REVISÃO
Potencialização
pós-ativação: uma revisão integrativa
Post-activation potentiation: an integrative review
Matheus Gagliardi
Madeira Blum Kuntz*, Marianna Jacobina Ribeiro*, Mateus Medeiros Leite**,
Alessandro de Oliveira Silva, D.Sc.***,
Maurílio Tiradentes Dutras, M.Sc.****,
Diogo Vilela Ferreira, M.Sc.****
*Especialista
em Musculação e Treinamento de Força, Faculdade de Educação Física,
Universidade de Brasília (UnB), Brasília/DF, **Graduando em Educação Física,
Faculdade de Ciências da Educação e da Saúde, Centro Universitário de Brasília,
UniCEUB, Brasília, DF,
***Professor da Faculdade de Ciências da Educação e da Saúde, Centro
Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasília, DF,
****Faculdade de Educação Física, UnB, Brasília/ DF
Recebido em 12 de
julho de 2017; aceito em 27 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Mateus Medeiros Leite, Centro Universitário de Brasília, SEPN 707/907 campus do
UniCEUB Asa Norte 70790-075
Brasília DF, E-mail: mateus.edf@outlook.com; Matheus Kuntz:
blumkuntz@gmail.com; Marianna Ribeiro:
mariannajribeiro@gmail.com; Alessandro Silva:
silva.alessandro.oliveira@gmail.com; Maurílio Dutras:
mauriliotiradentes@gmail.com; Diogo Ferreira: ferreira.diogov@gmail.com
Resumo
Introdução: A Potencialização
Pós-Ativação (PPA) é um fenômeno que pode ser definido como uma melhora
temporária no desempenho muscular através de um prévio aquecimento utilizando
exercícios de força ou exercícios pliométricos. Objetivo: O objetivo desta revisão
integrativa é analisar as teorias que suportam a existência da PPA, a fim de
avaliar sua existência e sua eficiência como método de treinamento para ganho
de potência. Método: Trata-se de um estudo de revisão integrativa. Para a busca
de artigos foram utilizadas as bases de dados Google acadêmico, Pubmed e Scielo. A busca foi
restrita a trabalhos publicados no período de 2007 a 2014 e foram encontrados
17 artigos que se encaixavam nos critérios de inclusão. Resultados: Ainda há controvérsias em relação à
real ocorrência da PPA. No entanto, estudos apontam três fortes teorias de como
esse fenômeno aconteceria. Aparentemente, a PPA é um fenômeno ligado ao
princípio da individualidade biológica e, por enquanto, não há uma explicação
exata de como ocorre. Os diferentes protocolos usados nos estudos estão entre
as causas dos resultados controversos relatados na literatura. Conclusão: A PPA pode ser classificada
como um fenômeno de existência comprovada, mesmo não se sabendo ao certo como
este fenômeno acontece.
Palavras-chave:
Potencialização-Pós-Ativação, força, potência, hipertrofia.
Abstract
Introduction: Post-Activation Potentiation (PAP) is a phenomenon defined as a
temporary improvement without muscular performance through a previous warm up
using strength exercises or plyometric exercises. Objective: The aim of this integrative review is to analyze the
theories that support the existence of PAP, in order to evaluate its efficiency
as a training method for power gain. Methods: This is an integrative review of
the literature. Databases used for articles search was Google Scholar, Pubmed and Scielo. The search was
restricted to papers published from 2007 to 2014 and 17 articles were found to
fit in the inclusion criteria. Results:
There is still controversy regarding the actual occurrence of PAP. However,
studies point to three strong theories of how this fact would happen.
Apparently, PAP is a phenomenon linked to the principle of biological
individuality, and, currently, there is no exact explanation of how it occurs.
The different protocols used in the studies are among the causes of the
controversial results reported in the literature. Conclusion: PAP can be classified as a fact of proven existence,
even if it is not known for sure how it happens.
Key-words:
Potentiation-Post-Activation, strength, power, hypertrophy.
Potencialização
pós-ativação (PPA) é o aumento transitório no desempenho contrátil do músculo
depois de uma atividade contrátil prévia, como um aquecimento utilizando
exercícios de força ou exercícios pliométricos [1].
Mais especificamente, pode ser definida como o aumento na capacidade de
produção de potência muscular (PM) observada após a realização de estímulos
voluntários máximos ou próximos ao máximo, sendo assim postulado que movimentos
explosivos podem ser aprimorados se precedidos por um
exercício de resistência intenso [1-4]. Nesse sentido, a pliometria
se refere a exercícios elaborados para o aumento de massa muscular, sobretudo
através do treino de saltos, podendo ser realizados de várias formas,
dependendo dos propósitos de um programa de treinamento [5-9].
O propósito de muitos
praticantes de treinamento de força e/ou pliométrico
é o aumento da PM. Nesse sentido, a potência pode ser definida como a taxa ou a
velocidade em que o trabalho é realizado, ou somente como o produto entre força
e velocidade. Exercícios que trabalham essa capacidade podem ser efetivos para
o aumento do desempenho esportivo. Mais além, o treinamento de PM é importante
para o desempenho funcional em atividades da vida diária, e também para ganhos
de massa muscular, e nesse sentido alguns pesquisadores têm proposto a PPA como
um método para aumentar a produção de PM [3,4].
Atualmente, há um
consenso na literatura sobre a existência da PPA. A grande questão para os
pesquisadores é a respeito do protocolo da atividade condicionante para que
essa possa de fato ocorrer e resultar em um aumento do desempenho, já que são
muitas as variáveis de treinamento que podem ser manipuladas. Ademais, estudos
procuram apontar diferentes teorias sobre os mecanismos fisiológicos envolvidos
na ocorrência desse fenômeno. Por isso, alguns estudos têm mostrado resultados
conflitantes, dependendo de como a atividade prévia é realizada [10-12]. Tais
divergências de resultados podem estar ligadas aos diferentes protocolos que
foram utilizados para a estimulação e avaliação da PPA. Além disso, salienta-se
na literatura que a má execução do exercício de aquecimento pode gerar fadiga,
o que atrapalharia o surgimento da PPA [13,14].
De fato, a PPA tem
sido alvo de investigações científicas recentes, seja
com atletas ou não atletas, que buscam entender seus mecanismos e os protocolos
eficazes em provocar sua ocorrência e, por conseguinte, melhora no desempenho
físico. Assim, o objetivo desta revisão integrativa foi analisar a literatura
atual acerca do tema e discutir, não somente as teorias que suportam a existência
da PPA, mas também a manipulação das variáveis que influenciam a PPA em
diferentes populações.
Realizou-se uma
revisão integrativa da literatura. A busca de artigos foi realizada nas
seguintes bases eletrônicas: Google acadêmico, Pubmed/Medline (US National Library of Medicine)
e Scielo (Scientific Electronic Library Online),
utilizando-se os seguintes
termos selecionados: Potencialização
pós-tetânica, potencialização
pós-ativação
e suas respectivas traduções para o idioma inglês.
Os critérios de inclusão
para a seleção dos artigos foram: 1) estudos publicados
em revistas indexadas;
2) estudos publicados em inglês e/ou português; 3) estudos
realizados com seres
humanos de ambos os sexos; 4) pesquisas originais; 5) estudos
publicados a
partir de 2007 até 2015. Estudos realizados com modelo animal
foram excluídos.
Foram encontrados 178 artigos potencialmente selecionáveis para
compor a
presente revisão. Uma análise inicial foi realizada com
base nos títulos dos
manuscritos, em seguida, procedeu-se a análise dos resumos e,
por fim, foram
selecionados os 17 artigos que se encaixaram nos critérios de
inclusão, como
indicado na Figura 1.
Fonte: elaborado pelos
autores, 2016.
Figura
1 - Metodologia de seleção e revisão de artigos.
Os dezessete estudos
selecionados para compor a presente revisão estão presentes resumidamente no
Quadro 1.
Quadro 1 - Principais características e achados dos estudos que avaliaram a PPA.
M = Mecânico; M.E =
Mecânico e elétrico; P = Houve potencialização; N.P = Não houve
potencialização; P.I = Potencialização individual.
A partir da análise
dos estudos selecionados para compor a presente revisão, optou-se por dividir a
análise e discussão dos seus resultados em tópicos, elencados a seguir.
Eventualmente, dados de estudos anteriores a 2007 são mencionados no intuito de
fundamentar alguns argumentos elencados no texto.
Possíveis
mecanismos da PPA
Apesar das
investigações sobre a existência da PPA serem limitadas e conflitantes [10,11,15], tem sido postulado na literatura que contrações
máximas ou próximas da máxima podem aumentar a capacidade contrátil do músculo
em contrações subsequentes, incrementando sua capacidade de rendimento.
Estudos apontam três
fortes teorias e mecanismos principais responsáveis pela ocorrência da PPA
[10,12].
O primeiro deles é a
fosforilação das cadeias regulatórias leves da miosina. Esse processo começa
quando, após uma atividade prévia, há uma maior liberação do cálcio por parte
do retículo sarcoplasmático e aumentando a concentração do mesmo no sarcoplasma, levando a um aumento no processo de formação
do complexo cálcio/calmodulina, que consequentemente
aumentaria a ativação da enzima quinase de cadeia
leve de miosina, que media a fosforilação e é ativada pela presença de cálcio.
Uma contração condicionante pode induzir uma maior liberação desse íon,
aumentando a ativação da enzima quinase e
consequentemente a fosforilação das cadeias regulatórias leves da miosina.
Assim, o aumento da sensibilidade ao cálcio em associação com a fosforilação
das cadeias regulatórias leves da miosina é considerado o mecanismo primário da
PPA [5,16].
A fosforilação das
cadeias regulatórias leves de miosina altera a conformação das suas pontes
cruzadas, colocando suas cabeças em uma posição mais próxima dos filamentos de actina [10,12]. Isso implica em uma maior probabilidade de
interação entre os filamentos e consequentemente maior tensão no músculo. Mais
além, faz com que a interação actina-miosina se torne
mais sensível ao cálcio liberado pelo retículo sarcoplasmático e também com que
essa interação tenha uma maior duração. Em decorrência dessa maior
sensibilidade ao cálcio, um número maior de pontes cruzadas passa a ser
ativado, gerando um torque muscular superior ao observado sem a potencialização
[17-20].
O segundo mecanismo
seria decorrente de alterações no padrão de ativação neural, levando a um
aumento do recrutamento de unidades motoras de limiar mais elevado e a elevação
da excitabilidade neural [5,11,12,17]. Segundo Tillin & Bishop [10], uma contração condicionante eleva
a transmitância de potenciais de excitação através de junções sinápticas na
medula espinhal. Como resultado, há um aumento em potenciais pós-sinápticos
para o mesmo estímulo pré-sináptico durante a atividade subsequente. Ademais,
há outros mecanismos neurais que poderiam ser responsáveis
pela PPA, como aumento da excitabilidade, recrutamento e sincronização de
unidades motoras, melhora na sincronia dos disparos dos impulsos
nervosos, diminuição da influência de mecanismos inibitórios centrais e
periféricos e aumento da inibição recíproca da musculatura antagonista e
aumento da atividade da musculatura sinergista [11].
De acordo com Batista
et al. [12], a PPA pode ser avaliada
através do Reflexo H, que é um reflexo artificial que tem como finalidade
avaliar a excitabilidade da via reflexa a partir de choques em nervos
periféricos. A resposta do sistema neuromuscular é registrada por eletromiografia
[21]. Nesse sentido, no estudo realizado por Hodgson et al. [15], que teve por objetivo
quantificar o efeito da PPA sobre a produção de força voluntária e a
excitabilidade espinal do reflexo H durante a prática de flexão plantar
explosiva, 13 indivíduos do sexo masculino treinados foram avaliados. Os
protocolos foram elaborados para quantificar o perfil temporal de PPA, que foi
medido por contrações isométricas induzidas e estabilidade neural refletida
pelas mudanças de amplitude do Reflexo H. O efeito de PPA foi medido a partir da flexão plantar realizada de maneira explosiva. Os
voluntários foram submetidos a uma sessão experimental de aproximadamente duas
horas e meia e composta de 5 minutos de aquecimento na bicicleta e de quatro
testes experimentais. Esses foram executados em ordem aleatória e separados por
15 minutos de descanso. Cada um dos quatro testes experimentais requereu uma
execução de três contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) de 5
segundos de duração com 55 segundos de descanso entre elas. Subsequentemente,
respostas do Reflexo H e flexões plantares explosivas foram gravadas. O estudo
mostrou que houve um significante aumento na força da contração muscular
seguindo uma série condicionante de CIVM que provocaram pequenos aumentos na
taxa de desenvolvimento de força, conforme medido em períodos não contínuos,
durante flexões plantares isométricas explosivas. Não houve efeito das CIVM no
pico de torque voluntário, na média de taxa de desenvolvimento de força ou no
reflexo H.
Outro possível
mecanismo é uma alteração na arquitetura do musculoesquelético, mais
especificamente no ângulo de penação, que afeta a transmissão de força para
tendões e ossos. Segundo Lieber e Fridén
[22], embora muita atenção seja dada a fatores como a distribuição do tipo de
fibra como determinante da função muscular, não há dúvida que sua função seja
mais fortemente determinada pela arquitetura do músculo. Em outras palavras, há
uma relação entre o posicionamento das fibras musculares no seu eixo de geração
de força e a transmissão de tensão. Quanto maior o seu ângulo de inclinação em
relação ao eixo de força, menor a eficiência da transmissão de tensão. Em
contrapartida, a produção de tensão pode ser maior quanto menor for o ângulo de
inclinação das fibras musculares, pois em musculaturas penadas, um aumento no
ângulo de penação resulta no aumento de unidades motoras por área de secção
transversa [22]. Nesse sentido, de acordo com Mahlfeld
et al. [23], o ângulo de inclinação das
fibras musculares diminui nos instantes após à realização de contrações
voluntárias máximas, uma vez que ângulos de penação menores têm uma vantagem
mecânica em relação à transmissão de força para os tendões e espera-se que esta
modificação aguda na arquitetura muscular cause alterações positivas após a
ativação prévia [10,23]. Ou seja, o ângulo de penação dos músculos seria um
fator relevante para o ganho de potência muscular, de maneira que o
posicionamento mais oblíquo das fibras musculares em relação ao eixo de
produção de força favorece a geração de tensão [10,23].
PPA e
taxa de desenvolvimento de força
O efeito da
potencialização parece não aumentar diretamente a força máxima, mas sim a taxa
de desenvolvimento de força (TDF), que se refere à capacidade que o músculo tem
de produzir um determinado nível de força em um determinado intervalo de tempo.
Como resultado, tem-se uma velocidade maior para uma força específica, ou
vice-versa, o que aumenta a potência mecânica e sua associação com o desempenho
esportivo [19,20,24]. Assim, estando a TDF intimamente
relacionada ao desempenho, poder-se-ia pensar que a PPA é capaz de melhorar o
desempenho em esportes e atividades que requerem características explosivas,
sendo amplamente utilizada por treinadores e atletas tanto nas fases de
treinamento como nas próprias competições como forma de aquecimento [25-27].
Fatores
que influenciam a PPA
A eficácia pela qual
a atividade prévia propiciará um aumento agudo do desempenho por estimular os
mecanismos da PPA depende do balanço entre potenciação e fadiga, que são
processos antagonistas, mas que coexistem por algum tempo depois da contração condicionante.
Digno de nota, é geralmente apontado que os músculos
com a distribuição predominantemente formada por fibras de contrações lentas
têm menor redução de torque e maior duração até a fadiga do que os músculos com
menos fibras de contração lenta, como o quadríceps ou tríceps braquial [28]. A
fadiga parece dominar os estágios iniciais do descanso após a contração e por
isso pode haver uma diminuição ou nenhuma alteração do desempenho nesse
período. Assim, existirá desempenho aumentado na execução bem-sucedida somente
quando a PPA exceder a fadiga. Se o oposto acontecer, o desempenho diminuirá [16,17,27].
A relação entre esses
dois fenômenos e o real efeito no desempenho é influenciada pelas variáveis de
treinamento, que determinarão qual dos dois será
predominante. Esses fatores incluem desde as características do protocolo de
treinamento (volume, intensidade, intervalo de recuperação) até as
características genéticas e relacionadas aos tipos de fibras, como força
muscular e estado de treinamento. Apesar dos numerosos estudos conduzidos,
muitas vezes com resultados conflitantes, não se tem ainda um consenso a
respeito do protocolo ideal a ser utilizado em indivíduos não treinados,
treinados e atletas, e dos reais benefícios gerados pela PPA. Mais além, a
vasta combinação de fatores que afetam a PPA, possibilitando assim a utilização
de diversas metodologias, pode justificar os resultados contraditórios
encontrados em alguns estudos [8].
Imediatamente, após
uma atividade condicionante, a fadiga é superior a potencialização, fazendo com
que o desempenho não se altere ou até mesmo diminua nesses instantes iniciais
[27,29]. Porém, sabendo que a fadiga diminui em um ritmo mais rápido do que a
própria PPA, é possível que em algum ponto posterior do intervalo de
recuperação o desempenho possa ser potencializado [10]. Corroborando essa
afirmação, foi realizado um estudo com 23 atletas de rugby,
sendo 13 deles profissionais, no intuito de determinar o intervalo ideal de
descanso necessário para observar um aumento na atuação em uma atividade
explosiva depois de um estímulo prévio [27]. Para a avaliação, os atletas
realizaram 7 saltos contra movimento e 7 arremessos
balísticos de supino após uma série condicionante de 3 RMs.
Os voluntários repetiram os saltos e arremessos balísticos 15 segundos, 4, 8,
12, 16 e 20 minutos após a série condicionante. Os achados mostraram que
intervalos de recuperação de 8 - 12 minutos culminaram com um aumento no pico
de potência em membros superiores e inferiores. Em contrapartida, intervalo de
4 minutos, assim como 16 ou 20 não mostraram diferenças significativas. Os
autores concluem que o desempenho muscular pode ser aumentado depois de um
exercício de resistência intenso se um intervalo de recuperação suficiente (8 –
12 minutos) for empregado.
De forma geral, se um
intervalo mais longo for selecionado, o desempenho pode melhorar desde que a
fadiga se dissipe em um ritmo mais rápido e a potencialização comece a se
manifestar [5]. Assim, uma janela de oportunidade para a PPA parece ser curta,
de 4 – 11 minutos [30], ou com uma margem menor ainda, de 3 – 5 minutos [12].
Ainda com o objetivo de verificar a influência do intervalo de recuperação, Jo et al. [6] não encontraram diferenças na
performance quando comparados 5, 15, 10 ou 20 minutos depois do mesmo estímulo
condicionante em homens recreacionalmente treinados.
Nesse estudo, foi sugerido que além do intervalo, discrepâncias na força
individual podem ter influência na potencialização dos sujeitos, de maneira que
indivíduos treinados teriam uma melhor reposta de PPA do que indivíduos não
treinados.
Desse modo, sugere-se
que a resposta à contração condicionante dependa do estado de treinamento do
indivíduo. Em uma análise com atletas e indivíduos recreacionalmente
treinados no desempenho de salto após um protocolo de 5
séries de 1 repetição a 90% de 1 RM, nenhuma diferença significativa foi
encontrada antes e depois do estímulo, comparando o grupo como um todo. Porém,
os atletas avaliados tiveram significativo aumento em relação aos parâmetros de
força e potência comparados aos não atletas, sugerindo que estimular a PPA pode
ser um método viável para aumento agudo do desempenho de força explosiva
somente em atletas [25].
Mais além, estudos
que encontraram esses mesmos resultados não os atribuem somente ao nível de
experiência dos indivíduos, mas também a força individual e maior resistência à
fadiga que têm esses sujeitos. Sabe-se então que o nível de força é um
importante determinante na resposta da PPA.
A manifestação da PPA
é também afetada pelas características das fibras musculares. Indivíduos com
alta quantidade de fibras tipo II parecem responder de forma mais eficiente a
PPA. O motivo seria pelo efeito combinado de que essas fibras apresentam maior
fosforilação das cadeias regulatórias leves da miosina e pelo aumento no
recrutamento de unidades motoras de limiar mais elevado. É sabido que há uma
relação positiva entre força muscular e quantidade de fibras tipo II. O gastrocnêmio, por exemplo, tendo uma maior porcentagem de
fibras tipo II, apresenta maior PPA em comparação ao sóleo.
Em contrapartida, nenhuma correlação foi encontrada entre PPA em extensores do
joelho e a porcentagem de fibras tipo II em um dos extensores do joelho, o
vasto lateral [31]. Em relação ao tipo de contração, foi reportado que a PPA
pode ocorrer com contrações dinâmicas ou isométricas [5,30].
Aparentemente, a
intensidade e a duração do estímulo condicionante podem influenciar a
manifestação da PPA. Baudry e Duchateau
[26] observaram que a PPA foi significativa após contrações balísticas que
foram realizadas em intensidades baixas como, por exemplo, 20% de 1RM. No
entanto, uma pesquisa de Requena et
al. [32], que investigou a PPA após uma contração isométrica voluntária máxima
induzidas eletricamente nos extensores do joelho, reportou que uma contração
isométrica voluntária máxima dos extensores do joelho em 25% de 1 RM não foi
suficiente para induzir PPA. Para de fato ser efetiva, postula-se que a
atividade condicionante deve ser de alta intensidade, isto é, contrações
condicionantes máximas ou próximas da máxima. Estudos que encontram aumentos no
desempenho com intensidades mais altas tendem a apoiar o fato de que alguns
mecanismos sensíveis à tensão são parcialmente responsáveis pelo fenômeno [25].
Em contrapartida, quanto mais intenso e prolongado for o exercício, maior será
a fadiga.
Além disso, o sexo
parece ser uma variante em potencial quando se trata de calcular a PPA devido
às diferenças na composição das fibras musculares. Homens têm uma maior área da
secção transversa de fibras do tipo II em comparação as mulheres; em
contrapartida, mulheres exibem maior resistência à fadiga devido a menor taxa
na relação contração/espasmo. Entre o número de fatores que podem
potencialmente influenciar na magnitude de PPA, o efeito do gênero recebeu
pouca atenção. Tsolakis et al. [13] realizaram um estudo em que o objetivo primário era
examinar o efeito de contrações isométricas e pliométricas
no desempenho explosivo de membros superiores e inferiores medidos pelo
exercício supino e salto contra movimento em esgrimistas de elite de ambos os
sexos. O estudo partiu da premissa de que homens e participantes mais fortes
teriam um maior desempenho induzido por PPA comparado a mulheres e
participantes mais fracos. Os voluntários realizaram aquecimento e alongamento,
3 saltos contra movimento, 3 séries de leg press 45º, e 3 arremessos de
supino com 4 minutos de descanso (tempo escolhido pelos autores do estudo por
ser um tempo de descanso comum entre os atletas de esgrima). Os autores
observaram que o exercício pliométrico comumente
utilizado como parte das rotinas de aquecimento de esgrimistas de elite não
oferece nenhuma vantagem de desempenho tanto no salto contra movimento quanto
no arremesso de supino em ambos os sexos. Por outro lado, o exercício
isométrico de pré-condicionamento resultou em
diminuição do pico de força dos membros inferiores apenas nos atletas do sexo
masculino, possivelmente devido à maior fadiga muscular gerada por uma maior
produção de força nesses indivíduos durante o protocolo de PPA.
Tal afirmativa
encontra algum respaldo na literatura quando se analisa o estudo de Sygulla e Fountaine [14]. Esses
autores realizaram um estudo que envolvia apenas mulheres. Foram recrutadas 29
atletas da segunda divisão de diversos esportes (basquete, softball
e voleibol) da National Collegiate
Athletic Association - NCAA (Associação Nacional
de Atletas do Colegial dos Estados Unidos da América). Os testes iniciavam com
salto contra movimento e, em seguida, 3 repetições de
agachamento realizado a 90% de 1RM e com 5 minutos de descanso. Os autores não
observaram PPA em sua amostra e afirmam que a mesma parece estar ligada a
individualidade biológica.
Em outro estudo com
voluntários de ambos os sexos na amostra, Chochrane et al. [33] afirmam que o aumento da temperatura
intramuscular pode influenciar no aumento da potência, independente do sexo. O
estudo foi realizado com 6 homens e 6 mulheres e teve
como objetivo averiguar se as contrações musculares e os reflexos patelares são
potencializados simultaneamente após a execução de diferentes exercícios, a
saber, agachamento estático com e sem vibração corporal e ciclismo. Os autores
afirmam que o aumento de temperatura induzido pelos exercícios provoca a PPA, e
que o agachamento realizado com vibração corporal induz maior potencialização
comparado aos outros dois protocolos.
No estudo de Mola et al. [34], o objetivo também foi
determinar o melhor tempo de descanso para provocar PPA depois de um pico de
exercício de resistência de alta intensidade em jogadores de futebol
profissionais. Vinte e dois atletas jovens de futebol foram aleatorizados em
grupo experimental e grupo controle. Os dois grupos executaram um aquecimento
padrão e saltos contra movimento preliminares seguidos de 10 minutos de
descanso. O grupo controle então executou um salto contra movimento por 15
segundos e tornou a realiza-los em 4, 8, 12, 16 e 20 minutos, enquanto o grupo
experimental executou 3 RMs
no agachamento e depois o mesmo protocolo de salto contra movimento que o grupo
controle. Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos para
picos de força no salto contra movimento ou na altura do salto. Além disso, não
foi observado efeito no tempo para o pico de força ou na altura do salto
durante os testes do grupo experimental. Mas alguns atletas responderam ao
estímulo e mostraram diferentes perfis de PPA em 4, 12 e 16 minutos depois da
contração de condicionamento e aqueles que não responderam não apresentaram
diferenças. A série de 3 agachamentos de RM não foi
suficiente para potencializar de forma aguda todos os participantes na execução
do salto contra movimento. Esse resultado sugere que os profissionais de força
e condicionamento precisam individualizar as janelas de recuperação e
identificar atletas que respondem a PPA antes de submetê-los a uma complexa
intervenção de treinamento [34].
Em relação ao
desempenho de velocidade após um estímulo potencialmente indutor de PPA, o
estudo de Chatzopoulos et al. [35], objetivou investigar se 15 jogadores jovens amadores de
diversos esportes (futebol, basquete, voleibol e handebol) teriam um acréscimo
na velocidade de corrida depois da realização de um exercício de estímulo forte
de resistência (10 repetições de agachamento a 90% de 1 RM). Ao final do
estudo, os autores puderam concluir que houve uma melhora na velocidade dos
participantes. Por outro lado, Smith e Fry [36]
realizaram um estudo que tinha como objetivo avaliar se 10 segundos de CVM
(contrações voluntárias máximas) a 70% no vasto lateral seriam o suficiente
para induzir a PPA em 11 homens ativos recreacionalmente.
Para a avaliação, foram realizadas biópsias antes e depois do estímulo
condicionante. Como resultado, não foi constatado diferença em relação a ganhos
de força e velocidade, o que indica que não houve potencialização com esse tipo
de protocolo. Os resultados discrepantes de Chatzopoulos
et al. [35] e Smith e Fry
[36] reforçam o alerta de que a PPA depende de diversas variáveis para que
ocorra, inclusive do tipo de protocolo de exercício condicionante. Vale
mencionar, contudo, que Esformes, Cameron e Bampouras [37] afirmam que tanto exercícios resistidos
quanto pliométricos podem ser eficientes em induzir
PPA.
Em adição, Esformes e Bampouras [38]
realizaram outro estudo com 27 jogadores semiprofissionais de rugby que analisou o agachamento com 60-70° de profundidade
(denominado pelos autores de agachamento paralelo), comparado ao agachamento
realizado com aproximadamente 135º de flexão do joelho para descobrir se ambos
causariam a potencialização e qual seria o mais eficiente. Os autores concluem
que ambos os exercícios podem ocasionar a PPA, porém, o agachamento paralelo se
mostrou mais eficiente para este objetivo na população estudada. Esse resultado
é interessante, uma vez que lança luz sobre a variação da amplitude do
agachamento e sua potencial influência na manifestação da PPA.
Ainda em relação ao
exercício de agachamento, Nunes et al. [39] realizaram
um estudo para investigar se o uso de resistência variada poderia ser uma boa
estratégia para causar a PPA. Neste estudo foram recrutados 8
indivíduos que deveriam fazer o exercício agachamento com 85% de sobrecarga e
em outro dia de treino, seriam anexadas correntes à barra, pois quando o
indivíduo atingisse a maior amplitude concêntrica, as correntes levantariam e
consequentemente haveria uma sobrecarga maior que 85%. A conclusão foi que
houve PPA e que treinos com correntes seriam uma boa alternativa para quem
deseja uma melhor resposta de potência muscular. Nessa mesma linha, Mina et al. [40] também conduziram um estudo em
que o objetivo era averiguar se os indivíduos ganhariam potência caso
realizassem um aquecimento com resistência variada. Nesse caso,16
homens foram conduzidos a realizar o agachamento na barra com thera band fixados
as laterais da barra. O resultado encontrado foi um ganho de potência, pois, 13
dos 16 voluntários conseguiram levantar de 5% a 10% de carga a mais, fato que
indica a possibilidade de emprego de resistência variável com o objetivo de
estimular a ocorrência de PPA.
PPA e
estimulação elétrica
Por fim, alguns
autores analisaram os métodos que ocasionam a PPA através de estímulos
elétricos. Baudry e Duchateau
[26] publicaram um estudo onde tanto o mecanismo mecânico quanto o elétrico
foram estudados. O objetivo foi investigar o efeito sobre a taxa de PPA através
de contrações induzidas eletricamente (250 Hz) e também através de contrações
voluntárias por aduções do polegar. Na conclusão, os autores afirmam que houve
uma resposta positiva, isto é, houve potencialização, tanto quando estimulado
eletricamente quanto mecanicamente. Os autores afirmam também que a
potencialização continua entre 2 e 5 minutos depois do
exercício, o que se torna interessante para atividades do dia a dia e pode
auxiliar atletas de alto nível.
Requena et al. [32] em seu estudo feito com homens de 19 a 25 anos verificou
diferentes picos de PPA através de estímulos mecânicos (extensão unilateral do
joelho em cadeira dinamométrica) e elétricos (100 Hz)
nos músculos extensores do joelho com diferentes intervalos de descanso. Ao
final do estudo, os pesquisadores puderam constatar que houve potencialização
quando o exercício de condicionamento foi realizado de forma máxima e que não
houve potencialização quando o exercício de condicionamento foi realizado de
forma submáxima. Em relação ao estímulo elétrico, pode-se constatar o ganho de
potencialização, principalmente entre 3 e 10 minutos
após o estímulo inicial.
Cheng e Rice [28]
realizaram um estudo com 10 homens ativos com idade média de 24 anos com o
objetivo de avaliar a PPA após a ação de um estímulo elétrico. O teste
consistiu de duas sessões separadas nas quais o tríceps branquial e sóleo foram os músculos estimulados. Para cada sessão de
teste, medições foram tomadas antes e depois do exercício e durante o período
de recuperação em 1.5, 3 e 5 minutos após a fadiga. As
avaliações incluíram picos isométricos de contração voluntária máxima e
eletricamente induzida a 50 Hz. Como resultado, os autores observaram menor
potencialização no sóleo comparado ao tríceps
braquial. Segundo os autores, isso pode ser explicado pela redução de
resistência a fadiga no músculo tríceps comparado ao sóleo.
Aplicações
práticas
A partir da análise
dos estudos citados, pode-se averiguar a possibilidade de que haja uma melhora
de rendimento em treinos de potência quando realizados após um aquecimento
usando exercícios de força (alta intensidade e baixo volume) ou pliométricos, que caracterizaria a PPA. Vale ressaltar,
também, que até mesmo exercícios de alongamento (estático ou dinâmico) podem
desencadear o fenômeno da PPA e refletirem em aumento de potência no desempenho
do salto vertical [41]. Porém deve-se ter cuidado com as escolhas dos
exercícios, a intensidade, volume e intervalo de recuperação, pois, feitas
erroneamente, podem desencadear alguns mecanismos de fadiga e isso atrapalharia
na obtenção dos resultados benéficos da PPA. É de extrema necessidade manipular
corretamente as variáveis de treino, como os intervalos de descanso, pois os
estudos mostram que este fenômeno ocorre predominantemente com intervalos que
variam de 3 a 12 minutos. As variáveis ligadas a fatores intrínsecos ao
indivíduo também devem ser consideradas com o propósito de se alcançar a PPA em
diferentes populações.
Está descrito na
literatura que uma execução de movimentos com cargas até 60% de 1RM com até 8 repetições podem desencadear a PPA, por conta da
velocidade alta de execução e coordenação intramuscular, e que quando
aumentamos a carga para cerca de 80% de 1RM, entre 1 e 5 series, e com
repetições variando entre 3 e 5, pode-se desencadear a PPA, por conta de
princípio do tamanho para o recrutamento de unidades motoras [42,43,44].
A PPA pode ser
classificada como um fenômeno de existência real, desde que a manipulação
adequada e intencional das variáveis intervenientes seja considerada. A
combinação ideal das variáveis de treinamento para indução da PPA não foi
identificada, e isso se deve, provavelmente, à influência das características
individuais que também interferem na PPA. A literatura ainda carece de
esclarecimentos quanto aos mecanismos fisiológicos responsáveis por sua
ocorrência, embora haja algumas teorias a esse respeito. Mais estudos devem ser
realizados visando esclarecer melhor os mecanismos da PPA e as estratégias mais
eficientes para a explorar.