ARTIGO
ORIGINAL
Alterações
morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força
Morphofunctional alterations deriving from two methods of strength training
Allan Lucas Jacques*,
Marcelle Modolin Vidigal*, Rodrigo Pereira**, Cláudio Scorcine***, Fabrício
Madureira***, Dilmar Pinto Guedes Junior****
*Graduado
no curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos
(FEFIS/UNIMES), **Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de
Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), Professor da Faculdade da Praia
Grande (FPG), Professor da Faculdade de Educação de Educação Física e Esporte
(FEFESP/UNISANTA), ***Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de
Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), ****Professor do curso de Educação
Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), Membro do
Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e Treinamento - CEFIT
Recebido em 22 de
março de 2017; aceito em 18 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Allan Lucas Jacques, Rua Torres Homem, 307/21, Embaré, 11025-021 Santos SP,
E-mail: allanlucas_@hotmail.com
Resumo
O objetivo do
presente estudo é comparar as alterações morfofuncionais decorrentes de dois
métodos de treinamento de força: repetições fixas e piramidal
crescente. Foram avaliados 20 voluntários com idades entre 18 e 40 anos
iniciantes em treinamento de força. O programa teve a duração de 10 semanas e
foram utilizados nos momentos pré e pós-treinamento o teste de 1 repetição máxima (1RM) e a avaliação da composição
corporal por meio da bioimpedância. Nas avaliações de cargas máximas, os
métodos de repetições fixas e piramidal crescente foram eficientes para o
aumento da força nos testes aplicados entre os momentos pré e pós-treinamento.
Para composição corporal ocorreram diferenças significativas entre pré e pós na
massa magra corporal (MMC). Os resultados demonstram a eficiência de ambos os
métodos de treinamento nos ganhos de força máxima e melhoria da composição
corporal (aumento de massa muscular e diminuição da porcentagem de gordura
corporal) para ambos os grupos, não havendo diferença entre grupos.
Palavras-chave: treinamento, força,
métodos, composição corporal.
Abstract
The purpose of this study was to compare the morphological changes
deriving from two methods of strength training: fixed and pyramidal growing
repetitions. Twenty volunteers 18 to 40 years old, beginners in strength
training, were evaluated. The program had the duration of 10 weeks, pre and
post training was used for the 1 repetition maximum (1RM) and the body
composition was assessed by bioelectrical impedance test. In evaluations of
maximum loads, methods of fixed and growing pyramidal repetitions were
effective for increasing strength tests applied between pre and post training.
For body composition were significant differences between pre and post total
body mass. The results demonstrate the efficiency of both methods of training
in the gains of maximum strength and improving body composition (increased
muscle mass and decreased body fat percentage) in both groups.
Key-words: training,
strength, methods, body composition.
O treinamento de
força (TF) tem papel fundamental nos programas de exercícios físicos e tem sido
recomendado por várias organizações com a finalidade de melhorar a saúde geral
e condicionamento físico [1]. Entre os objetivos do TF destacam-se na
literatura o aumento da força [2] e hipertrofia muscular [3], além da
diminuição do percentual de gordura [4], para fins atléticos [5], estéticos [6]
ou de saúde [7]. Em virtude de todas as adaptações e benefícios proporcionados
pelo TF, vários protocolos, métodos e sistemas de treinamento foram criados
para otimizar o processo de hipertrofia, por meio da
manipulação e combinação das variáveis de treinamento como número de
repetições, carga, número de séries, intervalo de recuperação, entre outros
[8,9].
Alguns autores [8]
sugerem que os métodos de TF foram originalmente planejados por levantadores
olímpicos de peso ou fisiculturistas, entre eles, podemos citar dois métodos, o
de repetição fixa (RF) e o piramidal crescente (PC). Um método que tem sido
bastante utilizado como estratégia para o aumento da força e hipertrofia é o
PC, que se fundamenta na correlação volume versus intensidade de treinamento,
quando a cada grupo de determinado exercício ocorre a
diminuição ou o aumento do número de repetições realizadas e o simultâneo
aumento ou diminuição do peso. Sua aplicação se dá na manipulação da carga de
forma crescente ou decrescente em relação à intensidade. Como consequência
ocorrem modificações no número de repetições realizadas [10].
Alguns estudos são
encontrados na literatura investigando os efeitos dos métodos de treinamento em
públicos e objetivos distintos, como, por exemplo, comparar os
métodos piramidal crescente e decrescente no aumento da força muscular [10], no
número de repetições [8], e em mulheres [9]. São encontrados autores que
comparam vários métodos no mesmo estudo, em parâmetros morfológicos [11], na
composição corporal [12] e ainda a comparação de periodizações distintas [13].
Poucos estudos
compararam o aumento da força muscular e composição corporal entre os métodos
citados anteriormente. O objetivo do presente estudo é de comparar as
alterações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força,
repetição fixa e piramidal crescente.
Após ser assinado o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciou-se o projeto com 36
participantes, entretanto devido à falta de disponibilidades para os horários
de treinos, faltas continuas e desistência do programa de
treinamento foram avaliados 20 indivíduos divididos igualmente em dois
grupos: treinamento de repetição fixa (RF) e treinamento piramidal crescente
(PC). Os sujeitos foram recrutados através de difusão em rede social e como
critério de inclusão deveriam estar pelo menos seis
meses sem praticar musculação. Estes indivíduos foram classificados como de
baixo risco, por não apresentarem qualquer sinal ou sintoma insinuante de
doença arterial coronariana de doença cardiopulmonar ou metabólica, avaliada
pelo questionário Physical Activity
Readiness Questionnaire (PAR-Q) e por anamnese clínica.
O programa foi
realizado em 10 semanas. Na primeira semana e na última foram realizadas as
avaliações de: 1RM, nos exercícios supino reto,
puxador frente e leg press 45° e a composição corporal por meio da
bioimpedância da marca Inbody 250. A segunda semana serviu para familiarizar os sujeitos com o
método de treinamento. A partir da terceira semana até a oitava os grupos foram
divididos em RF realizando 4 séries de 12 repetições e
PC executando 12/10/8/6 repetições, ambos com pausa de 1 minuto entre séries e
2 minutos entre exercícios. Os exercícios foram divididos de acordo com os
segmentos corporais em posterior e anterior e por gêneros (Quadros 1, 2, 3 e
4).
Quadro 1
- 1ª semana - treinamento masculino.
Quadro 2
- 1ª semana - treinamento feminino.
Quadro
3 - 2ª a 8ª semana - treinamento masculino.
Quadro
4 - 2ª a 8ª semana - treinamento feminino.
Foi realizada uma
análise descritiva dos dados usando média e desvio padrão. Em seguida
utilizamos o Test T de Student para amostras dependentes e independentes. O
nível de significância aceito foi p ≤ 0,05.
Nas avaliações de
cargas máximas, os métodos de RF e PC foram eficientes para o aumento da força
nos testes aplicados entre os momentos pré e pós-treinamento (ver tabela I).
Para composição corporal ocorreram diferenças significativas entre pré e pós na
MMC (Tabela II).
Tabela
I – Avaliações de 1RM no supino, leg press e
puxador frente nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.
Os dados estão em kg
em forma de média ± desvio padrão; SR = Supino Reto; PF = Puxador Frente; *=
diferença estatística significativa entre os momentos e #entre grupos; p ≤ 0,05.
Tabela
II –
Analise do peso corporal total e composição
corporal nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.
Os dados estão em
forma de média ± desvio padrão; MMG = Massa magra Corporal; MGC = Massa Gorda
Corporal; PGC = Porcentagem de gordura corporal; *= diferença estatística
significativa entre os momentos; p ≤ 0,05.
O presente estudo
avaliou o efeito de dois métodos de treinamento, RF e PC ao longo de oito
semanas de treinamento no desenvolvimento da força muscular máxima, na qual não
se registrou diferença significativa (p = 0,05) entre os métodos analisados,
porém registrou diferença entre pré e pós-treinamento nos exercícios supino
reto, puxador frente e no leg press. Na composição corporal não foram
encontradas diferenças entre os grupos, entretanto observou-se aumento da massa
magra corporal entre os momentos para os dois métodos avaliados.
No estudo que compara
em dezoito voluntários do sexo masculino, selecionados aleatoriamente, o efeito
de oito semanas de treinamento sobre o número de repetições máximas dos métodos
PC e piramidal decrescente, não ocorreu diferença significativa entre os
métodos ou pré e pós-treinamento [8]. Em outro experimento que comparou os
métodos de RF e PC em dezoito indivíduos experientes em treino de força
muscular ao longo de oito semanas de treinamento sobre o desenvolvimento da
força muscular máxima, não foram encontradas diferenças significativas entre os
métodos e nem entre os momentos pré e pós-treino [14].
No trabalho que teve
o objetivo de comparar o impacto de dois métodos, RF e PC na força muscular de
dezenove homens adultos treinados, o programa de treinamento com pesos foi
realizado em seis semanas e não foram observadas diferenças significativas na
força muscular, entre os momentos pré e pós-treino e nem entre grupos [15]. Os
resultados confirmam em parte os encontrados no presente estudo, porém os
sujeitos do artigo citado eram treinados.
Os exercícios
utilizados apontaram diferenças significativas no aumento da força muscular no
trabalho de Manzini Filho et al. [10], que realizaram um experimento
durante 8 semanas com o objetivo de comparar os métodos piramidal crescente e
decrescente. No exercício supino reto não foi encontrada diferença estatística,
não indo ao encontro com os resultados do presente estudo. Vale ressaltar que,
no estudo citado, os indivíduos eram ativos fisicamente. Já o estudo de
Carvalho et al. [12] encontrou resultados
estatisticamente significativos no aumento de força utilizando o método Drop
Set nos exercícios supino reto e leg press, corroborando os nossos achados.
Nas modificações da
composição corporal, os métodos PC e RF foram eficientes para aumentar a massa
magra corporal. Em um estudo que avaliou 9 indivíduos
ativos por 4 semanas, não foram observadas modificações corporais [12]. Em uma
periodização que comparou os efeitos do treinamento de força com pesos e no
meio líquido, ambas as metodologias foram eficientes para potencializar a massa
magra corporal nos universitários avaliados durante 6
meses [16]. Em todos corroboram o presente estudo na variável nutricional, ou
seja, não houve controle da alimentação dos voluntários.
As limitações do
estudo foram em relação aos grupos que no momento pré estavam com diferenças
significativas no exercício supino reto. Quando foram distribuídos os
participantes nos grupos não foram observadas diferenças, após a desistência de
alguns voluntários ficaram com diferenças estatisticamente significativa.
Os resultados sugerem
a eficiência de ambos os métodos de treinamento nos ganhos de força máxima e
melhoria da composição corporal (aumento de massa muscular) para ambos os
grupos. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre
grupos. A magnitude das variáveis escolhidas nos protocolos de treinamento
(repetições, pausa, exercícios, séries, população) pode interferir nos resultados.
São necessários mais estudos para que sejam estabelecidas conclusões mais
concretas.
Agradecimentos a
Clínica Abbud pela parceria no presente estudo, realizando as avaliações da
composição corporal dos voluntários e a academia Praxis pela realização das
avaliações de 1RM e pelos treinamentos realizados durante 2
meses.