faixas etárias estudadas.
A análise estatística foi feita unindo os dois sexos, ou seja, se fossem feitas
separadamente talvez houvesse uma significância P < 0,05, assim constituindo
uma limitação do presente estudo.
O presente estudo avaliou os indicadores da
aptidão física relacionada à saúde de jovens escolares entre 15 e 17 anos de
Itabaiana/SE. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que na maioria dos
testes os adolescentes apresentaram resultados bastante insatisfatórios, com
exceção do percentual de gordura e da flexibilidade, exceto para o grupo de
adolescentes com idade de 16 anos foi encontrado o indicador fraco.
Na avaliação do teste cardiorrespiratório os
resultados foram muito preocupantes, uma vez que tal teste é apontado como o
principal indicador da Aptidão Física Relacionada à Saúde, podendo sugerir que
os adolescentes avaliados poderão apresentar uma série de problemas cardíacos e
de saúde em geral, sendo agravado conjuntamente pela baixa aptidão que a
maioria dos escolares demonstraram durante o teste de resistência/força
abdominal.
Conforme todos os resultados apresentados e
devidamente discutidos, verificou-se que é importante desenvolver medidas de
intervenção, juntamente com o apoio da escola, dos pais, professores e poder
público para conscientizar esses jovens quanto a necessidade de se manterem
fisicamente ativos, alcançando assim uma melhora não somente na performance,
mas prioritariamente na saúde para atenuar ou reduzir o surgimento de doenças
hipocinéticas tanto dentre estes adolescentes, bem como também na vida adulta,
sendo estas enfermidades derivadas do sedentarismo, como a obesidade,
hipertensão e o diabetes.