ARTIGO
ORIGINAL
Força e
resistência muscular de membro superior dominante e não dominante no exercício
de flexão unilateral de antebraço: comparação entre os sexos
Muscular strength and endurance of dominant and not dominant upper limb
in the exercise of forearm unilateral flexion: comparison between sexes
Rodrigo Alves
Coelho*, Hugo Ribeiro Zanetti**, Lucas Gonçalves da Cruz**, Marco Aurélio
Ferreira de Jesus***, Eduardo Gaspareto Haddad****
*Especialista
em Fisiologia do Exercício - Instituto Passo 1 – Uberlândia/MG,
**Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade
Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/MG, ***Graduado em Educação Física,
Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/MG, ****Especialista em
Gerontologia, Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos, Araguari/MG
Artigo recebido em 12
de dezembro de 2015; aceito em 27 de dezembro de 2015.
Endereço
para correspondência:
Hugo Ribeiro Zanetti, Avenida Tutunas, 490, Uberaba MG, E-mail:
hugo.zanetti@hotmail.com; Rodrigo Alves Coelho:
rcpersonaltrainner@yahoo.com.br; Lucas Gonçalves da Cruz:
lucas_gcruz@hotmail.com; Marco Aurélio Ferreira de Jesus:
marcoferreiraleite@hotmail.com; Eduardo Gaspareto Haddad: haddadtreinamento@gmail.com
Resumo
Objetivo: Comparar a força e
o desempenho motor unilateral de membro superior dominante (MSD) e membro
superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres no exercício de flexão de
cotovelo a 50% de 1 repetição máxima (1RM). Métodos: A amostra foi composta por 26
indivíduos de ambos os sexos, com experiência prévia em exercício resistido.
Todos os participantes foram submetidos a três testes: um teste de 1RM a fim de
determinar a carga dos testes, e dois testes com carga de 50% de 1RM, no qual
foi registrado o maior número de repetições possíveis em MSD e MSND. Resultados: Não foram encontradas
diferenças significativas na carga absoluta em MSD e MSND no mesmo gênero.
Entretanto houve diferença quando se comparou as cargas máximas tanto em MSD
(22,6 ± 3,9 vs. 8,72 ± 1,5) quanto MSND (22,9 ± 3,9 vs. 8,6 ± 1,6) entre homens
e mulheres. Em relação ao número máximo de repetições a 50% de 1RM, observou-se
que o gênero feminino realizou mais repetições tanto em MSD (27,38 ± 9,06 vs.
18,15 ± 2,30) quanto MSND (27,15 ± 6,81 vs. 17,84 ± 2,07) quando comparado ao
gênero masculino. Conclusão: O gênero
masculino apresenta maior capacidade de geração de força, entretanto o gênero
feminino é mais resistente à fadiga com carga a 50% 1RM.
Palavras-chave: resistência muscular
localizada, força muscular, exercício unilateral.
Abstract
Aim: To compare the
strength and unilateral motor performance in the dominant upper limb (DUL) and
non-dominant upper limb (NDUL) between men and women in the exercise of elbow
flexion at 50% of 1 repetition maximum (1RM). Methods: The sample consisted of 26 subjects of both sexes, with
previous experience in resistance exercise. All participants underwent three
tests: a test of 1RM in order to determine the load test, and two tests with a
load of 50% 1RM, which registered the highest number of possible duplicates on
DUL and NDUL. Results: No significant
differences were found in absolute load on DUL and NDUL in the same genre.
However there was difference when comparing these maximum loads in both DUL
(22.6 ± 3.9 vs. 8.72 ± 1.5) as NDUL (22.9 ± 3.9 vs. 8.6 ± 1.6) between men and
women. Regarding the maximum number of repetitions at 50% 1RM, it was observed
that females performed more repetitions in both DUL (27.38 ± 9.06 vs. 18.15 ±
2.30) as NDUL (27.15 ± 6.81 vs. 17.84 ± 2.07) compared to males. Conclusion: The male has a greater
capacity to generate force; however females are more resistant to fatigue
loading at 50% 1RM.
Key-words: localized
muscular resistance, muscular strength, unilateral exercise.
O conceito de
exercício físico tem abrangência na prerrogativa de que há o controle do volume
e da intensidade da atividade física que está acontecendo. Existem vários tipos
de exercícios que compõem um treinamento físico, dentre eles o treino resistido
(TR) se caracteriza como método que envolve conjuntos de exercícios que
produzem as ações voluntárias dos músculos esqueléticos contra alguma forma
externa de resistência, que pode ser provida pela própria resistência do corpo,
pesos livres ou máquinas [1].
Os benefícios
acarretados pela prática deste tipo de exercício são variados, como a
hipertrofia, gerando aumento da força, potência e resistência musculares e
redução de gordura corporal [2]. Existem dois processos primordiais para o
aumento da força de resistência muscular, que são relacionados aos aspectos
neurais e hipertróficos [3,4]. As adaptações neurais predominam durante curtos
períodos de treinamento. Concomitantemente às adaptações neuromusculares, a
hipertrofia muscular inicia-se nas primeiras seis semanas de treinamento de
força por meio da mudança na quantidade e qualidades de proteínas contrateis da
estrutura muscular estriada esquelética [3,4]. Existe ainda, uma inter-relação
entre as adaptações neurais e hipertrofia na expressão de força e resistência
muscular [5].
Entretanto, existem
diversas vertentes relacionadas com o volume e intensidades que podem ser
usadas na estruturação de programas de TR. Entre as variáveis implicadas nesse
tipo de treinamento destacam-se o número de exercícios, ordem de execução,
número de séries e repetições, velocidade de execução, intervalos de
recuperação entre as séries e os exercícios como também frequência semanal que,
por sua vez, produzem respostas diferentes a partir do estimulo específico do
treino [6].
A realização do TR
pode ocorrer de forma unilateral ou bilateral, sendo esta uma das
possibilidades de variação de execução. A principal diferença entre eles reside
no fato de a execução unilateral apresentar sinal eletromiográfico maior quando
comparado a forma bilateral [7,8]. Há evidencias de
que a força desenvolvida, durante ações bilaterais, normalmente são menores do
que a soma da força desenvolvida por cada membro [9]. Denominamos tal fenômeno
de déficit bilateral [8-10].
Ainda, é relevante
destacar a magnitude das respostas ao TR implicadas pela diferença do gênero,
sendo denotados em vários estudos que as mulheres apresentam menores valores de
força musculares absolutas do que os homens, tanto em membros superiores quanto
em membros inferiores [11,12]. Entretanto as mulheres apresentam maior
capacidade de resistência à fadiga quando os exercícios são realizados com
carga de intensidade leve a moderado [13].
Assim o objetivo do
estudo foi comparar a força e o desempenho motor unilateral de membro superior
dominante (MSD) e membro superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres
no exercício de flexão de cotovelo à 50% de 1
repetição máxima (1RM).
Amostra
A amostra do estudo
foi composta por 26 voluntários de ambos os gêneros (13 homens e 13 mulheres),
e as características dos voluntários estão denotados na tabela I. O estudo
seguiu as normas éticas de estudo envolvendo seres humanos, conforme lei nº
196/96. Além disso, todos os voluntários assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido, sobre todos os procedimentos a serem realizados.
Tabela
I - Medidas descritivas da amostra.
MC: massa corporal.
Os critérios para
seleção e inclusão dos voluntários foram ausências de doenças que ofertassem
riscos para a saúde dos participantes, sendo de origem: cardiovascular
(hipertensão arterial, palpitações ocasionais e cardiopatias), respiratória
(asma brônquica e doença pulmonar obstrutiva crônica), articular (artrite ou
artrose), muscular (lesões musculares), retinopatias
(deslocamento de retina) e gestantes. Além disso, prática de exercício
físico regular de no mínimo 40 minutos/dia, 3 vezes
por semana, por pelo menos 6 meses e também deveriam estar familiarizados com o
TR.
Todos os voluntários
selecionados assinaram um termo de consentimento informando sobre a proposta e
procedimentos do estudo e responderam negativamente aos itens do questionário
PAR-Q(14) visando identificar prováveis restrições e limitações quanto à
prática de exercícios.
Protocolo
do teste
Todos os testes foram
realizados em local reservado (sala de avaliação) sempre com um avaliado
(voluntário) e dois avaliadores experientes. Os voluntários foram instruídos
dias antes do teste sobre técnicas de execução e postura realizadas em um estudo
Piloto, a fim de reduzir margens de erro dos testes. Ainda, os voluntários
foram instruídos a manter a dieta diária e alimentar-se cerca de uma hora de
antecedência do horário predeterminado para os testes.
Ficou
pré-estabelecido que os testes iniciariam com MSD
seguido do MSND com intervalo mínimo de 3 minutos de um membro para o outro.
Teste
de Força Máxima (1RM)
Para avaliação da
força máxima, os voluntários obedeceram a um descanso de 72
horas isentos de exercícios que envolvessem a musculatura a ser exigida no
teste com o objetivo de restaurar as condições neurais, metabólicas,
morfológicas e psíquicas.
Na avaliação da força máxima do MSD e
MSND foi utilizado o teste de uma repetição máxima (1RM) no exercício de flexão
de cotovelo unilateral sentado, com o voluntário sentado no banco com as costas
e quadril apoiados.
Antes do teste os
voluntários realizaram um aquecimento localizado visando preparar a musculatura
envolvida no exercício. O movimento iniciou-se com o antebraço em total
extensão, partindo assim para a flexão máxima do antebraço (fase concêntrica do
movimento). Foram executadas até 5 tentativas
realizando incrementos progressivos de cargas com 5 minutos de descanso para
uma nova tentativa no mesmo braço. Os avaliados foram encorajados verbalmente
com a finalidade de incentivá-los a atingir sua força máxima. O teste era
interrompido quando não se conseguia mais realizar o movimento da forma
previamente estabelecida.
Resistência
Muscular Localiza (RML)
A carga utilizada no
teste de RML compreendeu 50% de 1RM e utilizou-se os
mesmos padrões de postura execução do teste de 1RM. Durante toda a amplitude de
movimento, a velocidade foi controlada, usando-se 1,5 segundos na flexão do
antebraço e 1,5 segundos para a extensão do antebraço. Durante a execução, os
cotovelos permaneceram apontados para o solo, sem que fossem projetados à
frente e o tronco manteve-se apoiado no banco. O ritmo do movimento foi ditado
por um metrônomo virtual da marca Dirk’s analógico instalado em um Laptop
ajustado para 40 bpm. Os avaliados foram encorajados verbalmente para atingir o
maior número de repetições.
O número de
repetições alcançadas foi registrado na fadiga e/ou exaustão (momento em que o
avaliado não conseguia manter o ritmo do metrônomo, ou o cotovelo era projetado
a frente ou ocorriam oscilações posturais).
Estatística
Realizou-se
inicialmente análise descritiva dos dados (média e desvio-padrão),
posteriormente o teste de Shapiro-Wilk foi realizado para verificar normalidade
entre os dados. Em seguida o teste t de Student foi utilizado para comparação
das cargas do teste de 1RM e o pós-teste de comparações múltiplas de Tukey foi
realizado para identificar possíveis diferenças entre as médias. O risco alfa
assumido foi de 5% (p < 0,05). O registro e armazenamento dos dados foram
realizados com o software Microsoft Office Excel 2010 (Microsoft Corp, Redmond,
WA®) e as análises no programa GraphPad Prism
Software® 6.0.
Na figura 1 estam representados
os dados referentes as cargas de 1RM de MSD e MSND de
ambos os generos.
Figura
1 - Carga absoluta de MSD e MSND em homens e
mulheres.
1RM = uma repetição
máxima; MSD = membro superior dominante; MSND = membro supeior não dominante;
*Denota diferença significativa entre sexos (p < 0,05).
Denota-se que não
houve diferença significativa (p < 0,05) entre a carga máxima no mesmo
gênero, entretanto houve diferença entre a cargas máximas tanto em MSD (22,6 ±
3,9 vs 8,72 ± 1,5) como MSND (22,9 ± 3,9 vs 8,6 ± 1,6)
entre os gêneros masculino e femininos, respectivamente.
A figura 2 representa
a quantidade de repetições máximas realizadas a 50% de 1RM em MSD e MSND em
ambos os generos.
Figura
2 - Número de repetições realizadas até a fadiga
com 50% de 1RM.
1RM = uma repetição máxima;
MSD = membro superior dominante; MSND = membro supeior não dominante; *Denota
diferença significativa (p < 0,05) intergrupo.
Houve diferença
significativa quando comparou-se o número de
repetições até a fadiga de MSD entre mulheres e homens (27,38 ± 9,06 vs. 18,15
± 2,30), respectivamente. Tal fato também foi observado quando comparou-se o desempenho do MSND (27,15 ± 6,81 vs 17,84 ±
2,07). Não houve diferença entre o número de repetições dentro do mesmo gênero.
O objetivo do estudo
foi comparar a força e o desempenho motor unilateral de membro superior
dominante (MSD) e membro superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres
no exercício de flexão de cotovelo a 50% de 1
repetição máxima.
O presente estudo foi
realizado com indivíduos treinados em exercícios resistidos, justificando a
ausência de uma diferença significativa na variável força entre os MSD e MSND
do mesmo gênero. Especula-se que este tipo de treinamento acarreta em aumento
da sincronização das unidades motoras (UMs) agregando maior coordenação
intramuscular, que por sua vez desenvolve maiores ativações das fibras por um
mesmo motoneurônio [7,15,16]. Essa adaptação
proporciona incrementos de força coordenada, ou seja, um
maior número de fibras musculares se contraem ao mesmo tempo, com menor
frequência de estímulos, consequentemente, produzindo acréscimo na produção de
força muscular [17].
Para aplicação do
teste, deve-se ter em vista o déficit bilateral, que se refere à diferença na
capacidade de geração de força dos músculos quando contraídos isoladamete ou de
forma bilateral [7,15]. A carga desenvolvida durante ações bilaterais parece
ser menor do que a soma das cargas desenvolvidas por cada membro. Esta
diferença está relacionada com a estimulação reduzida de unidades motoras, que
poderia ser causada pela inibição dos mecanismos protetores, resultando em uma
menor produção de força [15,18].
Foi encontrada uma
diferença significativa da força no teste de 1RM entre os gêneros, isto pode
ser justificado pelo fato do homem apresentar uma maior proporção de fibras
metabolicamente e funcionalmente mais rápidas (fibras IIx),
devido a uma maior expressão gênica do músculo esquelético e na interação com
hormônios específicos do gênero masculino comparado com o feminino [19,20].
Enfoque seja dado ao papel do hormônio testosterona, que é encontrado de
maneira predominante em homens, que possui característica anabólica, atuando
principalmente sobre as zonas de crescimento dos ossos e músculos, além de influenciar
o desenvolvimento de praticamente todos os órgãos do corpo humano [21].
Outro achado do nosso
estudo foi que as mulheres realizaram uma maior quantidade de repetições até a
fadiga com carga de 50% de 1RM. Nosso estudo corrobora alguns achados da
literatura, demonstrando que o gênero feminino apresenta maior resistência à
fadiga com cargas inferiores a 70% de 1RM [20,22].
Uma possível
explicação para estes achados tange à composição muscular das mulheres, que
reside na maior prevalência de fibras do tipo I sobre as fibras do tipo II
[12]. As fibras tipo I possuem menor diâmetro, menor velocidade de contração e
são mais resistentes à fadiga [23]. No gênero masculino possui maior tendência
de apresentar maior porcentagem de fibras rápidas, que possuem maior diâmetro,
maior velocidade de contração e menor resistencia à fadiga [24].
Outro ponto referente
à diferença entre os gêneros pode ser explicada pelo
tamanho da massa muscular envolvida no exercício, a utilização de diferentes
substratos energéticos durante a contração musucular e a ativação neural [22].
Além disso, pode-se observar diferença na motivação, na habilidade para
sustentar o drive central, diferença do suprimento de sangue para a musculatura
ativa além das características que levam a fadiga devido à diferença nas
quantidades de fibras musculares [12].
Conclui-se que os
homens são capazes de desenvolver maior força máxima que as mulheres. No
entanto, as mulheres realizaram maior quantidade de repetições máximas com
carga referente a 50% de 1RM.