3º Congresso Baiano de Cardiologia do Exercício
3 de novembro de
2022
Salvador, Bahia
Comitê
científico
Jefferson
Petto
petto@cardiol.br
Actuscordios Reabilitação Cardiovascular, Salvador,
BA
Centro
Universitário UniFTC, Salvador, BA
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
Alice Miranda
de Oliveira
licemoliveira@hotmail.com
Actuscordios Reabilitação Cardiovascular, Salvador,
BA
Universidade
Católica do Salvador, Salvador, BA, Brasil
Pedro Elias
Santos Souza
peedroefisio@gmail.com
Actuscordios Reabilitação Cardiovascular, Salvador,
BA,
Universidade
Católica do Salvador, Salvador, BA, Brasil
Marvyn de Santana do Sacramento
marvynsantana@gmail.com
Actuscordios Reabilitação Cardiovascular, Salvador,
BA
Centro
Universitário UniFTC, Salvador, BA
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
Resumos
Treinamento muscular de
baixa intensidade associado ao uso da oclusão vascular em pacientes submetidos
a internamento prolongado
Dayana Pimentel de Souza,
José da Natividade Menezes Júnior, Laís França Rios
Universidade do Estado da
Bahia, Salvador, BA, Brasil
Correspondência:
ayfisio386@gmail.com
Introdução
O
treinamento muscular de baixa intensidade associado ao uso da oclusão vascular
parcial é o método chamado Kaatsu Training [1]. É
conhecido por beneficiar indivíduos debilitados com limitações funcionais que
estejam sob internamento prolongado ou necessitando incrementar força muscular
e não podem submeter-se a exercícios de alta intensidades, condição favorável
para ocorrer o estresse mecânico adequado para estimular o recrutamento
muscular e consequentemente o ganho de força [2,3]. É evidente que a imobilização
no leito promove piores desfechos clínicos e funcionais que estão relacionados
com aumento do internamento hospitalar e morbimortalidade.
Objetivo
Este
estudo objetiva avaliar os efeitos agudos do treinamento muscular de baixa
intensidade associado ao uso da oclusão vascular parcial em pacientes
submetidos a internamento hospitalar prolongado.
Métodos
Trata-se
de um protocolo para ensaio clínico randomizado envolvendo indivíduos em
internamento prolongado no Hospital Geral Roberto Santos, Salvador/BA. Serão
recrutados indivíduos do sexo feminino e masculino com enfermidades variadas,
que estão em internamento igual ou superior a 7 dias em unidades de
enfermarias, com idade entre 18-59 anos, com nível de consciência capaz de
compreender e executar um comando verbal (Escore de Glasgow ≥ 10) e força
muscular mínima grau III.
Serão
critérios para exclusão, indivíduos com idade superior a 59 anos e inferior a
18 anos, polineuropatias prévias não secundárias ao internamento prolongado,
doenças vasculares periféricas, alterações de coagulação ou plaquetopênicos,
bem como, pacientes com instabilidade hemodinâmica persistente por 12 horas, ou
em uso de drogas vasoativas com alta vazão (sem previsão de desmame) que não
atendam aos critérios para mobilização segura, que envolvem: frequência
cardíaca (FC) entre 40-120 bpm; pressão arterial sistólica (PAS) de 100 a 180
mmHg; pressão arterial média (PAM) entre 65-110 mmHg; frequência respiratória
(FR) menor que 25 ipm, e saturação de oxigênio (SpO2)
maior que 90% com fração inspirada de oxigênio (FiO2) menor que 31%,
com Escore de Glasgow ≥ 10. O protocolo consiste em dois grupos, o grupo
A receberá treinamento resistido com oclusão vascular, e o grupo B receberá
treinamento resistido sem oclusão. A randomização será feita através de sorteio
para determinar o grupo que cada indivíduo será inserido. Dentro de um envelope
haverá duas letras, A e B, cada letra será determinante para uma intervenção,
como já descrita acima. O participante do sorteio será o fisioterapeuta
plantonista do dia, o qual definirá a randomização.
O músculo
escolhido a ser estudado é o quadríceps femoral. Inicialmente os pacientes
selecionados passarão por avaliação da força muscular do quadríceps femoral
através do teste muscular manual do Medical Research
Council (MRC), método descritivo e subjetivo de
baixo custo, no qual o indivíduo exerce uma força contra a resistência imposta
pelo fisioterapeuta [4,5]. Em seguida, passarão por avaliação da força muscular
do quadríceps femoral a partir da contração voluntária máxima (CVM) mensurada
através do dinamômetro digital 50kg®. Será utilizada 40% da carga máxima para o
treinamento dos dois grupos. Os participantes devem estar sentados à beira do
leito com membros inferiores pendentes e realizar extensão do joelho para
avaliação de força do quadríceps femoral. Em seguida será avaliado o teste de
funcionalidade de sentar e levantar (TSL) de 30 segundos.
O TSL é
um teste bastante simples, extremamente fidedigno e sensível que permite
avaliar, através do ato de sentar e levantar, a força e resistência muscular
dos membros inferiores por meio do quantitativo de repetições. Durante o teste,
o indivíduo senta e levanta várias vezes até completar 30 segundos [6]. Ao
finalizar o treinamento proposto pelo quantitativo de 12 sessões, os
participantes passarão pelas mesmas avaliações iniciais no dia subsequente, a
fim de quantificar e obter resultados comparativos de eficácia da técnica
associado aos desfechos funcionais. Após avaliação inicial que deverá ocorrer no
dia anterior ao início do treinamento, participarão de 12 sessões de
fisioterapia hospitalar supervisionada de acordo com seu respectivo protocolo,
sendo realizadas uma vez por dia, de segunda a sábado, totalizando duas semanas
de treinamento, sendo o dia de domingo livre para descanso. Caso o indivíduo
tenha óbito ou alta hospitalar será excluído do estudo. Se houver transferência
para outra unidade e permanecer com estabilidade clínica, o treinamento deverá
continuar até completar as 12 sessões.
A oclusão
vascular será realizada através do esfigmomanômetro com pressões
individualizadas de modo que todos os indivíduos recebam estímulos semelhantes.
O tamanho do membro influencia na quantidade de pressões para ocluir o fluxo
sanguíneo, bem como membro menor necessita de menos pressão para a oclusão
vascular. Desta forma, seguindo a proposta de segurança de Jessee
et al. [7], a oclusão vascular dos pacientes será guiada pela pressão de
oclusão arterial (AOP), que é a pressão mínima necessária para ocluir completamente
o fluxo sanguíneo. Para atingir essa determinada pressão, o pulso local será
checado a cada acréscimo de 20 mmHg. Uma vez que esta oclusão seja completa,
deverá utilizar uma oclusão de 20 mmHg abaixo da pressão sistólica
femoral, o que resulta numa oclusão de 51 a 88%, alvo seguro para qualquer
indivíduo, além de promover resultados benéficos para ganho de força e
hipertrofia [7,8].
Durante as sessões de
fisioterapia, todos os pacientes iniciarão realizando alongamentos de membros
inferiores. O grupo A realizará o treinamento resistido com carga de 40% de 1RM
associado a oclusão vascular parcial, enquanto que o grupo B realizará apenas o
treinamento muscular resistido sem oclusão com a mesma carga do grupo A, porém
sem oclusão. O treinamento contará com série de 3 x 10 repetições e descanso de
um minuto a cada série. Durante o período de repouso a cada série, o
esfigmomanômetro deverá ser esvaziado e insuflado no início das séries. Após o
termino da sessão, iniciar-se-á uma série de alongamentos, para relaxar a
musculatura. Na fase de descanso entre a séries, será avaliado a pressão
arterial, frequência cardíaca e respiratória, saturação periférica de oxigênio,
bem como escala Borg CR-10 para quantificar o esforço
físico. Caso apresentem instabilidade hemodinâmica, percepção de esforço acima
de 7 na escala de Borg e sinais de descompensação
respiratória, a sessão de fisioterapia será interrompida e iniciada no dia
seguinte. Variáveis a serem estudadas no trabalho: sexo feminino/masculino,
idade, doenças prévias, motivo do internamento, quantitativo de dias
internados, intercorrências durante as sessões, óbito, alta hospitalar, teste
de sentar/levantar e força muscular. Os pacientes recrutados que estiverem de
acordo com sua participação no presente estudo, serão submetidos ao termo de
consentimento livre e esclarecido, e assinarão dando total ciência dos seus
atos. Este trabalho foi submetido ao comitê de ética do Hospital Geral Roberto
Santos, aprovado sob o número do CAAE: 61028322.0.0000.5028/ número do parecer:
5.681.084.
Resultados
O
recrutamento iniciará a partir de dezembro de 2022 até fevereiro de 2023.
Conclusão
Espera-se
como resultado da técnica de oclusão vascular parcial, um ganho de força
muscular e funcionalidade a curto prazo nesses pacientes que estão em
internamento prolongado.
Referências
Risco cardiovascular em
atletas usuários de esteroides anabolizantes: uma revisão sistemática
Felipe de Araújo Lucena,
Frederico Cardoso Barbosa Guimarães, Guylherme
Magalhães Aguiar, Lucas Marcos Atayde, Saulo Sardinha
Freitas, João Zallio Coelho
Centro Universitário UniFTC, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: guy.maga@hotmail.com
Introdução
Os
esteroides anabolizantes androgênicos (EAAs) são um
grupo de compostos sintéticos formados a partir da testosterona ou de um dos
seus derivados, cuja indicação terapêutica clássica está associada a situações
de hipogonadismo e sarcopenia secundária a outras patologias (quadros de
deficiência do metabolismo proteico [1]. Atualmente, observa-se uma crescente
na utilização desse tipo de droga para hipertrofia muscular acelerada e ganho
de força por atletas apesar dos seus efeitos adversos, sobretudo os riscos
cardiovasculares [2].
Objetivo
Descrever
como o uso de esteroides anabolizantes androgênicos podem levar a risco
cardiovascular em atletas.
Métodos
Trata-se
de uma revisão sistemática em que os artigos foram selecionados levando em
consideração seu grau de evidência científica (avaliados pelo sistema GRADE e
selecionados os com grau de evidência de Moderado a alto), o tipo de estudo
(estudos observacionais e ensaios clínicos, excluindo as revisões sistemáticas)
e relevância com o tema, publicados entre 2011 e 2021. A partir da
problemática, a estratégia de identificação e seleção da amostra foi a busca
online das publicações científicas brasileiras, operando as seguintes bases de
dados: plataformas PubMed e BVS. Os descritores
escolhidos foram, “cardiovascular risk”, “anabolic steroids” e “athletes”, todos eles mediados pela justaposição do
operador booleano AND.
Resultados
Dos 55
artigos encontrados, 2 foram excluídos por duplicação, totalizando 53 artigos,
e foram excluídos 40 trabalhos por desviarem da temática principal e por
apresentarem desenho de estudo não adequado ao trabalho. Após essa etapa, os 13
artigos restantes foram lidos na íntegra, e excluídos 3 trabalhos, resultando
em um total de 10 artigos que se adequaram aos critérios de inclusão e
qualidade dentro do tema a ser abordado. Dos artigos analisados no presente
estudo, todos avaliaram risco cardiovascular, alterações anatômicas cardíacas e
alterações em exames complementares em atletas usuários de esteroides
anabolizantes androgênicos e em 100% dos estudos houve um aumento do risco
cardiovascular. Com isso, foi possível observar que um dos efeitos adversos
mais prevalentes do uso de EAAs é o risco
cardiovascular. Correlacionando essa informação, as doenças cardiovasculares
são a causa número um de morte em todo o mundo, então o abuso dos esteroides
anabolizantes pode aumentar ainda mais essa prevalência.
Santos et
al. [3] relatam resultados que evidenciam redução da sensibilidade barorreflexa
espontânea e o equilíbrio simpatovagal cardíaco que
foram agravados em atletas usuários de EAAs em
comparação com atletas não usuários de EAAs.
De acordo
com os resultados de Perry et al. [4], foi evidenciado que o uso de EAAs está relacionado a distúrbios do metabolismo lipídico
(redução dos níveis de colesterol HDL), hipertensão, distúrbios de coagulação (hiperestimulação da agregação plaquetária e estado
pró-trombótico relacionado ao aumento na contagem de plaquetas),
cardiomiopatia, alterações anatômicas como maior espessura do septo
interventricular, maior espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo.
Em 2015, Gheshlaghi et al. [5] elucidaram que
a utilização de EAAs estava compatível com um aumento
importante na PA sistólica e diastólica (20 mmHg e 18 mmHg, respectivamente), o
que se correlaciona positivamente com o tempo de uso da droga.
Em um
estudo realizado por Chowdhury, et al. [6],
observou-se que a administração de 100 mg/kg/dia de Decanoato
de Nandrolona em 20 ratos albinos com peso entre 25-30 g, separados em dois
grupos de 10, um grupo controle e outro exposto a Nandrolona, causa um aumento
de 3% nos níveis séricos de Aldosterona nos primeiros 15 dias e um aumento de
10% em 90 dias. Esse estudo também demonstrou um aumento do nível de sódio
sérico em 1.2% nos primeiros 15 dias e um aumento de 12.6% em 90 dias. Dessa
forma, a exposição crônica a Nandrolona pode estar relacionada com aumento do
risco cardiovascular devido à correlação entre aumento do nível de Aldosterona
sérico e doenças cardiovasculares [6].
Abdollahi et al. [7] observaram no seu
estudo que a associação de nandrolona com exercícios de natação de resistência
entre 8 e 10 semanas não têm efeito significativo sobre o índice de hipertrofia
e a relação coração/peso corporal em ratos albinos. Entretanto, 100% do grupo
controle submetidos a exercícios de natação de resistência durante 12 semanas e
exercício com rodas de corrida durante 16 semanas associado a nandrolona foram
relacionados a um aumento significativo no índice de hipertrofia cardíaca.
Houve também elevações expressivas na hidroxiprolina,
fibrose miocárdica e nível de colágeno cardíaco [7]. A fibrose cardíaca pode
levar à disfunção ventricular diastólica e sistólica [8]. A estimulação
excessiva do sistema renina-angiotensina pode estar relacionada a indução desse
remodelamento cardíaco. Esses são alguns dos mecanismos plausíveis envolvidos
na hipertrofia cardíaca após o consumo de nandrolona juntamente com o
treinamento físico [7].
Foram
observados que os ensaios clínicos realizados em animais mostraram aumento de
100% do risco cardiovascular, alterações anatômicas e redução da sensibilidade
cardíaca em resposta à elevação da pressão [6,7]. Já nos estudos observacionais
não se pode confirmar um aumento do risco cardiovascular nos usuários de EAAs, ainda que os atletas apresentaram fatores de risco
para doença cardiovascular, como elevação da PA, alterações laboratoriais e um
risco aumentado para cardiomiopatias, porém é necessário complementar a
investigação para confirmar que o uso do EAA foi a causa primária das
alterações cardíacas.
Conclusão
A
avaliação dos artigos demonstrou que os atletas usuários de EAAs
apresentaram fatores de risco para doença cardiovascular, como a elevação da
PA, alterações da coagulação e dislipidemias. Além disso, desenvolveram um
risco aumentado para cardiomiopatias e alterações anatômicas, como, maior
modulação simpática cardíaca, menor modulação parassimpática, maior espessura
do septo interventricular, maior espessura da parede posterior do ventrículo
esquerdo. Entretanto, é necessária uma investigação complementar para confirmar
e demonstrar que o uso de EAAs é a causa primária
para o aumento das alterações cardiovasculares em atletas.
Referências
Diagnóstico diferencial
do diabetes tipo 2: relato de caso
Camilla Lemos Souza¹, Pedro
Elias Santos Souza², Gabriel Franco Torres³, Maria Eduarda Mota Oliveira³, Keyse Mirelle Carregosa
Ribeiro4, Alice Miranda de Oliveira1,2, Jefferson Petto2,4,5
1Faculdade Centro de Treinamento
Acadêmico (CTA), São Paulo, SP, Brasil
2ACTUS CORDIOS Reabilitação
Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador, BA, Brasil
3Universidade Salvador (UNIFACS).
Salvador, BA, Brasil
4Centro Universitário UniFTC.
Salvador, BA, Brasil
5Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: camillalsfisio@gmail.com
Introdução
A
hiperglicemia é apontada como a terceira maior causa de morte prematura no
mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afetando cerca de 8,8% da
população mundial de 20 a 79 anos de acordo com a International
Diabetes Federation em 2017 [1]. Antigamente a Diabetes Mellitus (DM) era
classificada somente como tipo 1 e 2, porém, estudos mais atuais trazem uma
definição diferenciada, subdividindo a DM em cinco clusters [2].
É sabido
que o Exercício Físico (EF) aplicado de forma correta está relacionado com a
melhora do quadro clínico de pacientes com DM, pois auxilia no controle dos
valores glicêmicos. Um estudo realizado por Pan B et al. [3] verificou
que o EF foi capaz de reduzir significativamente os valores de hemoglobina
glicada e glicemia em jejum. Associado a esta ideia, acreditamos que um
programa de exercício físico especifico personalizado baseado no diagnóstico
correto de DM gere resultados ainda mais surpreendentes.
Objetivo
Descrever
como um programa de exercício físico personalizado, baseado na nova
classificação da DM, obteve resultados acima dos descritos na literatura
científica.
Descrição do caso
Paciente
JLS, sexo masculino, 40 anos, há cinco anos diagnosticado com DM Tipo 2
(Diagnóstico Clínico) procura a Clínica Escola da Faculdade Adventista da
Bahia, BA, Brasil, em fevereiro de 2019 para realizar um programa de exercício
físico supervisionado (Reabilitação Metabólica - RM). Fazia uso diário de glibenclamida 5 mg e metformina 750 mg há dois anos. Não
relatou nenhuma outra enfermidade. Realizava treinamento resistido sem
orientação específica, caminhada e corrida duas a três vezes por semana. Ao
final da anamnese foi aplicado o teste de Qualidade de Vida de Minessota sendo o mesmo repetido mensalmente.
Após a
avaliação física, foram realizados cálculo do Índice de massa corporal (IMC),
medição da circunferência abdominal e coleta de glicemia capilar, foi levantada
a suspeita de DM tipo 1 tardia (LADA). Posteriormente foi feita a realização do
Screening para rastreio do DM tipo 1, que teve
resposta negativa, tendo como diagnóstico DM2 no cluster, de acordo com a
classificação proposta por Ahlqvist et al.
[2].
Com o
diagnóstico correto do DM, antes de ser dado início ao EF específico, o
paciente foi encaminhado ao cardiologista com o intuito de realizar o teste de
esforço físico máximo para afastar a possibilidade de doença arterial
coronariana, rever a prescrição dos fármacos e servir de base para a prescrição
do exercício cíclico em esteira ergométrica.
O
protocolo de RM foi iniciado em fevereiro de 2019 e teve duração de 4 meses,
com frequência de duas sessões semanais durante o primeiro mês, evoluindo para
três sessões semanais nos demais meses. As sessões dos exercícios eram
executadas com controle da glicemia no início e final da sessão e antes e após
a realização do exercício cíclico, executado em esteira ergométrica.
O
programa de RM utilizou como parâmetro o diagnóstico inicial de DM 2 de segundo
cluster, ou seja, um DM adquirido resultante de baixa produção de insulina 2.
Portanto, como essa classe de pacientes se assemelha a DM 1 e para DM 1 o
exercício mais indicado é o de alta intensidade [5], utilizamos exercícios
neuromusculares resistidos e o cíclico (esteira ergométrica), de alta
intensidade. Como o paciente já apresentava um histórico prévio de realização
de exercício cíclico e resistido optamos por iniciar o programa de RM já em
alta intensidade, sem que no primeiro mês fizéssemos um período de preparação
em intensidades baixa e moderada.
Utilizamos
escala de percepção subjetiva de esforço de Borg para
estimar a intensidade cardiovascular e a de Omni para estimar o trabalho da
musculatura ativa no exercício neuromuscular resistido. Para o exercício
cíclico utilizamos a Frequência Cardíaca (FC) com base na FCmáx
do TEFM, além da escala de Borg. Ambos tinham o intuito de controlar a
intensidade de esforço cardiovascular. O programa foi dividido em duas etapas
de dois meses cada.
Concomitante
ao treinamento resistido e cíclico o paciente realizou Treinamento Muscular
Inspiratório (TMI) sempre no início de cada sessão. O TMI era realizado em três
séries de 12 repetições com carga compatível de 11 a 13 na Escala de Percepção
Subjetiva de Esforço de Borg. Este protocolo está em consonância ao estudo
publicado por nosso grupo no qual preconiza-se a carga de resistência de fluxo
baseado na escala de Borg.
Resultados
Após o
período de quatro meses, todos os exames iniciais foram novamente realizados.
Observamos melhora do condicionamento cardiovascular com aumento de 11 bpm na FCmáx e redução de 10 mmHg na Pressão Arterial
Sistólica Máxima. O teste de Minnesota que no início do programa apresentou
pontuação de 69 caiu para 5 pontos, apresentando melhora percentual de 92%. Os
pontos que mais tiveram evolução foram qualidade do sono, cansaço, preocupação
com a enfermidade, depressão, atividade sexual e laborativa.
O
paciente apresentou queda da glicemia que em alguns momentos causou
hipoglicemia noturna. Por esse motivo o cardiologista assistente reduziu a
dosagem dos fármacos sendo que a gliclazida de 60 mg
foi diminuída para 30 mg e metformina XR 750 mg para 500 mg.
Com relação
as variáveis glicemia de jejum, hemoglobina glicada e insulina observamos
expressivas modificações nos seus resultados ao comparar os dados do início
para o final do tratamento. Destaca-se que os valores dessas variáveis não
somente melhoraram como praticamente se enquadraram nos valores de normalidade
ao final da intervenção. Novamente é importante frisar que tanto no início do
programa quanto no final do programa o paciente utilizava fármacos orais
hipoglicemiantes.
O fato de
utilizarmos um diagnóstico mais específico direcionou o tratamento para um
ponto bem distinto do descrito pela literatura para o tratamento da DM2 e é um
exemplo do que acabamos de explanar no parágrafo anterior. Por exemplo, a
Diretriz da SBD orienta que o paciente com DM2 realize de 2 a 3 vezes por
semana exercício cíclico com duração mínima de 150 minutos semanais em
intensidade moderada [1]. Ademais, orienta a realização de exercícios
resistidos de uma ou mais séries de 10 a 15 repetições com no mínimo 5
exercícios envolvendo grandes grupos musculares, sem especificar a intensidade
[1]. Note que o que propusemos para o paciente em questão foi bem diferente do
proposto pela diretriz, isso porque, com base no diagnóstico diferencial da DM2
e nas peculiaridades do paciente, realizamos um programa de exercício cíclico
de 40 minutos semanais de alta intensidade.
Muitas
são as evidências científicas e fundamentações biológicas que explicam a
melhora aqui descrita [3-6]. No entanto, o que pretendemos ao apresentar este
caso não é discutir o porquê e de que forma o exercício propiciou essa melhora,
mas sim como a concepção da reabilitação pode ser otimizada com base em um
pensamento clínico preciso.
Levanta-se
diante disso a hipótese de que os resultados na prática poderiam ser muito mais
expressivos se a intervenção fosse conduzida de forma mais precisa, ou seja,
com base nas especificidades inerentes a cada paciente. Isso aponta a
importância de não negligenciar o diagnóstico clínico, já que a prescrição do
exercício depende dessa interface entre o conhecimento da prescrição do
exercício e da clínica.
Conclusão
Este
estudo de caso sugere que um programa individualizado e personalizado de
Reabilitação Metabólica expôs um tratamento adjuvante capaz de promover redução
significativa dos níveis glicêmicos em um paciente com DM tipo 2. Como também,
proporcionou uma redução da quantidade e dosagem dos fármacos, consequentemente
melhora na qualidade de vida e funcionalidade.
Referências
Classe funcional x adesão
terapêutica em pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica: existe
correlação?
Daiane Magalhães Malheiro1,
Gabriel Sapucaia da Silva de Queiroz1, Karla Santos Pinto1,
Mathias Sousa Silva Oliveira1, Sadja
Carolina Santos Costa1, Pollianna de Souza
Roriz2, Lucélia Batista Neves Cunha Magalhães3
1Centro Universitário FTC, Curso de Medicina, Salvador,
Bahia, Brasil
2Hospital Ana Nery, Médica Assistente,
Salvador, Bahia, Brasil
3Centro Universitário FTC, Faculdade de Medicina, Salvador,
Bahia, Brasil
Correspondência: daianemalheiro45@gmail.com
Introdução
A
Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é um distúrbio cardiovascular monogênico
sendo a principal causa de morte súbita entre atletas com idade menor que 40
anos [1,2]. Por ser uma enfermidade de caráter hereditário, seu tratamento é
baseado principalmente no controle dos sintomas, e o tratamento farmacológico é
o mais utilizado. Uma das principais consequências desta enfermidade é a
diminuição da capacidade funcional, o que resulta em impacto na qualidade de
vida desses indivíduos. Dentre os objetivos do tratamento farmacológico está
justamente a melhora da capacidade funcional. No entanto, ainda não existem
estudos que apontem se realmente a adesão ao tratamento farmacológico impacta
na capacidade funcional desses pacientes [3,4].
Objetivo
Verificar
se existe correlação entre a adesão terapêutica farmacológica e a classe
funcional (CF/NYHA) dos pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica.
Métodos
Trata-se
de uma coorte ambispectiva observacional com
portadores de cardiomiopatia hipertrófica em acompanhamento clínico e que
iniciaram tratamento farmacológico, acompanhados no serviço de arritmologia de referência do Sistema Único de Saúde da
cidade de Salvador, BA, Brasil no período de maio 2015 a maio 2022. Referem-se
a dados da pesquisa EPICO (Estudo para Identificação de Causas Tratáveis e
Otimização Terapêutica da Insuficiência Cardíaca em Hospital de Referência), a
qual foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa em seres humanos, tendo sido
aprovada para execução, com CAAE de n° 49910415.0.0000.0045. Foram analisados
prontuários eletrônicos e coletadas as seguintes variáveis: idade, sexo, etnia,
escolaridade, fármacos associados à Insuficiência Cardíaca (IC) (antagonistas
da aldosterona, betabloqueadores, bloqueadores do receptor de angiotensina II,
digitálicos, diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina II,
inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2,
inibidores do receptor da neprilisina, nitratos) e
classe funcional, coletadas por médicos residentes do referido serviço. A
classe funcional foi determinada por diferentes residentes tomando como base
perguntas que indicam indiretamente a capacidade funcional dos pacientes: 1)
Você apresenta alguma dificuldade para respirar (dispneia) durante as
atividades cotidianas? 2) Você apresenta algum sintoma leve de dispneia nas
atividades cotidianas? 3) Você sente dificuldade de respirar (dispneia) quando
realiza pequenos esforços? 4) Você sente dispneia em repouso? Após a coleta dos
referidos dados, foi aplicada a escala de adesão terapêutica de Morisky de 8 itens (MMAS-8), com pontuação variando de 1 a
11, abaixo de 6 é caracterizado como não tendo adesão ao tratamento
farmacológico, e acima disso, com boa adesão ao tratamento. Compreende as
seguintes questões: 1) Você às vezes esquece de tomar seu remédio do coração?
2) Nas duas últimas semanas, houve algum dia em que você não tomou seus
remédios do coração? 3) Você já parou de tomar seus remédios ou diminuiu a dose
sem avisar ao seu médico porque se sentiu mal quando os tomava? 4) Quando você
viaja ou sai de casa, às vezes esquece de levar seus medicamentos? 5) Você
esqueceu de tomar seus medicamentos do coração ontem? 6) Quando sente que seus
sintomas estão controlados, você às vezes para de tomar seus medicamentos? 7)
Você já se sentiu incomodado por seguir corretamente o seu tratamento para o
coração? 8) Com que frequência você se esquece de tomar todos os seus
medicamentos para o coração? Análise estatística: Foi utilizado o teste de
contingência C para verificar a existência de correlação entre a capacidade
funcional e a adesão terapêutica farmacológica. O pacote estatístico utilizado
foi o BioEstat 5.0. Adotado como valor de
significância p ≤ 0,05.
Resultados
Foram
analisados 63 pacientes, 30% tinham 61 anos ou mais, 65% do sexo masculino, 51%
pardos, 62% com baixa escolaridade. Em relação à classe funcional, a maioria
(48%) em Classe II, com 94% apresentando boa adesão terapêutica (Morisky acima de 6). Além disso, 41,5% dos indivíduos
relataram nunca se esquecerem de fazer uso dos fármacos, 52% afirmaram quase
nunca se esquecer, em contrapartida, 6% eventualmente esquecem o uso dos fármacos.
Os betabloqueadores (82,5%) foram os fármacos mais utilizados, seguidos de 30%
anticoagulante, 27% antiarrítmico e 21% inibidores da enzima conversora de
angiotensina. As outras classes elencadas no estudo como: digitálicos,
bloqueadores de receptores da angiotensina, tiazídicos, vasodilatadores,
inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 e
antiplaquetários foram pouco utilizados. Com relação aos desfechos clínicos, a
maioria dos pacientes (89%) negou episódios de internamento nos últimos 12
meses por insuficiência cardíaca, enquanto somente 6,5% dos pacientes
faleceram. Na análise de correlação verificamos que não houve correlação
significativa entre a adesão farmacológica (pontuação na escala de Morisky) com a classe funcional (P = 1,0 com coeficiente de
correlação de 0,18).
Conclusão
Neste
estudo, de acordo com os dados coletados, concluímos que não existe associação
entre a capacidade funcional e a adesão ao tratamento farmacológico em
pacientes com cardiomiopatia hipertrófica.
Referências
Exercício físico
orientado durante os tratamentos do câncer de mama - relato de caso de paciente
previamente condicionada
Márcia Netto Magalhães Alves1,
Sérgio Saboya Pinheiro de Sousa2, Cássia Rodrigues Roque1,
Lúcia Lêda Mendonça Simões3
1Universidade Federal do Ceará (UFC),
Fortaleza, CE, Brasil
2Consultório médico de cirurgia plástica,
estética e reparadora, Fortaleza, CE, Brasil
3Associação Lua Rosa, Fortaleza, CE,
Brasil
Correspondência: marcia.alves
@ufc.br
Introdução
O câncer
de mama em mulheres é uma doença importante em termos de incidência e
mortalidade. Há melhor índice de sobrevivência nos últimos 20 anos e mais
intervenções para o cuidado com o câncer são direcionadas para melhor qualidade
de vida e longevidade [1]. Ainda, em torno de 25% dos sobreviventes têm
sintomas persistentes de fadiga que dificultam o retorno ao trabalho e a uma
vida independente; os tratamentos levam a maior risco de mortalidade
cardiovascular e de maior número das recidivas e de morte em sobreviventes. A
disfunção cardíaca devido à quimioterapia, de forma dose-dependente, mostra-se
de reversibilidade limitada ao tratamento farmacológico, especialmente se
detectada tardiamente. O exercício físico tem recebido cada vez mais atenção
por ter a capacidade de impactar positivamente sistemas fisiológicos
debilitados e alterados com os tratamentos de câncer, sendo uma opção não
invasiva e de baixo custo [2]; há interesse crescente no seu uso para prevenir
a deficiência funcional e a cardiotoxicidade [3]
visto ser, há anos, benéfico para portadores de doenças cardiovasculares. Em
pacientes com câncer de mama, o Dr. McKenzie, médico
canadense, já em 1998 propôs atividades de canoagem na modalidade Dragon Boat
como forma de intensificar o treino, melhorar o condicionamento e provar que
mulheres que faziam exercícios com membros do tronco superior não desenvolviam
linfedemas [4]. Além disso, evidências recentes mostram extensão da sobrevida
[5], e maior prevenção da doença com maior quantidade das atividades físicas
[6]. Baseado em evidências, o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM)
elaborou, em 2019, prescrições e orientações para sobreviventes de câncer [7].
O
objetivo do presente estudo foi apresentar um caso de prescrição de exercícios
físicos, segundo as orientações do ACSM, durante e após o tratamento por
quimioterapia e radioterapia, em uma portadora de câncer de mama luminal B,
previamente condicionada.
Métodos
Paciente
do sexo feminino, com 57 anos, 68 kg e 1,60 m de altura e fisicamente ativa,
diagnosticada com câncer de mama no seio esquerdo, luminal B, Ki-67>80%,
positivo para estrógeno e progesterona e negativo para HER2+. Fez retirada do
quadrante em fevereiro de 2021 e iniciou o tratamento de quimioterapia no
início de abril de 2021, radioterapia em dezembro de 2021 e anastrozol
(1mg) por 5 anos, a partir de novembro de 2021. As sessões de exercícios foram
realizadas 3 a 4 vezes na semana, por aproximadamente 30 minutos, com
predominância de atividades aeróbias de caminhada e de bicicleta (em parques,
calçadas, praias), e a frequência cardíaca (FC), calorias, distância e duração
foram monitoradas pelo monitor de atividade Garmin Forerunner® 45S. Ao ser finalizado o tratamento, com
liberação médica, ECG e ecodopplercardiograma
normais, foram incluídas atividades de canoagem 2 a 3 vezes por semana, por 50
min/dia, por um período de 6 meses.
A
paciente tem histórico de testes gradativos máximos em esteira rolante Athletic®,
antes do diagnóstico de câncer, e novos testes de 2 a 6 meses após os
tratamentos. O teste na esteira rolante foi realizado de acordo com protocolo
adaptado de aumento de velocidade a cada 2 minutos e velocidade inicial de 3,4
km/h; foram registradas a FC e a percepção subjetiva do esforço (PSE), os
testes eram interrompidos quando a paciente apresentava cansaço excessivo e PSE
próxima de “muito cansativa”.
Resultados
A
paciente realizou exercícios físicos semanais durante todo o período do tratamento,
de abril de 2021 a janeiro de 2022. O volume de treino foi semelhante e, em uma
amostra de 4 meses de atividades contabilizadas pelo monitor Garmin Forerunner® 45S, as médias
semanais de atividades observadas foram de: tempo de caminhada por 160 min,
gasto calórico de 480 kcal, distância percorrida de 8,98 km, durante 3,37, como
proposto pelo ACSM [7]. Durante os tratamentos, as frequências cardíacas foram
em média de 108 bpm e máxima de 129 bpm, 65 a 80% da FCmáx.
A resposta da FC, após as sessões de quimioterapia, apresentava oscilações
diárias marcantes em repouso e durante os exercícios; se fossem observadas
reduções da pressão arterial, temperatura ou conforto, o exercício não era
realizado. Após os tratamentos foram incluídas atividades de canoagem (2 a 3
vezes por semana, 50 min/dia, FC médias próximas a 126 e máximas próximas a
155, 75 a 90% da FCmáx). Antes e após 2 e
6 meses dos tratamentos, os testes máximos foram interrompidos em velocidades
de 7,0, 6,4 e 7 km/h, respectivamente. Durante o exercício nas velocidades
entre 5 e 6,4 km/h as frequências cardíacas estiveram significativamente
maiores dois meses após o término do tratamento da quimioterapia quando
comparadas com as dos testes pré-diagnóstico e 6
meses pós-tratamento, (dados em média ± erro padrão:137,375 ± 4,9; 125,8 ± 5,7;
124,3 ± 5,9, respectivamente, p ≤ 0,001).
Conclusão
Concluímos
que a prescrição de exercícios físicos, de acordo com as orientações do ACSM,
para a paciente previamente condicionada auxiliou para que em 6 meses ela
recuperasse o condicionamento físico com menor esforço cardíaco e atingisse uma
velocidade máxima na esteira próxima ao teste realizado previamente ao
diagnóstico da doença.
Referências
Efeitos cardiovasculares
do exercício como estratégia terapêutica para pacientes com depressão: uma
revisão bibliográfica
João Carlos Lima Andrade,
Alexandre Carvalho Menezes, Elena Gonzalez Carneiro, William de Azevedo Dunningham
UniFTC, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: Jclima09@hotmail.com
Introdução
As
doenças cardiovasculares (DCV), a depressão e o sedentarismo tem sido fatores
importantes de incapacidade nos países desenvolvidos e espera-se que este
cenário seja expandido para países de todas as rendas até 2030 [1]. Estas
doenças, associadas ao estresse crônico, com destaque às neuropsíquicas, neste
caso a depressão, alteram a funcionalidade do corpo a partir de modificações no
eixo hipotálamo-pituitário-adrenal, com consequente hiperatividade simpática e
repercussões cardiovasculares, além de efeitos noradrenérgicos
psicológicos [2,3].
Quanto à depressão, a
prática do exercício físico regular já foi comprovada como terapia efetiva
dentre as opções terapêuticas voltadas à doença, sendo geralmente associada às
terapias convencionais, como a farmacológica ou psicoterapêutica [3,4]. Outro
achado importante frente à população portadora de depressão é a maior
dificuldade destes não somente de iniciar a prática física, mas de mantê-la por
um período superior a 12 meses. Nesse sentido, é notado que o estímulo às
práticas físicas contínuas, ou semanais, iniciam uma cadeia neuropsíquica de
retroalimentação positiva, através de estímulos hormonais específicos, via
serotonina, com efeito final de aumento da prática do exercício físico, seja
pelo efeito hormonal, seja pela sua influência frente à melhora da
sintomatologia depressiva, evidenciando a necessidade do estímulo ao início da
atividade física, bem como de sua continuação, nesta população [1,5].
Dentre os efeitos benéficos
do exercício físico, destacam-se o aumento no transporte de oxigênio para o
cérebro, a síntese e a degradação de neurotransmissores, liberação de
serotonina e diminuição da viscosidade sanguínea, além da própria redução da
frequência cardíaca média, com consequente redução na morbimortalidade
associada à DCV [6]. Neste sentido, o objetivo desta revisão bibliográfica
consiste em identificar o estado atual da literatura no que consiste às
evidências referentes aos efeitos da atividade física, bem como de suas
diferentes modalidades e intensidades, frente a pacientes com depressão
portadores de doenças cardiovasculares.
Métodos
Trata-se
de uma revisão sistemática da literatura. Foi realizada uma busca no banco de
dados eletrônico Medline/PubMed por meio da
combinação de descritores, utilizando termos do Descritores em Ciências de
Saúde (DeCS), associados com o objetivo do estudo. A
produção desta revisão foi guiada pelas considerações do Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA).
Foram
incluídos estudos nos quais foram avaliados pacientes com diagnóstico de
depressão, além do grupo controle, e de doenças cardiovasculares prévias ou
após a avaliação do desfecho do estudo, bem como aqueles cujo fator a ser
avaliado fora a prática de exercícios físicos frente às comorbidades citadas.
Para avaliação da qualidade metodológica de cada estudo analisado, foi
preenchido checklist baseado no Consolidated Standarts of Reporting
Trials (CONSORT). Foram considerados artigos de
qualidade aceitável aqueles que cumpriram ao menos 70% dos critérios
estabelecidos no checklist. O CONSORT é uma lista de recomendações de conteúdos
necessários para a formulação de ensaios clínicos de forma precisa e fidedigna.
Dois autores foram responsáveis pela triagem dos estudos, bem como aplicação
dos critérios de inclusão e exclusão, havendo consulta a um terceiro autor caso
houvesse discordância. Os resultados dos estudos selecionados ao final deste
processo foram tabelados conforme dados específicos deste estudo.
Resultados
Ao final
da seleção, com aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram
selecionados 16 estudos de um total de 96 artigos elencados para leitura do
título. Outros 340 artigos foram excluídos à busca inicial devido à não
correlação com o tema proposto. Dos 16 artigos estudados, em 1 deles não foi
identificada eficácia diferencial das práticas de exercício físico na população
específica portadora de depressão quando comparada àquela sem o diagnóstico
neuropsíquico, sendo ambos os grupos compostos por pacientes portadores de
doenças cardiovasculares [7]. Entretanto, foram identificados riscos de vieses,
sobretudo fatores de confusão, associados a amostras com multicomorbidades
além da depressão e DCV, incluindo diabetes mellitus, além de disparidades
associadas às faixas etárias analisadas pelo estudo. Nos outros 15 estudos
analisados, foi evidenciada associação direta entre a prática de exercícios
físicos e a redução nos sintomas depressivos, com consequente redução nas taxas
de complicações associadas às DCV. Hyewon KIM et
al., em estudo de 2022 [8] com amostragem de 1.282.160 pacientes com
depressão, divididos em quatro grupos (nunca, início, manutenção e
descontinuação da prática de exercícios físicos, antes e após o diagnóstico de
depressão), demonstraram que o grupo de início precoce da prática apresentou
riscos reduzidos de IAM (Hazard Ratio
(HR) = 0,85 em relação ao grupo controle, que nunca praticou exercícios
físicos), de acidente vascular cerebral isquêmico (HR = 0,89) e mortalidade
(HR=0,80) em relação ao grupo controle citado, com estatística significante. Em
comparação com o grupo de manutenção, o grupo de descontinuação apresentou
riscos aumentados de IAM (HR = 1,15), acidente vascular cerebral isquêmico (HR
= 1,13) e mortalidade por todas as causas (HR = 1,29).
Kamphuis et al. [9] reforçam em seu
estudo o benefício do exercício físico frente aos pacientes com depressão
associada a DCV. No estudo foram observados 909 homens idosos. A atividade
física foi avaliada com um questionário e as razões de risco (HR) para
mortalidade cardiovascular em 10 anos foram calculadas, ajustando para fatores
demográficos e de risco cardiovascular. Como resultado, homens com mais
sintomas depressivos eram menos ativos fisicamente do que homens com poucos
sintomas depressivos. Durante 10 anos de acompanhamento, 471 (52%) dos 909
homens morreram. Desses, 256 (28%) morreram de DCV. A taxa ajustada de
mortalidade cardiovascular para uma diminuição de 30 minutos na atividade
física foi de 1,09 em relação ao grupo controle. Um aumento nos sintomas depressivos
com um desvio padrão foi associado a um maior risco de mortalidade
cardiovascular (HR = 1,42). Após ajuste adicional para atividade física, o
risco diminuiu (9%) (HR = 1,37). O excesso de risco de mortalidade
cardiovascular atribuível ao efeito combinado de sintomas depressivos com
inatividade foi de 1,47. A taxa para homens não deprimidos, mas inativos, com
alguns sintomas depressivos e inatividade física foi de 1,47. A proporção de
mortalidade cardiovascular entre homens com mais sintomas depressivos e baixa
atividade física que poderia ser atribuída à interação desses fatores foi de
1,47/4,22 = 33 [9]. Uma das hipóteses para explicar essa relação é que sujeitos
deprimidos podem tornar-se fisicamente inativos. Esses resultados sugerem que
sintomas depressivos e inatividade física podem interagir para aumentar o risco
de mortalidade cardiovascular [9]. Todos os resultados supracitados
apresentaram significância à análise estatística.
Todos os demais estudos
demonstraram dados convalescentes à teoria de redução de eventos agudos e
morbimortalidade associada à DCV devido à redução de sintomas depressivos
quando atribuída terapia com exercícios físicos. No estudo de Iwona et al. [10], cabe destaque a análise que
evidenciou que pacientes após episódio de infarto agudo do miocárdio, com
diagnóstico pós-evento isquêmico de depressão, apresentaram redução nestes
sintomas e consequente melhora em parâmetros cardiovasculares quando iniciada
prática de exercício físico. Os pacientes foram submetidos a um programa de treinamento
de 8 semanas, cujo resultado mostrou que o exercício sem intervenção
psicológica profissional diminuiu a depressão e o estado de ansiedade em todo o
grupo heterogêneo. É importante ressaltar que a redução dos sintomas
depressivos esteve relacionada não só menor mortalidade, mas também a uma
melhora na capacidade física dos pacientes [10]. Ademais, notou-se ausência de
estudos que mensurassem o impacto de diferentes cargas de treino e intensidade
de exercícios em população com depressão voltada à redução de risco
cardiovascular.
Como resultados gerais com
análise estatística significante, foram evidenciadas taxas de redução de risco
de evento isquêmico agudo em pacientes com diagnóstico de depressão e DCV que
variou de 12-43% em uma gama de 11 artigos que fizeram análises para avaliação
de efeito da intervenção do exercício físico na população descrita
[3,4,8,9,11–17].
Conclusão
Concluímos
que o início da realização de exercício
físico após o diagnóstico de depressão
está associado à redução do risco
cardiovascular, tanto para pacientes com
diagnóstico de DCV, como para redução de risco de
desenvolvimento de DCV para a
população não acometida por esta etiologia. Por
outro lado, a interrupção da
prática está associada ao aumento deste risco,
além de maior morbimortalidade.
São necessários estudos mais profundos, associados a
meta-análises, a fim de
precisar o impacto de cada subtipo de exercício frente à
redução de
morbimortalidade em população com DCV e depressão.
Referências
Consequências clínicas,
psicológicas e sociais da cardiomiopatia hipertrófica em atletas
Laís Eunice de Assis Silva1,
Tammila de Lima Almeida1, Jefferson Petto1,2,3
1UniFTC, Salvador, BA, Brasil
2Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
3Actus Cordios
Reabilitação Cardiovascular, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: laiseunice.medicina@outlook.com
Introdução
A
Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é uma doença cardíaca hereditária
relativamente comum, ocorrendo em aproximadamente 1 em cada 500 indivíduos na
população geral, sendo provocada por uma transformação na unidade contrátil das
fibras musculares esqueléticas, o sarcômero [1,2]. A CMH é uma das causas mais
comuns de morte súbita cardíaca (MSC) em atletas e indivíduos com menos de 35
anos, correspondendo a cerca de 50% a 70% dos casos. Essa condição é
caracterizada por hipertrofia do ventrículo esquerdo (VE) de várias
morfologias, com ampla gama de manifestações clínicas e alterações
hemodinâmicas [3,4]. As demandas fisiológicas imediatas do atletismo intenso
(por exemplo, esforço mecânico, aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio,
sobrecarga hemodinâmica, liberação de catecolaminas, desequilíbrio
eletrolítico) podem desencadear arritmias malignas em indivíduos suscetíveis
com anormalidades cardíacas subjacentes [5,6]. Porém, a depender da extensão da
hipertrofia, as anormalidades estruturais e funcionais podem produzir uma
variedade de sintomas, incluindo dispneia, angina, palpitações e fadiga, bem
como pré-síncope ou síncope. Sabe-se que as
consequências da CMH vão desde morte súbita à possibilidade de progressão a
estados incapacitantes como a insuficiência cardíaca, acidente vascular
cerebral (AVC) e doenças coronarianas [7,8]. Ademais, nota-se também,
consequências no âmbito psicológico, uma vez que problemas cardíacos em atletas
atrapalham a continuidade de suas carreiras. Esse fato faz com que atletas
renomados encerrem suas carreiras e trilhem um caminho incerto, desenvolvendo
muitas vezes depressão e ansiedade. Por ser um distúrbio oculto e silencioso,
discussões acerca das consequências da CMH em atletas são importantes e
necessárias [9,10].
Objetivo
Descrever
sobre as principais consequências clínicas, psicológicas e sociais da
cardiomiopatia hipertrófica em atletas.
Métodos
Trata-se
de uma revisão de literatura sistematizada cujos artigos foram localizados nas
bases de dados PubMed e SciELO, com os seguintes
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Cardiomyopathy Hypertrophic” OU “cardiomyopathy”; “Cardiomyopathy Hypertrophic” AND “Athletes” AND
"Consequences" AND “Sports” AND “Sudden Death”. A análise dos materiais foi procedida
inicialmente pela leitura crítica dos resumos obtidos via pesquisa
bibliográfica nas referidas bases de dados bibliográficos. De acordo com a
pertinência do resumo com o tema da pesquisa, foi feita a recuperação
eletrônica dos materiais completos. Foram incluídos na atual revisão artigos
dispostos na íntegra com um corte temporal de 2004 a 2020, nos idiomas
português e inglês. Outros materiais foram obtidos em sites dos principais
órgãos ou sociedades na área de cardiologia. Ademais, foram excluídos artigos
não disponíveis integralmente e duplicados. Não foram realizadas restrições com
relação ao tipo de estudo.
Resultados
A
pesquisa bibliográfica através da estratégia de busca forneceu 1.202 artigos,
em seguida, houve a aplicação dos filtros referentes a disponibilidade dos
artigos na íntegra, corte temporal, análise e revisão sistemática reduzindo a
pesquisa para 364 estudos. Posteriormente, foi realizada a leitura dos resumos
dos artigos dos quais restaram 16 que atenderam os critérios de seleção
propostos. Os 16 artigos foram lidos na íntegra sendo excluídos mais 6 artigos.
Restaram após essas etapas 10 artigos dos quais foram extraídos os conteúdos que
compuseram esta revisão. A extração dos dados apontou que a principal
consequência clínica é a morte súbita, seguida de disfunção diastólica,
isquemia miocárdica e regurgitação mitral. Dentre as consequências
psicológicas, destacam-se a ansiedade e depressão e nas sociais a instabilidade
financeira. A Figura 1 resume essas consequências.
Fonte:
Elaborada pelos autores
Figura 1 - Figura esquemática mostrando os
principais achados clínicos, psicológicos e sociais da cardiomiopatia
hipertrófica em atletas
Conclusão
De acordo
com os dados apresentados observamos que a principal consequência clínica em
atletas com cardiomiopatia hipertrófica é a morte subida. Dentre as
psicológicas as mais frequentes são depressão e ansiedade. Finalmente as
consequências sociais mais prevalentes são a interrupção da carreira de atleta
o que gera instabilidade financeira.
Referências
Desafios na prática de
atividade física em crianças e adolescentes com fibrose cística: uma revisão
sistemática
Lui Magalhães Carvalho1, Bruno Simões
Dias Gonçalves1, Regina Terse Ramos2
1Centro Universitário UNIFTC, Salvador, BA, Brasil
2Universidade Federal da Bahia, Salvador,
BA, Brasil
Correspondência: carvalholui@hotmail.com
Introdução
Os
benefícios da atividade aeróbica para a promoção da saúde das crianças e dos
adolescentes já estão bem definidos na literatura, entretanto, seus benefícios
para crianças e adolescentes com Fibrose Cística não estão claros. A Fibrose
Cística (FC) é uma doença genética autossômica recessiva que comumente afeta os
pulmões, pâncreas e glândulas sudoríparas desde a fase inicial da vida. É
causada por mutações na proteína reguladora da condutância transmembrana, que
desencadeia tanto uma diminuição como também pode interromper a passagem do íon
cloreto através das membranas das células endoteliais, resultando em secreções
com alto teor de sódio e cloreto. Isso leva à formação de muco viscoso nos
sistemas pulmonar, gastrointestinal, endócrino e reprodutivo.
Sabe-se
que o acometimento respiratório determina maior morbimortalidade nesta
população, que geralmente tem grande dificuldade de adesão à prática de
atividade física [1]. Afeta cerca de 70.000 pessoas em todo o mundo. Na União
Europeia, 1 em cada 2.000 a 3.000 recém-nascidos são afetados por FC, e nos EUA
esta frequência é de 1 em cada 3.500. Raskin estimou que a incidência de FC seja de 1 em cada
7.358 nascidos vivos no Brasil. O Registro Brasileiro de Fibrose Cística em
2018 reportou 5.417 indivíduos diagnosticados com Fibrose Cística, sendo 13 não
brasileiros (3 dos Estados Unidos, 2 austríacos, 2 portugueses, 1 espanhol, 1
libanês, 1 paraguaio, 1 suiço, 1 uruguaio, 1
venezuelano). No relatório consta a distribuição desses indivíduos por regiões
(Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste, Norte e sem informação), sendo detectada
grande variação entre eles [2]. A redução da tolerância ao exercício se deve
principalmente à menor capacidade respiratória e à má absorção de proteínas,
resultando em menor massa muscular, que levam a fadiga e exaustão mais
rapidamente, quando comparado com crianças e adolescentes saudáveis [1,3].
A aptidão
aeróbica demonstrou ser um importante preditor do prognóstico da FC. Crianças e
adolescentes com FC enfrentam muitos desafios quando comparados com crianças e
adolescentes saudáveis, resultando no abandono frequente da prática de
atividade física, especialmente aeróbica, que levariam à melhora clínica desses
pacientes [4]. Portanto o objetivo deste estudo foi descrever as dificuldades
da realização de atividade física para crianças e adolescentes com FC.
Métodos
Trata-se
de uma revisão sistemática, sem metanálise, de acordo
com as diretrizes do PRISMA. Foram incluídos artigos originais com dados
primários indexados nas bases eletrônicas Pubmed,
Medline, Scielo e Google Acadêmico, escritos em
língua inglesa, portuguesa ou espanhola, publicados nos últimos cinco anos, de
diversas metodologias. Para esta busca foram utilizados descritores em língua
portuguesa, inglesa e espanhola definidos de acordo com o DeCS/MeSH:”
criança” e “adolescente” e “fibrose
cística” e
“exercício físico” e “atividade
física” e “performance”, também
acompanhados
dos booleanos “or” e “and”
com seus correlatos na língua inglesa e espanhola. A amostra incluiu artigos
que versassem sobre as dificuldades ou barreiras que crianças e adolescentes
com FC apresentam para a realização de atividades físicas. Foram excluídos
artigos de revisão, série de casos e relato de caso. Após a realização das
leituras dos resumos que preencheram os critérios de inclusão, foram lidos na
íntegra por dois dos três pesquisadores, para identificar a relação com os
objetivos do estudo, sendo excluídos aqueles que não se adequavam à proposta,
e, na dúvida, requisitada a avaliação do terceiro pesquisador.
Resultados e discussão
Foram
encontrados 653 artigos dos quais foram excluídos por repetição 467. Após a
leitura dos títulos e resumos, foram excluídos mais 150 resultando em 36
artigos. Dois dos três pesquisadores fizeram a leitura na íntegra dos artigos
finalistas selecionados e escolheram em unanimidade qual artigo seria utilizado
no estudo. Após a discussão, concluiu-se que 28 artigos descreviam questões
pertinentes sobre atividade física aeróbica e fibrose cística em crianças e
adolescentes. Após leitura cuidadosa desses artigos, foram identificadas
barreiras físicas e sociais que contribuíam para a não adesão às práticas de
atividades físicas aeróbicas por esta população.
As
principais barreiras
físicas apontadas pelos artigos investigados foram: baixa
aptidão
cardiorrespiratória e sarcopenia, concomitante à
redução da força muscular. A
limitação respiratória é provocada
principalmente pela inflamação pulmonar
crônica que favorece a ocorrência de
infecções de repetição, associada a uma
elevada taxa de internação hospitalar [5]. As
inflamações sistêmica e pulmonar
afetam também a função cardíaca, com
aumento da frequência cardíaca e disfunção
endotelial, que desencadeiam pressões arteriais mais elevadas
durante as
atividades físicas.Também
foi constatado que a população com FC apresentou maior frequência cardíaca
basal e menor frequência cardíaca de recuperação em relação ao grupo controle.
A justificativa para isso, segundo os autores, é que indivíduos com FC
apresentaram maior impulso simpático, além de alteração do padrão respiratório,
maior demanda da respiração e aumento das catecolaminas circulantes.
O aumento
do gasto energético de repouso faz com que esses pacientes aumentem a
frequência cardíaca em decorrência de processos inflamatórios ocasionados por
aumento da circulação de citocinas pró-inflamatórias. A inflamação crônica e um
defeito intrínseco no músculo esquelético são causados pela falta do regulador
de condutância transmembrana FC (CFTR). A falta de CFTR causa anormalidades mitocondriais,
que podem interferir na produção e uso de energia. A função e as anormalidades
da CFTR prejudicadas levam a uma menor força e resistência muscular e maior
fadiga em pessoas com FC, limitando assim a aptidão física para uma prática
adequada de atividade aeróbica [5,6].
A dessaturação
de oxigênio no exercício na população com FC
pode ocorrer em função do prejuízo da
função pulmonar desencadeada pela doença.
O aumento do esforço demanda maior resposta ventilatória,
porém, como há
comprometimento pulmonar, as trocas gasosas são ineficientes,
havendo
incompatibilidade da relação
ventilação-perfusão e redução na
difusão de gases.
Outros
autores citam que a SpO2 é uma variável importante para determinar a
condição clínica do paciente com FC, pois a resposta da frequência cardíaca e
da SpO2 está associada à gravidade da doença. A redução da função
pulmonar é uma das principais consequências das comorbidades provocadas pela
FC. Klijn et al. [6] confirmam esse achado,
pois relatam que o desempenho no exercício aeróbico de pacientes com FC está
relacionado com declínio na função pulmonar e no estado nutricional, o que
impacta diretamente na distância caminhada.
As
principais barreiras sociais identificadas foram a desmotivação e as sensações
desagradáveis durante a prática de atividade física. Essas percepções foram
relatadas como: dor muscular, tosse, vergonha da incapacidade motora,
autoconceito físico deprimido e dispneia. E apesar da recomendação destas
atividades na rotina de cuidados destes pacientes, acontece um déficit das
equipes de saúde quanto ao conhecimento sobre essa necessidade e sobre a
importância de priorizar a prática de atividades aeróbicas e outros exercícios
na rotina terapêutica dos pacientes com FC [5,7].
Conclusão
Diante
dos estudos analisados, evidencia-se que as principais barreiras físicas de
crianças e adolescentes são as causadas pela disfunção pulmonar, cardíaca e
muscular. Tais fatores implicam em limitações da prática da atividade física
promovendo uma vida sedentária e percepções sociais como autoconceito físico
deprimido.
Referências
Conhecimento dos
discentes formandos de nível superior sobre pesquisa científica
Danielly Sacramento Nonato
do Amaral1, Jéssica Lima Silva1, Sindy
Kerole Andrade Mota1, Tiago da Silva Lopes1,2,
Jefferson Petto3,4,5
1Faculdade Adventista da Bahia,
Cachoeira, BA, Brasil.
2Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Salvador, BA, Brasil.
3Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
4Actus Cordios
Serviço de Reabilitação, Salvador, BA, Brasil.
5Centro Universitário UniFTC,
Salvador BA, Brasil
Correspondência: fisiodaniellynonato@gmail.com
Introdução
Nos
últimos anos, um crescente número de trabalhos tem mostrado a importância do
uso da abordagem de prática baseada em evidências entre os profissionais de
saúde de diferentes áreas, entretanto, para que esta abordagem seja feita
adequadamente, o profissional precisa saber avaliar criticamente a qualidade da
evidência científica encontrada e essa habilidade precisa estar presente desde
o início de sua carreira profissional [1-4].
Objetivo
Descrever
o conhecimento dos concluintes dos cursos de saúde sobre a pesquisa científica.
Método
Estudo
observacional de caráter descritivo e transversal, no qual foram incluídos
estudantes que estivessem no último ano dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia,
Medicina, Nutrição, Odontologia e Psicologia de faculdades do estado da Bahia,
Brasil. Foram excluídos os questionários incompletos. A pesquisa foi realizada
no período de novembro de 2020 a junho de 2021. A coleta de dados se deu
através de um questionário autoexplicativo, elaborado pelos autores da pesquisa
que continha 21 questões objetivas.
O questionário foi adaptado
pelos pesquisadores responsáveis e foi testado em 4 professores pesquisadores e
30 alunos a fim de identificar sua clareza e confiabilidade. O feedback deles
estava relacionado principalmente à estrutura do questionário e à ambiguidade
de algumas das perguntas originais. Através de discussões e revisões
sucessivas, este foi modificado para desenvolver uma versão final, que foi
composta tanto por questões originais como também por questões selecionadas de
questionários validados em estudos anteriormente aplicados [3,5,6] Os
resultados desses participantes não foram incluídos nos dados finais analisados
para este estudo. Após essa etapa de ajuste do questionário ele foi enviado via
online ou distribuído de forma impressa para os discentes.
O
questionário consistiu em três seções. A primeira seção teve como objetivo
conhecer o envolvimento do aluno com a pesquisa durante a graduação e foi
composta por perguntas objetivas com opções de resposta de SIM e NÃO. Respostas
positivas (SIM) aproximavam o candidato de um bom envolvimento, respostas
negativas (NÃO) evidenciaram pouca relação de envolvimento com a pesquisa. Em
relação às atividades acadêmicas extracurriculares, de pesquisa, ensino e
extensão, desempenhadas pelo discente durante a graduação, foi questionada a
participação do mesmo como monitor da matéria de metodologia da pesquisa,
cursos e workshops sobre o tema, participação em Programas Institucionais de
Iniciação Científica (PIBIC) ou em Linha de pesquisa e em Ligas Acadêmicas. A
segunda seção observou a relevância que o discente atribuiu a pesquisa para a
sua formação profissional, e foi composta por três opções de resposta:
concorda, discorda ou não tem opinião formada. A terceira e última seção teve
por objetivo identificar o conhecimento específico do aluno sobre a metodologia
da pesquisa científica.
Em
relação a pontuação da seção conhecimento, cada resposta correta equivalia a 1
ponto, tendo uma pontuação máxima de 10 pontos. Uma pontuação mais alta indica
maior conhecimento. O escore de conhecimento foi pontuado utilizando o critério
do estudo realizado por Soe et al. no qual foram definidos três níveis
de conhecimento, sendo alto (> 80% da pontuação total máxima possível, ou
seja, 9 ou 10 pontos), moderado (60% a 80% da pontuação total máxima possível,
ou seja, de 6 a 8 pontos) e baixo conhecimento (< 60% da pontuação total
máxima possível, ou seja, < 6 pontos). Os participantes foram orientados a
não utilizarem fontes de consulta como sites da internet, livros e artigos no
momento de preenchimento do questionário.
Resultados
Foram
incluídos 137 participantes, dos quais 71% eram mulheres, com idade 25 ± 5,5
anos. Quanto ao nível de conhecimento apresentado pelos discentes formandos,
12% dos estudantes obtiveram alto conhecimento sobre o método científico,
enquanto 39% apresentaram baixo conhecimento. A maioria dos estudantes, 48%,
possuíam conhecimento moderado do método científico. A média do escore de
conhecimento foi de 6 ± 1,98.
Acerca do
nível de envolvimento com as atividades extracurriculares de pesquisa e
extensão que são: PIBIC ou linhas de pesquisa, ligas acadêmicas, cursos e
workshops e monitoria, o gráfico 1 apresenta as porcentagens de participação
por atividade, destacando que as ligas acadêmicas foram as mais realizadas,
seguida de cursos e workshops. Importante destacar também, que 31% participaram
de apenas uma dessas atividades, 30% tiveram participação em duas das
atividades, 20% dos discentes tiveram maior envolvimento, participando de três
ou mais atividades e 19% não tiveram nenhuma participação.
Gráfico 1 - Participação nas atividades de
pesquisa e extensão
Ao
observarmos o gráfico 2, destacamos que os discentes que participaram de duas
ou mais atividades de extensão apresentaram melhor conhecimento de pesquisa do
que os que não participaram de nenhuma atividade F [12], P = 0.001.
Gráfico 2 - Comparação entre a participação em
atividades de pesquisa e extensão e o conhecimento sobre pesquisa científica
Foi
realizada uma análise de regressão linear múltipla (método forward)
com o objetivo de investigar em que medida as atividades relacionadas à
pesquisa e extensão (monitoria, ligas acadêmicas, linhas de pesquisa ou PIBIC e
cursos e workshops) são preditoras do escore de conhecimento do método
científico. Os resultados demonstraram haver uma influência significativa das
atividades de pesquisa e extensão no nível de conhecimento apresentado pelos
estudantes (F (3, 133) = 18,145, p < 0,001; R2 ajustado = 0,274). A tabela I
apresenta os coeficientes para todos os preditores significativos. Conforme
pode ser visto, a atividade que mais impactou nos níveis de conhecimento
apresentados foi linha de pesquisa ou PIBIC, explicando 21% do desfecho. As
demais atividades, por sua vez, estiveram relacionadas com apenas 7% da
variância do escore de conhecimento. A atividade de monitoria não apresentou
impacto significativo (B = - 0,021 t = - 0.278 p = 0,781).
Tabela I - Variáveis preditoras dos níveis de
conhecimento em pesquisa científica
R2 = Poder
em porcentagem do modelo de regressão linear
Conclusão
Discentes
formandos da área da saúde de Faculdades da Bahia apresentaram conhecimento
moderado sobre pesquisa científica, no qual, quanto maior a participação em
atividades de pesquisa, maior a média de conhecimento dos estudantes. Este
estudo mostrou que é provável que o conhecimento sobre o método científico
esteja relacionado ao nível de participação do aluno em atividades relacionadas
à pesquisa e extensão e, especificamente, a participação em atividades de linha
de pesquisa ou PIBIC.
Referências
Treinamento muscular
inspiratório em pacientes com mucopolissacaridoses: protocolo de estudo
Paloma Silva Lopes1,2,3,
Pedro Elias Santos Souza4, Jefferson Petto2,4,5, Marcos
Antônio Almeida Matos2,6
1Faculdade Adventista da Bahia (FADBA),
Cachoeira, BA, Brasil
2Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), Salvador, BA, Brasil
3Universidade Salvador (UNIFACS), Feira
de Santana, BA, Brasil
4ACTUS CORDIOS Reabilitação
Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador, BA, Brasil
5Centro Universitário UniFTC,
Salvador, BA, Brasil
6Santa Casa de Misericórdia da Bahia -
Hospital Santa Izabel, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: palomaslopes05@gmail.com
Introdução
As
mucopolissacaridoses (MPS) constituem um grupo de doenças metabólicas
hereditárias, raras, caracterizadas pela deficiência de enzimas lisossômicas
responsáveis pela degradação dos glicosaminoglicanos (GAGs)
[1]. A depender da deficiência enzimática presente, o acúmulo de GAGs específicos em diferentes órgãos e tecidos pode
resultar em implicações musculoesquelética, gastrointestinal, neurológica,
cardiovascular e pulmonar, configurando as mucopolissacaridoses como doença
sistêmica grave [1-3].
O
comprometimento da função cardíaca, pulmonar e musculoesquelética repercute na
capacidade funcional de pessoas com diagnóstico de MPS, em decorrência da baixa
tolerância ao esforço, fadiga debilitante, maior predisposição a infecções e
doenças respiratórias, dor e redução da mobilidade [4,5]. Com a progressão da
doença, a qualidade de vida, a capacidade para realizar atividades cotidianas,
o prognóstico e a sobrevida desta população são significativamente impactados
[4].
Exercícios resistidos têm
sido utilizados como estratégia terapêutica não medicamentosa em algumas
patologias e têm se mostrado eficazes na melhora das funções metabólica,
neuromuscular e cardiorrespiratória [6,7]. O treinamento muscular inspiratório
(TMI) pode ser eficaz para tratamento da condição pulmonar de pacientes com
MPS, tornando-se coadjuvante importante para melhora da capacidade funcional e
da qualidade de vida [8].
Desta
forma, o presente estudo tem o objetivo de testar a hipótese de que o programa
de treinamento muscular inspiratório pode modificar a capacidade funcional
submáxima e a função pulmonar de crianças e adolescentes com
mucopolissacaridoses.
Métodos
Desenho de estudo
Trata-se
de um estudo clínico controlado tipo crossover, a ser realizado com crianças e
adolescentes com diagnóstico de MPS confirmado por dosagem enzimática, com
idade entre 6 e 18 anos, de ambos os sexos, em acompanhamento ambulatorial no
serviço de Ortopedia de um hospital referência no estado da Bahia, e que tenham
anuência da equipe médica para prática do TMI.
Seleção da população e
critérios éticos
Considerando
que a MPS é uma doença rara, de baixa prevalência, será utilizada a estratégia
de amostragem por conveniência, na qual serão incluídos todos os pacientes
acessíveis. Serão excluídos os pacientes com alterações cardiovasculares
agudas, doença renal, presença de sintomas agudos nas últimas quatro semanas,
diagnóstico de outra patologia não associada à MPS, aqueles com alteração da
função cognitiva ou que não compreendam os comandos quanto ao que deve ser
feito durante os testes no momento da avaliação e/ou do TMI, pacientes em uso
de cadeira de rodas ou com outros distúrbios musculoesqueléticos que
inviabilizem a realização do teste de caminhada de seis minutos e os pacientes
que apresentarem instabilidade hemodinâmica no momento da avaliação ou do
treinamento respiratório.
Atendendo
às etapas exigidas pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa, o projeto de
pesquisa será enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Adventista da
Bahia, mediante cadastro na Plataforma Brasil. Após aprovação do projeto, o
protocolo de estudo será publicado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos.
Intervenção com
treinamento muscular inspiratório
Na
avaliação inicial, serão coletados dados sociodemográficos, antropométricos e
clínicos. Além disso, serão mensuradas variáveis ventilatórias e espirométricas, a exemplo de força muscular respiratória
(força dinâmica dos músculos inspiratórios – S-index e pressão expiratória
máxima), capacidade vital forçada, volume expiratório forçado no primeiro segundo, relação VEF1/CVF e pico de fluxo expiratório. Ainda
nessa etapa, serão identificados o limiar glicêmico através da glicemia capilar
e a capacidade funcional submáxima, através do teste de caminhada de seis
minutos.
Os
participantes serão distribuídos aleatoriamente em dois grupos, a partir da
ordem de realização da avaliação inicial. O primeiro participante avaliado será
alocado no Grupo I – Grupo com TMI (no qual será instituída intervenção com TMI
associado ao tratamento convencional estabelecido pela equipe médica
responsável do serviço, de acordo o tipo de MPS); o segundo participante
avaliado será alocado no Grupo II – Grupo sem TMI (constituído apenas do
tratamento convencional já em curso, sem outra intervenção específica); o
terceiro participante avaliado será alocado no Grupo I; o quarto participante
no Grupo II, e, assim, sucessivamente.
A
prescrição do TMI ocorrerá de forma individualizada, com base no limiar
glicêmico obtido na avaliação da resistência dos músculos inspiratórios,
através do teste progressivo máximo (teste muscular inspiratório incremental)
realizado com o dispositivo POWERbreathe® K5 [9].
E, para a
realização do programa de TMI, será utilizado o aparelho digital POWERbreathe® Plus Medic. O
protocolo de TMI terá a duração de dois meses consecutivos (8 semanas), devendo
ser realizada uma sessão diária, ao longo de cinco dias por semana,
consecutivamente, de preferência no mesmo horário. Cada sessão será composta
por três séries, cada uma com dez incursões respiratórias e descanso passivo de
1 minuto entre as séries. A carga inicial utilizada para o TMI corresponderá ao
percentual de carga do valor do S-index equivalente ao ponto de menor valor
glicêmico (LG) durante a execução do teste incremental. A progressão da carga
deverá ser realizada a cada duas semanas, acrescida a carga compatível com a
medida da percepção subjetiva ao esforço, através da escala de Borg, no ponto do limiar glicêmico.
Por se
tratar de um estudo cruzado, todos os participantes deverão ser submetidos a
ambos os procedimentos. Será mantido o protocolo de acordo com os respectivos
grupos e, ao final de dois meses, todos os indivíduos deverão ser reavaliados
quanto às variáveis ventilatórias, espirométricas e
capacidade funcional submáxima. No processo de caracterização das variáveis, os
dados clínicos serão definidos como variáveis independentes. Todas as variáveis
espirométricas e ventilatórias, assim como a
capacidade funcional submáxima, serão classificadas como variáveis desfecho.
Antes das análises serão realizados testes de simetria, curtose e a normalidade
dos dados será confirmada pelo teste Shapiro-Wilk. Variáveis numéricas com
distribuição normal serão descritas em média e desvio-padrão e, as com
distribuição não normal, em mediana e intervalo interquartil.
Plano de análise
estatística
As
variáveis categóricas serão apresentadas por frequência absoluta e relativa. A
população estudada será dividida em dois grupos, com TMI e sem TMI, para
comparação das variáveis do teste de caminhada de 6 minutos, variáveis
ventilatórias e espirométricas. Os testes aplicados
para análise das variáveis serão definidos de acordo com a distribuição dos
dados. Para comparação entre o período com TMI e após o período sem TMI,
referentes à capacidade funcional, variáveis espirométricas
e ventilatórias, será utilizado o teste ANOVA com medidas repetidas (para dados
com distribuição normal) e Teste de Kruskal Wallis
(para dados com distribuição não normal). A análise dos dados será realizada
utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences versão 20.0, adotando-se um nível de
significância de 5% para os testes estatísticos aplicados neste estudo.
Resultados esperados
Pretende-se,
através do treinamento muscular inspiratório, contribuir para melhora da
qualidade de vida de pacientes com MPS, uma doença multissistêmica
crônica e incapacitante, mediante a otimização da função pulmonar e da
capacidade funcional desses sujeitos e, assim, facilitar a assistência em saúde
a essa parcela da população.
Referências
Exercícios resistidos em
pacientes cardiopatas: revisão integrativa da literatura
Yuri de Araújo Tapparelli1,
Cledson William Hora dos Santos2, Thiago
Araújo de Melo3, Jorge Luís Motta dos Anjos4, Jefferson
Petto1,5
1Centro Universitário UniFTC,
Campus Salvador, Salvador, BA, Brasil
2Hospital Aliança, Salvador, BA, Brasil
3Centro Universitário Dom Pedro II,
Campus Patamares, Salvador, BA, Brasil
4Faculdade Social da Bahia, Salvador, BA,
Brasil
5Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
6Actus Cordios
Reabilitação Cardiovascular, Salvador, BA, Brasil
Correspondência: yuri.tapparelli@unisba.edu.br
Introdução
As
doenças do sistema cardiovascular são as principais causas de hospitalização e
de óbito no Brasil, sendo a síndrome coronária aguda (angina instável e infarto
agudo do miocárdio) a mais representativa na atualidade, correspondendo a 32,6%
dos óbitos de causa determinada [1]. Apesar dos estudos [2,3] evidenciarem os
benefícios de programas de reabilitação cardíaca, uma atualização a respeito
dos atributos utilizados para prescrição de exercícios resistidos para
cardiopatas é necessária, sobretudo para orientar a implementação de programas
de reabilitação utilizados atualmente na prática clínica.
Objetivo
Sistematizar
o conhecimento concernente a prescrição de exercícios físicos resistidos para
os pacientes cardiopatas, considerando as suas modalidades, características,
desfechos e riscos associados.
Método
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura com a inclusão de ensaios clínicos
randomizados, estudos de caso, série de casos e estudos longitudinais.
Utilizaram-se as bases de dados Medline, Pubmed e Lilacs para selecionar artigos publicados entre 2002 e
2020. Os estudos relevantes foram obtidos através da utilização de descritores
contidos no MeSH (Medical Subject
Headings) para a pesquisa no Medline/Pubmed, e descritores contidos no Decs
(Descritores em ciências da saúde) para as outras bases de dados estipuladas.
A
pesquisa foi realizada por 02 (dois) pesquisadores, que inicialmente
selecionaram e confrontaram entre si, através dos títulos e resumos, os
trabalhos que se enquadravam nos critérios de inclusão proposto. Nos casos em
que não houve consenso, um terceiro pesquisador foi consultado. Após essa
primeira fase, os artigos foram lidos na íntegra e novamente confrontados entre
os pesquisadores no intuito de avaliar se atendiam aos critérios de inclusão e
mais uma vez, em casos de não concordância, foi consultado um terceiro.
Selecionados os estudos, estes foram organizados em forma de tabela, com
informações a respeito do autor, ano, objetivo do trabalho, metodologia
aplicada, resultados e conclusões desses.
Resultados
Após a
seleção foram incluídos e analisados 5 estudos.
Conclusão
Diante dos
resultados apresentados, concluiu--se que os
exercícios resistidos são bem tolerados por cardiopatas, conduzindo-os
sobretudo ao desenvolvimento de força muscular e melhora da qualidade de vida.
Resistência elástica e mecanoterapia foram as principais modalidade utilizadas
pelos estudos, sendo a percepção de esforço (BORG) e o teste de 1RM as
ferramentas mais utilizadas para orientar a prescrição. Vale ressaltar que a
prescrição deve ser individualizada considerando fatores inerentes a capacidade
física do indivíduo bem como a sua devida estratificação de risco para o
protocolo de exercícios.
Referências
Insuficiência cardíaca
crônica dilatada: qual o benefício da reabilitação cardiovascular? relato de
caso
Marcos Eduardo Freitas1,2,
Edna Conceição de Oliveira3, Jefferson Petto1,2,4
1Faculdade CTA – Centro de Treinamento
Acadêmico, São Paulo, SP, Brasil
2Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
3FADBA - Faculdade Adventista da Bahia, Capoeruçu, BA, Brasil
4Centro Universitário UniFTC,
Salvador, BA, Brasil
Correspondência: petto@cardiol.br
Introdução
O coração
é um órgão nobre que pode responder a diferentes estímulos com adaptações em
sua morfologia, evento chamado de remodelamento miocárdico [1]. Estas
adaptações podem ser positivas, como no caso da hipertrofia excêntrica, quando aumenta-se a massa ventricular e sua contratilidade, sem
alterar o volume na cavidade, ou mesmo patológica, como ocorre na hipertrofia
concêntrica ou dilatação da câmara do ventrículo esquerdo [1]. Uma das estratégias para o controle destas condições é o
exercício físico (EF). O EF é capaz de reorganizar o sinal celular no tecido
cardíaco e reverter a hipertrofia concêntrica ou dilatação ventricular, através
do chamado remodelamento miocárdico reverso [2,3].
Objetivo
Descrever
o efeito de um programa de reabilitação cardiovascular supervisionada (RCS)
sobre a capacidade funcional, qualidade de vida e geometria cardíaca de uma
paciente com insuficiência cardíaca crônica dilatada (ICCD).
Descrição do caso
ESNS,
sexo feminino, sedentária, 67 anos, índice de massa corporal (IMC) 28,5 kg/m²,
hipertensa há 30 anos com diagnóstico de ICCD, grau III segundo a New York
Heart Association (NYHA), com fração de ejeção (FE)
reduzida 20% (Teicholz), bloqueio de ramo esquerdo
completo, em uso de cardiodesfibrilador implantável
(CDI), tradada com digoxina 25mg, atorvastatina 40 mg, somalgin
100 mg, diveol 6 mg, aldactone
25 mg e enalapril 10 mg. No ecodopplercardiograma,
constatou-se déficit na função sistólica, relaxamento diastólico anormal do
ventrículo esquerdo, hipertrofia excêntrica com volume diastólico final de 223
ml, massa ventricular esquerda de 255 g. Ingressou na RCS relatando dificuldade
em realizar suas AVDs.
Resultados
A RCS
consistiu em esteira ergométrica, treinamento neuromuscular e treinamento
muscular inspiratório (TMI). Iniciou apenas com treino neuromuscular, carga
baseada na Escala de percepção subjetiva de esforço de Borg
(7-9); TMI ajustado através da Pimáx, com
10% cmH2O de resistência. O treino foi periodizado a cada 2 meses. No
ecocardiograma pré e pós RCS, a FE passou de 20 para
40%, a massa ventricular esquerda de 255 para 128 g, evidenciando remodelamento
miocárdico reverso. Após a RCS, o teste de esforço foi realizado, chegando a
84% da frequência cardíaca máxima prevista 6,5 Equivalentes Metabólicos
(METS).
Conclusão
Este
relato de caso sugere que o programa de RC foi importante para promover melhora
na capacidade funcional e condição clínica, além de melhorar a QV de uma
paciente com ICCD.
Referências