ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do perfil antropométrico de idosas participantes de programa de condicionamento
físico na cidade de Nilópolis/RJ
Analyze of body composition profile of elderly women who participate in
a physical conditioning program at Nilópolis/RJ
Eduardo Hippolyto
Latsch Cherem*, Daniel Cardoso da Silva**, Leonardo Chrysostomo dos Santos***,
Fernando Petrocelli de Azeredo***
*Escola
Municipal Ginásio Medalhista Olímpico Thiago Braz da Silva, **Spa do Hospital e Maternidade Domingos Lourenço,
***Universidade Estácio de Sá
Recebido em 16 de
setembro de 2016; aceito em 12 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Eduardo Hippolyto Latsch Cherem, Avenida Cesário de Melo, S/N, Santa Cruz
23595-040 Rio de Janeiro RJ, E-mail: cheremehl@gmail.com, Daniel Cardoso da
Silva: daniel.cardosodasilva@yahoo.com.br; Leonardo Chrysostomo dos
Santos: leochrysostomo@terra.com.br; Fernando Petrocelli de Azeredo: fpetrocelli@uol.com.br
Resumo
O presente estudo
analisou o perfil antropométrico de 13 idosas com hipertensão leve a moderada e
diabéticas do tipo 2, com idade média de 51,5 anos,
participantes de programa de condicionamento físico na cidade de Nilópolis/RJ,
com treinamento prévio de três meses. Para tanto avaliou-se,
idade; pressão arterial sistólica; estatura (m); massa total (kg); Índice de
Massa Corporal – IMC (kg/m2); circunferência de cintura (CC); percentual e
massa de gordura, massa muscular (protocolo de Guedes 1985). Os dados estão
expressos como média ± desvio padrão. Foi realizada correlação linear de
Pearson e o teste “t” de Student, sendo aceito como significativo um p ≤ 0,05. Os dados demonstraram fortes correlações(r) da
gordura corporal (39,4 ± 1,9%) com a massa total (82,8 ± 3,1 kg), idade (51,5 ±
3,6 anos), IMC (31,8 ± 1,3 kg/m2) e PAS (126,7 ± 6,2 mmHg)
(r = 0,864; 0,708; 0,864; 0,814; respectivamente) e muito forte correlação com
a circunferência de cintura (99,3 ± 4,4 cm; r = 0,913). Fortes correlações
também foram observadas da circunferência de cintura com a MT, idade, IMC e PAS
(r = 0,743; 0,725; 0,708, respectivamente). Observou-se também fortes
correlações da PAS com a MT, idade (r = 0,739; 0,835, respectivamente), e
moderada correlação com o IMC (r = 0,628). Observou-se que com o aumento da
idade há aumentos do IMC, da porcentagem de gordura corporal, circunferência de
cintura e PAS, e redução da massa muscular.
Palavras-chave: idosas, índice de
massa corpórea, pressão arterial sistólica.
Abstract
The present study showed the anthropometric profile of 13 elderly women
51,5 years-old, with light hypertension and type 2
diabetes, who participated in a previous three month physical conditioning
program. It was evaluated the age; systolic blood pressure (SBP); height (m);
total body mass (kg); body mass index (BMI) (kg/m2); waist circumference (cm);
body fat percentage; muscular mass (Guedes’s
protocol, 1985). Data are shown as mean ± standard deviation. The Pearson
correlation (r) and the Student t-test was applied with p ≤
0.05 accepted as significant. The correlation(r) was strong between body fat
(39,4 ± 1,9%) with total body mass (82,8 ± 3,1 kg), age (51,5 ± 3,6 years old),
BMI (31,8 ± 1,3 kg/m2) and SBP (126,7 ± 6,2 mmHg) (r = 0, 864; 0,708; 0,864;
0,814; respectively) and very strong correlation with waist circumference (99,3
± 4,4 cm; r = 0,913) (r = 0,913). Strong correlation also observed between
waist circumference with total body mass, age, BMI and SBP (r = 0,743; 0,725;
0,708, respectively); between SBP with total body mass and age (r = 0,739 and
0,835, respectively), but moderated with BMI (r = 0,628). We observed that the
increase in age is correlated with increases in the total body mass, BMI, waist
circumference, body fat percentage, but decreases in muscular mass.
Key-words: elderly
women, body mass index, arterial systolic pressure.
O processo de
senescencia é um gradual, natural e inevitável processo de degradação orgânica,
caracterizado por alterações fisiológicas e mecânicas, que levam os indivíduos
a se tornarem mais frágeis. Dentre os sistemas afetados, o sistema
cardiovascular pode apresentar quadros de hipertensão arterial sistêmica como
uma resposta a senescencia, além de distúrbios no controle da glicemia,
conhecidos como resistencia à insulina e diabetes melitos do tipo 2, estão frequentemente presente em indivíduos idosos [1-7].
O crescimento
populacional acelerado no período 1997-2007 mostrou importantes diferenças nas
taxas entre faixas etárias: 21,6% para toda a população; 47,8% para a população
com 60 ou mais anos de idade; e 65% para aqueles com 80 e mais anos, com uma
estimativa de aproximadamente 32 milhões de idosos até 2020, o que tornará o
Brasil o sexto país em número de idosos [8-10].
Como supracitado, o
processo de senescência afeta vários sistemas, aumentando a presença da
obesidade e suas co-morbidades, como as doenças
cardiovasculares (DCV), que é a principal causa de mortalidade mundial. No Brasil,
as DCV respondem por 32,3% dos óbitos, cerca de 250 mil mortes. A Hipertensão
Arterial Sistêmica, por exemplo, é a principal causa de morte (32,5%) e de
invalidez (40%) no Brasil, além de ter sido responsável por mais de um milhão
de internações no ano de 2003, fatos que impactaram fortemente os cofres
públicos e a saúde de indivíduos, especialmente os de meia idade e idosos
[11-15].
Esses quadros
mórbidos são fortemente afetados pela obesidade, caracterizada pela alta
concentração de massa de gordura. A distribuição da gordura corporal exerce
forte influência neste sentido, estando o acúmulo de gordura perivisceral
fortemente ligado a doenças metabólicas e cardiovasculares como as
supracitadas, HAS, IM e diabetes do tipo 2. Por
exemplo, as estimativas de hipertensos, em diversas populações, podem alcançar
a marca de 30% dos indivíduos adultos e alarmantes 60% em populações de idosos
[4,16-18].
Portanto, determinar
a composição corporal dos indivíduos é fundamental para entender sua propensão
à obesidade, às doenças cardiovasculares, dentre outras, estabelecendo,
inclusive, estratégias personalizadas ou até populacionais para o controle da
obesidade e das doenças cardiovasculares e outras comorbidades.
Existem diversos
métodos de investigação antropométrica e, ainda que alguns apresentem alta
acurácia, apresentam alto custo e complexidade operacional, inviabilizando sua
utilização de rotina. Por isso, métodos mais simples que também apresentam uma
ótima precisão podem ser utilizados na prática clínica cotidiana. Dentre esses
métodos, o Índice de Massa Corpórea (IMC), Razão Cintura-Quadril (RCQ) e
Circunferência de Cintura (CC) representam uma maneira racional e eficiente de
se presumir o volume e a distribuição de gordura [19-21].
Relação entre a massa
corporal e estatura, expressa em kg/m2, conhecido como IMC, é amplamente
utilizado como indicador do estado nutricional por sua forte correlação com a
massa corporal (r ≈ 0,80) e baixa correlação com a
estatura. Mas o seu emprego em idosos apresenta certas peculiaridades que podem
dificultar um pouco sua interpretação, como a redução da estatura, além da
alteração entre os componentes da massa corporal total, como aumento percentual
da gordura corporal e redução da massa muscular, massa óssea, hidratação, além
da presença de patologias e a ausência de pontos de corte específicos para essa
faixa etária [22,23]. Desta forma, a comparação ou a simples utilização de
outros métodos indiretos, como o RCQ e a CC, podem constituir-se em melhores
indicadores de adiposidade e sua distribuição corporal, bem como indicadores
mais precisos de fatores de risco para obesidade e doenças cardiovasculares.
A partir do exposto,
o presente trabalho teve por objetivo avaliar o perfil antropométrico e
pressórico de mulheres de meia idade e idosas participantes de um programa
regular de condicionamento físico na cidade de Nilópolis/RJ.
Amostra
Participaram da
pesquisa treze voluntárias com diagnóstico do diabetes mellitus e hipertensão
arterial leve a moderada, com idade média de 51,5 anos, participantes, há 3 meses, de um programa de exercício físico regular para
condicionamento da força, componente cardiorrespiratório e flexibilidade.
Não foram
administrados os medicamentos como anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais
na noite anterior ao teste, bem como nenhum tipo de ergogênico. Também não
foram aceitas voluntárias com qualquer contraindicação médica, incluindo
comprometimento osteomioarticular que as impedisse total ou parcialmente a
execução do exercício.
O presente trabalho
contou com a provação no comitê de ética em pesquisa da Universidade Estácio de
Sá, sob o registro CAAE: 43205115.6.0000.5284. Só foram aceitas como
voluntárias as que leram e concordaram em assinar o termo de consentimento de
acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para experimentos
com humanos.
Antropometria
Foram avaliados, massa total (kg), percentual e massa de gordura,
massa muscular, óssea e residual por bioimpedâmcia (Marca: IronMan-Tanita;
modelo: BC558). Também foram coletados dados de estatura (estadiômetro, marca:
Sanny, com precisão de 1,0 mm) e circunferência de cintura e quadril (trena
antropométrica marca: Sanny, modelo: 4010, com precisão de 1,0 mm).
Para a medida da
composição corporal foi utilizado o protocolo de Guedes (1985) com utilização
do compasso de dobras cutâneas da marca Opusmax Terrazul, modelo
científico/profissional, com precisão de 0,1mm.
A pressão arterial
sistêmica foi medida com um aparelho modelo esfigmomanômetro adenóide com
braçadeira em velcro e um estetoscópio (marca: Premium), em repouso, logo ao
iniciar o exercício, imediatamente após (em pé), trinta e sessenta minutos do
término do treinamento (sentada).
Todas as medidas
foram realizadas em sala climatizada com temperatura (20 a 22ºC). Luminosidade,
ruídos e odores controlados, sempre com horário inicial pela manhã, às 07h:00min.
Análise
estatística
Os dados estão
expostos como média ± desvio padrão (DP). Foi realizada a correlação linear de
Pearson entre as variáveis. Para verificar a significância das correlações foi
realizado o teste t de Student, considerando como significativa um p < 0,05.
Foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
versão 15.0.
Os dados morfológicos
gerais das voluntárias utilizados no presente estudo estão descritos como média
± DP na tabela I. As amostras analisadas apresentaram uma média de 51,5 ± 3,6
anos de idade; 162,1cm de estatura; e 82,8 ± 3,1 kg de massa corporal. Também
se observam valores médios de índice de massa corporal (IMC) de 31,8 ± 1,3
kg/m2; circunferência abdominal média de 99,3 ± 4,4 cm; percentual de gordura
39,4 ± 1,0 %.
Tabela
I - Dados morfológicos gerais da amostra, idade,
estatura, massa total, IMC, circunferência de cintura, porcentagem de gordura e
massa muscular.
Idade em anos; ESTAT =
estatura em metros; MT = massa total em quilogramas; IMC = índice de massa
corporal; CC = circunferência de cintura; GORD = massa de gordura em
porcentagem; M Musc = massa muscular; PAS = pressão arterial sistêmica; EP =
erro padrão da média.
Na tabela II estão
descritos os valores das correlações entre as variáveis antropométricas com a
idade e a pressão arterial sistólica média. A massa total (MT) apresentou uma
fraca e positiva correlação com a idade (r=0,394), mas fortes correlações com o
IMC, porcentagem de gordura, circunferência de cintura (CC), massa muscular e
pressão arterial sistólica (PAS) (0,788; 0,864; 0,743; -0,833; 0,739,
respectivamente; p < 0,005).
O IMC apresentou
moderadas correlações com a idade e com a PAS (r = 0,507 e 0,628, respectivamente;
p < 0,005). Mas apresentou fortes correlações com a massa total, porcentagem
de gordura, circunferência de cintura e massa muscular (forte e negativa)
(0,788; 0,8; 0,708; -0,864, respectivamente; p < 0,005).
Tabela
II -
Correlação entre os componentes das
variáveis antropométricas, idade e pressão arterial sistólica.
MT = massa total em
quilogramas; IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência de cintura;
GORD = massa de gordura em porcentagem; PAS = pressão arterial sistêmica. Para
todas as correlações p < 0,005.
A porcentagem de
gordura, melhor preditor antropométrico para gordura corporal apresentou fortes
correlações com a massa total, idade, IMC e PAS (r = 0,864;
0,708; 0,864; 0,814, respectivamente; p < 0,005)
e uma correlação muito forte com a circunferência de cintura e com a massa
muscular muito forte e negativa correlação (r = 0,913; -0,986, respectivamente;
p < 0,005).
As correlações da CC
com MT, idade, IMC, porcentagem de gordura, massa muscular (negativa) e PAS
foram: 0,743; 0,725; 0,708; 0,913; -0,892; 0,805, respectivamente (p < 0,005
pra todas as correlações). E as correlações da PAS para com MT, idade, IMC,
porcentagem de gordura e CC foram: 0,739; 0,835; 0,628; 0,814; 0,805, respectivamente
(p < 0,005 para todas as correlações).
A correlação entre a
massa muscular e a PAS foi de r = -0,843 (p < 0,005). As demais correlações
entre idade, massa total, IMC, porcentagem de gordura e circunferência de
cintura com a massa muscular e a PAS já estão supracitadas.
É sabido que o
processo de senescência é um processo natural e inevitável, que altera
profundamente a função de vários sistemas corporais. Dentre essas alterações
podemos citar o ganho de massa corporal, com concomitante redução da massa
muscular e aumento da massa de gordura, alterando também sua redistribuição,
aumento da pressão arterial sistêmica, dentre outros [6,7,12,21].
Neste estudo,
avaliou-se a composição corporal, por meio do IMC, da CC e da porcentagem de
gordura, além da pressão arterial sistólica. Apesar de não ser uma metodologia
direta, ou padrão ouro para acessar o conteúdo de massa gorda, inclusive em
idosos, o IMC, de qualquer forma, mantém-se como uma medida simples e
relativamente muito boa para observar o status nutricional e a propensão para o
desenvolvimento de morbidades associadas ao excesso de peso [12,21,24].
Os resultados obtidos
demostram que, com o aumento da idade, houve concomitante aumento na massa
total (média de 82,8 ± 3,1 kg), embora com fraca correlação (r = 0,394). O IMC
também aumentou com a idade, embora a correlação tenha sido moderada (média de
31,8 ± 1,3 kg/m2; r = 0,507), foi mais acentuada do que aquela observada para a
massa total, possivelmente pelo ganho de massa total ter sido acompanhada de
ganho de gordura, mas perda de outros componentes da massa corporal, como massa
muscular, por exemplo. Ainda assim o IMC apresenta-se acima do desejável,
classificado como obeso, mesmo que se utilize a classificação padrão para adultos
[21], ou que se utilize classificação específica para idosos [25]. Estes
resultados estão de acordo com o de outros estudos, que demonstram um padrão de
acúmulo de peso considerado acima do desejável para a idade [25-28].
Como já apontado, o
aumento da idade é um fator de risco para doenças crônico-degenerativas como a
obesidade, a hipertensão, o infarto do miocárdio, dentre outras [1-7]. O IMC é uma importante ferramenta na detecção da propensão aos estados
mórbidos citados. Apesar disso, a medida da circunferência de cintura é
um método ainda mais discreto para a avaliação do fator de risco, especialmente
o risco coronário [29-31].
As voluntárias
avaliadas no presente trabalho demostraram uma alta circunferência de cintura
(99,3 ± 4,4 cm) e uma forte correlação desta variável com a idade (r = 0,725).
Embora haja uma necessidade de classificação para a população brasileira [30],
utilizando-se o padrão estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (WHO –
sigla em inglês), a média da CC apresentada neste estudo é considerada muito
alta e corrobora a ideia de que a moderada correlação entre a idade e o IMC
possa ser explicada pelo aumento da massa gorda e a redução da massa muscular,
uma vez que a CC aumentada indica aumento da concentração de gordura na região
da cintura, o que pode confirmar o aumento da massa de gordura.
A partir dos dados
expostos pode-se concluir que o grupo de voluntárias participantes deste estudo
exibiu um aumento do IMC com idade e que este aumento do IMC está ligado a
redução da massa muscular e ao aumento da porcentagem de gordura, com
concentração de gordura na região da cintura, além do aumento da pressão
arterial sistólica que, possivelmente, está associada à idade e ao perfil de
acúmulo e distribuição da gordura corporal.
O aumento do número
amostral poderá dar uma ideia mais clara do perfil corporal em população de
mulheres de meia idade e idosas do município de Nilópolis/RJ.
A indicação e
acompanhamento de um programa racional de atividade física incluindo o
treinamento para os condicionamentos cardiovascular e de força muscular podem
exercer grande efeito benéfico sobre as variáveis
observadas, bem como na saúde em geral da população em questão.