RELATO
DE CASO
Monitoramento
das alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens atletas de
alto rendimento no período de três anos de treinamento
Monitoring of postural alterations per body region found in
high-performance young athletes over three years of training
Josenei Braga dos
Santos*, Evelise de Toledo**, Maurício Dubard***, Luiz Fernando Silva***,
Messias dos Santos****, Pedro Ferreira Reis*****, Antônio Renato Pereira
Moro******, Antônio Carlos Gomes*******
*Coordenador
da Rede de Estudo da Postura Humana (REPH), **Especialista em Medicina do
Esporte e Atividade Física (ES), ***Treinador Nível I da Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt), ****Treinador Nível II
da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Instituto de Ensino Superior –
IESFI – FEFFI, ******Coordenador do Laboratório de Biomecânica – BIOMEC/UFSC,
*******Superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo
(CBAt)
Recebido em 28 de
março de 2017; aceito em 4 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Josenei Braga dos Santos, Rua Nelson Carline, 148, Jardim Primavera, 12916-083
Bragança Paulista SP, E-mail: jopostura@gmail.com; Evelise de Toledo:
evefit46@gmail.com; Maurício Dubard: cdubard@uol.com.br; Luiz Fernando Silva:
suquinhocoach@hotmail.com; Messias dos Santos: messias.ds@hotmail.com; Pedro
Ferreira Reis: ergoreis@hotmail.com; Antônio Renato Pereira Moro:
renato.moro@ufsc.br; Antônio Carlos Gomes: contatoacgomes@gmail.com
Resumo
O objetivo deste
estudo de caso foi monitorar as alterações posturais por região corporal de
jovens atletas nas modalidades de atletismo e voleibol durante um período de
três anos. Participaram da amostra 14 jovens atletas (7
sexo feminino e 7 masculino) com idade média de 16,4 (± 1,3) anos que treinavam
cinco vezes/semana 4 horas/dia. Para a
avaliação postural, utilizou-se o protocolo preconizado pela Portland State University (PSU), cujo
índice de correção postural (ICP) normal para jovens é de ≥ 75% e para
análise das imagens adotou-se procedimentos da biofotogrametria. Com relação à
análise estatística utilizou-se o programa SPSS versão 19.0 sendo os valores
percentuais expressos em forma de média e desvio padrão. Para análise
inferencial utilizou-se teste de Friedman entre os escores de avaliação
postural e para escores entre anos, par a par e gênero utilizou-se o teste de
Wilcoxon sendo adotado nível de significância p < 0,05. Os resultados
mostraram que na postura houve uma variação percentual significativa entre
gênero e ano pelo ICP: a) feminino 2011 (90,9% ± 2,1), 2012 (85,0% ± 3,8) e
2013 (83,6% ± 2,4); e b) masculino 2011 (88,2% ± 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1) e
2013 (79,4% ± 4,3). Quanto à região corporal, o abdômen/quadril, em ambos os
sexos, obteve (93,0% ± 5,1) e em 2013 os membros inferiores, somente no
masculino, apresentaram-se abaixo da normalidade (74,3% ± 7,9). No que se
referiu às alterações posturais, (100,0% ± 0,0) indicou hiperextensão em ambos
os sexos e (95,2% ± 8,3) no feminino e (100,0% ± 0,0) no masculino,
identificou-se escoliose torácica direita. Pode-se concluir que monitorar a
postura de jovens atletas a longo prazo é uma
excelente estratégia diagnóstica.
Palavras-chave: postura,
adolescentes, esporte.
Abstract
This case study aimed to monitor postural alterations per body region
found in young track and field athletes and volleyball
players over a three-year period. Fourteen young athletes (7 female and 7
male), with a mean age of 16.4 (± 1.3) years participated in this study. They
trained four hours a day five days a week. The Portland State University (PSU)
protocol for postural assessment was used, which establishes a normal posture
correction index (PCI) of ≥ 75% for young people. The study images were
analyzed through biophotogrammetry. Statistical
analysis was performed with the SPSS software version 19.0 and the percentages
were expressed as media and standard deviation. For the inferential statistical
analysis, the Friedman test was performed on the scores of the posture
assessments and the Wilcoxon test, with a significance level of p < 0.05,
compared the scores pair by pair and between different ages and gender. Results
regarding posture have showed that, based on the PCI, there has been a
significant variation in terms of the percentages obtained between male and
female athletes and the years: a) females 2011 (90,9% ± 2,1), 2012 (85,0% ±
3,8) and 2013 (83,6% ± 2,4); b) males 2011 (88,2% ± 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1)
and 2013 (79,4% ± 4,3). The percentage obtained for the abdominal region and
hip for males and females was 93.0% ± 5. In 2013 only the lower limbs of males
produced results considered below the normal ranges (74.3% ± 7.9). Results of
postural alterations indicated hyperextension for both genders (100.0% ± 0.0)
and right thoracic scoliosis for females (95.2% ± 8.3) and for males (100.0% ±
0.0). It can be concluded that long-term monitoring of posture of young
athletes is an excellent diagnostic strategy.
Key-words: posture,
adolescents, sports.
À medida que os
jovens atletas evoluem na sua carreira esportiva, o volume e a intensidade dos
treinamentos aumentam o que faz com que estes estejam sujeitos a diversas
alterações posturais durante sua prática.
Após certo período de
treinamento em uma modalidade esportiva, a comissão técnica menciona que
algumas alterações posturais sempre podem ocorrer e serem instaladas, devido à
quantidade de gestos motores treinados repetidamente de forma unilateral, o que
contribui para o aumento do desequilíbrio muscular e articular, auxiliando nas
modificações do alinhamento postural dificultando sua correção.
De acordo Fronza e
Teixeira [1], Bastos et al. [2] e Santos et al. [3] se aplicarmos avaliações diagnósticas constantes e
realizarmos exercícios compensatórios, ao longo da prática esportiva, poderemos
minimizar determinadas alterações posturais.
De acordo com Bastos et al. [2], Pastre et al. [4] e Neto Júnior et
al. [5], a efetividade na realização de diagnósticos precoces e adoção de
medidas profiláticas para cuidar da integridade física e mental do atleta
contribuem para melhora do desempenho esportivo, qualidade dos gestos motores e
auxilia na prevenção de problemas musculoesqueléticos. Entretanto, para estes
autores, ainda são escassos os estudos que focam neste contexto no Brasil, ou
seja, que identificam as alterações posturais, seguindo uma padronização nos
registros de informações de forma sistematizada para possibilitar uma discussão
aprofundada e criar possibilidades de comparação com outras pesquisas.
Segundo Veiga, Daher,
Morais [6] e Signoreti e Parolina [7], qualquer alteração postural causa
retração e desorganização das cadeias musculares e vice-versa, gerando
alteração no desalinhamento articular, porque o treinamento desportivo
baseia-se na repetição constante de determinados movimentos, que podem levar a
diminuição da força muscular, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, o
que possibilita o surgimento de alterações posturais.
Neste sentido, a
avaliação postural é considerada como uma estratégia de mensuração para
registro e controle e se faz necessária ser realizada de forma periódica e
detalhada, durante a periodização estruturada pela comissão técnica buscando minimizar
problemas musculoesqueléticos futuros. De acordo com Bastos et al. [2], ela contribui na investigação de padrões posturais nos
diferentes esportes, sobretudo na adolescência, bem como traçar o perfil e as
características do aparelho locomotor. Na visão de Signoreti e Parolina [7],
Kendal et al. [8], Magge [9], Vilas Boas e Rosa
[10] ter boa postura e equilíbrio muscular leva a um bom alinhamento postural e
se baseiam em um equilíbrio entre a força da gravidade, suporte corpóreo e a
contração muscular, na qual o mínimo de estresse é causado nas articulações,
porque quando ele deixa de existir em determinado segmento corporal, os outros
segmentos, numa tentativa de ajustar-se, adotam uma posição incorreta
sobrecarregando o sistema musculoesquelético.
Tomando-se como
referência estes apontamentos, objetivou-se neste estudo de caso: a) monitorar
as alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens atletas de alto
rendimento no período de três anos de treinamento e b) verificar
quais as alterações mais acometidas.
Tipo de
pesquisa
Esta pesquisa
caracteriza-se como sendo uma pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, na
qual o pesquisador esforça-se por uma compreensão em profundidade de uma única
situação ou fenômeno, sendo considerada de caráter descritivo exploratório conforme
Thomas e Nelson [11].
Amostra
Para coleta de dados,
utilizou-se uma amostra constituída de 14 jovens atletas (7
sexo feminino e 7 masculino) com idade média de 16,4 (± 1,3) anos nas
modalidades de atletismo e voleibol, que treinavam no estado de São Paulo,
cinco vezes por semana, em dois períodos, com carga horária de 4 horas/dia,
preparação física (treinamento resistido e funcionais), parte técnica e eram
filiados a suas respectivas federações no estado.
Toda pesquisa foi
desenvolvida durante um período de três anos (2011-2013), sendo as avaliações
sempre realizadas a cada ano na fase pré-competitiva (mês de maio).
Critério
de inclusão e exclusão
Como critério de
inclusão adotou-se ser atleta da equipe por um período mínimo de seis meses e
estar participando dos treinamentos durante os três anos de estudo. Já como
critério de exclusão adotou-se não ter nenhuma indicação médica de problemas de
saúde, musculoesqueléticos (lesões, entorses, contraturas e cirurgias recentes)
ou sem treinar durante o período das coletas.
Procedimentos
de coleta de dados
Para aquisição das
informações referentes aos atletas, aplicou-se um questionário estruturado com
perguntas abertas desenvolvido em uma planilha eletrônica do Programa Microsoft Office Excel 2010, com
informações referentes ao gênero, idade (em anos completos), local de
nascimento, diagnóstico médico para saber se estes atletas possuíam ou já
tinham sido diagnosticados com algum problema de saúde (ex: cirurgia, entorses,
dores musculares, etc.), anos de estudo (AE), anos de prática na modalidade
(APM), melhor resultado em competições, massa corporal e estatura.
No que se referiu à
vestimenta utilizada para avaliação, as do gênero feminino estavam trajando
bermuda de cotton e top e os do gênero masculino shorts esportivo. Com relação aos que
tinham cabelos compridos, solicitou-se que fossem presos no momento da
avaliação, para facilitar a observação postural, mais especificamente na região
do pescoço.
Método PSU
Como instrumento de
avaliação, adotou-se o método proposto pela Portland
State University (PSU) [12,13], conforme descrito por Santos et al. [14], que é um instrumento que usa
os sentidos visuais (observação), dentro de uma perspectiva subjetiva.
Seu principal
objetivo é detectar as simetrias e assimetrias e os possíveis desvios e/ou
alterações posturais entre os segmentos corporais e regiões, em duas posições
(posterior e lateral), o que permite ao avaliador quantificar o Índice de
Correção Postural (ICP) do avaliado em valores percentuais (%), obtido por meio
de equações matemáticas estipuladas pelo escore diagnóstico. Para obtenção do
ICP total e por regiões, este método adota como critério de avaliação três
escalas: a) 5 – sem desvio; b) 3 – ligeiro desvio lateral; e c) 1 – acentuado
desvio lateral.
No que se refere à
classificação da postura corporal, este método utiliza como critério de boa
postura valor ≥ 75% para adolescentes.
Aquisição
e análise das imagens
No que se referiu à
aquisição das imagens, utilizou-se uma câmera fotográfica digital Sony
Cyber-Shot Sony 8.1 Mega pixels e um tripé FT – 361A, que foi posicionada a 3
metros de distância do avaliado (atleta) e a uma altura de 1,07 metros do chão.
Já com relação à
análise das imagens, utilizaram-se recursos de computação gráfica do software Corel Draw6® (2014), que é um software de edição de imagens, assim
como adotou-se a biofotogrametria (bios – vida;
fotogrametria – aplicação métrica a imagens fotográficas), que é um recurso que
remete à aplicação métrica em fotogramas de registro de movimentos corporais,
permitindo detectar simetrias, assimetrias e os desvios e/ou alterações
posturais entre os segmentos corporais, assegurando acurácia, confiabilidade e
reprodutibilidade [15,16].
Consentimento
da pesquisa
Com relação ao
consentimento da pesquisa, os atletas assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), mostrando que estavam cientes da pesquisa, assim como os
responsáveis pela comissão técnica também, pelo fato dos atletas serem menores
de idade. Todo procedimento tomou como base a resolução específica do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) (Resolução 196/96) [17].
Análise
estatística
Todos os dados da
pesquisa foram analisados com o uso do pacote estatístico SPSS, versão 19.0
(IBM Company, EUA) [18], na qual se adotou a estatística descritiva e os
valores foram expressos em forma de médias e desvios padrão (dp).
Previamente à análise
inferencial, os escores de avaliação postural foram testados quanto ao
pressuposto de normalidade dos resíduos (por visualização dos histogramas), que
não foi consistentemente atendido. Sendo assim, realizou-se o teste de Friedman. Ao se observar valor
estatisticamente significativo, compararam-se os escores entre os anos, par a
par, por meio do teste de Wilcoxon.
As análises foram realizadas para a amostra estratificada por gênero. O nível
de significância adotado foi de 5%.
Na Tabela I
apresentam-se os valores obtidos (média e desvio padrão), referentes ao perfil
físico dos jovens atletas separados por gênero e ano de monitoramento.
Tabela
I – Perfil físico dos jovens atletas por ano de
monitoramento.
APM = Anos de Pratica
na Modalidade; MC = Massa Corporal.
Na Tabela II,
comparam-se os valores percentuais por região e o ICP dos jovens atletas por
gênero e ano durante o período de monitoramento.
Tabela
II –
Percentual (%) das regiões corporais e
ICP dos jovens atletas por gênero e ano.
Nota: Médias com
letras diferentes são estatisticamente diferentes entre si (p < 0,05; teste
de Wilcoxon par a par); RCP = Região da Cabeça e do Pescoço; RCDL = Região da
Coluna Dorsal e Lombar; RAQ = Região do Abdômen e Quadril; RMI = Região dos
Membros Inferiores; ICP = Índice de Correção Postural; *Maior valor; Menor valor**.
Na Tabela III,
apresentam-se as alterações posturais mais acometidas, por gênero e ano.
Tabela
III
– Percentual (%) de alterações posturais
por gênero e ano.
PP = Protusão de
Pescoço; ETD = Escoliose Torácica Direita; ETE = Escoliose Torácica Esquerda;
Hipercif = Hipercifose; Hiperlor = Hiperlordose; Hiperext = Hiperextensão; *
Maior Frequência; ** Menor Frequência.
Após um período de
treinamento e competições, espera-se que alterações posturais possam surgir nos
jovens atletas devido ao aumento da carga de treinamento que foram aplicados,
bem como das mudanças maturacionais que ocorrem nesta fase. Como pode ser
observado na Tabela II, constatou-se que ocorrem diversas variações na postura
dos atletas de forma significativas, em ambos os gêneros e anos de
monitoramento, identificados pelo ICP, onde a RAQ obteve maior valor e a RMI
menor.
Na RAQ, esta classificação
está associada aos diversos tipos de exercícios de fortalecimento de core, que são aplicados constantemente
na preparação física e nos movimentos cíclicos e acíclicos coordenados entre
membros superiores e inferiores, o que desenvolve muita força muscular nesta
região e contribui para a manutenção da boa postura. Para Domingues-Filho [19],
esta região é responsável por boa parte dos movimentos, estabilidade e
manutenção da postura por meio da coluna vertebral no ser humano, porque o
conjunto dos músculos abdominais, glúteos, isquiotibiais, flexores do quadril e
extensores, trazem inúmeros benefícios para a saúde de seu praticante,
principalmente para o equilíbrio postural e rendimento esportivo.
Já na RMI
apresenta-se como a de menor valor em todos os anos, em ambos os gêneros, porém
no masculino, notou-se que, no terceiro ano, esta região ficou abaixo dos
padrões de normalidade, podendo ser considerada como uma situação crítica e que
merece observação clínica.
Quanto às alterações,
diversos fatores podem estar interligados. No atletismo, os locais de treino e
competições serem distintos, calendário de competições, quantidades de
movimentos, situação de amortecimento na execução de movimentos, paradas
bruscas, altos impactos em aceleração, repetidas vezes, curvas da pista e uma
força maior da perna dominante. Santos et al. [3], quando
avaliaram jovens atletas de atletismo, também identificaram as mesmas
classificações para a RMI. Já Bastos et al. [2], em seu
estudo com jovens atletas de atletismo em diversas provas, acharam resultados
contrários, mostrando que esta região estava dentro dos padrões de normalidade.
Com relação ao
voleibol podem ser explicitados: os locais de treino e competições serem
distintos, calendários de competição e a quantidade de saltos verticais parados
e em deslocamento. Nesta modalidade, o principal fator é o salto vertical que
exige uma grande demanda da capacidade de geração de força e trabalho da
musculatura envolvida, principalmente do músculo do quadríceps, o que pode
causar desequilíbrios entre os músculos extensores e flexores, levando à
sobrecarga das estruturas musculotendíneas da articulação do joelho [20].
Desta forma,
percebe-se que ambas às modalidades contribuem para o aumento de entorses,
luxações, contraturas e lesões, como qualquer outro esporte de pista, campo ou
quadra, criando execuções de movimentos que tracionam bruscamente estas regiões
anterior e posterior em inúmeras situações.
Macnicol [21] aponta
que estas alterações são decorrentes da realização de movimentos rápidos e
complexos ao mesmo tempo e, geralmente, tem suas tarefas dificultadas pela
massa corporal devido à necessidade de velocidade e força, o que faz com que o
atleta aplique tensões na articulação e ocasione diversas repetições, tensões
e/ou até mesmo cargas consideráveis, o que pode levar ao estado de fadiga, não
apenas dos tecidos moles, mas também das estruturas ósseas do fêmur, da tíbia e
da patela.
Daneshmandi et al. [22] salientam que estudar o alinhamento
dos membros inferiores é de suma importância tanto para o esporte como para a
saúde, pois diversas pesquisas tem mostrado que ele pode ser considerado como
um fator de risco para prevenção lesões agudas e crônicas.
Outra informação
importante encontrada nesta Tabela II foi que os valores percentuais por região
foram diminuindo com o passar dos anos, em ambos os gêneros e as alterações
ficando mais evidentes, ou seja, em média -9,0% entre elas, demonstrando que
devido ao aumento do volume, da intensidade e dos gestos motores unilaterais
nos treinamentos e competições, desequilíbrios musculares, articulares e
alterações posturais, foram surgindo o que aponta a necessidade de uma
reprogramação da periodização anual, onde se deva buscar enfatizar um trabalho
com exercícios compensatórios durante os períodos de treinamentos e após
competições.
Estes achados nos
mostram o quanto a avaliação postural é importante e
que deve constar no planejamento da periodização anual de treinamentos, porque
com ela se consegue monitorar quais regiões corporais estão comprometidas e,
principalmente, os tipos de alterações posturais mais comuns, conseguindo-se,
assim, definir qual a intervenção de compensação mais apropriada para a
prevenção destas situações.
Verderi [23] quando
fala deste assunto orienta exercícios de alongamento e fortalecimento das
cadeias musculares, por meio de exercícios isométricos e isotônicos
(concêntrico e excêntrico).
Mattos [24] aponta a
musculação terapêutica como sendo uma estratégia de intervenção a ser
utilizada, devendo ser direcionada para ações musculares dinâmicas, com
exercícios isométricos para músculos posturais.
Kendall et al. [8] mostram que os exercícios
terapêuticos que visam fortalecer músculos fracos e alongar músculos contraídos
são os principais meios para que o equilíbrio muscular seja restaurado.
Mendonça [25] foca
numa intervenção voltada para exercícios de alongamento e flexibilidade que
visem explorar os limites corporais, utilizando os mecanismos proprioceptivos
para melhora da consciência corporal.
Souchard [26]
salienta para a importância das auto-posturas baseadas
nos exercícios de flexibilidade focando na melhora das cadeias musculares.
Já Kolyniak,
Cavalcanti e Aoki [27], quando falam do método Pilates, explicam que ele inclui
um programa básico de exercícios que fortalecem a musculatura abdominal e
paravertebral, bem como exercícios de flexibilidade da coluna e para o corpo
todo.
Com relação à
variação dos valores percentuais das regiões corporais, de gênero para gênero e
ano para ano, quando comparadas entre si, nota-se que no feminino a região de
maior valor inicia-se da RAQ para a RMI e no masculino inicia-se da RCDL para a
RMI. No feminino um detalhe importante a ser considerado é que seis atletas
eram do voleibol, já no masculino quatro eram
lançadores, o que mostra uma relação do esporte praticado com as alterações
posturais.
Estes achados podem
ser explicados pelo fato destes jovens atletas estarem em fase de maturação
biológica final que, segundo Lemos, Santos e Gaya [28], Fisberg et al. [29], Guedes e Guedes [30], Weineck
[31] e Galahue e Ozmun [32] é muito comum, pois é nesta fase que se inicia o
estágio de desenvolvimento do treinamento especializado e ocorre à aceleração
do crescimento. Isso faz com que a postura sofra variações e predisponha ao
aparecimento de alterações posturais, assim como ocorrem os períodos críticos,
extremamente importantes, não sendo apenas um período de rápidas alterações
fisiológicas, mas também uma fase crítica de transição social e psicológica.
Mudanças estas observadas e identificadas em conversas informais nos treinos,
competições e convívio social com a comissão técnica e com os jovens atletas.
Na PP e hipercifose
elas estão relacionadas com a fase final da adolescência devido à fase de
estado maturacional, fatores emocionais (introspecção, vergonha, etc.), assim
como associada à postura sentada por longas horas na utilização de equipamentos
eletrônicos (celulares, horas na frente da televisão, computador, jogos, etc.)
em média três horas por dia (navegação na internet, e-mails, msn,
twitter, facebook, etc.). Informações estas obtidas pela comissão técnica e
pelos próprios jovens atletas. De acordo com Marques, Hallal e Gonçalves [33],
a manutenção prolongada na posição sentada ocasiona o desenvolvimento de
posturas inadequadas e sobrecarrega as estruturas do sistema
musculoesquelético.
No genu recurvatum observa-se que existe um
desequilíbrio muscular, ou seja, fortalecimento com encurtamento da musculatura
posterior e fraqueza da musculatura anterior, que em nossa opinião, podem
comprometer a articulação do joelho com o passar do tempo. Conforme Peterson e
Renström [34], Weber e Ware [35] a articulação do joelho é a que mais sofre
lesão constantemente em indivíduos que praticam esportes. Bertolini et al. [36] explicam que ela tem pouca
estabilidade devido a incongruência condilar e recebe muita sobrecarga, sendo
necessário criar uma estabilização adicional para manter a integridade desta
articulação, e Schulz [37] afirma que ela depende de um equilíbrio excelente
entre estabilizadores dinâmicos e estáticos, dos tecidos moles e os componentes
ósseos e cartilagionosos.
No caso da escoliose
(D) o principal fator é a dominância devido à maioria dos gestos motores serem
treinados unilateralmente e utilizados em competição repetidas vezes neste
mesmo lado. De acordo com Matos [24] e Verderi [23] esta alteração ocorre por
haver uma inclinação lateral da coluna com um componente rotacional de
vértebras que é causada pela contratura dos músculos profundos do tronco. Outra
característica desta alteração é que ela surge na maioria das vezes, durante a
fase de aceleração do crescimento vertebral, o que torna crianças e
adolescentes mais susceptíveis a desenvolvê-las [38].
Já no caso da
hiperlordose observa-se uma curvatura na região lombar que está associada a uma
anteversão da pelve, que possivelmente, foi oriunda da prática de exercícios de
musculação com ênfase nos músculos paravertebrais tais como, arranque, arremesso, encaixe, puxada e pullover que sobrecarregam os
eretores da coluna.
Um dos métodos
utilizados no tratamento dessa alteração são as posturas estáticas de
alongamento, baseadas no alongamento isotônico excêntrico [39].
Observou-se neste
estudo de caso que os jovens atletas possuem uma boa postura em ambos os sexos,
e a região corporal que obteve maior destaque foi a RAQ e que a de menor foi a
RMI, sendo a hiperextensão a alteração postural mais prevalente e a escoliose
torácica esquerda a menos prevalente durante todo este período de
monitoramento.
Constatou-se que
houve variações significativas tanto na postura como nas alterações posturais
entre os anos, percebendo que monitorar jovens atletas é uma excelente
estratégia de avaliação diagnóstica (screening)
no contexto esportivo, pois auxilia no processo de entendimento desta fase do
desenvolvimento motor.
Recomenda-se a
organização de uma metodologia de exercícios corretivos e preventivos, que
possam minimizar as alterações posturais durante e, principalmente, nesta fase
do desenvolvimento motor, promovendo qualidade de saúde para o jovem o atleta.
A comissão técnica
das equipes e aos atletas pelo respeito, confiança e disponibilidade para
realização deste trabalho durante este período de três anos.