ARTIGO
ORIGINAL
Relação
entre força máxima e potência muscular no treinamento resistido
Relationship between maximum strength and muscle power in resistance
training
Leonardo Ferreira
Rocha*, Fabrício Henrique Taveira*, Vanessa C. Ivanof Soares da Silva*, Vera
Maria Cury Salemi, D.Sc.**, Douglas Pinheiro Miranda,
M.Sc.***
*Laboratório
de Avaliação Física e Fisiologia do Exercício (LAFFEX), Curso de Educação
Física do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, São Paulo,
**Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, São Paulo, ***Laboratório de Avaliação Física e
Fisiologia do Exercício (LAFFEX), Curso de Educação Física do Centro
Universitário da Fundação Educacional de Barretos, São Paulo, Programa de
Pós-Graduação em Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, São Paulo
Recebido em 25 de
setembro de 2016; aceito em 20 de dezembro de 2016.
Endereço para correspondência: Douglas Pinheiro
Miranda, Rua 10, 3982, Ibirapuera, 14784-151 Barretos SP, E-mail:
douglas@pinheiromiranda.com, Leonardo Ferreira Rocha: lrleorocha@outlook.com,
Fabrício Henrique Taveira: fabriciotav@bol.com.br; Vanessa C. Ivanof Soares da
Silva: vane_ivanof@hotmail.com; Vera Maria Cury Salemi: verasalemi@uol.com.br
Resumo
Tendo em vista que
muitos indivíduos não realizam treinamentos específicos para a força máxima e
potência muscular, o objetivo deste estudo foi verificar os níveis dessas
manifestações de força, e a relação entre elas. Foram avaliados 20 indivíduos
praticantes de treinamento resistido há pelo menos seis meses, sendo 15 homens
com idade entre 19 e 34 anos (28,07 ± 5,42 anos) e cinco mulheres de 23 a 30
anos (26,40 ± 3,05 anos). A força máxima de membros superiores e inferiores foi
avaliada por meio de teste de 1RM, a potência muscular de membros superiores
foi avaliada através do protocolo de arremesso do medicene ball
e de membros inferiores por meio do teste de impulsão vertical. A análise
estatística foi realizada através do programa Excel-Office 2013, a correlação
entre a força máxima e potência muscular foi avaliada por meio do coeficiente
de correlação de Pearson. Tanto os homens quanto as mulheres apresentaram
níveis de força e potência muscular equivalentes. A
máxima de membros superiores foi classificada como fraca, a potência muscular
como intermediaria, e a força máxima de membros inferiores como excelente, no
entanto houve correlação entre força máxima e potência muscular apenas entre as
mulheres. Diante dos resultados apresentados, conclui-se que apenas os níveis
de força máxima de membros inferiores foram considerados satisfatórios e que
houve relação entre força máxima e potência muscular apenas entre as mulheres.
Palavras-chave: aptidão
neuromuscular, avaliação, treinamento.
Abstract
Having in mind that many individuals do not perform specific training
for maximum strength and muscle power, the aim of this study was to determine
manifestations strength levels, and the relationship between them. Twenty
individuals who performed resistance training for at least six months were
evaluated. Fifteen men aged 19 to 34 years (28.07 ± 5.42 years) and five women
aged 23 to 30 years (26.40 ± 3.05 years). The maximum strength of upper and
lower limbs was evaluated by test 1RM, muscle power of the upper limbs was
evaluated by medicine ball throw protocol and lower limbs through the vertical
jump test. Statistical analysis was performed using Excel-Office 2013
(Microsoft, USA), the correlation between maximal muscle strength and power was
assessed using Pearson's correlation coefficient. Both men and women showed
strength levels and equivalent muscle power. The maximum of the upper limbs was
classified as poor, and muscle power classified as intermediate, the maximum
strength of the lower limbs classified as excellent, however there was
correlation between maximal muscle strength and power only among women. Based
upon the results, it is concluded that only the maximum strength levels of the
lower limbs were considered satisfactory and that there was a relationship
between maximal muscle strength and power only among women.
Key-words:
neuromuscular fitness, evaluation, training.
O exercício resistido
encontra-se entre os métodos de treinamento mais estudados nos últimos 10 anos,
esse interesse dos pesquisadores é observado principalmente pelo fato de se
tratar de um método com fácil controle das variáveis metodológicas do
treinamento (volume e sobrecarga) e também pelos inúmeros benefícios já
evidenciados pela literatura. Entre as principais características deste método,
podemos destacar o desenvolvimento das diversas manifestações de força, tais
como força máxima e potência muscular [1,2].
Apesar dos inúmeros
benefícios proporcionados pelo treinamento resistido - aumento do metabolismo
basal, redução do percentual de gordura, aumento da massa muscular, redução da
pressão arterial, melhora do perfil lipídico entre outros [1,3-5] - vale
ressaltar que uma periodização inadequada pode comprometer os resultados
esperados, uma vez que diferentes métodos de treinamentos podem proporcionar
diferentes adaptações e consequentemente diferentes resultados.
Tendo em vista que a
maioria dos praticantes de exercício físico tem como principal objetivo
melhorar a composição corporal, sobretudo aumentar a massa muscular e diminuir
o percentual de gordura, é possível observar que os treinamentos específicos
para melhorar a força máxima e a potência muscular acabam sendo deixados para
segundo plano.
Alguns autores
mencionam que a força e potência muscular têm um papel determinante em quase
todos os esportes, e que a capacidade de um indivíduo aumentar a força máxima
depende de dois principais fatores, o primeiro está relacionado diretamente com
o tecido muscular, mais especificamente com a área de secção transversa do
músculo, e o segundo fator está associado com a redução da co-contração
e o aumento do número de unidades motoras recrutadas durante a contração
muscular, fenômenos conhecidos como adaptação neuromuscular. Já em relação à
potência muscular os autores citam que qualquer melhora dessa capacidade física
deve ser o resultado do aumento da força muscular, da velocidade de contração
ou a combinação dos dois fatores [1,6,7].
Considerando os
benefícios oriundos do aumento da força máxima e da potência muscular, é de
extrema importância o estudo, por meio de avaliações periódicas, do nível
dessas manifestações de força e verificar a relação entre elas, a fim de
aprimorar a prescrição do treinamento.
Material
e métodos
A amostra foi
composta por 20 indivíduos praticantes de treinamento resistido, 15 homens com
idade entre 19 e 34 anos (28,07 ± 5,42 anos) e cinco mulheres de 23 a 30 anos
(26,40 ± 3,05 anos), todos recrutados de diversas academias da cidade de
Barretos/SP. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Universitário
da Fundação Educacional de Barretos sob o nº 31345314800005433. Todos os
participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Os dados descritivos
caracterizando a amostra podem ser visualizados na Tabela I, os quais estão
apresentados através de média e desvio padrão.
Tabela
I - Caracterização da amostra.
IMC = Índice de Massa
Corporal
Critérios
de inclusão e exclusão
Os critérios de
inclusão foram: Ser praticante de treinamento resistido há pelo menos seis
meses e não estar em tratamento de reposição hormonal ou administrando qualquer
tipo de esteroide anabolizante.
Critérios de
exclusão: Apresentar qualquer problema de saúde ou problemas físicos, dores ou
incômodos que pudessem impedir ou comprometer a realização dos testes.
Avaliações
Todos os voluntários
foram encaminhados para o Laboratório de Avaliação Física e Fisiologia do
Exercício – LAFFEX/UNIFEB, onde inicialmente foram
investigados o histórico pessoal e familiar por meio de um questionário
específico de anamnese, ocasião que foram verificados todos os critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos pelo estudo, em seguida, foram orientados sobre
os procedimentos que seriam realizados durante os testes de aptidão
neuromuscular.
Para maior
confiabilidade dos dados, os testes de força máxima e potência muscular foram
realizados pelo mesmo avaliador e em dias alternados.
Teste
de força máxima
Para o teste de força
máxima foi utilizado o protocolo de Uma Repetição Máxima (1RM) [8]. A força
máxima de membros superiores foi identificada por meio do exercício supino reto
e a força máxima de membros inferiores por meio do exercício Leg Press. Antes
do teste o voluntario realizou um aquecimento específico com uma carga de
aproximadamente 50% da carga estimada de 1RM e um volume de aproximadamente 10
repetições, após dois minutos do aquecimento o avaliado realizou de 4 a 5
tentativas (com intervalo de três minutos entre elas) para encontrar a carga
máxima.
Considerando que não
é possível encontrar na literatura tabelas de classificação para a força
máxima, o nível de força dos voluntários foi classificado considerando a Força
Relativa (carga máxima / peso corporal) [9].
Teste
de potência muscular
A potência muscular
de membros superiores foi avaliada por meio do teste de arremesso de medecine ball
de 3 kg [10]. Com o indivíduo sentado em uma cadeira foi realizado o arremesso
do medecine ball;
em sequência, utilizando uma fita métrica foi verificada a distância do
arremesso, esse procedimento foi realizado 3 vezes, considerando apenas a
melhor distância.
A potência muscular
de membros inferiores foi identificada por meio do teste de Impulsão Vertical (Sargent Jump Test) [10]. No início do
teste o voluntário foi orientado a marcar a ponta do dedo médio com uma tinta;
em seguida, o mesmo dedo foi utilizado para marcar a altura total do indivíduo
em uma parede; posteriormente, ao lado da mesma parede o avaliado realizou um
salto vertical, marcando uma segunda marca no ponto mais alto atingido no
salto; para finalizar, foi anotada a diferença entre a marca da altura total do
indivíduo e a marca realizada após o salto vertical, esse procedimento foi
realizado 3 vezes e apenas a melhor distância foi
considerada.
Análise
estatística
A análise estatística
foi realizada por meio do programa Excel-Office 2013 (Microsoft, USA). Para analisar a correlação entre a força máxima e
potência muscular foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Os
dados estão apresentados através da média e desvio padrão.
Entre as mulheres a
força relativa de membros superiores foi de 0,35, classificada como fraca e a
distância do arremesso do Medicineball foi de 313,00 ± 53,94 cm, classificada
como intermediaria, em relação aos membros inferiores, a força relativa foi de
2,86, classificada como média. A correlação entre força máxima e potência pode
ser visualizada na Tabela II.
Tabela
II -
Correlação entre força e potência entre
as mulheres.
*Membros superiores
distância do arremesso e membros inferiores distância do salto; #Correlação
moderada no coeficiente de correlação de Pearson.
De acordo com os
dados apresentados acima, é possível observar uma correlação moderada entre a
força máxima e potência muscular de membros superiores e inferiores entre as
mulheres.
Analisando os
resultados entre os homens, a força relativa de membros superiores foi de 0,86,
classificada como fraca e a distância do arremesso do Medecine ball foi de 503,20 ± 88,77 cm,
classificada como intermediaria, em relação aos membros inferiores, a força
relativa foi de 2,84, classificada como média. A correlação entre força máxima
e potência pode ser visualizada na Tabela III e verificar que não houve
correlação estatisticamente significante entre a força máxima e potência
muscular dos membros superiores e inferiores dos homens avaliados.
Tabela
III
- Correlação entre força e potência entre
os homens.
*Membros superiores
distância do arremesso e membros inferiores distância do salto.
No presente estudo,
os níveis de força máxima e potência muscular de membros superiores e
inferiores de indivíduos previamente treinados foram investigados.
Analisando os
resultados entre os homens e as mulheres, a força máxima de membros superiores identificada pelo teste de 1RM, relacionada ao
peso corporal (FR) foi classificada como fraca, e a potência muscular
classificada como intermediária, desta forma, podemos notar que independente do
sexo, os voluntários da presente pesquisa apresentaram baixo nível de força e
potência muscular de membros superiores. No entanto, a situação não se repetiu
para os membros inferiores, nos quais tanto os homens quanto as mulheres
apresentaram níveis de força máxima melhores. Vale
ressaltar também que, de acordo com os resultados, existe uma relação entre
força máxima e potência muscular de membros superiores e inferiores apenas
entre as mulheres.
Baker [11] investigou
a relação entre força e potência muscular de membros inferiores de jogadores de
rugby, participaram do estudo 20
jogadores australianos, todos treinados e no pico da performance.
Os resultados mostraram uma forte correlação entre força e potência muscular de
membros inferiores, mas vale ressaltar que todos os voluntários eram atletas
possivelmente familiarizados com testes realizados, fator que pode justificar a
forte correlação encontrada no estudo em questão.
Skovereng [12]
realizou um estudo com objetivo de investigar a relação entre a força máxima de
membros superiores, potência muscular e desempenho de sprint. Teve a participação
de 13 homens, todos atletas de bobsleigh da equipe nacional norueguesa. Para avaliar o sprint foi
utilizado o teste de sprints repetidos, sendo 3
sprints de 30 m; a carga máxima identificada pelo teste de 1RM e a potência
muscular foram avaliadas nos supino reto, puxador horizontal e no puxador
vertical. Os resultados mostraram que houve uma forte correlação entre a carga
máxima e potência muscular com o tempo de sprint. Concluiu-se que existe
relação entre a força na parte superior do corpo com o poder e desempenho de
sprint, fator extremamente importante, pois a capacidade de produzir a
propulsão e alta frequência é importante para a capacidade de sprint no bobsleigh.
Analisando os estudos
supracitados, podemos observar que entre os atletas de rugby e bobsleigh a força
e potência muscular estão extremamente relacionadas, sendo assim, parece que
existe uma relação mais expressiva entre a força e potência muscular de
indivíduos considerados atletas, entretanto, isso não parece se repetir em indivíduos
fisicamente ativos.
Os voluntários
apresentaram níveis satisfatórios de força e potência muscular apenas de
membros inferiores. A relação entre força máxima e potência muscular de membros
superiores e inferiores foi observada apenas entre as mulheres.
Desta forma sugerimos
novos estudos correlacionando força e potência muscular de indivíduos com as
mesmas características do presente estudo, no entanto com um número maior de
voluntários e também estudos investigando a relação entre força e potência
muscular de atletas de outras modalidades.