REVISÃO
Fase
III de reabilitação cardíaca pós-infarto agudo do miocárdio
Cardiac rehabilitation of phase III after myocardial infarction
Rusenyr Icléa
Trigueirinho Leite de Abreu*, Jaqueline Paula Corrêa Vieira*, Márcio Quirino Candido*,
Wendry Maria Paixão Pereira, D.Sc.**, Vânia Cristina dos Reis Miranda, D.Sc.**,
Elaine Cristina Martinez Teodoro, D.Sc.**
*Graduandos
do Curso de Fisioterapia, FUNVIC/Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI),
Pindamonhangaba/SP, **Professoras do Curso de Fisioterapia da FUNVIC/Faculdade
de Pindamonhangaba FAPI, Pindamonhangaba/SP
Recebido em 12 de
fevereiro de 2016; aceito em 3 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, 12606-000
Lorena SP, E-mail: teodoro.elaine18@gmail.com; Rusenyr Icléa Trigueirinho Leite
de Abreu: satiana@uol.com.br; Jaqueline Paula Corrêa Vieira:
jaquepaula25@yahoo.com.br; Márcio Quirino Candido: satiana@uol.com.br; Wendy
Maria Paixão Pereira: wendrypaixao@ig.com.br; Vânia Cristina dos Reis Miranda:
vcrmiranda@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Investigar os
diferentes tipos de protocolos de reabilitação cardíaca na fase III pós-infarto
agudo do miocárdio. Métodos: Trata-se
de uma revisão, no qual foram utilizados artigos em português e inglês de
revistas indexadas nos bancos de dados Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de
Engenharia de Guaratinguetá, FEG-UNESP, publicados entre os anos de 1997 e
2015. Resultados: As condutas
fisioterapêuticas mais utilizadas para o tratamento do paciente na fase III
pós-infarto agudo do miocárdio foram compostas por exercícios de aquecimento,
aeróbicos, resistência e desaquecimento. Durante os exercícios, dinâmicos ou
isométricos e realizados com hand-grip, observou-se individualmente a
intensidade, frequência e duração. Em diversos estudos foram relatados
benefícios na amenização dos sintomas, na redução global da mortalidade
cardiovascular, além de mudanças no estilo de vida, resultando em melhora da
qualidade de vida. Conclusão: Os
protocolos de reabilitação cardíaca, baseados em exercícios, representam para
os pacientes coronariopatas frequências cardíacas mais baixas, melhora na
aptidão cardiorrespiratória e na qualidade de vida, com a adoção de hábitos
saudáveis, mostrando-se eficazes na redução global da mortalidade
cardiovascular em médio e longo prazo (12 ou mais meses de follow-up) e na
redução de internações hospitalares em curto prazo (menos de 12 meses de
follow-up).
Palavras-chave: infarto do
miocárdio, coração, exercício, reabilitação, Fisioterapia.
Abstract
Purpose: To
investigate the different types of cardiac rehabilitation protocols in phase
III of acute myocardial post-infarction period. Methods: This study is a literature review based on scientific
articles published in Portuguese or English, in journals indexed on the Bireme,
Pubmed and Comut databases of the School of Engineering of Guaratinguetá,
FEG-UNESP, published between 1997 and 2015. Results:
The physical therapy procedures most commonly used for patient treatment in
phase III of acute myocardial post-infarction period consist of exercises as
warm-ups, aerobics, resistance and cool-downs, in order to individually observe
the intensity, frequency and duration of them, and they may be of dynamic or
isometric nature and be performed with a hand-grip. Several studies have
reported benefits in the alleviation of symptoms, global decrease of
cardiovascular mortality and changes of lifestyle, resulting in improved
quality of life. Conclusion: The
cardiac rehabilitation protocols based on the practice of exercises results in
lower heart rates, improvements in cardiorespiratory fitness and quality of
life with the adoption of healthy habits to patients with coronary diseases,
proving to be effective in the global decrease of cardiovascular mortality in
the medium and long term (follow-up of 12 or more months) and to the reduction
of hospital internments in the short term (less than 12 months follow-up).
Key-words: myocardial
infarction, heart, exercise, rehabilitation, physical therapy specialty.
O Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM) é uma das principais causas de morte no mundo contemporâneo, e
quase a metade desses óbitos é atribuída à doença arterial coronariana [1].
Isso se constitui em um grave problema de saúde pública mundial por seus
indicadores de morbidade e mortalidade.
A ênfase na prática
de exercícios físicos para a recuperação de pacientes portadores de
coronariopatias é de extrema importância para restaurar sua melhor condição
física, social e laborativa. Os benefícios estão bem estabelecidos na
literatura, principalmente àqueles relacionados à redução dos fatores de risco,
melhora na sintomatologia e, não menos importante, a percepção precoce de
indicadores precedentes de complicações cardíacas [2].
Entretanto, no
Brasil, mesmo sendo a doença cardiovascular, e em especial a coronariana, causa
primeira de morte em ambos os sexos, o país carece de um programa de
Reabilitação Cardiovascular (RC) à altura de sua importância no contexto da
saúde pública, pelos benefícios comprovados de sua eficácia e funcionalidade
[2].
Desde 1997, a
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em conformidade com a Organização
Mundial da Saúde, destaca a importância das mudanças nos hábitos de vida, como
a inserção do treinamento físico para pacientes cardiopatas, apontando para um
novo estilo de vida, no qual a autoconfiança e o desempenho físico seriam
proporcionados pelos programas de RC [3]. Esses programas promovem uma
recuperação precoce após um evento agudo [4]. Nos Estados Unidos apenas 10% a
20% dos pacientes elegíveis participam de um programa de RC, em Portugal,
Espanha e os países do Leste recrutam menos de 5% dos potenciais candidatos a
estes programas, e a média europeia é de 30%, não havendo informações e dados a
esse respeito em nosso país [2,4].
O programa de RC
consta de quatro fases, na Fase III, de follow-up, cuja duração é de seis a
doze meses, procede-se a avaliação do paciente, fazendo indicações sobre a
manutenção do exercício físico e promovendo comportamentos saudáveis [4]. São
prescritos protocolos de exercícios aeróbicos e resistidos, prevenindo assim
outros eventos cardiovasculares e coronarianos.
A fase III de
reabilitação pós-infarto agudo do miocárdio é recomendada especialmente para
pacientes crônicos que mantém a estabilidade clínica. Os protocolos específicos
fornecerão aos pacientes pós-infartados, o desenvolvimento da capacidade
aeróbica e física com o máximo de segurança [5].
Diante disso, o objetivo
do presente trabalho é investigar os diferentes tipos de protocolos de
reabilitação cardíaca na fase III pós-infarto agudo do miocárdio.
Trata-se de uma
revisão de literatura, no qual foram utilizados artigos em português e inglês
de revistas indexadas nos bancos de dados Bireme e Comut da Faculdade de
Engenharia de Guaratinguetá, FEG-UNESP, publicados entre os anos de 1997 e
2015. A busca pelos artigos utilizados no respectivo estudo ocorreu no período
de janeiro de 2014 a novembro de 2015.
Para esta revisão
foram selecionados e considerados apenas os artigos publicados na íntegra, com
base nos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): infarto do
miocárdio, coração, exercício, reabilitação, fisioterapia; para os artigos
publicados em português, e myocardial infarction, heart, exercise,
rehabilitation, physical therapy specialty para os artigos de língua inglesa.
Para a construção do
artigo foram incluídos estudos que: 1) estivessem disponíveis na íntegra; 2) a
população-alvo da pesquisa fosse composta por pacientes infartados, porém que
estivessem hemodinamicamente estáveis; e 3) que participaram de um programa de
reabilitação cardíaca na Fase III. Foram exclusos aqueles que: 1) não estavam
disponíveis na íntegra; 2) os pacientes não se encontravam na Fase III de
reabilitação cardíaca; 3) e ainda os que não possuíam a população-alvo da
pesquisa composta somente por pacientes infartados hemodinamicamente estáveis.
Foram encontrados 21
artigos científicos, dos quais 19 estavam de acordo com os critérios de
inclusão previamente estabelecidos para esta revisão. Os artigos inclusos nesta
revisão foram publicados em periódicos nacionais e internacionais em português
e inglês, entre os anos de 1998 a 2015, sendo um em 1998, um em 2004, três em
2010, três em 2011, seis em 2013, quatro em 2014 e um em 2015.
Foram utilizados
estudos prospectivos, revisões de literatura, revisões sistemáticas, ensaios
clínicos, estudos retrospectivos, estudos randomizados controlados e estudos experimentais.
Posteriormente, os
artigos foram agrupados em categorias que abordavam autor, ano de publicação,
tipo de estudo, objetivos e conclusão.
As características
dos estudos incluídos na presente revisão podem ser observadas na tabela I.
Tabela
I - Resumo dos estudos incluídos (n = 19).(ver
PDF em anexo)
O principal
tratamento fisioterapêutico, pós IAM na fase III de RC, consiste na utilização
de protocolos que constem exercícios aeróbicos, resistência, relaxamento e
flexibilidade [8]. Há de se considerar também que os programas para pacientes
coronariopatas constituem ferramenta importante para as mudanças nos estilo de
vida desses pacientes e na prevenção de ocorrência de outros eventos cardíacos
[1]. A prescrição de exercícios nesses pacientes deve ser observada com rigor,
pois um excesso poderá levar a efeitos colaterais indesejados [1].
O American College of
Sports Medicine alerta que os pacientes coronariopatas não constituem um grupo
homogêneo e, desta forma, a prescrição de exercícios deve levar em consideração
vários outros aspectos como a extensão da doença coronariana, presença ou não
de isquemia, disfunção ventricular esquerda, presença de arritmias cardíacas,
hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica e diabetes mellitus. Assim,
após criteriosa análise do estado do paciente, o treino poderá ser modificado
com relação à frequência, duração, intensidade e progressão [9].
Segundo Berry et al.
[1], várias maneiras são utilizadas para se estabelecer a intensidade do
exercício durante uma sessão de reabilitação, entretanto a frequência cardíaca
é a variável mais utilizada [1]. Essa opinião segue o I Consenso Nacional de
Reabilitação Cardiovascular que coloca algumas fórmulas para a determinação da
frequência cardíaca de treinamento (FCT), tais como: escala de Borg, tabela de
Fox, fórmula de Karvonen, Teste de Esforço (TE) e Ergoespirometria [3]. Para
Berry et al. [1], outro método eficaz para avaliar a intensidade do esforço
utilizado em seus estudos é a análise dos gases expirados (TECR), que utiliza o
equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) para identificar o limiar
anaeróbio representado pelo limiar ventilatório de Wassermann.
Os exercícios
preconizados devem ser determinados com base na capacidade funcional, ou seja,
no consumo de oxigênio ou seu equivalente METs [11]. O American College of
Sport Medicine indica que a unidade MET é útil como método para indicar e
comparar a intensidade absoluta e gasto energético de diferentes atividades
físicas, portanto, o MET é uma medida de intensidade de esforço [9,10].
Os efeitos do
exercício aeróbico de baixa, média e alta intensidade foram descritos por
vários autores. Botelho et al. [7] verificaram que os exercícios aeróbicos de
alta intensidade são considerados superiores aos exercícios de moderada
intensidade. Esses autores destacam também que os exercícios resistidos
incluídos recentemente em protocolos de Reabilitação Cardíaca contribuíram para
melhorar a capacidade física, a força muscular em membros inferiores e o tempo
na realização de exercícios aeróbicos, indicando, como protocolo ideal, a
combinação de exercícios aeróbicos e resistidos para pacientes pós-IAM em fase
ambulatorial, pelos benefícios obtidos a curto e a longo prazo. Para Benetti et
al. [11] quanto maior a capacidade de realização de exercícios por parte do
paciente, maior seu papel na proteção de risco de morte. Lee et al. [12]
sugerem que exercícios de moderada intensidade renderão maiores benefícios para
pacientes pós-IAM na fase III, comparando-se aos resultados alcançados com
exercícios mais vigorosos. Segundo os autores, as diretrizes federais de Taiwan
endossam que o exercício de moderada intensidade é mais seguro, viável e
factível para a maioria da população. Tavares et al. [13] em estudo realizado
em Portugal, constataram que o exercício físico supervisionado, realizado na
comunidade logo após alta hospitalar, com intensidade moderada, também
potencializa a qualidade de vida em doentes cardíacos.
Já Benetti et al.
[11] sugerem que exercícios aeróbicos de alta intensidade são benéficos para a
função endotelial e a circulação coronária, pois ocorre um maior recrutamento
de vasos sanguíneos colaterais, aumentando a circulação em áreas prejudicadas
ou isquêmicas. Em seu estudo com 87 pacientes observaram a aptidão
cardiorrespiratória e qualidade de vida pós-IAM em diferentes intensidades de
exercícios, mostrando que o trabalho realizado com altas intensidades (85%
frequência cardíaca máxima - FCM) levou a uma maior aptidão cardiorrespiratória
e qualidade de vida, em comparação com àqueles submetidos a exercícios de média
intensidade (75% FCM). O protocolo era seguido cinco vezes por semana, com 45
minutos por sessão de exercícios aeróbicos, seguindo 15 minutos de alongamento
e resistência muscular. Tais exercícios, associados aos de força muscular,
cumpriram um período de 12 semanas [11].
Muela et al. [15] em
estudo retrospectivo indicaram um protocolo com dez a 15 minutos de
aquecimento, 20 a 30 minutos de treinamento aeróbico em esteira e em
cicloergômetro com intensidade de 65 – 85% da FC, exercício de força muscular
de dez a 15 minutos e, finalmente, desaquecimento de dez a 15 minutos. Incluiu
também em seu protocolo exercícios para a musculatura respiratória. Nos seis
meses de observação do grupo composto por 88 indivíduos, com idade entre 37 e
88 anos, houve melhora significativa nos parâmetros fisiológicos,
hemodinâmicos, funcionais e autonômicos, além do aumento a tolerância ao
exercício.
Berry et al. [1] em
estudo prospectivo observacional com 37 pacientes pós IAM na fase III,
observado em um período de dez meses, realizaram protocolo incluindo sessão de
90 minutos de exercício aeróbico em esteira rolante ou bicicleta ergométrica de
20 a 40 minutos por sessão, exercício de força, flexibilidade e alongamento, em
frequência de três vezes por semana. A intensidade do esforço foi determinada
pelo limiar ventilatório com protocolo de rampa. Concluiu-se que houve uma
melhora da Capacidade Funcional, da influência cardiorrespiratória e do perfil
bioquímico da amostra avaliada (redução do colesterol total, LDL-colesterol e
níveis séricos de glicose, além do aumento da fração HDL – colesterol).
Em estudo de revisão
sistemática, Heran et al. analisaram 47 estudos randomizados com 10.794 doentes
que sofreram IAM, cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), angioplastia
transluminal percutânea (PTCA), que apresentavam angina ou doença arterial
coronária [16].
Sessenta e oito por
cento (29 estudos) foram realizados na Europa, e os demais nos EUA, Austrália,
Índia, Japão e China, em período compreendido entre 1975 a 2009, segundo os
autores, as diretrizes clínicas internacionais apontam a terapia baseada em
exercícios como um elemento central da reabilitação cardíaca na doença coronariana,
em especial àqueles que seguem um IAM, uma revascularização miocárdica, angina
pectoris e insuficiência cardíaca, mas a maioria dos pacientes não recebe esse
tipo tratamento [16].
Isso vem corroborar
Magalhães et al. [4] em dados publicados pela Associação Europeia de Prevenção
e Reabilitação Cardiovascular que indicam que Portugal, Espanha e países do
Leste, como o grupo de países que recruta menos de 5% dos pacientes eletivos à
RC [4].
Avaliando a eficácia
da reabilitação cardíaca baseada em exercícios (treino isolado ou em combinação
com intervenções psicossociais e educacionais), em comparação com cuidados
médicos habituais em pacientes com doença coronariana, chegou-se à conclusão
que em médio e longo prazo (12 ou mais meses de follow-up) a RC baseada em
exercícios é eficaz na redução global da mortalidade cardiovascular, sugerindo
a redução também de internações hospitalares em curto prazo (menos que 12 meses
de follow-up) em pacientes com doenças coronarianas. Concluiu-se também, que
não houve diferença significativa na mortalidade total de até 12 meses de
acompanhamento [16].
Em todos os trabalhos
analisados por Heran et al. verificaram-se que as diferenças em 17 protocolos
estudados que compunham intervenções somente com exercícios físicos, ao longo
das décadas citadas, não diferiam substancialmente do que é preconizado hoje,
ou seja, frequência de uma a sete sessões por semana, duração de quatro semanas
a 12 meses, intensidade de 60 a 85% do consumo máximo de oxigênio (VO2) e
duração das sessões de treino de 20 até 90 minutos [16].
Vinte e nove
trabalhos mais abrangentes, isto é, envolvendo exercício associado à educação e
gestão psicológica, também apresentaram uma variação em sua duração, chegando
alguns a 24 meses de acompanhamento. Além desses aspectos, outros foram
analisados e seguem igualmente os guidelines internacionais como o tempo de
aquecimento que variou de cinco a 15 minutos, o treino aeróbico e de
resistência com variação entre 20, 30 até 60 minutos e o desaquecimento de três
a dez minutos. Dentre os exercícios aeróbicos citados constam bicicleta
ergométrica, calistênicos, caminhadas, corridas, vôlei, futebol, hóquei,
natação, circuitos e games [16].
Em recente artigo
publicado, Brewer et al. [17] analisaram um protocolo de pesquisa sobre a
educação virtual com a finalidade de complementar e aumentar a acessibilidade à
RC, para indivíduos que sofreram IAM, angina instável ou intervenção coronária
percutânea recentes, que apresentavam pelo menos um fator de risco de vida
modificável e, finalmente, com limitações de acesso ao tratamento, como
geográficos, de transporte e de trabalho. Trata-se de uma extensão do programa
de RC convencional, com o intuito de melhorar os comportamentos relacionados à
atividade física, dieta e fumo desses indivíduos. Em um primeiro momento, os
pacientes serão recrutados para participar de um programa de 12 semanas de
educação virtual com a finalidade de fornecer feedback sobre a viabilidade,
utilidade e design da intervenção, cobrindo tópicos relevantes de saúde
cardiovascular como a doença arterial coronariana, hipertensão, hiperlipidemias
e diabetes.
As evidências do uso
de exercícios isométricos em baixa intensidade para pacientes coronariopatas
têm aumentado [3,18,19]. Entretanto, os exercícios isométricos tanto quanto os
isotônicos dependem dos componentes estáticos e dinâmicos, da duração e
intensidade do exercício [18]. Para idosos, os isométricos puros devem ser
evitados [14].
Leite et al.
[18]
avaliaram as respostas da FC durante três
contrações isométricas de diferentes
intensidades em pacientes coronariopatas cursando a Fase III de RC,
concluindo
que as contrações isométricas de baixa intensidade
mantidas por longos períodos
de tempo apresentam os mesmos efeitos sobre as respostas da FC, quando
comparadas
a contração isométrica de alta ou máxima
intensidade, mas com uma duração mais
abreviada (Contração Voluntária Máxima
(CVM); cinco e dez segundos de duração)
e Contração Voluntária Submáximas (CVSM);
30 e 60% da CVM-cinco segundos até a
exaustão muscular) [18]. As respostas cardiovasculares para a
contração
isométrica foram avaliadas pela diferença entre a FC pico
e a FC de repouso.
Utilizou-se um dinamômetro analógico de preensão
palmar e respiração espontânea
com instruções para se evitar a manobra de Valsalva
durante a execução do
experimento. Os testes realizados foram aplicados com um intervalo de
cinco
dias e a Variação da Frequência Cardíaca
(VFC) foi analisada durante as
contrações voluntárias máximas (CVM; cinco
e dez segundos de duração) e contrações
voluntárias submáximas (CVSM; 30 e 60% da CVM-cinco
segundos até a exaustão
muscular).
Araújo et al. [19]
utilizaram um protocolo de treino isométrico de preensão manual com quatro
séries de dois minutos a 30% da força máxima e observaram efeitos favoráveis
sobre a modulação autonômica e redução dos níveis de PAS e PAD de repouso.
Concluiu-se que o treinamento isométrico de preensão manual foi bem tolerado e
não provocou sinais e sintomas contrários. As respostas hemodinâmicas como
resultado do treinamento tiveram pequenas diferenças entre as condições de
repouso e final de exercício, sugerindo um significado desprezível.
Lee et al. [12]
aplicaram um protocolo na fase II pós-IAM, em pacientes do sexo masculino, com
atividades realizadas duas vezes por semana, durante oito semanas, prosseguindo
na fase III, com atividade física no tempo livre, por um período de seis meses.
Na fase II, foram incluídos dez minutos de aquecimento (warm-up) com
alongamentos suaves e exercícios aeróbicos, seguidos de 20 minutos de
exercícios em esteira rolante com intensidade de 60-79% da FCmáx e cinco
minutos de desaquecimento. Na fase III deu-se prosseguimento aos exercícios em
tempo livre, prescritos de acordo com os resultados obtidos por teste
ergométrico e monitorados por meio da Escala de Borg. Os autores concluíram que
os pacientes depois da fase III mantiveram a cessação do tabagismo, conquistado
na fase anterior, aumentaram a capacidade de exercício obtido com expressiva
melhoria do HDL-C.
Em trabalho publicado
na Revista Portuguesa de Cardiologia, Anjo et al. [20], em estudo retrospectivo
com 858 pacientes após síndrome coronariana aguda, descreveram a prevalência do
sexo feminino em um grupo de RC e avaliaram o impacto clínico a esta
intervenção. O protocolo bissemanal tinha a duração de 60 minutos, dividido em
fases de aquecimento (warm-up), treino aeróbico de 40 minutos com intensidade
de 50-80% da FCmáx e complementada com a percepção subjetiva do esforço
registrada na Escala de Borg, treino de força muscular utilizando halteres,
aparelhos e bolas e a fase de resfriamento com exercícios de flexibilidade
[20]. As mulheres quando comparadas aos homens desse grupo de estudo eram mais
idosas, apresentavam mais fatores de risco cardiovascular e doença cardíaca
isquêmica mais grave. Porém, foram amplamente beneficiadas com a RC e
apresentaram melhoria no controle dos fatores de risco cardiovascular como
hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo e
na maioria dos marcadores de prognóstico da cardiopatia isquêmica estudados.
Alguns autores
indicam que o exercício físico supervisionado potencializa a qualidade de vida
em doentes cardíacos [6,8,11,13,16].
Tavares et al. [13]
usaram o questionário Mac New para avaliar a qualidade de vida relacionada com
a saúde (QVPS) em pacientes com patologias cardíacas, utilizando-se de recursos
comunitários, em prazo superior a três meses. Nesse questionário, composto de
27 itens e divididos em três funções (física, emocional e social) abordaram-se
sintomas diversos como angina pectoris, dispneia, fadiga e tonturas. Obteve-se
como resultado que o exercício físico supervisionado, com intensidade moderada,
potencializou a qualidade de vida em pacientes cardíacos.
Heran et al. [16]
analisaram dez estudos sobre qualidade de vida, ficando evidente a melhora
nesse quesito quando relacionado com a reabilitação cardíaca baseada em
exercícios. Os protocolos de estudos randomizados incluíam dietas com baixo
teor de gordura, algumas vegetarianas, aconselhamentos dietéticos,
gerenciamento de estresse, cessação do tabagismo, controle dos fatores de
risco, apoio psicossocial, intervenção cognitivo comportamental e exercícios
físicos.
Benetti et al. [21],
em estudo comparativo de coorte retrospectivo, estudaram os resultados de
tratamentos em indivíduos pós-IAM observando-se as possíveis alterações na
qualidade de vida.
Distribuíram-se os
pacientes em grupos: aqueles submetidos a tratamento convencional, com
exercícios em cicloergômetro cinco vezes por semana com duração de 40 minutos,
seguidos de exercícios de resistência muscular local e alongamentos com duração
de 15 minutos. O segundo grupo submetido a tratamento medicamentoso e
ambulatorial com orientação para mudanças de hábitos de vida alimentar e
atividade física espontânea. O último grupo não realizou atividade física,
apenas seguiu um tratamento clínico convencional, com orientações em mudanças
nos hábitos alimentares. No grupo um o resultado foi mais significativo que os
demais, com relação à qualidade de vida e percepção de bem-estar geral, físico,
social e emocional [21].
Em um trabalho
publicado em 2015, seguindo as diretrizes da American Heart Association, Chen et al. [22] avaliaram a taxa de recorrência de IAM em pacientes submetidos a RC
durante a fase de internação (grupo I) em comparação com o grupo que não
recebeu a RC nesta fase (grupo II), por um período de cinco anos de
acompanhamento, concluindo que o primeiro grupo obteve taxa menor de
recorrência de IAM [22]. Além disso, observaram que os custos com tratamento,
assistência médica e hospitalar foram menores àqueles pertencentes ao primeiro
grupo. Esses dois aspectos são relevantes, pois fica comprovado que a
participação da reabilitação cardíaca em regime de internação está
correlacionada com a reabilitação cardíaca ambulatorial e qualidade de vida,
reduzindo custos para o sistema de saúde, bem como a recorrência desses eventos
coronarianos.
Concluiu-se que os
métodos utilizados nos dias atuais para a reabilitação não diferem daqueles
preconizados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e pelos guidelines
internacionais como o American College of Sports Medicine.
Os protocolos de RC
resultam para os pacientes coronariopatas, frequências cardíacas mais baixas,
melhora na aptidão cardiorrespiratória e evidências de nível significativamente
mais elevado de qualidade de vida, com a adoção de hábitos saudáveis.
A reabilitação
cardíaca baseada em exercícios mostrou-se eficaz na redução global da
mortalidade cardiovascular (12 ou mais meses de follow-up), sugerindo a redução
também de internações hospitalares em curto prazo (menos que 12 meses de
follow-up).